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UMA ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL.

2. Bottega FH, Fontana RT A dor como quinto sinal vital: utilização da escala de avaliação por enfermeiros de um hospital geral Text Cont Enf [online].

4.5 QUINTA FASE – PROPOSTA PARA UTILIZAÇÃO DO INSTRUMENTO MULTIDIMENSIONAL

Essa última fase, é uma proposta de apresentação do Instrumento Multidimensional para Avaliação da Dor em Crianças Pequenas (IMADCP) desenvolvido, ao longo desta tese, com objetivo de auxiliar a descrição de dor em crianças menores de oito anos (APÊNDICE IX). Trata-se de um instrumento multidimensional, pois permitirá avaliar os quatro componentes da dor: localização, intensidade, frequência e qualidade.

A localização será registrada por meio de um desenho do corpo humano de uma criança em face ventral e dorsal (figura 15). Para a intensidade, serão utilizadas as escalas analógica visual e de faces, já utilizadas em etapas anteriores desse estudo e já são usualmente empregadas para a aferição deste componente da dor (SOUZA, 2002). No que se refere à frequência, será utilizado o padrão: doeu apenas uma vez, aparece e desaparece e dói o tempo todo. Finalmente, para a descrição dos aspectos qualitativos da dor, serão utilizados os Cartões da Dor, baseados nos descritores de dor do questionário McGill, confeccionados nesta tese, com a especificidade de terem sido oriundos de descritores presentes nas narrativas infantis e de considerarem o desenvolvimento cognitivo das crianças. Os 23 cartões foram eleitos por meio da validação com juízes, na etapa anterior desse estudo (APÊNDICE VIII).

Figura 15 – Registro da localização da dor (aquisição de imagem por meio compra pela Empresa Depositphotos, sob pedido n0: S-1488223)

Como já foi mencionado nesse trabalho, há diversos instrumentos que se propõe avaliar a dor. No tocante aos instrumentos multidimensionais utilizados em crianças, destacou-se o APPT, que também utilizou os descritores de dor do questionário McGill e possibilitou a coleta de informações quanto a intensidade, localização e

qualidade da dor (JACOB, 2008). Contudo, não se mostra adequado para crianças menores de sete anos (CRANDALL E SAVEDRA, 2005). Essa proposta, além da inclusão da frequência da dor, diferencia-se pelo emprego de imagens para representação dos descritores de dor permitindo, desta forma, a analogia com situações concretas e a possibilidade da utilização com crianças em faixa etária inferior a oito anos.

Acredita-se que essa ferramenta preencherá a lacuna relacionada à dificuldade do entendimento da experiência dolorosa nessa faixa etária e assessore profissionais de saúde no entendimento da experiência dolorosa infantil. Trata-se de instrumento de fácil utilização e que pode ser empregado por qualquer profissional da saúde.

4.5.1 População

O IMADCP foi desenvolvido para ser utilizado na avaliação de dor em crianças, de ambos os sexos, com idade média variando entre dois e oito anos de idade.

Apesar de a possibilidade desta ferramenta poder, também, auxiliar crianças com dificuldades de comunicação, uma vez que a representação dos descritores, por meio de desenhos, poderá assessorar a transmissão dessa informação, evitando, possivelmente, o uso da comunicação oral, para esta proposta, sugere-se a exclusão de crianças que apresentem impossibilidade em se comunicar oralmente, com necessidades educativas especiais ou queixa de problema auditivo, neurológico ou psicológico.

4.5.2 O Instrumento de Coleta

O instrumento de coleta baseou-se no roteiro utilizado na primeira fase desta tese e nos demais instrumentos acima mencionados (McGill e APPT). Foi composto por uma parte inicial contendo dados de identificação pessoal, escolaridade e diagnóstico, além de outra que integrou a pergunta sobre a existência de dor frequente, sua localização, frequência, intensidade e qualidade da dor (APÊNDICE VIII).

Sabe-se que algumas crianças são capazes de descrevere as suas dores espontaneamente por meio de autorrelato. Esta modalidade, como já foi discutida ao longo do presente trabalho, é o padrão ouro e deve ser priorizada. Contudo, outras crianças ainda não possuem essa capacidade, principalmente no que se referem aos

aspectos qualitativos da dor, e precisam ser auxiliadas. Nesse sentido, sugere-se a utilização do protocolo IMADCP, cujo uso da parte equivalente aos Cartões de Dor deve ser empregada.

4.5.3 Protocolo para Aplicação do Instrumento

O local da entrevista, sempre que possível, deve ser reservado e tranquilo. Sabe- se que muito serviços de saúde são tumultuados e não propiciam ambientes reservados para esses fins. Entretanto, por se tratarem de crianças pequenas e com grande possibilidade de se distraírem, quanto mais tranquilo for o local da coleta, menor a possibilidade de se obter informações equivocadas.

As entrevistas devem ser realizadas individualmente com as crianças para que não haja interferência dos acompanhantes. Apenas os questionamentos sobre dados pessoais e demais informações contidas na primeira parte devem ser fornecidas pelos pais ou responsáveis.

4.5.3.1 Passo a passo

O primeiro questionamento com a criança deve ser sobre a existência de dor frequente presente ou pregressa. A continuidade da aplicação do instrumento depende da positividade dessa resposta. O profissional deve indagar: Você sente ou já sentiu dor frequente?

Na sequência, solicita-se que responda onde é essa dor. Após a resposta da criança, o profissional deve solicitar que ela marque no modelo do copo humano a localização da dor referida. O profissional aplicador pode assessorar no registro dessa localização, respeitando a resposta fornecida pela criança.

Em seguida, com o auxílio da escala analógica ou de faces, investiga-se sobre a intensidade da dor. Para introduzir o tema questiona-se: essa dor é/era forte ou fraca? E, posteriormente, mostrando-se a escala analógica visual, indaga-se: se você pudesse dar uma nota para essa sua dor, em que zero é nenhuma dor e 10 a pior dor possível, que nota você daria para essa dor? Caso a criança apresente dificuldade com a escala numérica, chama-se a atenção para as faces, questionando: Quando você sente essa dor, o seu rosto fica parecido com qual dessas ―carinhas‖?

Posteriormente, o entrevistador deve perguntar sobre a frequência da dor: essa sua dor ocorreu apenas uma vez, ela aparece e desaparece ou ocorre o tempo todo?

Finalmente, indaga-se sobre a qualidade da dor: como é essa dor? Com que ela se parece? Caso a criança consiga uma descrição livre, isto é, expor as características qualitativas da experiência dolorosa sem a necessidade de apoio concreto, o profissional deve encerrar a entrevista e fazer o registro escrito, pois se considera a forma ideal para se ter acesso a esses aspectos da dor. Contudo, se a criança apresentar dificuldade, passa-se para a apresentação dos Cartões de Dor (APÊNDICE XIII).

Os cartões foram organizados em grupos, conforme a divisão das categorias do questionário McGill e apresentados no primeiro artigo original desta tese, a saber: sensorial, afetiva, avaliativa e miscelânea.

Para a apresentação, optou-se em seguir a ordem de facilidade identificada por meio da análise multidimensional realizada nesta tese e descrita no artigo original II. Na referida apreciação, observou-se que as crianças aparecem mais próximas da descrição ―sensorial‖, seguida da categoria ―outros‖(miscel nea), ―avaliativa‖ e, por ltimo, ―afetiva‖.

O entrevistador deve instruir a criança de que serão apresentadas algumas figuras e que ela deve apontar caso alguma se pareça com a dor em questão. É importante que fique clara a possibilidade de escolha de mais de uma imagem. Após as informações, o profissional dispõe as figuras, uma a uma, perguntando o que a criança vê no cartão. Caso a resposta não seja adequada, o profissional poderá explicar o que contem na imagem lançando mão, inclusive, do uso do descritor correspondente à figura. Esse procedimento deve ser realizado para cada cartão. O registro das respostas deve ser feito no instrumento após cada resposta coincidente (APÊNDICE IX).