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questionamento: existe alguma distinção entre a trajetória e os capitais políticos de deputadas

e deputados novatos eleitos em 2018?

Para identificar os caminhos trilhados pelas candidaturas até conseguirem chegar ao Congresso Nacional, construímos um banco de dados original com informações sobre a trajetória partidária (partidos anteriores e tempo médio de filiação ao partido atual) e os capitais políticos das deputadas e deputados federais novatos eleitos nos pleitos de 2014 e 2018. Definimos como capitais políticos:

ocupação de cargos públicos, ocupação de cargos partidários, atuação em movimentos sociais, visibilidade midiática, presença de familiares na política, liderança em religiões organizadas e movimentos leigos autorizados pela hierarquia religiosa, atuação como militares e outros agentes de segurança pública e atuação como membros de sindicatos de trabalhadores e patronais.31 Tal

categorização foi por nós proposta como um refinamento das definições bourdieusianas de capitais32 e da tipologia proposta por

Miguel, Marques e Machado (2015).33

Iniciamos a investigação pelo perfil das deputadas e deputados federais novatos eleitos em 2018. Enquanto as novatas

representaram 26% das eleitas (20 de 77), os novatos representaram 13% dos eleitos (55 de 436). Vemos, então, que, em termos

proporcionais, há mais mulheres novatas do que homens novatos. No que diz respeito à trajetória partidária, importante para

avaliarmos o envolvimento das deputadas/os nos partidos políticos, a maioria das mulheres novatas (90%) estava filiada há menos de um ano ao partido pelo qual concorreu em 2018 e uma pequena parcela entre 2 e 5 anos (10%). Entre os homens novatos, as proporções são semelhantes: a maioria dos novatos (73%) estava filiada há menos de um ano; e 15% entre 2 e 5 anos. A média do tempo de filiação é de menos de um ano para as novatas e de 1,3 anos para os novatos. Esses resultados indicam que a maioria das novatas/os tem uma trajetória partidária curta, tendo pouco tempo para estabelecer relações sólidas com as instâncias internas do partido.34

31 As definições dos capitais políticos estão listadas na seção de metodologia. 32 Para informações mais detalhadas, ver Nota Metodológica.

33 A categorização proposta pelos autores foi a seguinte: capital econômico, capital midiático, direção de sindicatos e federação de trabalhadores, direção de associações patronais, vinculação com religião organizada, capital político do próprio campo, capital familiar (Miguel, Marques e Machado, 2015, p. 727).

Quando olhamos para o perfil, descobrimos que nos dois grupos, mulheres e homens novatos, há a predominância de pessoas brancas (85% das novatas e 72% dos novatos), casadas (65% e 69%) e que cursaram o ensino superior (95% e 75%). E dentre esses, 55% das mulheres e 40% dos homens possuem cumulativamente as três características mencionadas. Os dados chamam a atenção para o fato de que o perfil das novas atrizes e atores não difere, de modo geral, das deputadas/os que já estavam no Congresso.

Já em relação aos capitais políticos de novatas e novatos na política em 2018, temos algumas diferenças significativas, conforme mostra o gráfico 8. Primeiro, é importante destacar que não há valoração da importância de cada capital. Também não estabelecemos uma relação de causalidade entre os capitais e o sucesso eleitoral. Possuir capital político é uma regra informal que pauta a distribuição de recursos do partido, então, por mais que uma candidata/o tenha um determinado capital, não conseguimos determinar se isso foi preponderante para a sua eleição.

As novatas possuíam uma incidência maior de capital político (95%) do que os novatos (87%).35

Há uma diferença expressiva quanto aos tipos de capitais políticos usufruídos por cada grupo: enquanto para elas os capitais mais pre- sentes foram o midiático (55%) e o de movimentos sociais (40%), para eles não há capitais que se sobressaiam muito sobre os demais, quase todos ficando em torno dos 20% – divididos em capital de militares e outros agentes de segurança pública (25%), de cargos públicos (22%) e midiático (22%). Note-se que a soma de capitais não atinge 100%, pois cada deputada/o pode ter mais de um tipo de capital político.

que esteve por mais tempo em um partido (13 anos), temos 1 ano de média. E, se descon- siderarmos um segundo deputado (11 anos), a média cai para 0,8 anos. Para esse cálculo foram desconsiderados três deputados sobre os quais não coletamos data de filiação. 35 Vale registrar que alguns deputados novatos não possuíam nenhum dos capitais políticos elencados. Eles estavam em seu primeiro partido, ao qual estavam filiados há menos de um ano, e 70% (5) deles possuíam apenas capital econômico advindo de sua atuação empresarial – capital que não incluímos na nossa análise (ver Nota Metodológica).

GRÁFICO 11 Incidência de capitais entre as Deputadas e Deputados Federais novatos eleitos em 2018

RELIGIOSO MIDIÁTICO SEGURANÇA

PÚBLICA FAMILIAR 60% 80% 60% 50% 70% 50% 40% 40% 30% 30% 20% 20% 10% 10% 0% 0% 20% 10% 10% 55% 40% 10% 22% 7% 15% 22% 20% 25 % 9% 18% 2% 0% 0% 30% CARGOS PÚBLICOS CARGOS PARTIDÁRIOS MOV. SOCIAIS SIND. TRABALHA- DORES SIND. PATRONAIS DEPUTADOS (N=55) DEPUTADAS (N=20)

Elaboração com base em dados próprios.

80% 70%

Há importantes diferenças na frequência dos capitais presentes tanto entre novatas, quanto entre novatos. O capital de cargos internos do partido e o capital de militares e outros agentes de segurança pública foram mais presentes entre os novatos do que entre as novatas. Já o capital religioso, o capital de movimentos sociais e o capital midiático foram mais comuns entre as novatas do que entre os novatos. Os dois últimos capitais merecem destaque, pois a incidência deles é duas vezes maior para as novatas. Ainda, nota-se que somente os homens tiveram capital de sindicatos e associações de trabalhadores e sindicatos e associações patronais. Especificamente sobre a frequência do capital familiar, a diferença é significativa entre mulheres (30%, 6) e homens (18%, 10) novatas/ os. Para metade das mulheres que possuem esse capital, a principal fonte são os cônjuges (50%), enquanto para os homens predomina o capital paterno (70%), mas este também está presente para um terço das mulheres (33%), confirmando o que já é apontado na literatura sobre a relevância do capital familiar para o acesso ao campo político. Outra fonte de capital para elas são os irmãos (33%), enquanto para os homens são os avôs (30%). O restante das fontes de capital familiar para os homens são: mãe, irmão, tio, avó, tio- avô, primo e prima (10% para cada). Esses resultados demonstram um dado interessante: entre deputadas e deputados que possuem capital familiar, há uma alta incidência (e concentração) de capital familiar paterno entre os homens, mais presente até do que o capital familiar advindo de cônjuges entre as mulheres.

Esses dados confirmam que, em termos proporcionais, o capital familiar foi mais relevante para as mulheres em relação aos homens no que se refere à entrada na política em 2018.

E em relação ao ingresso em 2014?

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