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1 CAPOEIRA REGIONAL , UMA “INVENÇÃO” BRASILEIRA No Brasil 11 , da década de 1930 até 1945, período da política de nacionalização, o

2.1 AS MOVIMENTAÇÕES BÁSICAS DA CAPOEIRA REGIONAL APREENDIDAS PELOS BAILARINOS

2.1.5 Queda de Rim

O movimento corpóreo da Queda de Rim, segundo Silva (2008, p. 59), “à primeira vista, parece ser um movimento muito complexo, no entanto, com um bom entendimento da sua mecânica, a aprendizagem pode ser adquirida de forma organizada e simples”.

Por conseguinte,

Deve-se pensar na execução corpórea realizada pela potencialidade corporal dos músculos dos braços (bíceps e tríceps), e um bom trabalho nos músculos do abdômen, onde a força irá predominar em sua execução. O movimento da Queda de Rim é realizado a partir do movimento da cocorinha, e apoiando-se nas palmas das mãos o corpo é sustentado para o lado (direito ou esquerdo) com os membros inferiores suspensos e apoiados nos braços próximos ao chão (Santos, 2011, p.57).

Foto 21 – Movimento da Queda de Rim pelo Contra- Mestre Canela. Belém, 02/02/2011.

Fonte: Arquivo pessoal de Lindemberg Santos.

Nessa movimentação, a particularidade do nível baixo é essencial ao capoeira para mostrar força e ao mesmo tempo agilidade. Relacionei essa movimentação da capoeira a estruturas corporais genuinamente trabalhadas por meio das ações musculares, em especial a

força e equilíbrio. A força nesse movimento me remeteu ao porte físico “avantajado” dos negros escravizados ou libertos. Essa imagem me ofereceu suporte e estímulo para a criação, mobilizando-me a transformar essa movimentação ordinária em realidade no campo da arte.

2.1.6 Negativa

O movimento corpóreo na Negativa, segundo Silva (2008, p. 27), “é [...] similar à cocorinha, pois contém a mesma natureza ou estrutura (forma e dinâmica) da espiral ou de agachamento existente nesta, podemos dizer que a negativa é um prolongamento da cocorinha”.

Observei duas sequências de movimentações: a primeira, a Cocorinha, uma estrutura fechada corporalmente; e a segunda, a Negativa, cuja estrutura é mais aberta e alongada referente à perna, podendo-se utilizar tanto a perna direita quanto a esquerda para sua execução.

Fotos 22 e 23 - Movimento da Negativa pelo Contra-Mestre Canela. Belém, 02/02/2011. Fonte: Arquivo pessoal de Lindemberg Santos.

O movimento da Negativa foi bem compreendido pelos bailarinos, mas só depois de algum tempo nos laboratórios, em face da dificuldade da sua sustentação, que é o momento mais importante deste. No começo, os bailarinos deixavam o movimento um tanto relaxado, não essa sendo a intenção, e sim de estabilizá-la no ar rente ao chão. Para isso, sempre afirmei nos laboratórios o trabalho de força dos músculos do abdômen, essencial também para o bailarino.

2.1.7 Esquiva

Segundo Silva (2008, p. 39-40), a Esquiva “está diretamente relacionada com a negaça [engodo, isca, chamariz] e a negativa, ao mesmo tempo em que tem sua independência. Negaça é engodo, isca. Negativa é negar, também no sentido de contestar”. A Esquiva pode ser executada de várias formas, como se fosse “um pêndulo”, mas criando as diversidades de mobilidades do tronco. Nessa perspectiva desta movimentação na roda de capoeira, a Esquiva serve para estudar o opositor, no sentido de evidenciar as “manobras” corporais a serem utilizadas pelos capoeiras a fim de livrar-se de golpes e chutes.

Fotos 24, 25 e 26 – Movimento da Esquiva, pelo Contra-Mestre Canela. Belém, 02/02/2011. Fonte: Arquivo pessoal de Lindemberg Santos.

A Esquiva é considerada o jogo corporal do capoeira, pois nesse movimento existe a liberdade de se movimentar, o que ressalta o caráter complexo de sua movimentação, que envolve uma liberdade associada à aplicação de elementos de outras movimentações mais “ofensivas” da capoeira (Santos, 2011, p.60).

Observei que a Esquiva reflete a influência de seu caráter “mandingueiro” sobre os movimentos mais “ofensivos” trazidos da Negativa. Essas movimentações foram percebidas, compreendidas e executadas pelos bailarinos, pois requereram certo “relaxamento” do corpo, em virtude de transparecerem uma soltura corporal; porém, estes possuem dinamismo em aplicar estes golpe.

Foram realizadas várias repetições desses sete movimentos básicos da capoeira regional, nos laboratórios desenvolvidos para pesquisa. Também sempre eram realizados

exercícios de força pelos bailarinos, dentre quais, o exercício de apoio nos braços e abdominais.

Nesse processo de repetições de movimentos corporais, os bailarinos aos poucos foram se identificando com a capoeira, apesar de os laboratórios terem sido orientados por mim, um bailarino coreógrafo-pesquisador, que é um capoeirista e não um capoeira. O interesse da bailarina Leidiana Ribeiro a respeito dessa diferença fez com que em março de 2011, ela buscasse algumas aulas de capoeira com um capoeira, e, assim, experimentasse alguma sensação diferenciada do que estava vivendo nos laboratórios dirigidos por mim. Após a experiência, ela me relatou o seguinte:

Hoje fiz uma aula de capoeira no colégio Augusto Meira, pela parte da manhã e foi muito bom ver de fato aqueles movimentos, os movimentos aqui aprendidos por mim não têm diferença alguma, porém observei outros tipos de movimentos que realizei na prática e foi fácil-fácil, inclusive o professor me perguntou se eu já fazia capoeira há muito tempo, respondi que não. Ele me convidou para fazer as aulas constantemente. Respondi que talvez sim (Ribeiro, 12/03/2011. Depoimento).

Depois de algum tempo, no período de abril a setembro de 2010, por meio dos laboratórios, emergiram as diferenças corporais naqueles corpos de bailarinos, sendo visível um desenvolvimento corporal adaptado à capoeira, em que esses corpos já revelavam uma mudança em sua identidade, em face da potencialização de um capoeira em sua forma corporal.

As movimentações básicas da capoeira regional mencionadas acima me trouxeram várias percepções de suas dimensões físicas, culturais, sociais e históricas. Quando eu as levei para o campo arte, tais percepções me trouxeram ideias na área da Dança, no qual experimentei com os dois bailarinos um processo criativo de metamorfosear aquelas dimensões, porque as ressignificávamos, fosse em exercícios, fosse para a cena, em várias possibilidades de criação. Nesse processo, iniciado com a aplicação das movimentações básicas da capoeira regional, estas já deixaram de ser da capoeira, então convertidas para a realidade da dança.

2.2 AS SENSAÇÕES CAUSADAS PELAS MOVIMENTAÇÕES DA