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152 quotidianamente envolvidos e a explorar as suas emoções inconscientes, com vista a um

melhor auto-conhecimento.

Um dos enfermeiros do estudo referiu-se ao desempenho profissional com uma estratégia de coping:

“(…) procuro todos os dias trabalhar o melhor que sei e posso (…) sair do serviço com a certeza que me empenhei e com satisfação profissional.” (E11)

Inferimos que o facto de o enfermeiro sentir que tem um bom desempenho nos seus cuidados diários aos doentes, e o facto de sentir satisfação profissional, podem funcionar como estratégias de suporte para o alívio do stress.

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Diagrama 3: Estratégias de coping utilizadas pelos enfermeiros para prevenir ou aliviar o stress, provocado enquanto cuidadores de doentes oncológicos em fase terminal.

Estratégias de coping utilizadas pelos enfermeiros

Estratégias focadas na interaccão social Estratégias focadas no problema Estratégias focadas na emoção Partilha das vivências com amigos / família Partilha das vivências com a equipa Partilha das vivências com a equipa Formação Desempenho profissional Confrontação Reflexão Opção profissional Fuga Distanciamento do pensamento Neutralização da ameaça Actuação directa sobre a ameaça Hobbies

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4 - NECESSIDADES SENTIDAS PELOS ENFERMEIROS QUE CUIDAM DE DOENTES ONCOLÓGICOS EM FASE TERMINAL NUM SERVIÇO DE CUIDADOS PALIATIVOS, EM RELAÇÃO A FACTORES REDUTORES OU MINIMIZANTES DE STRESS.

Por fim, pretendemos saber quais as necessidades sentidas pelos participantes para combater ou reduzir o stress provocado pela exposição contínua ao sofrimento e à morte. Para tal, consideramos pertinente colocar a seguinte questão: O que considera ser necessário para se evitar ou minimizar as situações de stress enquanto cuidador de doentes oncológicos em fase terminal?

Desta questão, emergiram três categorias, nomeadamente necessidade a nível da organização / instituição; do serviço; e da equipa(diagrama 4, página 163).

4.1 – A NÍVEL DA ORGANIZAÇÃO / INSTITUIÇÃO

Relativamente à categoria, necessidades sentidas a nível da organização (instituição), os relatos dos enfermeiros centram-se em torno de seis subcategorias: apoio do psicólogo; promoção de formação; promoção de estágios; promoção de actividades lúdicas e convívios; promoção de massagem para os profissionais; diminuição de carga horária.

Frederico (2006), define organização como sendo um sistema inserido no meio social, que tem que ser capaz de encontrar o posicionamento na divisão social do trabalho e formas de motivar os colaboradores para essa tarefa.

As pessoas esperam receber das organizações recursos que satisfaçam as suas necessidades, em troca dos seus conhecimentos, competências e capacidades (Quick et al; 1997).

No Decreto-lei 441/91, encontra-se regulamentada a responsabilidade organizacional em promover boas condições de trabalho, no entanto, parece-nos que os enfermeiros percepcionam algumas falhas relativamente ao apoio por parte da organização:

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“(…) Não sinto que a instituição me proporcione assim tantas estratégias [alivio do stress] (…) ou nenhumas, não sinto que a instituição me proporcione estratégias (…)” (E1)

“A instituição nem folgas te dá. Para alívio do stress dá-te cinco dias por ano, que são as férias por causa de oncologia. Acham que num ano inteiro, cinco dias, são realmente suficientes para aliviar o stress, esquecem-se é de nos pagarem uma viagem (risos) (…)” (E2)

“A instituição não nos dá quase nada em relação a isso [alivio do stress] (…) neste momento não vai ao encontro do stress de nenhum enfermeiro (…)” (E3) “Não estou a ver a instituição a fazer alguma coisa nesse sentido [alivio do stress] porque nunca se preocuparam com a saúde dos profissionais” (E6)

“(…) A [instituição] neste momento não proporciona nada para nos ajudar [a aliviar o stress] (…)” (E8)

Os enfermeiros demonstram-nos que não é uma preocupação da instituição a saúde e bem-estar dos profissionais, como tal não proporciona qualquer tipo de estratégias para a prevenção do stress laboral.

Os participantes referem necessitar de ajuda, apoio, acompanhamento e orientação de um psicólogo para o seu bem-estar e este profissional de saúde não existe na instituição:

“(…) Haver apoio por parte de um psicólogo para a equipa (…) porque neste momento desconheço a existência desse profissional de saúde nesta casa.” (E1)

Num contexto de cuidados paliativos, que supõe uma tomada a cargo global, da pessoa doente e família, a especificidade do psicólogo, segundo Hennezel (2001), é de estar sobretudo atento à dimensão inconsciente da psique (o que nos torna humanos), principalmente em dois domínios: perante o doente e perante os prestadores de cuidados. No entanto, a autora perante a sua experiência como psicóloga de um serviço de cuidados paliativos, é da opinião que uma só pessoa (um único psicólogo) não consegue assumir o acompanhamento dos doentes e das suas famílias e ainda o apoio da equipa. Segundo a mesma autora, a psicologia contribui para identificar as componentes psíquicas e sociais das situações e intervir se necessário para permitir o desenvolvimento do processo de maturação e de crescimento. Neste contexto, alguns participantes no estudo referem:

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“Precisávamos, se calhar, um psicólogo que acompanhasse a equipa e que nos desse algumas dicas como lidar com algumas situações que acontecem no serviço.” (E5)

“(…) Também seria benéfico (…) uma psicóloga (…) nós nunca tivemos apoio de nenhuma psicóloga, mas também nunca fiz apoio de psicólogo, não sei (…)” (E6) “Aqui nós precisávamos ou terapia de grupo (…) é sempre bom termos alguém

que nos oriente … numa conversa de grupo e que faça aqueles jogos todos (…) Com o apoio de um psicólogo (…)” (E8)

Parece-nos, que os enfermeiros não só sentem falta do apoio deste profissional em relação a eles, como sentem falta dele para acompanhar os doentes:

“Um psicólogo para vermos se nós estamos bem, nós somos seres humanos (…)

talvez pudéssemos receber um bocadinho mais de apoio, (…) nem para os doentes. Somos nós que temos que fazer essas funções.” (E2)

“A existência de um psicólogo no serviço para dar apoio ao doente e família e à própria equipa (…)” (E10)

“(…) deveria ser promovida terapia e dinâmica de grupo, havendo um psicólogo

na instituição (…) que para além de trabalhar com o doente, trabalhasse com a equipa multidisciplinar.” (E11)

Os participantes expressam também, falta de formação promovida por parte da organização (instituição):

“(…) A instituição, nem o curso de formação que devia dar dá (…) nunca propôs um curso.” (E9)

“(…) A instituição deve promover ou incentivar a formação (…)” (E11)

Delbrouck (2006), refere que, qualquer instituição que contrate profissionais de saúde deveria considerar uma obrigação moral o facto de os iniciar e de os formar correctamente para o trabalho com os doentes.

Os critérios (23 e 24) de Qualidade para as Unidades de Cuidados Paliativos da Associação Nacional de Cuidados Paliativos (2006) dirigidos à organização de Serviços de Cuidados Paliativos, são bem explícitos em relação a este assunto. Referem que todos os profissionais que trabalham na equipa multidisciplinar devem possuir formação em Cuidados Paliativos e haver um plano anual de formação contínua de todos os elementos

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