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Questões de Português/Literatura

No documento 7º Provão de Bolsas 2021 (páginas 45-57)

Prof.ª Bete Ana Leia o texto a seguir para responder às questões 81 a 84.

Plebiscito A cena passa-se em 1890.

A família está toda reunida na sala de jantar. O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade.

Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.

Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.

Silêncio.

De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:

– Papai, o que é plebiscito?

O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.

O pequeno insiste.

– Papai?

Pausa.

– Papai?

Dona Bernardina intervém:

– Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal.

O senhor Rodrigues não tem outro remédio senão abrir os olhos.

– Que é? Que desejam vocês?

– Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.

– Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?

– Se soubesse não perguntava.

O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola:

– Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!

– Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.

– Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?

– Nem eu, nem você: aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.

– Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!

– A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!…

– A senhora o que quer é enfezar-me!

– Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, falou, e o menino ficou sem saber!

– Proletário, acudiu o senhor Rodrigues, é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado.

– Sim, agora sabe porque foi ao dicionário: mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!

– Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!

– Oh! Ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: – Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito, vai buscar o dicionário, meu filho.

O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:

– Mas se eu sei!

– Pois se sabe, diga!

– Não digo para não me humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!

E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o quarto, batendo violentamente a porta.

No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário…

A menina toma a palavra:

– Coitado do papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é perigoso!

– Não fosse tolo, observa dona Bernardina, e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!

– Pois sim, acode o Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão: pois sim, mamãe, chame papai e façam as pazes.

– Sim! sim! façam as pazes! Diz a menina em tom meigo e suplicante. Que tolice! Duas pessoas que se estimam tanto zangarem-se por causa do plebiscito!

Dona Bernardina dá um beijo na filha e vai bater à porta do quarto:

– Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco.

O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a casa e vai sentar-se na cadeira de balanço.

– É boa! brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio; é muito boa! Eu! Eu ignorar a significação da palavra PLEBISCITO! Eu!…

A mulher e os filhos aproximam-se dele.

O homem continua num tom profundamente dogmático.

– Plebiscito…

E olha para todos os lados a ver se há por ali mais alguém que possa aproveitar a lição.

– Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecida em comícios.

– Ah! Suspiraram todos aliviados.

– Uma lei romana, percebem? E querem introduzir no Brasil! É mais um estrangeirismo!…

AZEVEDO, Artur. Contos de Artur Azevedo. São Paulo: DCL, 2005

81. (Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Após a leitura do texto, infere-se que Artur Azevedo desejava evidenciar

(A) a importância do conhecimento de palavras novas na educação dos filhos.

(B) a importância da manutenção da figura do homem na sociedade patriarcal.

(C) a importância da discussão de novos conceitos na sociedade da época.

(D) a importância do papel da mulher como conciliadora na sociedade patriarcal.

(E) a importância de conservar puro o idioma sem uso de estrangeirismos.

82.

“A menina toma a palavra:

– Coitado do papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é perigoso!

– Não fosse tolo, observa dona Bernardina, e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!”

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Considerando o excerto retirado do texto Plebiscito, de Artur de Azevedo, e o trecho em destaque, identifique a alternativa que apresenta o termo com a mesma função sintática.

(A) “Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.”

(B) “Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.”

(C) “Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!…”

(D) “– Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito, vai buscar o dicionário, meu filho.”

(E) “O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.”

83.

“– Não digo para não me humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!

E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o quarto, batendo violentamente a porta.

No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário…”

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Levando em conta os conceitos que envolvem a análise sintática e as informações fornecidas sobre o senhor Rodrigues, entendemos que

(A) era um homem estressado e impaciente.

(B) estava momentaneamente abalado.

(C) estava prestes a abandonar a família.

(D) era homem despreocupado.

(E) era oprimido pelos filhos.

84.

“– Não digo para não me humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!”

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) No texto Plebiscito, de Artur Azevedo, muito nervoso, o senhor Rodrigues quis dizer que

(A) somente discutia quando tinha razão.

(B) não tinha braços fortes para brigar.

(C) não costumava se dar por vencido.

(D) era fisicamente debilitado.

(E) não era combativo.

Leia o texto a seguir para responder às questões 85 a 87.

Estudo com anticorpos revela perigo de não tomar 2ª dose contra Covid-19

Em artigo publicado na revista "Nature", pesquisadores também ressaltam que infecções prévias por Sars-CoV-2 não garantem proteção contra nova contaminação

1. Um estudo publicado nesta segunda-feira (30) no periódico Scientific Reports, da revista Nature, demonstra que contrair Covid-19 não garante um nível alto de anticorpos e mostra que, após apenas uma dose de vacina, não há garantia de uma proteção robusta. Os resultados indicam que pessoas recuperadas da doença não estão completamente protegidas de episódios de reinfecção e ressaltam a importância da aplicação da segunda dose em toda a população.

2. Liderado por pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, o artigo avaliou exames de sangue de 27 adultos, com idade média de 40 anos, que tomaram Pfizer (59,3% dos indivíduos) ou Moderna (40,7%).

Deles, 13 testaram positivo para Sars-CoV-2 e 14 apresentaram resultado negativo. A partir disso, foi possível analisar por quanto tempo dura a imunidade conferida pelas vacinas de RNA mensageiro e quão eficientes elas são diante das variantes de preocupação do vírus.

3. Com amostras enviadas pelos participantes entre duas e três semanas depois da primeira e da segunda dose e dois meses após completarem o ciclo vacinal, os especialistas fizeram testes de anticorpos neutralizantes. Em laboratório, eles observaram a capacidade do sangue de inibir a interação entre a proteína spike do coronavírus e o receptor ACE2 das células humanas por meio da qual o Sars-CoV-2 causa a infecção ao entrar no nosso corpo.

4. A taxa média de inibição foi de 98% para exames coletados três semanas depois da aplicação da segunda dose, o que indica um alto índice de anticorpos neutralizadores. Em geral, o nível de anticorpos IgG aumentou em cinco vezes de uma dose para a outra. Porém, frente às variantes Beta (B.1.351), Alfa (B.1.1.7) e Gama (P.1), a proteção caiu para entre 67% e 92% com a segunda dose — somente com a primeira, esses números variaram de 27% a 46%.

5. Dois meses após a segunda dose, os pesquisadores concluíram que as respostas dos anticorpos diminuíram em 20%. A redução também mudou conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas que foram contaminadas e tiveram vários sintomas desenvolveram uma resposta mais forte. “Para indivíduos com quadros leves ou assintomáticos, a resposta de anticorpos à vacinação é, essencialmente, a mesma de quem não foi infectado”, explica, em nota, o pesquisador Thomas McDade.

6. “Muitas pessoas acreditam que uma exposição anterior ao vírus irá conferir imunidade à reinfecção. Com base nessa lógica, alguns irão pensar que não precisam ser vacinados ou necessitam apenas da primeira dose”, alerta McDade. Por isso, o estudo reforça a importância da segunda dose da vacina. Além de sabermos que o efeito dos imunizantes pode diminuir com o tempo, as novas variantes representam um risco maior à saúde das comunidades.

7. Os cientistas ressaltam que, apesar da pesquisa ter sido conduzida antes da emergência da variante Delta (B.1.617.2), as conclusões para essa cepa do vírus são similares: a proteção fornecida pelas vacinas é boa, mas elas foram feitas com base na versão original do Sars-CoV-2.

8. “Combinando isso com o fato de que a imunidade cai com o tempo, há uma maior vulnerabilidade a infecções em pessoas vacinadas”, diz McDade. “Portanto, agora são dois golpes: a Delta e uma imunidade decrescente entre o primeiro grupo de imunizados.”

REDAÇÃO GALILEU. Disponível em <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2021/08/estudo-com-anticorpos-revela-perigo-de-nao-tomar-2-dose-contra-covid-19.html>

Acesso em 30/08/2021.

85. (Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Após a leitura do texto “Estudo com anticorpos revela perigo de não tomar 2ª dose contra Covid-19”, não encontramos

(A) argumento com base em evidências no segundo parágrafo.

(B) argumento que se aproxima do senso comum no sexto parágrafo.

(C) argumento com base no raciocínio lógico no oitavo parágrafo.

(D) argumento com base em comprovação no terceiro parágrafo.

(E) argumento com base em citação no primeiro parágrafo.

86. (Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Localize no texto as orações introduzidas por “que”

e, em seguida, identifique a alternativa que apresenta uma classificação diferente para esse termo.

(A) “[...] que, após apenas uma dose de vacina [...]” – primeiro parágrafo.

(B) “[...] que pessoas recuperadas da doença [...]” – primeiro parágrafo.

(C) “[...] que as respostas dos anticorpos [...] – quinto parágrafo.

(D) “[...] que foram contaminadas [...] – quinto parágrafo.

(E) “[...] que o efeito dos imunizantes [...] – sexto parágrafo.

87.

“Dois meses após a segunda dose, os pesquisadores concluíram que as respostas dos anticorpos diminuíram em 20%. A redução também mudou conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas que foram contaminadas e tiveram vários sintomas desenvolveram uma resposta mais forte. “Para indivíduos com quadros leves ou assintomáticos, a resposta de anticorpos à vacinação é, essencialmente, a mesma de quem não foi infectado”, explica, em nota, o pesquisador Thomas McDade.”

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Considere o trecho destacado e identifique a alternativa que não apresenta alteração de sentido.

(A) “A redução também mudou conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas as quais foram contaminadas não só tiveram vários sintomas como também desenvolveram uma resposta mais forte.”

(B) “Embora a redução tenha mudado conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas cujas foram contaminadas e tiveram vários sintomas desenvolveram uma resposta mais forte.”

(C) “Como a redução também mudou conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas foram contaminadas ou tiveram vários sintomas desenvolveram uma resposta mais forte.”

(D) “Enquanto a redução também mudou conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas que foram contaminadas, entretanto, tiveram vários sintomas desenvolveram uma resposta mais forte.”

(E) “A redução não mudou conforme o histórico de infecção por Covid-19: pessoas as cujas foram contaminadas e tiveram vários sintomas desenvolveram uma resposta mais forte.”

88.

WATERSON, Bill. O Melhor de Calvin. Disponível em <https://cultura.estadao.com.br/quadrinhos/bill-waterson,o-melhor-de-calvin,1190979> Acesso em 30/08/2021.

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Não encontramos na tira de Bill Waterson apenas (A) hipérbole.

(B) sujeito desinencial.

(C) predicativo do sujeito.

(D) antítese.

(E) anáfora.

89.

Falta de água em São Paulo. Disponível em <http://4.bp.blogspot.com/-h_zp3HIeoaI/VMvd8UXA-XI/AAAAAAAAOKE/jK9UuTmseaQ/s1600/1.jpg> acesso em 30/08/2021.

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) A partir da primeira fala do texto, analise sintaticamente o termo “de sede”.

(A) objeto direto.

(B) adjunto adverbial.

(C) adjunto adnominal.

(D) complemento nominal.

(E) objeto indireto.

90. (Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Identifique a alternativa em que o recurso expressivo está de acordo com o exemplo dado.

(A) “Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para arroz.” (Guimarães Rosa) – zeugma.

(B) “Deu-me notícias da gente Aguiar; estão bons.” (Machado de Assis) – silepse de pessoa.

(C) “Umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestáveis.” (J. Lins do Rego) – anacoluto.

(D) “E a minha terra se chamará terra de Jafé, e a tua se chamará terra de Sem; e iremos às tendas um do outro, e partiremos o pão da alegria e da concórdia.” (Machado de Assis) – assíndeto.

(E) “O som longínquo vem-se aproximando / do galopar de estranha cavalgada.” (Raimundo Correia) – eufemismo.

91.

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios Não gosto das palavras

fatigadas de informar dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapato.

Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.

Porque eu não sou da informática:

Eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.

BARROS, Manoel de. In: PINTO, Manuel da Costa (Org.) Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006, p. 7374.

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Manuel de Barros é um importante nome da nossa poesia contemporânea; nesse poema, predomina o uso da

(A) função apelativa, visto que o eu lírico deseja convencer o leitor a valorizar a natureza.

(B) função expressiva, porque apresenta ao leitor suas preferências.

(C) função metalinguística, pois o poema trata do trabalho poético.

(D) função denotativa, pois o eu lírico informa e faz comparações.

(E) função fática, dado que o eu lírico apresenta somente elementos concretos.

92.

WATERSON, Bill. O Melhor de Calvin. Disponível em <https://cultura.estadao.com.br/quadrinhos> Acesso em 30/08/2021.

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Durante a elaboração da tira, foi negligenciado que (A) todos os monossílabos tônicos devem ser acentuados.

(B) foram abolidos todos os acentos diferenciais.

(C) oxítonas terminadas em “e” não são mais acentuadas.

(D) todas as proparoxítonas são acentuadas.

(E) nem todos os acentos diferenciais foram abolidos.

93.

O dia em que os jacarés invadiram Nova York

Deu no jornal: experiências genéticas produziram minúsculos jacarés que foram vendidos aos milhares em Nova York como brinquedo. Mas eram ferozes como seus ancestrais e os pais, receosos de que os filhos fossem mordidos, despejaram os jacarezinhos nos vasos sanitários e puxaram a descarga. Foi um erro fatal: centenas de jacarés sobreviveram e fizeram dos esgotos da cidade seu habitat. E lá, durante anos, se reproduziram. E cada geração - sabe-se lá os insondáveis mistérios da genética - aumentava de tamanho, acabando por produzir espécies muito maiores que os crocodilos do Nilo.

Quando as autoridades deram pela coisa era tarde. Pelas saídas do metrô, pelas galerias de esgotos, pelo rio Hudson, milhões de jacarés gigantescos ganharam as ruas num ataque de surpresa e comeram a maior parte da população. Mais espantoso ainda: os jacarés assimilavam a personalidade daqueles que devoravam. De modo que a estrutura da cidade não se alterou muito, só que em vez de seres humanos eram jacarés que dominavam a cidade:

serviços públicos, transporte, comunicação, tudo. A estátua da Liberdade foi substituída por um jacaré com um archote. Nem todos os habitantes foram comidos. Os jacarés que haviam comido os cientistas especializados em genética começaram a fazer experiências com suas cobaias humanas. Até que conseguiram reproduzir em laboratório homenzinhos com 20 centímetros de altura, que foram vendidos como brinquedos para os filhotes de jacarés. Mas os minúsculos seres não haviam perdido a ferocidade de seus ancestrais e começaram a hostilizar seus donos com lanças improvisadas.

Os jacarés, com receio de que seus filhos se machucassem, pegaram os homenzinhos e os despejaram nos vasos sanitários. E puxaram a descarga. Foi um erro fatal para os jacarés.

Jaguar. Contos jovens. São Paulo, Brasiliense, 1975)

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) A respeito do texto, é correto afirmar que (A) apresenta predomínio da logicidade.

(B) apresenta verossimilhança externa.

(C) apresenta impessoalidade na narrativa.

(D) apresenta verossimilhança interna.

(E) apresenta estereótipos entre os filhos.

94.

“- Não esteja forjando desculpas: não admito desculpas. Vá no domingo.

Garcia foi lá domingo. Fortunato deu-lhe um bom jantar, bons charutos e boa palestra, em companhia da senhora, que era interessante. A figura dele não mudara; os olhos eram as mesmas chapas de estanho, duras e frias; as outras feições não eram mais atraentes que dantes. Os obséquios, porém, se não resgatavam a natureza, davam alguma compensação, e não era pouco. Maria Luísa é que possuía ambos os feitiços, pessoa e modos. Era esbelta, airosa, olhos meigos e submissos; tinha vinte e cinco anos e parecia não passar de dezenove. Garcia, à segunda vez que lá foi, percebeu que entre eles havia alguma dissonância de caracteres, pouca ou nenhuma afinidade moral, e da parte da mulher para com o marido uns modos que transcendiam o respeito e confinavam na resignação e no temor. [...]

A comunhão dos interesses apertou os laços da intimidade. Garcia tornou-se familiar na casa; ali jantava quase todos os dias, ali observava a pessoa e a vida de Maria Luísa, cuja solidão moral era evidente. E a solidão como que lhe duplicava o encanto. Garcia começou a sentir que alguma coisa o agitava, quando ela aparecia, quando falava, quando trabalhava, calada, ao canto da janela, ou tocava ao piano umas músicas tristes. Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração. Quando deu por ele, quis expeli-lo para que entre ele e Fortunato não houvesse outro laço que o da amizade; mas não pôde. Pôde apenas trancá-lo; Maria Luísa compreendeu ambas as coisas, a afeição e o silêncio, mas não se deu por achada.”

ASSIS, Machado de. A causa secreta.

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) O conto “A causa secreta”, de Machado de Assis, pertence à fase realista do autor; a respeito do que se observa no excerto, é correto afirmar que Machado evidencia

(A) a mulher idealizada, como anjo de perfeição e pureza.

(B) o adultério presente na relação que envolve a amizade.

(C) o casamento como uma instituição falida.

(D) a afetuosidade do marido na sociedade patriarcal.

(E) a comunhão de interesses entre o casal.

95.

“Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar o pulso ao homem. Não só as condecorações gritavam-lhe do peito como uma couraça de grilos: Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei - o autocrata excelso dos silabários; a pausa hierática do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino público; o olhar fulgurante, sob a crispação áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes - era a educação da inteligência;

o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a lisura das consciências limpas - era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem... não veem os côvados de Golias?!... Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas maciças de fios alvos, torneadas a capricho, cobrindo os lábios, fecho de prata sobre o silêncio de ouro, que tão belamente impunha como o retraimento fecundo do seu espírito, - teremos esboçado, moralmente, materialmente, o perfil do ilustre diretor.”

POMPEIA, Raul. O Ateneu. MINISTÉRIO DA CULTURA. Fundação Biblioteca Nacional. Departamento Nacional do Livro

(Estratégia Vestibulares 2021 – Inédita – Prof.ª Bete Ana) Em O Ateneu, de Raul Pompeia, Aristarco Argolo de Ramos é o diretor do colégio Ateneu. A respeito da descrição feita sobre ele, somente não encontramos

(A) inverdade.

(B) autenticidade.

(C) vaidade.

(D) premeditação.

(E) ostentação.

96.

“[...] é um movimento que atravessa o final do século XIX, e que exprime a tonalidade espiritual de uma época, conciliando o cosmos e a psique. A experiência poética associa-se, então, à meditação metafísica. A beleza torna-se um ideal, com a rejeição lógica da sociedade ‘burguesa’. Há um desencanto generalizado, o mundo entra em crise, o

“[...] é um movimento que atravessa o final do século XIX, e que exprime a tonalidade espiritual de uma época, conciliando o cosmos e a psique. A experiência poética associa-se, então, à meditação metafísica. A beleza torna-se um ideal, com a rejeição lógica da sociedade ‘burguesa’. Há um desencanto generalizado, o mundo entra em crise, o

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