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Questionamentos sobre o Poder de Investigar do Ministério Público

6 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

7.3 Questionamentos sobre o Poder de Investigar do Ministério Público

Não é pacífica a atuação do Ministério Público na investigação criminal.

Na década de 1970, a situação constitucional não reconhecia a privatividade da ação penal ao Ministério Público, no entanto, o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral já havia reconhecido a poder investigatório do Promotor de Justiça, ao decidir pela inexistência de falta jurídica na hipótese de crime eleitoral e remessa da representação ao Ministério Público, que “por não dispor de elementos suficientes, realizou a inquirição das testemunhas na sala da promotoria”, anotando a “universalização da investigação e da propositura da ação penal” (TSE, Min. Raphael de Barros Monteiro, RHC 54, Acórdão nº. 4985, j. em 18.5,1972, v.u., BEL nº. 250, tomo 1, p. 558).

Entretanto, atualmente o poder investigatório do membro do “Parquet”

está sendo discutido em recursos e ações diretas de inconstitucionalidade, nas instâncias superiores, por indiciados e entidade associativa policial. A Associação dos Delegados de Polícia (ADEPOL) promoveu várias ações diretas de inconstitucionalidade, mas não obtiveram êxito.

No Supremo Tribunal Federal não esta pacificada a possibilidade ou não do Ministério Público realizar a investigação criminal.

Em 1977, a Egrégia 1ª Turma decidiu ser “regular a participação do Ministério Público em fase investigatória”, criando assim, uma possibilidade de investigação criminal pelo órgão ministerial.

No âmbito do Egrégio Tribunal de Justiça houve a confirmação da atuação do Promotor de Justiça na fase investigatória, conforme demonstra inúmeras decisões, das 5ª e 6ª Turmas.

Sendo assim, em 1988, o Ministro Vicente Leal, relator da 6ª Turma, ao confirmar a possibilidade do Ministério Público investigar, enfatizou: “Por fim, não vejo qualquer ilegalidade na postura do Ministério Público ao proceder investigação, substituindo-se à autoridade policial”. A 5ª Turma vem seguindo a mesma linha e expressando seguramente a possibilidade da participação do Ministério Público na fase

pré-processual para apuração de crimes, com inúmeras decisões (HC 7.445/RJ, RHC 8.732/RJ, HC 10725/PB, HC 10605/PB).

Conforme Valter Foleto Santin (2001, p. 247):

O E. STJ também considerou inexistente impedimento para oferecimento de denúncia por promotor que atuou na fase investigatória, tendo em vista a possibilidade para formação da opinio delicti de colher preliminarmente as provas necessárias para a ação penal (RHC 3.586-2/PA, 6ª T., Rel. Min.

Pedro Acioli, v.u., j. 9.5.1994, DJU 30.5.1994). A participação do Ministério Público na prática de atos investigatórios não o incompatibiliza para o exercício da ação penal, porque se ele pode propor a ação penal, desde que tenha elementos necessários, independentemente do inquérito policial, nada impede que ofereça denúncia (HC 9.023/SC, 5 T., Rel. Min. Felix Fischer, j.

em 6.6.1999, in Informativo Jurídico nº. 22, www.stj.gov.br/instituc/injur22.htm). A 3ª Seção aprovou o seguinte verbete, convertido na Súmula 234, do STJ: “A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia” (Informativo Jurídico nº. 44, www.stj.gov.br, jurisprudência; DJ 7.2.2000, p. 185).

O Egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ) entendeu que, nos termos do Art. 129, IV, da Carta Magna, “pode o Ministério Público proceder as investigações cabíveis, requisitando informações e documentos para instruir seus procedimentos administrativos preparatórios da ação penal” (citação feita no HC 7.445-RJ, STJ. Rel. Min. Gilson Dipp, sendo impetrante M.B., impetrada a 4ª T., do TRF 2ª Região e paciente R.A.S.). Contudo, essa posição ainda não é pacífica.

Já o Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios tem aceitado a legitimidade do Ministério Público para atos investigatórios, sem que implique invasão de atribuições da polícia judiciária, podendo o órgão de acusação instaurar procedimento administrativo investigatório e realizar investigação visando colher elementos por ser concorrente a legitimidade do Ministério Público para colheita de elementos de prova, em face de suas funções institucionais. A investigação criminal não é monopólio da polícia e também não há exclusividade, sendo assim qualquer Promotor de Justiça poderá colher preliminarmente provas informativas necessárias ao oferecimento da denúncia.

Há inúmeras outras decisões favoráveis à atuação do Ministério Público na investigação criminal.

No âmbito doutrinário, a aceitação da atuação investigatória do Ministério Público é unânime. Sua participação na apuração de crimes já era defendida por respeitados autores como Júlio Fabbrini Mirabete, Hélio Bicudo, Hugo Nigro Mazzilli e Frederico Marques.

Júlio Fabbrini Mirabete salienta que o Ministério Público possui

“legitimidade para proceder à investigação e diligências”.

Já, Hugo Nigro Mazzilli (1991, p. 121), ensina:

Nos procedimentos administrativos do Ministério Público também se incluem investigações destinadas à coleta direta de elementos de convicção para a opinio delicti”, porque se destinados apenas à área cível bastaria o inquérito civil e o poder de requisitar informações e diligências não se exaure na esfera cível, atingindo também a área destinada a investigações criminais.

Com isso, fica visível que o Ministério Público pode promover investigações criminais diretamente, sempre que o interesse social exigir ou conforme as necessidades de cada caso, sempre que não haja incompatibilidade para o oferecimento da denúncia, suspeição ou impedimento para a atuação em juízo.

Nesse mesmo tema, foi escrito o artigo Ministério Público e Investigação Criminal pelo Douto Procurador Geral de Justiça do Estado de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho, no qual dispõe que “O Ministério Público não só pode como tem o direito e dever de realizar investigações criminais quando for necessário. O Ministério Público não pretende substituir o trabalho da Polícia Civil. O ideal é uma atuação em conjunto, de forma integrada”. Ele ainda ressalta sobre a constitucionalidade do poder de investigar do Ministério Público, dispondo que “A Constituição, ao assegurar a titularidade exclusiva da ação penal pública ao Ministério Público, garante também os meios para que a instituição possa efetuar essa ação”, quais sejam, “recolher todos os indícios e elementos para a produção da prova que leve à condenação do autor do crime”.

Nesse sentido, há vários exemplos de investigações que foram feitas pelos membros do Ministério Público: a “Operação Anaconda”, a prisão do Juiz Nicolau dos Santos Neto, no caso do escândalo das torres do Tribunal Regional do Trabalho, dentre outras.

Houve também investigações realizadas pelo órgão ministerial do Estado de São Paulo que conseguiram desvendar com sucesso a autoria de muitos crimes, tais como os praticados pelo “Esquadrão da Morte”.