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3. ABORDANDO OS TRANSGÊNICOS NUMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR

3.1 O que é preciso para ensinar transgênico numa perspectiva interdisciplinar

3.1 O que é preciso para ensinar transgênico numa perspectiva interdisciplinar e crítica?

É comum supor que o tema transgênicos é pertinente apenas à biologia, sendo, portanto, lecionado por biólogos. No entanto, numa pesquisa apurada já se é capaz de perceber uma relação dos transgênicos com os conteúdos específicos das Ciências além de questões econômicas, políticas, de legislação, etc. Para que o professor possa contemplar os assuntos relacionados ao tema é importante que seja realizado pela perspectiva interdisciplinar a partir de uma formação mais ampla desse profissional. Caso contrário o professor pode apenas ser reprodutivista, reducionista e acrítico frente a um tema que compreende tanta polêmica.

O tema “transgênicos” abrange uma série de conteúdos pertinentes ao licenciado químico, por exemplo. É um tema de repercussão tanto no ensino fundamental na Educação Básica, quanto ensino médio e superior. O licenciado em Química é apto a ministrar Ciências para o 6º, 7º, 8º e 9º anos do ensino fundamental II e Química para a 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio. Considerando o licenciado químico atuante no ensino básico o tema está intimamente relacionado aos conteúdos de células, DNA, RNA, bactérias, alimentos, fauna, flora, solo, diversidade ecológica, biomas, preservação/extinção das espécies, biomagnificação trófica, erosão genética, vacinas, remédios, agrotóxicos, aquecimento global, bioquímica, ácidos nucleicos, bioplásticos, polímeros, combustíveis, metais pesados, conservantes adoçantes, modificadores de consistência, etc.

A figura 11 representa um possível esquema das relações de conteúdos que podem ser estabelecidas em torno do tema transgênicos e que podem colaborar com o planejamento de aulas do professor.

Figura 11 – Mapa das relações conceituais que podem ser estabelecidas com os transgênicos. Fonte: a autora

O educador ambiental crítico, precisa tratar dos transgênicos relacionando conhecimento do senso comum e conhecimento científico, estudo de leis ambientais e de biotecnologia; abordar os transgênicos de forma técnica, geográfica, histórica, filosófica, econômica, política, ecológica, ética e cultural. Isto só pode ser feito em parceria com outros professores. Nas escolas da Educação Básica, uma opção poderia ser a formação de grupos interdisciplinares. Para isto é necessário ser formado no exercício do diálogo com outras áreas. É importante instigar o aluno na pesquisa crítica do tema, de forma a não aceitar a informação sem um critério minucioso. Independentemente da origem da informação, esta deve ser sempre questionada: em que momento histórico a informação foi transmitida? Para quem ela se destina? Em qual posição geográfica? Está inserida em quais relações políticas? etc.

A figura 9 (p. 81) é amplamente questionável. À primeira vista a imagem é bonita, chamativa e colorida, com quantidade de informações aparentemente harmônica e pode levar a sensação de segurança e confiabilidade. O educador ambiental crítico ao se deparar com essa imagem não apenas transmite seu conteúdo, mas busca a veracidade da informação. Quem produziu a imagem? Qual a finalidade? Para qual

público? O educador ambiental crítico pesquisa outras fontes de informação de forma a buscar uma possível convergência ou divergência dos dados elencados.

Ao se fazer um paralelo entre a figura 9 e figura 10 é questionável que haverá redução de 90% dos agrotóxicos em 10 anos enquanto o atual governo é o que mais libera uso de agrotóxicos, até o momento (outubro de 2019) foram 382 (FOLHA DE S.PAULO, 2019b). É um agrotóxico específico? Qual a base de cálculo para chegar na diminuição de 35,6 milhões de tonelada de dióxido de carbono na atmosfera? Ao pesquisar detalhes desses dados no site da CIB não foi encontrado. Essas informações não podem ser repassadas como verdades, uma vez que não foi possível avalia-las em toda sua complexidade. É preciso confrontar essas informações com outros dados de fontes confiáveis que podem demonstrar o contrário. Essa é uma tarefa de um educador ambiental crítico.

Lecionar o conteúdo de forma disciplinar pode ser reducionista. Explicar, por exemplo, apenas as técnicas usadas para a produção de transgênicos não denota criticidade, é apenas a transmissão do conteúdo como uma possível “verdade absoluta” que não move aluno a duvidar, questionar, pesquisar mais sobre o conteúdo. A transmissão acrítica de conteúdos reflete-se no desinteresse do aluno e, fatalmente, no esquecimento. Ensinar sobre os transgênicos a partir de apenas um aspecto pode omitir uma série de informações relevantes e importantes para a formação cidadã.

Compreendemos que um conteúdo tão rico deve ser explanado numa perspectiva interdisciplinar de modo que o aluno seja capaz de se mover, questionar, duvidar, pesquisar, fazer relações, argumentar e contra-argumentar, processo esse próprio da dialética. Voltamos a ressaltar que a formação pela pesquisa é determinante para egressar da universidade um educador ambiental crítico, capaz de ministrar aulas que atinjam verdadeiramente seus alunos rumo a uma educação emancipadora.

A Figura 12 representa a relação entre o conteúdo com a interdisciplinaridade e a formação de professores como um conjunto de modo que a formação crítica é o conjunto maior que incorpora a EAC e interdisciplinaridade e, considerando a centralidade dos conteúdos científicos nos processos de ensino-aprendizagem, estes estão no centro.

Figura 12 - Relação entre o conteúdo com interdisciplinaridade e a formação. Fonte: a autora.

Compreendemos que um conteúdo polêmico, como os transgênicos, só pode ser ministrado de forma ampla e crítica tendo como alicerce uma formação de educadores ambientais críticos. No entanto pesquisas (THOMAZ, 2006; CARNEIRO, 2008; MUNARETTO; BUSANELLO, 2014, GUERRA; FIGUEIREDO, 2014) mostram que em geral a formação de licenciados no Brasil ainda herda uma visão positivista, conservadora, acrítica e disciplinar. A seguir apresentaremos um panorama da formação de educadores ambientais brasileiros.