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Para definir o questionário da pesquisa, primeiramente foram localizados na literatura instrumentos validados no Brasil que se propunham a medir os construtos: suporte organizacional, suporte à aprendizagem, engajamento no trabalho e bem-estar no trabalho. Diversos instrumentos foram apresentados ao Grupo de Trabalho responsável pela implementação da gestão por competências na Universidade, o qual é composto por servidores técnico-administrativos e docentes representantes de diferentes áreas da gestão de pessoas. A partir de discussões sobre o escopo da pesquisa com os integrantes do Grupo e com gestores do Departamento de Atenção à Saúde da PROGESP, optou-se por investigar os danos psicológicos, sociais e físicos relacionados ao trabalho como desfecho negativo do suporte no trabalho, ao invés do desfecho positivo de bem-estar no trabalho.

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Vencida essa etapa, optou-se pelos instrumentos considerados mais adequados para o contexto da Universidade.

O instrumento de suporte organizacional selecionado obteve algumas alterações restritas ao vocabulário no intuito de adaptar a linguagem das questões ao contexto da instituição, sem alterar a composição dos instrumentos. Os pesquisadores e os integrantes do Grupo de Trabalho que sugeriram as alterações de vocabulário possuem conhecimento da estrutura e linguagem local. Termos descritos nos itens do instrumento ESOP são mais utilizados no setor privado, como, por exemplo, empresa, funcionários e supervisores. Esses termos foram alterados para expressões mais adequadas ao contexto de instituição pública, como, por exemplo, instituição, servidores e chefia imediata. Posteriormente, os instrumentos foram avaliados por gestores da área de gestão de pessoas que estão nas funções de direção do órgão.

Para compor o questionário, foram utilizados quatro instrumentos validados no Brasil, totalizando 82 itens. Para responder às perguntas, foi utilizada uma escala Likert de cinco pontos. Dalmoro e Vieira (2014) estudaram o efeito do número e da disposição de itens em uma escala tipo Likert nos resultados de uma mensuração, e concluíram que a escala de cinco pontos mostrou-se mais adequada por ser tão precisa quanto à de sete pontos, porém com maior facilidade e velocidade de uso. Tendo em vista o grande número de itens no questionário, optou-se pela escala tipo Likert de cinco pontos.

Para caracterizar os participantes do estudo, também foram incluídos no questionário dados sociodemográficos, tais como plano de carreira do servidor (Professor do Magistério Superior; Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico; ou Técnico- Administrativo em Educação), local de exercício, função de chefia, tempo de serviço na instituição, sexo, idade e escolaridade. A estrutura do questionário está apresentada no Quadro 4 e o instrumento completo aplicado está apresentado no Anexo I.

Quadro 4 - Estrutura do questionário

Bloco Instrumento utilizado Nº de

Itens Autor(es) BLOCO1 Escala de Suporte

Organizacional Percebido (ESOP)

42 Tamayo, Tróccoli e Paz (2000)

BLOCO2 Escala de Suporte

Organizacional à Aquisição de Competências (ESOAC)

BLOCO3 Escala de Engajamento no Trabalho de Utrech (UWES)

9 Vazquez et al. (2015) BLOCO4 Escala de Danos Físicos e

Psicossociais no Trabalho (EDT)

23 Facas (2013); Facas e Mendes (2018)

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

O suporte organizacional e social foi medido por meio da Escala de Suporte Organizacional Percebido (ESOP) desenvolvida por Tamayo, Tróccoli e Paz (2000), a qual também abrange tanto o suporte organizacional quanto o suporte social no trabalho. A escala original é composta por 42 itens distribuídos em seis fatores:

1) Estilos de Gestão da Chefia – envolve a percepção dos indivíduos quanto à forma de gestão da chefia imediata com sua equipe, nas políticas e práticas organizacionais;

2) Suporte Social no Trabalho - percepção dos indivíduos acerca da existência de apoio social e emocional do grupo de trabalho para a resolução de dificuldades, melhor relacionamento interpessoal e maior bem-estar;

3) Gestão do desempenho – envolve a percepção dos indivíduos sobre as possibilidades de desenvolvimento individual, por meio das políticas e práticas organizacionais que regulam o processo de trabalho como um todo; a participação dos servidores na resolução de problemas; e a coerência entre diretrizes, metas e ações institucionais.

4) Suporte Material - percepção dos indivíduos sobre a disponibilidade, adequação, suficiência e qualidade dos recursos materiais e financeiros fornecidos pela instituição para a execução eficaz das tarefas;

5) Sobrecarga de Trabalho - percepção dos indivíduos em relação ao quantitativo de demandas de trabalho excessivas e imposição de mudanças; 6) Ascensão e Salários - percepção dos indivíduos sobre a retribuição

financeira, promoção e ascensão funcional.

O instrumento ESOP validado pelos autores possui bons índices psicométricos. Contudo, tendo em vista o tempo transcorrido (duas décadas da validação original), bem como que os pesquisadores não obtiveram acesso ao documento em que detalha o agrupamento dos itens da escala por fator, optou-se por fazer a análise fatorial desse instrumento. A análise fatorial exploratória definiu o agrupamento dos itens por fator, e a análise fatorial confirmatória mostrou o quão bem as variáveis mensuram o construto

suporte organizacional para o contexto de uma instituição de ensino pública. No capítulo 5 apresentamos os resultados dessas análises fatoriais.

Para medir o suporte à aquisição de competências, utilizou-se o instrumento desenvolvido por Correia-Lima et al. (2017), nominado Escala de Suporte Organizacional à Aquisição de Competências (ESOAC), que é uma das escalas do instrumento de Suporte à Aprendizagem nas Organizações (ISAO). A ESOAC é composta por dois fatores, de três itens cada: (i) suporte material à aprendizagem, que abrange a quantidade e qualidade da estrutura física e tecnológica e a oferta de cursos de educação formal e de curta duração; e (ii) suporte psicossocial à aprendizagem, que envolve a flexibilidade no trabalho para buscar novas aprendizagens e o estimulo dado pelos superiores e pelos colegas para aprendizagem de novas ideias e novas formas de executar as atividades.

A análise fatorial confirmatória da ESOAC validada pelos autores apresentou bons indicadores de ajustamento para o modelo proposto: χ² (13) = 53,37, p < 0,001, χ²/gl = 6,67, GFI = 0,94, AGFI = 0,85, CFI = 0,94, RMSEA = 0,150 (IC90% = 0,114; 0,190). As cargas fatoriais variam entre de 0,52 a 0,95, indicando adequação dos itens para medir seu respectivo fator. Os fatores mostraram-se fortemente correlacionados, conforme ilustra a Figura 14.

Figura 14 – Estrutura Fatorial Confirmatória da ESOAC

Para avaliar o engajamento no trabalho, utilizou-se a Utrecht Work Engagement Scale (UWES) desenvolvida e testada por Schaufeli e Bakker (2004b) e validada no Brasil Vazquez et al. (2015), sendo muito utilizada nos estudos sobre o tema. As escalas brasileiras de Engajamento no Trabalho de Utrech (UWES-17 e UWES-9) possuem boas propriedades psicométricas, semelhantes à original, e são compostas por três fatores: vigor, dedicação e concentração. A versão da escala reduzida (UWES-9) possui 9 itens oriundos da escala de 17 itens (UWES-17). De acordo com os autores, não há diferenças psicométricas entre as versões brasileiras das UWES-17 e UWES-9, sendo que esse resultado é consistente com a literatura internacional. Para este estudo, optou-se pela escala reduzida (UWES-9), que manteve bons índices de consistência interna: alfas de 0,86 para vigor; 0,79 para dedicação e 0,83 para concentração.

Já para identificar os danos físicos, psicológicos e sociais decorrentes do trabalho, utilizou-se o instrumento de medição Escala de Danos Físicos e Psicossociais no Trabalho (EDT), que faz parte do Protocolo de Avaliação dos Riscos Psicossociais no Trabalho – PROART, elaborado por Facas (2013) e aperfeiçoado por Facas e Mendes (2018). O PROART objetiva mapear os riscos psicossociais no trabalho, a partir de quatro escalas distintas: a) Escala da Organização Prescrita do Trabalho; b) Escala de Estilos de Gestão; c) Escala de Sofrimento Patogênico no Trabalho; d) Escala de Danos Físicos e Psicossociais no Trabalho. Contudo, de acordo com os objetivos desse estudo e considerando que Facas e Mendes (2018a) afirmam ser possível aplicar as escalas independentemente, optamos somente pela Escala de Danos Relacionados ao Trabalho (EDT). A escala foi validada pelos autores, indicando KMO = 0,97, Eigenvalues = 15,95, Variância Explicada = 14,97 e Correlações > 0,60. A EDT é composta por três fatores: danos psicológicos (α = 0,94), com 7 itens; danos sociais (α = 0,91), com mais 7 itens; e danos físicos (α = 0,93), com 9 itens. De acordo com os autores, os danos psicológicos referem-se aos sentimentos negativos em relação a si mesmo e à vida em geral; os danos sociais ao isolamento e às dificuldades nas relações familiares e sociais; e os danos físicos às dores no corpo e aos distúrbios biológicos relacionados ao trabalho.

Realizada em forma de Censo, a pesquisa foi aplicada para toda população de servidores ativos do quadro permanente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, totalizando 5.492 servidores, em um único período. Todos os potenciais respondentes estavam em efetivo exercício no período de aplicação da pesquisa (23 de setembro a 25 de outubro de 2019) e pertenciam ao quadro de pessoal permanente da UFRGS, nas

carreiras: Técnico-Administrativos, Docentes do Magistério Superior e do Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) da UFRGS.

Para divulgação da pesquisa, foi enviado e.mail convite a todos servidores da Universidade com explicação da pesquisa e convite para o preenchimento do questionário, foram divulgadas matérias informativas no site da Universidade6 e no site da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas7, vídeo ilustrativo com informações sobre a pesquisa e orientações para participação, além de divulgações em eventos como o Salão EDUFRS8 e entrevista na rádio da universidade. Para ampliar a adesão, manteve-se aviso de pendência de preenchimento da pesquisa no portal do servidor (intranet da Universidade) durante todo o período de aplicação da pesquisa, como lembrete.

O instrumento de coleta de dados da pesquisa ficou hospedado no Portal do Servidor da UFRGS, sistema de intranet da instituição. O público-alvo recebeu um e.mail com o seguinte conteúdo: convite de participação, breve resumo sobre a pesquisa, link para acesso ao questionário, prazo de preenchimento. Para acessar o questionário, o respondente realizava login no Portal do Servidor. No início do questionário o participante foi informado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEP/UFRGS) como parte do projeto de pesquisa (CAAE: 16616719.1.0000.5347 - Parecer: 3.585.839).

Caso opta-se pelo consentimento com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o respondente era direcionado para as questões da pesquisa. Somente participou da pesquisa o respondente que marcou na declaração do TCLE do questionário a opção “estou de acordo e concordo em participar”. Como critério de exclusão, foram desconsiderados questionários incompletos. A análise dos resultados se deu pelo uso do software estatístico SPSS, versão 24, e pelo uso do software R, que é um programa de livre distribuição com código fonte aberto.