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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.6 Questões éticas da pesquisa

Segundo Medeiros et al. (2007, p. 99), “questionamentos e dilemas éticos estão presentes em qualquer tipo de pesquisa desenvolvida nas distintas áreas das ciências”. Desse modo, cada fase do processo de investigação, em estudos de abordagem quantitativa ou qualitativa, requer a consideração tanto das normas e diretrizes que norteiam a prática de pesquisa, quanto do código de ética da área específica, ao que Medeiros et al. (2007, p. 109) afirma: “Isto nos remete a considerar que cada situação vivenciada pelo pesquisador requer um exame cuidadoso de suas responsabilidades éticas.”

Há consenso entre estudiosos da ética na pesquisa de que qualquer estudo que envolve seres humanos como participantes da pesquisa desperta questionamentos éticos, devendo contar com o consentimento da pessoa, previamente esclarecida quanto a riscos, possíveis transtornos e finalidade do estudo (JORGE; RIBEIRO, 1999, p. 69; MEDEIROS et al., 2007, p. 99; COZBY, 2003, p. 52; LoBIONDO-WOOD; HABER, 2001, p. 157), sendo dever de o pesquisador adotar todas as precauções necessárias para proteger as pessoas que estão sendo estudadas de dano físico ou mental ou constrangimento público.

Tal cuidado na condução de pesquisas foi regulamentado após a Segunda Guerra Mundial, em decorrência do impacto gerado pelas atrocidades cometidas por médicos nazistas, em nome da “pesquisa médica” (LoBIONDO-WOOD;

HABER, 2001, p. 157). Da preocupação de comunidades científicas em revisar os crimes de guerra de natureza médica e coibir pesquisas danosas à integridade humana, resultaram diversos documentos internacionais que traçaram os princípios básicos para as pesquisas que envolvem seres humanos. Destacam-se, em ordem cronológica: Relatório da Associação Médica Americana (1946); Código de Nuremberg (1947); Declaração dos Direitos do Homem - ONU (1948);

Declaração de Helsinque (1964) e suas revisões (1975, 1983, 1989, 1996, 2000, 2002, 2004 e 2008), adotadas pela Associação Mundial de Medicina; Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – ONU (1966), aprovado pelo Congresso Nacional do Brasil em 1992; Declaração Universal dos Direitos do Homem – Paris (1978); Propostas de Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos – CIOMS/OMS (1982 e 1993);

Diretrizes Internacionais para Revisão Ética de Estudos Epidemiológicos – CIOMS (1991).

Burns e Grove (2001), enfatizando o rigor ético necessário ao pesquisador, recomendam:

1) O pesquisador deve informar o sujeitos dos seus direitos. 2) O pesquisador deve obter consentimento dos sujeitos. 3) O pesquisador deve assegurar os direitos dos sujeitos durante a condução do estudo. 4) Os resultados dos estudos preservam a identidade dos sujeitos. (BURNS

& GROVE, 2001, p. 676-7)

Para Jorge e Ribeiro (1999 p. 69), “mesmo estudos que não são da área da saúde, como aqueles de natureza educacional, econômica ou sociológica, quando envolvem seres humanos devem ser considerados nesse contexto”. Os mesmos autores ainda destacam:

a ética em pesquisa visa fundamentalmente garantir que o ser humano objeto da pesquisa seja respeitado quanto à sua vontade de participar ou não do estudo, seja protegido de eventuais malefícios por ele causados e que o conhecimento adquirido seja revertido em benefício da coletividade. (JORGE & RIBEIRO, 1999, p. 68).

No Brasil, a regulamentação inicial de pesquisas envolvendo seres humanos foi instituída pelo Conselho Nacional de Saúde, em 13 de junho de 1988, através da Resolução n° 01/88, denominada Normas de Pesquisa em Saúde.

Posteriormente, em 10 de outubro de 1996, através da Resolução n° 196/96, o Conselho Nacional de Saúde estabeleceu as atuais diretrizes e normas regulamentadoras da matéria, complementadas pela Resolução n° 3003.2000, em 06 de julho de 2000, tendo por referência, em ambas as situações, os documentos internacionais citados anteriormente, vigentes na época.

O presente estudo trata de tema da área da saúde, mas, difere de experimentos clínicos ou pesquisas quase-experimentais comuns nesta área, por constituir pesquisa que envolve somente a aplicação de questionários e, conforme Cozby excetua (2003 p. 67), seria passível de dispensa de consentimento informado. Mesmo assim, no âmbito ético, visando documentar a vontade dos participantes, esta pesquisa foi conduzida com base na Resolução n° 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1997) e no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, aprovado pela Resolução COFEN n° 311/2007

(COFEN, 2008). Sendo assim, este estudo foi precedido de projeto encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná, conforme o protocolo estabelecido pelo próprio Comitê.

O consentimento pretendido para a realização desta pesquisa foi obtido, inicialmente, por parte dos Conselhos Regionais de Enfermagem do Amazonas, Piauí, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Paraná. Cada Regional expediu ofício, dirigido ao Comitê de Ética supracitado, constituindo parte do projeto aprovado pelo referido Comitê.

Na seqüência, antecedendo a coleta de dados, cada possível participante da pesquisa foi convidado a participar da pesquisa e esclarecido sobre a finalidade do estudo e a aplicação do instrumento da pesquisa na forma de questionário, a ser preenchido pelo participante, considerando que na relação risco-benefício, prevista na Resolução regulamentadora, tratava-se de uma pesquisa que, teoricamente, os participantes estão protegidos de eventuais malefícios físicos, biológicos, psicológicos ou sociais. Mediante a concordância verbal inicial do possível participante da pesquisa, foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido com informações da pesquisa, ficando a pessoa livre e com autonomia decisória para participar ou não da pesquisa, além da salvaguarda do sigilo, da privacidade, da confidência e da permissão de desistência de participação, a qualquer momento da condução da pesquisa, sem qualquer prejuízo ao participante.

Conforme orienta Clotet (2000 p. 95), os termos de consentimento livre e esclarecido foram preenchidos em duas vias, ambas identificadas com o nome do participante, datadas e assinadas, sendo uma retida pelo participante e outra arquivada pela pesquisadora, em confidência estrita, todos guardados em um único arquivo. Cada participante teve a liberdade de preencher o termo de consentimento livre e esclarecido e responder o questionário em local da sua escolha por conveniência e origem.

No tratamento dos dados, o sigilo e o anonimato dos participantes foram assegurados, mediante o uso de código alfanumérico no manuseio dos questionários. Considerando que os questionários vieram das cinco regiões geográficas do País, os questionários provenientes da região norte (Amazonas) receberam a letra A, da região nordeste (Piauí) letra B, da região centro oeste

(Mato Grosso do Sul) letra C, da região sudeste (Espírito Santo) letra D e da região sul (Paraná) letra E. A cada letra foi acrescentado um número de 01 a 15, de acordo com a ordem de recebimento dos questionários, uma vez que foram aplicados quinze questionários por região geográfica, totalizando um conjunto de setenta e cinco questionários.