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A questão indígena na atualidade: a conquista dos direitos e os desafios enfrentados.

Análise da Representação da Temática Indígena nos Livros Didáticos Recomendados pelo MEC

4.6. A questão indígena na atualidade: a conquista dos direitos e os desafios enfrentados.

Sobre a questão indígena atual, privilegiam-se os direitos conquistados, contemplados na Constituição de 1988, e os perigos enfrentados por essas populações. Em algumas coleções, tais informações aparecem nas últimas páginas dos capítulos dedicados à temática indígena; em

outras, são mencionadas no último volume, da 8ª série, em capítulos que discorrem sobre os avanços conquistados com a Constituição.

Em uma das coleções didáticas analisadas, as autoras afirmam: se na época da colonização os portugueses representavam o perigo para os indígenas, na atualidade, “os perigos respondem pelo nome de madeireiros, posseiros, grileiros, garimpeiros, latifundiários” (Coleção Brasil: encontros com a História, vol. 1, p. 36). Estes últimos “trazem violência e doenças” (op.

cit., p. 36). Afirmam, ainda, que o Brasil “nunca respeitou, de fato, as leis de proteção ao índio”

(id. ibid., p. 39), e que, na Constituição de 1988, há um capítulo dedicado ao índio. Neste volume, todos os nomes de povos indígenas estão grafados no plural.

No fim de um capítulo, extraído de uma das coleções, é apresentado um texto complementar: “Carta de Princípios da Sabedoria Indígena”, elaborada no I Encontro Nacional de Pajés, em Brasília, em abril de 1999, e que:

(...) cobra das autoridades brasileiras medidas para proteger o saber indígena, que tem sido utilizado por empresas de todo o mundo na fabricação de remédios e cosméticos, entre outros produtos. Nada tem sido pago por esse conhecimento (Coleção História e Vida Integrada, vol. 2, p. 80)86.

Os mesmos autores discorrem sobre a invasão de terras indígenas “para dar lugar a empreendimentos econômicos” (Coleção História e Vida Integrada, vol. 2, p. 88) e sobre o problema da demarcação e registro das áreas indígenas. Mencionam a “organização dos povos indígenas”, juntamente com uma fotografia de um grupo Yanomami protestando em frente ao Palácio do Planalto, e um texto sobre o assassinato de Galdino Pataxó – “tinha ido a Brasília para reclamar do governo a demarcação de suas terras, reconhecidas desde 1926” (op. cit., p. 91). No capítulo intitulado “A Democratização Política do Brasil”, os autores informam que, na Constituição de 1988:

Os povos indígenas tiveram reconhecidos e definidos importantes direitos relativos às suas terras e à sua identidade cultural e étnica (Coleção História e Vida Integrada, vol. 4, p. 133).

Em outra coleção, num capítulo dedicado à temática indígena e intitulado “Os índios do Brasil hoje”, aparecem algumas informações sobre a questão indígena atual. O capítulo inicia com um pequeno texto a respeito do povo Panará (povo contatado pelos irmãos Villas-Boas, em 1973, e que quase foi dizimado por doenças). Segundo as informações veiculadas no texto:

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Em novembro de 2001, na primeira decisão desse tipo na história do país, a Justiça condenou a união a indenizar os Panará em 1 milhão de reais pela contaminação a que foram submetidos (Coleção Descobrindo a História, vol. 1, p. 25).

As autoras sugerem uma “reflexão sobre o que aconteceu com essa comunidade” (Coleção Descobrindo a História, vol. 1, p. 25). Mais adiante, discorrem sobre “a violência praticada contra os índios” (op. cit., p. 27), mencionando as invasões das reservas por garimpeiros, madeireiros e posseiros, o que tem gerado conflitos com os “verdadeiros donos da terra” (id. ibid., p. 27); mencionam o contato com doenças e a violência praticada por fazendeiros contra indígenas – “costumam perseguir e exterminar muitos índios que habitam a região próxima às suas propriedades” (id. ibid., p. 27):

Para se defender das investidas, as sociedades indígenas lutam permanentemente pela demarcação, fiscalização e proteção legal de suas terras – um direito claramente reafirmado na Constituição de 1988 (Coleção Descobrindo a História, vol. 1, p. 27).

As autoras enfatizam que as “comunidades indígenas se mobilizam cada vez mais para fazer valer seus direitos” (Coleção Descobrindo a História, vol. 1, p. 28), mencionando a emergência, nos anos 90, de várias organizações de defesa dos direitos indígenas (citam a FOIRN e a COIAB). Em um quadro, apresentam um fragmento de uma entrevista de um líder Yanomami para o CIMI. Citam a educação escolar indígena como uma das importantes conquistas dos povos indígenas e a “preparação para o futuro” como o “maior desafio dos índios hoje” (op. cit., p. 29). A “exploração sustentável dos recursos naturais das reservas” (id. ibid., p. 29) é citada como um dos meios dos indígenas se prepararem para o futuro e, como exemplo, citam o manejo de madeira realizado pelos Kayapó-Xikrin, a criação de abelha feita pelos Mura e o trabalho de cestaria dos Baniwa.

Outra menção que podemos destacar está no capítulo intitulado “De Sarney a FHC”, relativa à comemoração oficial dos “500 anos do descobrimento do Brasil”:

A comissão que organizou o evento (...) cometeu o erro de não convidar para a festa representantes das comunidades indígenas e da população negra, dois grupos étnicos fundamentais na formação da sociedade brasileira. Negros e índios juntaram-se então a outros movimentos sociais – entre os quais, o MST – e realizaram manifestação de protesto com mais de cinco mil participantes no mesmo momento e lugar do evento. Sem sensibilidade para entender que a data era de confraternização e respeito pelas minorias dizimadas em 500 anos de dominação, o governo da Bahia, apoiado pelo governo federal, reprimiu o protesto com brutalidade inusitada e desproporcional (...) (Coleção Descobrindo a História, vol. 2, p. 315).

Em outra coleção, os autores mencionam as negociações para a Constituição de 1988: no Congresso Nacional, “índios” discutiam com “brancos” os direitos que deveriam ter na Constituição (Coleção Uma História em Construção, vol. 1, p. 37). Salientam que, em 500 anos de contato, os “índios” tiveram que “aprender a ‘jogar’ com os brancos” (op. cit., p. 37). Sendo que, neste “jogo”

(...) as regras sempre foram determinadas pelos civilizados. Hoje, conhecendo as regras, os índios lutam. (...) O que está em jogo, na realidade, são suas próprias vidas (Coleção Uma História em Construção, vol. 1, p. 37).

Em um tópico intitulado “Uma história de lutas”, os autores concebem a demarcação de terras como a principal reivindicação dos indígenas, na atualidade. Além de afirmarem que os não-índios “entram em territórios habitados pelos indígenas, considerando-os como ‘terras de ninguém’, ocupando-as e expulsando os índios” (Coleção Uma História em Construção, vol. 1, p. 42). Mencionam a criação dos órgãos oficiais para “proteger os índios” (op. cit., p. 42) – o SPI e a FUNAI87 –; a criação do Parque do Xingu e o surgimento de organizações não-governamentais em defesa dos índios. Finalizando o capítulo, apresentam uma fotografia de uma criança indígena, com a seguinte legenda: “Todos somos responsáveis pela preservação dos povos indígenas” (id. ibid., p. 42).

Uma coleção apresenta, num quadro, um texto sobre o assassinato do indígena Galdino Pataxó, em Brasília, por adolescentes, onde podemos destacar a seguinte frase:

A vítima foi um índio aculturado88, Galdino Jesus dos Santos, da tribo dos pataxós hãe- hãe-hãe (...) (Coleção Jornada para o Nosso Tempo, vol. 2, p. 118).

Galdino Pataxó estava em Brasília para participar de um protesto que aconteceria no dia seguinte à sua morte, o Dia do Índio do ano de 1996, mas essa informação não consta no texto apresentado pelo autor. Além de “índio aculturado”, o texto também se refere a Galdino como “sujo”, para afirmar que alguém que estivesse “limpo” e “bem vestido”, certamente, não seria assassinado daquela forma. Este autor também fala sobre os direitos indígenas:

Apelando para os direitos garantidos pela Constituição e usando de diversas formas de resistência e pressão social, inclusive com apoio de organizações estrangeiras, os indígenas têm conseguido avanços na preservação de suas culturas (Coleção Jornada para o Nosso Tempo, vol. 2, p. 118).

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Serviço de Proteção ao Índio (desativado) e Fundação Nacional do Índio (atual).

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Outra coleção trata da questão indígena atual e informa que há mais de 200 povos diferentes e cerca de 500 áreas indígenas, “das quais apenas a metade está demarcada e tem seus limites reconhecidos pelo Estado brasileiro” (Coleção Tempo e Espaço, vol. 2, p. 174). Segundo informa o autor, as “grandes questões” para as populações indígenas, na atualidade, são a “luta pela terra (...); pela sobrevivência de seus valores culturais e pelo respeito à sua dignidade enquanto seres humanos” (op. cit., p. 175). Destaca que os muitos casos de agressão contra populações indígenas e suas culturas têm pouco espaço na mídia (id. ibid., p. 175) e que os povos indígenas “continuam resistindo” e lutam pelos direitos garantidos na Constituição (id. ibid., p. 175). E finaliza, afirmando que a “resistência indígena se faz sentir, inclusive, através do

resgate de suas tradições e de sua história” (id. ibid., p. 176).