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6 ENTREVISTAS COM ATORES CHAVES DA ÁREA DE INDICADORES

6.1 Respostas relativas ao Déficit Habitacional

6.1.5 Questões objetivas

No questionário estruturado para esta pesquisa foram apresentadas seis questões objetivas sobre o déficit habitacional. A primeira solicitava selecionar qual o indicador mais adequado a ser composto pelo ônus excessivo com o aluguel: déficit habitacional, inadequação de domicílios ou outra sugestão. As respostas foram sistematizadas no Quadro 19.

Quadro 19 – Respostas das questões sobre a adequação dos componentes ao déficit habitacional.

Entrevistado n°

O componente habitação precária deve compor

qual indicador?

O componente ônus excessivo com o aluguel deve compor qual indicador?

1 Déficit Outro indicador

2 Déficit Outro: o ônus excessivo com o aluguel deveria sair da metodologia do déficit devido ao seu caráter econômico.

119

4 Déficit Déficit

5 Déficit Outro: indicador que mensura uma situação econômica e não a necessidade de reposição do estoque.

6 Déficit Déficit

7 Déficit Déficit

8 Déficit Déficit

9 Outro: déficit habitacional

por incremento Déficit

10 Déficit Outro: déficit habitacional em potencial

Fonte: Elaborado pela Autora com base nas entrevistas realizadas (2020).

Dos 10 entrevistados, 50% dos entrevistados considera que o componente não deve estar presente no cálculo do déficit habitacional devido ao seu caráter econômico e outras limitações. Em contraponto, 50% acreditam que deve compor o déficit habitacional.

Ainda, os entrevistados foram solicitados a responder quais componentes e subcomponentes deveriam compor o indicador do déficit habitacional. As respostas foram sistematizadas no Quadro 20.

Acerca da pergunta sobre os componentes que atualmente compõem o déficit habitacional, os entrevistados foram questionados sobre: habitação precária, coabitação familiar, ônus excessivo com o aluguel e adensamento excessivo em domicílios alugados.

A respeito da habitação precária em oposição ao dito na questão anterior, todos responderam que deveria compor o déficit. Sobre a coabitação familiar, apenas o entrevistado n° 10 respondeu que não deveria compor o déficit. Quanto ao ônus excessivo com o aluguel, quatro entrevistados acham que não deve compor o déficit habitacional. Já o adensamento excessivo em domicílios alugados, dois entrevistados consideram que não deve compor o déficit.

As demais perguntas tratam da possibilidade de inclusão dos seguintes componentes: estado de conservação da edificação, materialidade da edificação, piso e custo acessível da edificação. As questões do estado de conservação da edificação e materialidade do piso foram incluídas por serem quesitos utilizados no estudo do CEPAL sobre necessidades habitacionais na América Latina (Villatoro, 2017). Já o custo acessível da edificação foi inserido devido aos inúmeros estudos sobre affortable housing na América do Norte e sua participação no conceito da ONU de moradias adequadas (Ver Capítulo 1.3).

Sobre a inclusão do estado de conservação da edificação no déficit habitacional, quatro entrevistados foram a favor da inclusão. Acerca da materialidade do piso, dois entrevistados

120 foram a favor da inclusão. Quanto ao custo acessível da edificação, dois entrevistados foram a favor.

Quadro 20 – Respostas da questão “quais componentes e subcomponentes devem compor o déficit habitacional”.

Entrevistado Habitações precárias Coabitação familiar Ônus excessivo com aluguel Adensamento excessivo em domicílios alugados Estado de conservação da edificação Materialidade da edificação (piso) Custo acessível da edificação 1 S S N N S N N 2 S S S S N N N 3 - - - - 4 S S S S N N N 5 S S N N S S S 6 S S S S N N N 7 S S S S S S N 8 S S S S N N S 9 S S N S N N N 10 S N N S S N N

Fonte: Elaborado pela Autora com base nas entrevistas realizadas (2020). Sobre as inclusões, seguem alguns comentários dos entrevistados.

“Eu concordo que seja considerado déficit habitacional um domicílio cujo estado de conservação exija a reconstrução. Agora, como mensurar isso, como o recenseador vai identificar isso são questões que devem ser resolvidas e, para isso, devem ser criadas metodologias específicas de mensuração.” (Entrevistado n° 7).

Para além dos componentes e subcomponentes, os entrevistados foram questionados sobre os fatores externos que impactam o indicador ao longo da série histórica, respondendo à seguinte pergunta: “quais fatores influenciaram o comportamento e o resultado numérico do indicador déficit habitacional, sob o ponto de vista econômico, político, social, comportamental, cultural, urbanístico, legal, etc.”? (Ver Figura 12 e 13 – Item 3.1.2).

Todos os entrevistados consideram que os aspectos econômicos tiveram alto impacto. No tocante à eficácia de políticas públicas, os entrevistados n° 7 e 10 acreditam ter baixo impacto e o entrevistado n° 6 acredita ter médio impacto. Acerca da melhoria da renda das famílias, apenas o entrevistado n° 4 considera um médio impacto, enquanto os demais acreditam em um alto impacto. A respeito do mercado imobiliário brasileiro, as opiniões foram bem divergentes, e os entrevistados oscilaram entre alto, médio e baixo impacto. Por fim, acerca das mudanças metodológicas, seis entrevistados entendem ter um alto impacto no indicador, enquanto os entrevistados n° 5 e 9 consideram médio e baixo, respectivamente.

121 Quadro 21 – Resultado da influência dos fatores externos no comportamento do déficit habitacional ao longo do

tempo. Entrevistado Aspectos macroeconômicos Eficácia das políticas públicas Melhoria da renda das famílias Mercado imobiliário brasileiro Acesso ao crédito Mudanças metodológicas

1 Alto impacto alto impacto alto impacto

alto impacto

alto

impacto alto impacto

2 - - - -

3 - - - -

4 Alto impacto alto impacto médio

impacto - - -

5 alto impacto alto impacto alto impacto

médio impacto

alto

impacto médio impacto

6 alto impacto médio

impacto alto impacto médio impacto alto

impacto alto impacto

7 alto impacto Baixo

impacto alto impacto pouco impacto alto

impacto alto impacto 8 alto impacto alto impacto alto

impacto

médio impacto

alto

impacto alto impacto 9 alto impacto alto impacto alto

impacto

Baixo impacto

médio

impacto baixo impacto 10 alto impacto baixo impacto alto

impacto

médio impacto

médio

impacto alto impacto Fonte: Elaborado pela Autora com base nas entrevistas realizadas (2020).

Depreende-se das respostas que a maior parte dos entrevistados considera como alto impacto no déficit habitacional os seguintes parâmetros: aspectos macroeconômicos, eficácia de políticas públicas, melhoria da renda das famílias, acesso ao crédito e mudanças metodológicas. O mercado imobiliário brasileiro teve médio e baixo impacto.

Além disso, o entrevistado n° 2 não respondeu a questão sobre o impacto dos indicadores ao longo do tempo, por entender que a análise de série histórica deveria se limitar apenas aos anos de 2007 a 2015, visto que foram os anos que não tiveram extremas mudanças metodológicas.

Os entrevistados foram questionados sobre “outros possíveis fatores que influenciaram o comportamento e o resultado numérico do indicador” baseados nas Figuras 12 e 13 – Item 3.1.2. Os entrevistados n° 5, 6 e 8 destacaram a importância dos aspectos macroeconômicos sobre a trajetória dos indicadores. Os entrevistados n° 4 e 7 pontuaram o aumento da demanda causada pelo programa habitacional (Programa Minha Casa, Minha Vida) e o Entrevistado n° 8 pontuou as alterações nas perguntas da PNAD anual para a PNAD Contínua.

“Os aspectos econômicos em geral são aqueles que causam maior impacto na política habitacional, assim como a eficiência dos processos que viabilizam a política pública” (Entrevistado n° 5).

122 “Gostaria apenas de destacar os aspectos macroeconômicos e sua incidência sobre as políticas econômicas como os mais cruciais em minha opinião” (Entrevistado n° 6).

“O cenário econômico do país influencia fortemente os seguintes componentes do déficit habitacional: ônus excessivo com aluguel, adensamento excessivo com aluguel e coabitação familiar, o que pode dificultar a avaliação do impacto das ações das políticas públicas habitacionais” (Entrevistado n° 8).

“Aumento de demanda causada pelo próprio programa habitacional (coabitacão) e valorização imobiliária, em parte causada pelo programa habitacional (ônus execessivo)” (Entrevistado n° 4).

“Tem um fator indutor que é o país ter um programa habitacional atuante, por que às vezes as pessoas estavam confortáveis na família convivente, por exemplo, mas ter um programa de produção habitacional acaba gerando uma demanda habitacional. As políticas públicas habitacionais induzem a demanda, como a urbanização de favelas. Trata-se da divisão demanda e déficit, a demanda não atendida se transforma em déficit” (Entrevistado n° 7).

“Políticas públicas induzem o aumento da demanda. O mercado imobiliário para habitação popular foi criado a partir de políticas públicas. O maior impacto das mudanças metodológicas foi no componente coabitação familiar” (Entrevistado n° 7).

“As mudanças nas perguntas contidas na pesquisa nacional por amostra de domicílio que impactaram na metodologia dos cálculos dos componentes ou subcomponentes” (Entrevistado n° 8).

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