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Questões metodológicas princípios privilegiados

4. OPÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

4.2 Questões metodológicas princípios privilegiados

Por questões metodológicas entendem-se as que envolvem metodologia, método e técnicas, três termos polissémicos na língua portuguesa, mas não só.

Entendendo por metodologia um dos três pilares (com a ontologia e a epistemologia) do enquadramento meta teórico ou paradigma, mais ou menos explicitamente presente em qualquer exposição, crê-se poder considerá-la construtivista, com as características (hermenêutica e dialéctica) que lhe atribui Guba (1990). Caracterizar ou denominar o método utilizado é mais difícil por duas ordens de razões; por um lado, porque nos autores consultados não se encontra uma inequívoca classificação de métodos e por outro porque por qualquer delas que se opte, aparecem no trabalho traços de mais do que um método.

Em relação à primeira dificuldade, clarifica-se citando dois exemplos "... referindo-nos aos métodos, que podemos classificar em experimental, de

medida, (ou análise extensiva) e de casos (ou análise intensiva)...'" (Vala,

método: a pesquisa documental, a observação, o questionário, a entrevistai

(Blanchet e Gotman, 1992), encontrando-se neste caso uma outra dificuldade que é a de escolher entre o significado de método do título (L'enquête et ses méthodes) e o do texto aqui citado. No que se refere ao segundo tipo de dificuldades, se se adoptar a primeira classificação de método citada, podem encontrar-se características do método experimental, atendendo ao que diz Paul Fraisse (1973): %..) O observador é levado a formular uma

hipótese(..,)", %..) o direito de usar o termo experimental quando apela à experimentação, isto é, organiza uma experiência" e "Em resumo, o método experimental propõe-se essencialmente verificar", como podem encontrar-se

do método de casos. Se se adoptar a segunda definição, (a do texto que não a do título) o trabalho inclui claramente três dos métodos referidos: a pesquisa documental, a observação e a entrevista.

Se as dificuldades na designação do método não impedem a de construtivista para a metodologia, transitam porém para a definição das técnicas. A usar a classificação de Jorge Vala, observação, pesquisa documental e entrevista seriam as técnicas usadas, ficando ainda por caracterizar as modalidades usadas de cada uma delas; a usar para estes três processos de recolha de informação o nome de métodos, as técnicas seriam as formas que cada um deles revestiu na sua aplicação concreta.

Às ambiguidades referidas somam-se dificuldades próprias do terreno.

É do conhecimento geral que os trabalhos que se debrucem sobre a actividade profissional de médicos encontram dificuldades, em especial do foro das questões metodológicas, com origem na deontologia e no

estatuto social da classe, dificuldades que são mais agudas para os estranhos à profissão.

"É óbvio (il va de soi) que o estudo do erro humano no campo da medicina levanta dificuldades metodológicas importantes do ponto de vista da recolha dos erros, da avaliação do comportamento, dos fenómenos de stress, e da confidencialidade dos resultados."(Nyssen, 1997). Ainda que o erro que

aqui se procura seja a dificuldade conceptual e não a acção incorrecta, as dificuldades não são menores.

Considera-se também que, mau grado aquelas ambiguidades, alguns princípios metodológicos por que se optou estão já visíveis no que anteriormente se expôs. Concretamente: a caracterização do terreno foi feita através de múltiplas formas de recolha de dados que incluíram a análise de documentos, a observação e a entrevista. Essa mesma multiplicidade se encontra no também procurado estreitamento das questões postas e da área da actividade em que se propõe investigar a hipótese de partida.

A selecção de um terreno e de uma actividade (a anestesia) se envolve um princípio epistemológico, como referido antes, implica também do ponto de vista metodológico o privilégio atribuído ao estudo de caso.

A importância atribuída ao estudo de caso, a multiplicidade das técnicas de recolha de dados e o estreitamento ou afunilamento da área de investigação configuram uma postura em que "a investigação em Psicologia do Trabalho utiliza preferencialmente metodologias qualitativas e é portanto observacional, descritiva e explicativa" (Duarte, 1998).

Esta postura é melhor clarificada e as ambiguidades respeitantes às questões metodológicas far-se-ão sentir menos se se distinguir (ou contrapuser) a metodologia (e método) à estratégia de construção do objecto de pesquisa como fazem Curie e Cellier (1987), remetendo as dificuldades para o plano das relações hipótese orientadora - problema- método.

Nessa perspectiva o trabalho é "uma sequência de escolhas" em que constrangimentos, visão pessoal e recursos do autor, nas suas relações com o meio são determinantes, embora não esquecendo que "o objecto é

também construído pelo método epelas técnicas" (Curie et Cellier, 1987).

Essa sequência de escolhas que constitui ao mesmo tempo, um estreitamento da área da actividade e dos conhecimentos científicos básicos a interrelacionar sob a orientação da hipótese de partida pode ser considerada uma sucessão de resultados parciais da análise das fontes de dados em que foi possível acordar (Curie e Cellier usam o termo negociar).

Exactamente o mesmo sucedeu em relação à situação. Das três possíveis (a actividade dos anestesistas distribui-se pelos ramos assistencial, de ensino/aprendizagem e de investigação), foi acordada uma situação didáctica e nesta o uso, como técnica de exploração da hipótese, de uma simulação. Condicionalismos como as limitações de acesso à vertente assistencial da actividade, que serão adiante apontados, determinaram a selecção de um simulador, as condições do seu uso e os próprios participantes no trabalho empírico propriamente dito. Determinaram ainda que a exploração da hipótese com um simulador tivesse de ser precedida primeiro da análise do

mesmo simulador e conduzisse depois num "movimento de nuclearização e periferização dos problemas" (Carrilho, in Grácio, 1998) a uma "comparação" de simuladores.

O trabalho empírico propriamente dito, ao orientar-se para o uso de um simulador determinado em que se descrimina a simulação trabalhada e o questionamento colocado, constituiu um processo de analisar de forma aprofundada a reflexão inicial, dando-lhe simultaneamente maior precisão e conteúdo, tendo todavia introduzido um instrumento que, face às reacções despertadas, levantou novos problemas. Se esse processo contraria de algum modo o privilégio atribuído à análise da actividade por se concentrar apenas numa faceta restrita da mesma (a actividade de aprendizagem), ganha contornos de "experiência de laboratório" nomeadamente em termos de aproximação à possibilidade de reprodução. O que representando como que uma concessão à metodologia positivista, remete para a afirmação já referida de que "acabamos então por reencontrar o laboratório... mas inserido e

estreitamente articulado sobre o que caracteriza o «trabalho real»n

(Lacomblez, Santos e Vasconcelos, 1999)

A sequência, processos e técnicas de recolha de dados e condicionalismos envolventes, resumidos no quadro seguinte e detalhados depois explicitam as considerações epistemológicas e metodológicas expostas.

As características do estudo empírico e a descrição acabada de referir deveriam também facilitar a retoma e eventual melhoria por outros investigadores, da mesma análise, infirmando ou confirmando as conclusões apresentadas. Pretende-se assim por em prática o princípio da verificação/falsificação)