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Questões teóricas sobre ideologia

CAPÍTULO I – QUESTÕES TEÓRICAS E APRESENTAÇÃO GERAL DA

CAPÍTULO 5. TRANSFORMAÇÕES INTRAPARTIDÁRIAS NA ATUAÇÃO

5.1 Questões teóricas sobre ideologia

A classificação ideológica dos partidos políticos nos ajuda a compreender a dinâmica e estrutura das agremiações de modo a nos permitir avaliar porque algumas coalizões políticas são formadas, e a nível transnacional investigar o papel desempenhado pela ideologia na promoção de alianças, bem como a fragmentação dos sistemas partidários (MAIR, 2001). Desde a reorganização do sistema partidário brasileiro, os partidos têm sido posicionados de diferentes formas, de acordo com a classificação ideológica dos cientistas políticos. A percepção sobre os partidos está relacionada com o sistema partidário e suas mudanças a partir da institucionalização do mesmo e transformações de suas orientações políticas, em especial quando confrontados com a realidade do governo (RODRIGUES, 2002 p. 32).

A díade direita-esquerda nas ciências humanas tem sofrido inúmeras tentativas de explicação por parte da psicologia, história e sociologia (BOBBIO, 1994). A abordagem clássica de ancoragem sociológica credita à esquerda o significado de mudança social em busca de maior igualitarismo, enquanto à direita a manutenção do tradicional capitalismo socioeconômico (IGNAZI, 2003 p. 05). Nos últimos anos, com a crescente complexidade da sociedade e a queda das clivagens políticas tradicionais suplantadas pelo enfraquecimento ideológico de algumas instituições políticas, houve crescente crítica quanto à validade explicativa das categorias esquerda-direita para apreender a realidade atual (BOBBIO, 1994; IGNAZI, 2003).

Algumas análises mais recentes diminuíram a importância das questões econômicas, a partir da menor ênfase dos partidos políticos em relação as clivagens sociais e passaram a destacar questões culturais. Nesta seara, Inglehart (1977), acrescenta ao espectro esquerda-direita, questões materiais e pós-materialistas a partir de um processo de mudanças de valores. Assim, a clivagem econômica clássica esquerda-direita na competição partidária é sobreposta, atualmente, por uma nova clivagem cultural (NORRIS e INGLEHART, 2016113). Essas questões culturais enfraqueceram a polarização política baseada na classe social, e “a base social de apoio às novas políticas de esquerda vem cada vez mais das fontes da classe média - mas, ao mesmo tempo, uma parte substancial da classe trabalhadora deslocou seu apoio aos partidos populistas” (idem, p. 25).

Há sérios obstáculos envolvidos na mensuração de ideologias eleitorais e ideologias partidárias (ADAMS J, CLARK M, EZROW L, ET AL., 2004). Apesar das posições esquerda-direita serem comumente empregadas em argumentos teóricos e ou testes empíricos, exige-se medidas confiáveis para tal tarefa (GABEL e HUBER, 2000).

O posicionamento dos partidos políticos no espectro ideológico esquerda-direita tem sido amplamente aplicado em estudos empíricos de política comparada e estudos de casos, perfazendo três as principais abordagens: 1) surveys desenvolvidos por especialistas, 2) dados de pesquisas de opinião e 3) análise dos manifestos partidários (DINAS e GEMINIS, 2009). Além dessas, acrescentamos o uso da análise das votações nominais. São extensas as críticas e limitações de cada abordagem acima. Budge (2000, p. 111), ao discorrer sobre o uso de surveys para classificação ideológica alerta que este

113 Para os autores, a nova clivagem cultural é denominada como os populistas e os liberais cosmopolitas,

e entendida como ortogonal à clivagem da classe econômica clássica, que dominou a competição partidária na Europa Ocidental (NORRIS e INGLEHART, 2016).

tipo de pesquisa produz algo como uma foto de onde o partido está em um determinado momento; não é claro se este tipo de pesquisa reflete intenções ou comportamentos dos partidos políticos; se estas pesquisas são baseadas em eventos, não podem ser usadas para explicar comportamentos, como a formação de governos e alianças ao longo do tempo. Carruba et all (2006) alerta que o uso das votações nominais, não somente para o posicionamento ideológico, representa apenas uma fração dos votos legislativos, o que pode ser um viés na pesquisa, mesmo isso não invalidando a importância desses dados.

No Brasil, a conceituação do conteúdo esquerda e direita tem sido tratado por especialistas das mais diversas formas. Essa definição além de sofrer variação ao longo do tempo, é influenciada conforme o aporte teórico, concepções normativas e o contexto cultural (MADEIRA e TAROUCO, 2013).

Nessa direção, Rodrigues (2002), classificou as agremiações conforme o posicionamento ideológico e a composição social de suas bancadas. Para tanto, trabalhou com os partidos que elegeram mais de 5% do total de deputados na Câmara dos Deputados e que apresentavam consistência ideológica. Para o autor, os parlamentares, de acordo com suas origens socioeconômicas, fazem parte de partidos que mais se aproximam de suas posições ideológicas, indicando que as agremiações também se diferenciam quanto aos segmentos sociais neles representados. Apesar da grande contribuição deste artigo, não é discutido pelo autor como se é realizada a classificação esquerda-direita. O autor limita-se a acompanhar as classificações expressas pela maior parte dos especialistas e meios de comunicação, apesar de reconhecer que há alguns pontos de divergências nessas classificações. Assim, Rodrigues classifica os partidos em três blocos: direita – PPB e PFL; centro – PMDB e PSDB; e esquerda PDT e PT.

Mainwaring, Meneguello e Power (2000), propõem uma classificação conforme posições pragmáticas dos partidos. Os autores realizaram uma divisão das agremiações segundo o posicionamento destas em relação à certas políticas, expressas principalmente por meio das votações no Congresso, mas também por pesquisas de opinião nessa mesma instituição. No mais, os autores dividiram o conteúdo da agenda defendida por partidos conservadores ao longo dos anos: 1987- 1988, defesa de posições autoritárias, contrários a abertura dos arquivos militares e predisposição as formas restritas de democracia; 1990, defesa do neoliberalismo, abertura ao capital estrangeiro, enxugamento da máquina estatal, privatizações, oposição à reforma agrária, contrários ao aborto e união entre pessoas do mesmo sexo (idem, 2000). À época, os autores classificaram os partidos

brasileiros conservadores da seguinte forma114: Centro Direita: Partido Democrata Cristão - PDC (Fundiu-se com o PDS e formou o PPR), Partido Municipalista Brasileiro – PMN, Partido Progressista – PP, Partido Social Cristão – PSC, Partido Social Liberal – PSL, Partido Trabalhista Brasileiro – PTB e Partido Trabalhista Renovador – PTR; Direita: Partido Democrático Social – PDS, Partido da Frente Liberal - PFL (Atualmente DEM), Partido Liberal – PL, Partido Progressista Brasileiro – PPB, Partido da Reconstrução Nacional – PRN, Partido da Reedificação da Ordem Nacional – PRONA, Partido da Representação Popular – PRP e Partido Social Democrático – PSD.

Por sua vez Zucco (2011), com foco nos estudos legislativos, utilizou como metodologia o registro da opinião dos próprios parlamentares a respeito da ideologia, por meio de entrevistas realizadas com 139 deputados e senadores, mais os dados das votações nominais destes. Como resultado, os autores demonstraram que esquerda-direita ainda estão associadas à intervenção do Estado na economia. Também constataram que ocorreu uma importante retração à esquerda, que os partidos, em geral, independente do espectro ideológico, estão mais ao centro; há também a tendência do fenômeno “direita envergonhada”, ou seja, parlamentares que se declaram mais à esquerda de onde realmente estão; e pouca variação ideológica das agremiações ao longo do tempo. Como resultado: PSOL mais à esquerda; no extremo oposto está o DEM mais à direita, acompanhado logo após pelo PP; PMDB, PPS e PSDB estão no centro.

Madeiro e Tarouco (2013), analisaram as posições dos partidos políticos por meio dos manifestos partidários. Para tanto, utilizaram como método uma adequação das categorias do Manifesto Project. Os autores constataram mudanças pragmáticas das agremiações que podem estar relacionada com o enfraquecimento dos vínculos sociais dos partidos com suas bases sociais de origem, somada à possível adaptação às mudanças conjunturais. Também verificaram que há um deslocamento das agremiações da esquerda para direita. Com exceção do PT e PFL, o quadro ideológico encontrado a partir da classificação dos autores, indica um posicionamento dos partidos bem diferente das classificações usuais.

Ainda há estudos que contemplaram o uso da posição ideológico na composição de coligações, coalizões na Câmara dos Deputados e sobre a percepção do eleitorado referente à escala direita-esquerda (LIMONGI e FIGUEIREDO, 1999; CARREIRÃO, 2006; SINGER, 2009).

Para os nossos objetivos recorremos à análise do manifesto de lançamento, manifestos eleitorais e a agenda legiferante proposta por estes atores, ou seja, classificaremos os projetos de leis dos deputados evangélicos.

5.2. Questões metodológicas: Manifestos dos Partidos Políticos como medida