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O Questionário de Falhas Cognitivas (QFC) é uma escala constituída por 25 itens, desenhada para avaliar a incidência e os padrões de falhas cognitivas no dia-a-dia. Este tipo de falhas acontece quando se verifica um desvio ao fluxo do funcionamento normal de uma função cognitiva, o que faz com que uma intenção ou ação que se pretende concretizar, não ocorra da forma que é pretendida. O QFC avalia diferentes falhas cognitivas, tais como lapsos de memória, falhas de atenção e ainda falhas motoras. O termo falha cognitiva é utilizado como um termo geral, que abrange os três tipos de lapsos. Em cada item do questionário é solicitado ao participante que sinalize a opção mais adequada ao seu padrão de falhas

cognitivas nos últimos seis meses. O formato de resposta é unidirecional e consiste numa escala do tipo Likert, que varia entre 0 “Nunca” e 4 “muito frequente” (Broadbent e colegas, 1982).

Esta prova apresenta uma boa confiabilidade teste-reteste (rtt = .80 entre seis a 65 semanas),

bem como uma boa consistência interna (αCroncach = .90) (Broadbent e colegas, 1982), uma boa

validade discriminatória (rs= -.13 a -.41), e uma boa validade convergente (rs = .50 a .53)

(Wallace, 2004).

No que diz respeito à estrutura fatorial do QFC, a maioria dos estudos emprega a estrutura unifatorial obtida por Broadbent e colegas (1982), o que faz com que este questionário seja utilizado como uma medida unidimensional que avalia a frequência geral de falhas cognitivas no quotidiano de um sujeito. No entanto, a estrutura unifatorial é questionada por diversos autores que reexaminaram a organização do QFC (Larson, Alderton, Neidffer & Underhill, 1997; Mathews, Coyle & Craig, 1990; Pollina, Greene, Tunick & Puckett, 1992; Wagle, Berrios & Ho, 1999; Wallace, 2004). Porém os resultados destes estudos estão longe de ser consensuais, com as estruturas fatorais resultantes a diferirem a tanto a nível do conteúdo dos fatores, bem como no número de dimensões obtidas. Sem considerar a estrutura já mencionada obtida por Broadbent e colegas (1982), foram reportadas estruturas fatoriais para o QFC que discriminam entre duas (Larson e colegas, 1997; Mathews e colegas, 1990) a cinco dimensões (Pollina e colegas, 1992).

Como este questionário não se encontra aferido para a população portuguesa, foi adotada para este estudo a estrutura fatorial obtida por Rast e colegas (2008). Optou-se por este modelo pelo facto de este ser uma solução equilibrada no que diz respeito ao número de itens que representam cada fator (os fatores 1 e 2 são constituídos por 8 itens e o fator 3 por 7 itens). Para além disso esta estrutura apresenta um elevado valor de ajuste (2

SB = 1,042.76) e

apresenta ainda a vantagem de os fatores obtidos não apresentarem uma elevada correlação entre si (rfator1xfator2 = .74; rfator2xfator3 = .62; rfator2xfatro3 = .77) ao contrário das soluções obtidas

por outros autores. Esta estrutura integra três dimensões: Falhas de memória, Falhas de atenção e Falhas motoras. A dimensão falhas de memória avalia a tendência que um sujeito exibe para a ocorrência de falhas de memória sobre assuntos conhecidos (tais como nomes ou palavras) ou para situações planificadas (tais como compromissos ou intenções). Esta dimensão é constituída pelas questões 1, 2, 5, 7, 17, 20, 22 e 23. Já a dimensão falhas de atenção estima a incidência de falhas de atenção que resultam de dificuldades em manter a atenção focada num determinado estímulo (principalmente em situações sociais e na interação com terceiros). Este fator é composto pelas questões 8,9, 10, 11, 14, 19, 21 e 25. Por fim, a dimensão falhas motoras engloba itens que avaliam a interrupção do processamento cognitivo e de ações motoras. Esta dimensão engloba os itens 2, 3, 5, 6, 12, 18, 23 e 24.

Procedimentos

O presente estudo foi desenvolvido no seio de um grupo de investigação em neurodesenvolvimento cognitivo, com especial enfoque na perturbação da aprendizagem específica de leitura anteriormente designada por dislexia. Este grupo é constituído por três docentes e sete alunos que foram integrados no grupo de forma a realizar a sua dissertação para a obtenção do grau de mestre em Psicologia Clínica e da Saúde.

Assim, numa fase inicial explorou-se a bibliografia existente sobre o tema da PAE-DL. Esta exploração foi realizada através da recolha e leitura de artigos científicos obtidos em diversas bases de dados, entre as quais se destacam a ScienceDirect, Taylor and Francis, Springer,

EBSCO e Annual Reviews. Esta pesquisa inicial permitiu definir as variáveis dependentes

(falhas cognitivas quotidianas e autoconceito) e as covariáveis (diagnóstico prévio de Défice de Atenção; frequência do ensino superior) que seriam avaliadas no estudo, bem como as hipóteses experimentais testadas. Esta procura permitiu ainda obter as duas escalas que foram utilizadas como medida para avaliar estas variáveis, nomeadamente o QFC (Broadbent e colegas, 1982) e o ICAC (Vaz Serra, 1986). Nesta fase da investigação foi também desenvolvido o questionário sociodemográfico.

De seguida foi preenchido e submetido junto da comissão de ética da Universidade da Beira Interior um formulário referente ao projeto de investigação para apreciação e emissão de parecer (anexo I). Para além disso, e tendo em conta a possibilidade de abranger uma amostra maior e com maior variabilidade sociodemográfica, foi discutida a possibilidade de converter os questionários em formato digital de forma a serem difundidos através da plataforma GoogleDocs. Este assunto foi endereçado à Ordem dos Psicólogos Portugueses (anexo II), que acedeu ao pedido. Assim, procedeu-se à conversão dos questionários utilizados por todos os elementos do grupo nas suas respetivas investigações para formato digital, tendo esta bateria sido disponibilizada na plataforma GoogleDocs. A bateria incluía um comunicado no qual era garantido aos participantes o anonimato das suas respostas para além de conter informações que permitiam que os participantes tomassem conhecimento sobre os objetivos do estudo. Para a obtenção de um maior número de participantes, procedeu-se ao contacto de diversas associações dedicadas ao apoio de sujeitos diagnosticados com PAE-DL de forma a que estas pudessem disseminar a bateria de questionários junto dos seus associados. A recolha dos dados iniciou-se no dia 16 de Dezembro de 2016, tendo sido encerrada no dia 14 de Março de 2017.