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A Questão da Educação na Enfermagem

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CAPÍTULO I ENFERMEIROS PROFESSORES: A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO

1.2 BREVE RELATO DO CONTEXTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM NO BRASIL

1.2.2 A Questão da Educação na Enfermagem

Tomando-se como marco da educação na Enfermagem o primeiro programa de ensino oficial da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), é possível observar que praticamente não há diferenciação do “Standart Curriculum for Schools of Nursing” em vigor nos EUA desde 1917, evidenciando claramente a consonância com o modelo de formação centrado nos hospitais instituído naquele país. Embora a Escola Anna Nery tivesse um programa de ensino estabelecido por decreto do governo brasileiro em 1923, as disciplinas ministradas assumiram praticamente os mesmos nomes e compunham a mesma divisão do currículo americano. As poucas alterações que tinham sido feitas, na prática não foram seguidas (RIZZOTTO, 1999).

A Escola de Enfermagem Anna Nery, também denominada "Escola Padrão", teve seu programa de ensino utilizado como modelo para as demais escolas criadas posteriormente, reproduzindo de forma hegemônica o currículo norte-americano, direcionado para o trabalho de Enfermagem em instituições hospitalares, atendendo à medicina curativa. Em estudo realizado sobre o rol de disciplinas que compunham o ensino teórico do primeiro programa da EEAN, Rizzotto (1999) afirma que

"somente 11% das mesmas eram voltadas para a Saúde Pública". A prática nos

campos de estágio era quase toda realizada em instituições hospitalares, à semelhança do que ocorre ainda hoje na maioria das escolas de Enfermagem.

O programa de ensino e as exigências feitas para a matrícula das candidatas caracterizaram o curso, desde o início, como de nível superior, sob total influência das tendências da educação de Enfermagem norte-americana. Algumas das restrições encontradas para a efetivação do curso como de nível superior foram a precária formação das mulheres brasileiras naquela época e o pouco acesso à educação; realidade distinta daquela encontrada nos Estados Unidos, e, portanto, responsável pelo lento desenvolvimento do ensino de Enfermagem nesses primeiros anos (GALLEGUILLOS, 2001).

Segundo Rizzotto (1999), as primeiras professoras da Escola Anna Nery eram enfermeiras norte-americanas, patrocinadas pela Fundação Rockefeller para organizar o ensino de Enfermagem no Brasil; assim, permanecendo até 1931, quando então, Rachel Haddock Lobo assumiu a direção da escola, sendo a primeira

diretora brasileira da Escola de Enfermeiras Anna Néry. Os conteúdos ministrados

baseavam-se em bibliografia médica e em produções teóricas americanas, o que pode ser confirmado pela primeira diretora da Escola Anna Nery, Clara Louise Kieninger(1979) ao relatar que: “Não existiam livros de Enfermagem e todos tiveram que ser traduzidos” (p.1).

Com a estagnação das exportações de café e o desenvolvimento industrial no Brasil, o quadro social urbano começou a se diferenciar e uma sociedade de base industrial foi se consolidando progressivamente. O modo de produção e reprodução dessa nova estrutura econômica repercutia também nas práticas de saúde e na formação dos profissionais dessa área, que, após o controle das principais epidemias, passou a uma prática mais centrada nas necessidades do indivíduo doente.

Segundo Silva (2006), para dar conta dessa nova demanda prática, foi criado, em 1940, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que foi o primeiro do gênero no país - atualmente considerado o maior complexo hospitalar da América Latina - cujo objetivo principal era servir de campo prático para os alunos de medicina, mas também abriu as suas portas para a aprendizagem de outras áreas da saúde; principalmente a Enfermagem. Então, enfermeiras formadas pela Escola de Enfermagem Anna Nery, foram convidadas para organizar o serviço de Enfermagem do hospital e também a Escola de Enfermagem.

A complexidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, no que se refere às especialidades e a influência dos modelos administrativos, acabou por levar a divisão de trabalho para dentro do hospital e, no que se refere à Enfermagem, não foi diferente. Devido à grande demanda de serviços - não só em São Paulo, mas em todas as grandes capitais - e às poucas profissionais enfermeiras, surgiu a necessidade da criação de ajudantes para essas enfermeiras.

A ideia de se criar um curso para formação de auxiliares de Enfermagem, nasceu com Dona Laís Netto dos Reis, diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery (1938-1950), sendo o primeiro curso iniciado em 1941 e oficializado em 1949. Est a id eia su r g iu f r en t e à d em an d a d e en f er m eir as p ar a o s h o sp it ais su r g id o s n a ép o ca, p r in cip alm en t e ap ó s a cr iação d o Ho sp it al d as Clin icas d e São Pau lo . O cu r so p ar a a f o r m ação d e en f er m eir as t in h a a d u r ação d e 36 m eses; o cu r so d e au xiliar es, 18 m eses, en t ão , at en d er ia m ais r ap id am en t e à n ecessid ad e h o sp it alar (FONTE, 2009).

Em 1942, o Decreto-Lei nº 10472/42 (BRASIL, 1974) reorganizou a Escola Profissional de Enfermeiros no Rio de Janeiro, que passou a se chamar Escola de Enfermeiros Alfredo Pinto, e concentrou sua atenção para a formação das enfermeiras auxiliares, que passariam a atuar nos serviços sanitários e assistenciais. (DANTAS e AGUILLAR, 1999).

Após o surgimento dessa nova categoria na Enfermagem, as enfermeiras, então, atuavam nas ações administrativas e de educação; e os cuidados direto aos pacientes, ou seja, os cuidados assistenciais ficavam a cargo das auxiliares sob a supervisão da enfermeira (BELLATO, PASTI E TAKEDA, 1997).

Seguindo o exemplo da Universidade de São Paulo, outras Universidades Federais começaram a criar seus respectivos Hospitais de Clínicas, que foram, assim, surgindo nas capitais e exigindo um maior número de profissionais de Enfermagem; emergindo também, então, a necessidade de criarem seus próprios cursos para a formação da auxiliar de enfermeira, para ajudar no atendimento ao doente hospitalizado, que se apresentava em números cada vez maiores. A Lei nº 775/49, que regulamentava a profissão, definia o currículo e, também, determinava as condições em que se deveria processar a preparação de enfermeiros e auxiliares;

nas quais, para ingressar ao curso, era exigido o diploma secundário para enfermeiros e primário para os auxiliares (BARTMANN, 1977).

Também foi a partir dessa lei que foi permitido o ingresso de homens na Enfermagem, revogando a barreira estabelecida pelo sistema nightingaleano, cuja exigência para o ingresso na Enfermagem, entre outras coisas, como conduta moral ilibada, era ser do sexo feminino. O ingresso masculino na Enfermagem aumentou a partir de 1968, quando as Escolas de Enfermagem foram vinculadas às Universidades (PEREIRA, 2008).

Na década de 60, fatos muito importantes contribuíram para o desenvolvimento da educação no País; dentre eles, a publicação da Lei de Diretrizes e Bases – LDB, da Educação Nacional. As Escolas de Enfermagem passaram a serem Escolas de Nível Superior, e o colegial, atualmente Ensino Médio, passou a ser pré-requisito para o ingresso. Para entrar no Curso de Auxiliar de Enfermagem, a exigência passou a ser a conclusão do ginasial, hoje denominado Ensino Fundamental. Também foram criadas escolas de nível médio que deram origem aos Cursos Técnicos de Enfermagem, de modo que, o primeiro foi criado pela Escola Anna Nery, e, a partir de então, a Enfermagem passou a ser constituída por três níveis profissionais: enfermeiro, técnico de Enfermagem e auxiliar de Enfermagem (SILVA, 2006).

A Reforma Universitária de 1968 determinou as transformações ocorridas na inserção das escolas de Enfermagem nas Universidades. Para formar o perfil da profissão, de acordo com os propósitos do governo e das enfermeiras norte- americanas, o ingresso no curso exigia pré-requisitos de caráter elitista e discriminatório na visão de Silva (2006), pois, no processo de implantação da Enfermagem Nightingaleana no Brasil - com o propósito de acabar com estigmas e derrubar barreiras e formar enfermeiras comprometidas com a profissão e que orientassem sua prática para a necessidade da comunidade, evidentemente de acordo com os interesses vigentes no sistema da época - as mulheres admitidas no curso deveriam ter condições de elevar a profissão junto à sociedade e, portanto, deveriam ter uma conduta moral irrepreensível e serem bem qualificadas.

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