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CAPÍTULO 2 2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1.2 Quem é o Empreendedor?

O termo empreendedor (entrepreneur), segundo Filion (1999) originou-se na França e foi usado pela primeira vez no século XVI para se referir aos homens envolvidos em operações militares. Em 1765, a palavra passou a ser usada na França para designar pessoas que se associavam a proprietários de terras e trabalhadores assalariados (FILION, 1999, p.17). Por volta do ano de 1800, o economista Jean-Baptiste Say usou o termo para identificar o indivíduo que transfere recursos econômicos de um setor de produtividade baixa para um setor de produtividade mais elevada (FERREIRA, 1997).

Filion (1999) assume que o empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos. Um empreendedor continua a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões moderadamente arriscadas. “Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões” (FILION, 1999, p.19).

De acordo com o Filion, o conceito de empreendedor começa a se evoluir por influência de economistas ingleses como Adam Smith, para quem o empreendedor era considerado um fornecedor de capital e ao mesmo tempo, um administrador que se coloca entre o trabalhador e o consumidor.

Schumpeter define o empreendedor como “o responsável pelo processo de destruição criativa”, por desenvolver novos produtos, novos métodos e novas indústrias que liberam o capital dos antigos investimentos estagnados e lhes dá novo alento num corpo tecnológico renovado. Alguém capaz de aproveitar as chances das mudanças tecnológicas e introduzir processos inovadores no mercado (FILION, 1999, p.4).

Drucker (2003) afirma que o empreendedor é aquele que pratica a inovação sistematicamente. Busca fontes de inovação e cria oportunidades.

Considera-se, pelo exposto, que o empreendedor é alguém dotado das características que se deseja encontrar nos estudantes do Ensino Médio, conforme os PCN, sobretudo nos estudantes de Química. Pois tais características, segundo Araújo et al. (2005), poderão resultar num profissional diferenciado, seja como empreendedor seja como empregado. Desse modo, conforme citado anteriormente, como empreendedores, os estudantes poderão criar empreendimentos inovadores e proporcionar oportunidades de trabalho para outros

trabalhadores. Como empregados poderão exercer sua criatividade, autonomia, liderança e se destacarem nas organizações (ARAÚJO, et al. 2005).

Hisrish et al. (2005) argumentam que os empreendedores pensam de maneira diferente das outras pessoas conforme a natureza de seu ambiente de tomada de decisões. Sendo assim, de modo geral os empreendedores utilizam seu conhecimento e o que possuem na execução de suas tarefas. São pessoas dinâmicas, flexíveis, autorreguladoras e voltadas para a geração de várias estruturas de decisão. Possuem grande capacidade de reflexão e habilidade para se recuperar de fracassos. São importantes para transmitir suas experiências de vida para novos empreendedores (HISRISH et al, 2005, p.51).

Percebe-se nas definições apresentadas, que existem algumas características atribuídas ao empreendedor, que são comuns às definições de outros autores citados, tais como: ser inovador, transformar sonhos em realidade, ser visionário, ter criatividade. Supõe-se que o empreendedor seja confundido com o capitalista. Entretanto, Schumpeter (1997) faz uma distinção entre os capitalistas e os empreendedores. Assim, para o autor, o empresário é constituído pelo empreendimento de novas combinações e o capitalista que não as realizam, não pode ser considerado empresário (SCHUMPETER, 1997, p.108).

O empreendedor deve ser alguém que apresenta um conjunto de habilidades e competências, as quais o capacitam para atuar como protagonista de sua própria aprendizagem. Entretanto, no campo educacional é necessário se ter cuidado para que tal protagonismo não seja responsabilidade apenas do estudante.

Em relação às habilidades e competências supracitadas, estas foram amplamente estudadas por David McClelland, e se encontram também inseridas na proposta do PCN para a formação do aluno.

McClelland (1998) desenvolveu pesquisas por quase cinco décadas estudando os aspectos comportamentais dos empreendedores, em especial aqueles relacionados com a motivação. O autor percebeu os empreendedores como indivíduos diferenciados e estudou suas características exteriorizadas a fim de estimular o desenvolvimento destas características (MATIAS; MARTINS, 2010). De acordo com os estudos de McClelland (1998) a motivação humana responde, pelo menos em parte, pelo crescimento econômico de uma nação. Com base em sua teoria, a motivação humana compreende três necessidades: de realização, de poder e de afiliação.

O mesmo autor observou também que o ser humano possui um perfil de necessidade, independente de qual seja, sendo os indivíduos que possuem maior necessidade de realização,

os mais propensos a empreender. O desenvolvimento de competências críticas necessárias ao sucesso empresarial pode ocorrer espontaneamente (MCCLELLAND, 1998).

Entretanto, McClelland percebeu que estas competências podem ser estimuladas e desenvolvidas por meio de programas específicos. Ainda o mesmo autor se dedicou ao entendimento dessas competências que foram chamadas de características do comportamento empreendedor. Foram elencadas dez características presentes em empreendedores considerados de sucesso, frente a empreendedores comuns. O quadro 2.1 apresenta as 10 características dos empreendedores.

Quadro 2.1 – Características dos empreendedores de sucesso. Grupos de

Competências Principais características dos empreendedores de sucesso frente a média de empreendedores comuns Proatividade

Iniciativa – fazer as coisas antes de ser perguntado ou forçado pelas circunstâncias. Assertividade – confrontar diretamente os problemas com os demais. Orientar os demais sobre o que devem fazer.

Orientação para Realização

Observar e aproveitar oportunidades – observar oportunidades para começar um novo negócio, obter financiamentos ou assistência.

Eficiência – buscar formas de realizar as tarefas de modo mais rápido e mais barato. Preocupação com a qualidade – desejar produzir produtos ou serviços com alta qualidade.

Planejamento sistemático – subdividir uma tarefa grande em subtarefas, antecipar problemas e avaliar alternativas de soluções.

Monitoramento – desenvolver e usar procedimentos para garantir que o trabalho será realizado nos padrões de qualidade propostos.

Compromisso com os demais

Compromisso com os contratos firmados – fazer um sacrifício pessoal ou despender um esforço extraordinário para completar uma tarefa, estimulando seus colaboradores a auxiliar.

Reconhece a importância das relações nos negócios – agir para construir relacionamentos empáticos com clientes visando o relacionamento interpessoal como uma fonte de negócios, construindo relacionamentos de longo-prazo ao invés de ganhos de curto-prazo.

Fonte: McClelland (1987, p.225) apud Matias e Martins (2010).

Ao analisar o quadro 2.1 percebe-se que, embora as características tenham sido observadas inicialmente em empresários, é desejável que estas mesmas características estejam presentes nas atitudes do cidadão do século XXI.

Acredita-se que a educação de forma empreendedora possa despertar nos alunos as características do empreendedor, estudadas por McClelland, e que estas possam ajudar os estudantes a serem mais autônomos. Assim, poderão ser capazes de tomar decisões mais acertadas e com maior segurança, ainda que não sejam direcionadas para a abertura de empresas.

Para os alunos de Química, foco desta pesquisa, as características dos empreendedores poderão facilitar o processo de aprendizagem. Se tais características propiciam a formação para a cidadania, o ensino de química também, com os temas sociais, que trazem para a sala

de aula assuntos que exigem dos alunos posicionamento crítico quanto a sua solução (SANTOS; SCHNETZLER, 1996).