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2. Projeto Bienal Latino-Americana

2.6 Questões Administrativas

As questões administrativo-financeiras de uma instituição, organização social ou fundação, com notória visibilidade, são de suma importância no elemento gestão e cumprimento de metas. No caso da Fundação Bienal de São Paulo, esta veio a receber aporte público municipal e estadual. Em 1978 a Fundação Bienal já enfrentava a crise financeira há mais de uma década, ou seja, desde o final dos anos 60. Como verbalizou Fábio Magalhães: “Isso já se transformou num assunto por demais monótono, e como monotonia e crise não combinam, a palavra mais acertada é decadência mesmo”.240

As questões financeiras se entrelaçam nas questões culturais. Porque já se tornou dado histórico o fato de que na década de 50, a Bienal Internacional de São Paulo atuou como uma alternativa à Bienal Internacional de Veneza, não só nas premiações das tendências que passavam a dominar o mercado da arte, mas, por representar a saída encontrada pela instituição venezianade agitar projetos culturais alternativos. Além de, criativamente termos a questão de Veneza

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“politizar a exposição, fugindo à decadência, e criando temas políticos que fossem capazes de superar sua crise”.241Ao analisar as bienais internacionais no aspecto financeiro, fica mais que evidente que o assunto só passava a ganhar interesse, quando havia uma injeção de dinheiro e de ideias salvadoras, no sentido de se recuperar o efêmero prestígio dos anos 50.

Outro dado de convencimento para a criação da I Bienal Latino- Americana em São Paulo foi a questão de que a arte brasileira nunca tinha tido um lugar especial em nossas bienais, e o mesmo acontecia com a arte de todo o Continente Latino-Americano e Caribe. Fábio Magalhães explicou que servimos para inflar e oficializar a arte europeia, mostrando que esta vanguarda possuía seguidores.242 Com nossa convivência, com nossa participação, fazíamos com que as bienais de São Paulo, pelo menos no seu tamanho, se transformassem numa das maiores exposições de artes visuais do mundo. Com a implantação das bienais internacionais no Brasil, gerou-se estímulo e fomento à arte, ao mercado artístico, proporcionando, simultaneamente, maior visibilidade às galerias. A primeira e única Bienal Latino-Americana veio a corroborar para o fortalecimento da arte do Continente Latino-Americano e Caribe, incluindo o México. Nesse papel de promotora, a Fundação Bienal de São Paulo teve acesso às várias possibilidades de ter uma gestão administrativo-financeira, coerente com aquilo que era esperado por seus apoiadores e patrocinadores, e não é o que iremos analisar em relação às verbas apresentadas.

Na história da Fundação Bienal, é necessário reforçar que Ciccillo Matarazzo foi um grande líder, além de se tornar um marco divisório em relação

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aos processos administrativos. O Conselho de Arte e Cultura, formado não só no intuito de órgão fiscalizador, mas, igualmente, por ter pessoas com condições para compreender a realidade cultural, teve como escopo abrir espaços para as manifestações culturais, que já se encontravam marginalizadas nos grandes centros produtores de modelos, e poder manter uma visão de ineditismo, perante as mostras, como Ciccillo. Fábio Magalhães reforçou que a “estrutura da Bienal acabou por se tornar um forte elemento de direcionismo cultural, obrigando artistas brasileiros e latino-americanos a se enquadrarem nos temas e preocupações da vanguarda japonesa, alemã e norte-americana”,243 e ressaltou a importância de um aprofundamento do conhecimento da cultura continental. A partir de 1977, Ciccillo delega ao Conselho de Arte e Cultura a autoridade não só consultiva como normativa. Porque, logo após a abertura da I Bienal Latino- Americana no final de 1978, e com a proximidade do cumprimento da meta da XV edição internacional da Bienal, para setembro de 1979, começaram os rumores com acusações sobre o desvio de verbas, e a péssima gestão administrativa da Fundação. O quê a história contará é, se é possível, superar ou não estas acusações.

Dois meses após a inauguração da I Bienal Latino-Americana, ou seja, janeiro de 1979, as manchetes dos principais jornais do país reforçavam as dúvidas sobre a gestão do presidente eleito da Fundação Bienal, Luis Fernando Rodrigues Alves. A mídia expressou que a Bienal Latino-Americana tinha nascido com vícios e desvios das outras bienais de São Paulo: “Ainda não está

descartada a possibilidade da supressão da verba destinada à Bienal.244 Lembrando que, nesse período, as verbas públicas estavam associadas ao regime militar, que velava todas as ações relacionadas à cultura, e igualmente, vemos oportunamente o secretário de Estado da Cultura, querendo ouvir a Fundação para esclarecimentos.

Para o dispêndio de execução da Bienal Latino-Americana, a Fundação Bienal de São Paulo recebeu uma verba de três milhões da Prefeitura de São Paulo, por intermédio do prefeito Olavo Setúbal; três milhões do Estado, pela Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia, “em convênio assinado, sendo hum milhão e quinhentos mil cruzeiros reajustáveis a cada exercício”,245 e mais, quinhentos mil cruzeiros da Funarte. A Fundação Bienal financeiramente não entrou com recursos, somente com o corpo da diretoria e com o seu Conselho de Arte e Cultura. Neste ínterim, houve tratativas de aplacar as insinuações feitas pelo crítico Alberto Beuttenmüller (ABCA) à Fundação Bienal. Beuttenmüller fez

parte do Conselho da Bienal por dois anos e meio, chegando à presidência. Em dezembro de 1978 apresentou sua demissão, depois de testemunhar diversas irregularidades, como ele apontou: “Embora fossem apontadas, jamais se tomou providências”.246 Beuttenmüller foi convidado a fiscalizar a gestão da verba pública de seis milhões de cruzeiros, destinada ao cumprimento das metas desta Bienal. No processo existia um histórico da Fundação Bienal, e o repasse de verbas de administrações anteriores. Esse tipo de expediente era normalmente adotado por outras administrações, como a de Miguel Colasuonno, que também

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chegou a retirar seu apoio à Bienal depois de uma série de denúncias alertando sobre corrupção administrativa na entidade.247 Entre as questões levantadas em seu relatório, estava a péssima situação financeira da Fundação Bienal. Beuttenmüller ao se demitir da Fundação, gerou diversas acusações a esta, criando ainda mais polêmica junto ao públicodo que a própria Bienal Latino- Americana tinha gerado em sua protagonização.248 Trouxe também grandes polêmicas e questões reveladoras em sua entrevista a Floriano Martins, em dezembro de 2002.XXXII

Os rumores estouraram na imprensa em janeiro, no entanto, após um mês de abertura da mostra, ou seja, dezembro de 1978, a Fundação Bienal de São Paulo dava sua primeira resposta, garantindo que faria uma auditoria interna. Primeiro ato do presidente da Fundação Bienal, Luiz Fernando Rodrigues Alves, regressando de sua viagem dos EUA, foi encaminhar ao secretário o resultado de sua auditoria. A Fundação Bienal de São Paulo respondeu às acusações formuladas, em dezembro de 1978 e janeiro de 1979, respectivamente, através de órgãos de divulgação. Após dois meses de apurações a respeito de todas as irregularidades apontadas por Beuttenmüller, o público viria a conhecer o conteúdo do documento contra a Fundação Bienal. O secretário municipal da Cultura, Sábato Magaldi, recebeu o documento, juntamente com sua assessoria jurídica. Teve uma conduta de ouvir também a diretoria da Fundação Bienal de São Paulo e avaliar a necessidade ou não de supressão da verba. No entanto, para Beuttenmüller, esse tempo também serviu para que a Fundação Bienal

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pudesse colocar em ordem algumas questões pendentes que foram indicadas no relatório. A Fundação Bienal encontrava-se em uma situação complexa, ameaçada por dificuldades financeiras, e problemas encontrados com a própria diretoria. A Fundação Bienal respondeu às denúncias em documento ao secretário, evidenciando no documento as três acusações mesmo que o público ainda não pudesse ter acesso:

Acusação1: Uso indevido de seis milhões de cruzeiros destinados à realização da última mostra.

Acusação2: Falta de estrutura da Bienal, porque a FBSP estava com trinta anos. (Na opinião de Beuttenmüller era mais que ocasião para vender

know howe não mostrar o amadorismo da I Bienal Latino-Americana, e vir a sonhar com uma bienal em nível internacional).

Acusação3: A estrutura da Bienal só tinha um eletricista e seus operários para montar a exposição. Os outros eram contratados na hora, e sem terem um conhecimento anterior da montagem.249

A mídia externava sua indignação, publicando manchetes em que sondava se a Bienal estava ‘imune’ a qualquer suspeita ou não, mesmo que a Fundação Bienal fizesse provas, que as verbas foram usadas corretamente. O secretário municipal afirmou, por meio de sua assessoria jurídica, que estava satisfeito com as explicações, aclarando que o acordo celebrado entre as atividades da Fundação e a aplicação de recursos financeiros deferidos pela Prefeitura foram cumpridos. Explicou que seus diretores continuavam empenhados seriamente na causa da entidade, além das conclusões da auditoria

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especial, feita na entidade. Sábato Magaldi esclareceu que embora a imprensa e a opinião pública não tivessem tido qualqueracesso aos dois documentos, tanto o de acusação como o de defesa estavam auditados.

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Capítulo III

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