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Em relação à possível existência de problemas éticos, Lima (2006, p. 128) considera que, tudo seria simples do ponto de vista ético, na pesquisa, se a atividade do cientista se limitasse a uma análise das situações com que se depara e à realização de uma escolha do procedimento mais correto a adotar, de entre um leque de opções preestabelecidas. Mas o processo de investigação está longe de possuir esta linearidade: ele está repleto de situações problemáticas que colocam o investigador perante diversos dilemas éticos. Como explica de Laine (2000, p. 3), citado por Lima (2006), um dilema

porque existem razões éticas boas, mas contraditórias, para enveredar por caminhos vras, os dilemas éticos são situações em que

É importante a preocupação com a ética na investigação uma vez que a confiança e a prestação de contas são aspetos centrais do empreendimento investigativo.

a ética o estudo sistemático dos conceitos de valor e dos princípios gerais que justificam a sua aplicação (Sieber, 1992, p. 3, citado por Lima,2006). A ética é, portanto, o ramo da filosofia que se debruça sobre as decisões relativas às acções certas e erradas (Zeni, 2001, p. xv, citado por Lima, 2006).

Nas últimas déca

1999, citados por Lima, 2006), a partir de meados do século XX, ocorreu uma mudança epistemológica que resultou num abandono progressivo do positivismo e na crescente utilização de métodos qualitativos na pesquisa. Com esta viragem, a questão da ética da investigação social e educacional complexificou-se bastante. Desde então, desenvolveu-se

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Lima (2006), muito influenciada pelo pensamento pós-moderno, feminista e pós- colonialista. Esta perspetiva caracteriza-se, essencialmente, pelo questionamento das noções de objetividade científica e de neutralidade de valores e pelo reconhecimento de que nenhuma investigação pode ser entendida, se se ignorar o seu contexto sociopolítico.

Existe um número cada vez maior de profissionais (designadamente, educadores) que se dedicam a estudar o próprio contexto no qual desenvolvem a sua atividade de

trabalho, com recurso a métodos essencialmente qualitativos. As dificuldades éticas adicionais inerentes a este tipo de pesquisas decorrem do facto de elas colocarem em questão, de uma forma ainda mais visível, algumas das dicotomias tradicionais estabelecidas, como teoria/prática e prática/pesquisa (Zeni, 2001, citado por Lima, 2006).

Como salienta Pritchard (2002, p. 5, citado por Lima, 2006), na inquirição desenvolvida pelos práticos existem aspetos de desenho e de interação com os participantes que suscitam questões éticas. Em particular, podem existir dificuldades aos seguintes níveis: consentimento informado dos participantes (se os objetivos e as estratégias de recolha de dados não estiverem bem delineados com antecedência, não será possível informar os potenciais participantes), voluntariado (pelo facto de o investigador ser simultaneamente, por exemplo, professor dos participantes, estes - e os próprios - podem sentir-se pressionados a participar) e descobertas contingentes (durante o processo de pesquisa, o investigador pode adquirir informação sobre o participante que pode alterar a sua relação com ele e, neste caso, uma informação destinada a fins de pesquisa pode interferir com uma relação profissional destinada a beneficiar esse participante.

Denzin, citado por Edwards e Mauthner (2002), para além de advogarem que a emotividade deve ser um ingrediente fundamental do processo de tomada de decisões éticas durante a investigação, também sustentam que é necessário construir relações participadas, transformativas e emancipadoras com aqueles que são estudados,

2002, p. 26, citados por Lima, 2006). Pode ainda identificar-se uma posição pós-moderna, que é mais radical do que as perspectivas inspiradas na ética do cuidado. Enquanto estas questionam a aplicabilidade dos paradigmas éticos tradicionais à pesquisa com pessoas, aquela questiona a própria existência da identidade pessoal integral na qual esses paradigmas se baseiam (Howe e Moses, 1999). Por outro lado, os pós-modernistas acreditam que a ciência é uma forma de

cumplicidade com a dominação social que é concretizada através das relações de saber (Howe e Moses, 1999, citados por Lima, 2006).

Por via da influência do pensamento pós-moderno, tem-se vindo a questionar, por exemplo, a produção do texto da investigação e a respectiva autoria. Questões como o

modo de representação, o estilo literário e as práticas de composição do texto são algumas das preocupações atuais (de Laine, 2000).

Pendlebury e Enslin (2002), citados por Lima (2006), consideram que uma das formas que têm sido sugeridas para ultrapassar os dilemas éticos que se colocam ao investigador na pesquisa qualitativa é o argumento da posicionalidade. Esta prática consiste em o investigador descrever claramente, desde o início, a posição em que se situa quando escreve e em reconhecer os efeitos possíveis que tal posição pode comportar para o modo como escreve e para o conteúdo daquilo que redige. Como afirmou Wright Mills (citado por Letherby, 2000, p. 94, citado por Lima, 2006):

qualquer ser autónomo posicionado fora da sociedade. Ninguém está fora da sociedade, a questão é

As questões éticas colocam-se em todas as fases de uma investigação, desde a escolha do tema e a definição das questões de pesquisa, passando pela seleção dos participantes, até ao modo de acesso ao terreno, à forma de recolha dos dados, aos procedimentos de análise adotados, à redação do texto e à própria publicação dos resultados. É importante ter em conta quatro aspetos práticos que merecem reflexão particular por parte de todos os investigadores, atuais ou potenciais: o modo de acesso ao local de pesquisa, a obtenção do consentimento informado dos participantes, a preservação da confidencialidade da informação obtida e a forma de redação e de publicação do texto com os resultados da investigação.

O princípio fundamental para a aceitabilidade ética de um estudo é o do consentimento informado: o de os participantes serem informados da natureza e do propósito da pesquisa, dos seus riscos e benefícios, e de consentirem em participar sem coerção.

No caso das entrevistas, a gravação áudio das mesmas também deve ser parte integrante do processo de obtenção do consentimento informado. Para que o potencial entrevistado possa dar o seu consentimento verdadeiramente informado.

São obrigações éticas essenciais do investigador proteger a privacidade dos investigados, assegurar a confidencialidade da informação que fornecem e, quando possível ou desejável, assegurar o anonimato das suas respostas.

Este conjunto de responsabilidades justifica e exige que a investigação seja conduzida de uma forma metodologicamente competente e eticamente responsável. Não

existe, aliás, boa metodologia sem uma preocupação paralela com o significado ético dos procedimentos que tal metodologia comporta (Sieber, 1992, citado por Lima, 2006). Por esta razão, é importante que os assuntos éticos na pesquisa deixem de ser pensados como uma questão pontual, que é abordada e resolvida num momento preciso, antes de se gativo: é essencial que as considerações éticas se tornem parte integral da prática quotidiana de pesquisa.

No estudo desenvolvido foi seguido o princípio fundamental para a aceitabilidade ética, nomeadamente o consentimento informado.

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