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Rádio no Brasil: nascimento, ascensão e declínio

A primeira emissora de rádio no Brasil foi ao ar em 1923, apoiada no discurso que seria uma ferramenta usada na/para educação. Nesse ano os sócios Roquette Pinto e Henry Morize fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. O rádio nasceu burguês. A programação, voltada para a alta sociedade brasileira, ia de óperas a palestras culturais.16

[...] como toda novidade tecnológica, o rádio no seu início era acessível apenas às pessoas com alto poder aquisitivo. A elite da época, que possuía meios para adquirir um aparelho, gostava de ópera, possuía em casa discos de ópera. Esses discos eram cedidos temporariamente às rádios para que cada uma pudesse programar as usas atrações (MOREIRA, 2000, p. 22).

A novidade tecnológica favorecia uma minoria da população, que poderia arcar com o custo de comprar um aparelho de rádio. Após uma década de programação, exclusivamente de poesias e recitais, os anúncios publicitários foram inseridos nos intervalos da programação e, após isso, durante a veiculação dos programas, visto que precisavam de investimentos para se manter no ar. O rádio começa então a adotar uma nova “cara”, e com o passar dos anos, mais precisamente em 1936, é inaugurada a Rádio Nacional.

Nas décadas seguintes, o rádio se popularizou ainda mais, sobretudo por causa das radionovelas. A década de 40 ficou conhecida como a Era de Ouro do rádio no Brasil, como bem a define Moreira (2000 p. 31):

Atrações de sucesso no rádio, consumo garantido dos produtos. Com base nessa premissa, os anunciantes estrangeiros mudaram o curso da programação do rádio comercial brasileiro: os programas eram criados a partir da relação cada vez mais sólida entre emissora e anunciante. Os artistas começam a ser contratados, o cachê pago a cada apresentação torna- se um recurso ultrapassado e o rádio no País passa a viver a sua fase de Ouro: rico e influenciador dos hábitos e costumes de milhões de fascinados ouvintes.

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Roquette Pinto, um dos fundadores, era antropólogo, etnólogo e escritor e tinha como objetivo veicular programas educacionais para todo o País, “por essa razão, a primeira missão do rádio no Brasil foi, basicamente,

Nos anos 50, com a chegada da televisão, o rádio entra em declínio: os ouvintes passam a telespectadores e os anunciantes comerciais veem na televisão uma oportunidade maior de venda dos seus produtos, já que ela alia imagem e som. Esse processo não foi imediato, ocorreu de forma vagarosa, pois poucos possuíam aparelhos de TV.

O rádio perdeu sua majestade, conquistada na Era de Ouro. Entrou em declínio – perdeu anunciantes, artistas e audiência –, contudo, soube manter-se, sendo consumido tanto nos lares quanto fora deles, através do aparelho radiofônico, através de aparelho celular, mp3, no aparelho de som do carro e, até mesmo, no transporte coletivo – em alguns ônibus17 é possível ouvir rádio, sintonizados em emissoras de acordo com a preferência do motorista, mas que, se não forem do gosto do passageiro, este facilmente coloca seus fones de ouvido e seleciona a frequência desejada, provando ser, como definiu Moreira (2000, p. 11), “um companheiro por excelência”.

O rádio permanece, e com ele, suas sensações que permeiam o imaginário, “apesar do advento das novas tecnologias, o rádio continua bastante ativo, mesmo sua morte já tendo sido decretada no passado, quando do surgimento da TV, por exemplo” (MOREL, 2010, p. 17).

No início dos anos 90, o relatório Mídia Brasil (89/90), produzido pela agência publicitária McCann–Erikson, afirmava existir no Brasil 1.440 emissoras AM e 925 emissoras FM. O principal mercado publicitário no rádio encontrava-se em São Paulo.

A análise afirmava que a maioria das emissoras se encontrava no interior dos Estados. Nos anos 90, somente dois estados da região Nordeste apareciam com um número relevante de aparelhos de rádio em domicílios: Pernambuco e Ceará. São Paulo e Rio de Janeiro lideravam a lista, seguidos de Minas Gerais. De acordo com o relatório, a audiência nacional da rádio AM era composta por 51% de mulheres da classe D e nas emissoras de FM os ouvintes eram 79% de homens, pertencentes à classe A, sendo que desse total 86% tinham entre 15 e 16 anos de idade.

Dez anos se passaram (1999) da publicação do relatório, a Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel – publica novos dados relativos às emissoras, indicando que 3.083 emissoras de rádio (sendo 1.578 AM e 1.363 FM) estão operando no Brasil.

No fim dos anos 90, aproximadamente 39 milhões de domicílios brasileiros possuíam um aparelho de rádio, a saber, no Sudeste 94,4% que corresponde a mais de 18 milhões. Na

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região Nordeste, o número de aparelhos estava em torno de 9 milhões, significando 84,2% dos domicílios (MOREIRA, 2000).

Algumas leis regem a emissão radiofônica, válidas também para a televisão. Sabemos que as emissoras de rádio e TV – incluídas, hoje, as TVs a cabo – conforme determina a Constituição Federal de 198818, devem dedicar uma porcentagem para o jornalismo, programas que valorizem a cultura local e atenda à sociedade com algum serviço público, entretanto, o que observamos é que a sua programação é essencialmente, musical.

Nas emissoras em frequência AM, percebemos maior número de transmissões esportivas, política e prestação de serviços. Hoje em dia, há programas de cunho religioso. Nas emissoras FM, observamos uma programação de maior veiculação de músicas, voltada para o público jovem. Com melhor qualidade de som, também têm como característica a descontração dos locutores entre si e com o público ouvinte. É comum ouvir diálogo em tons de brincadeira entre eles, inclusive na passagem de um programa para outro, fato que não ocorre nas AMs, reconhecida inclusive pela entonação da voz dos locutores.

A partir dessa grande oferta de música, do surgimento de mercados consumidores de diversos gêneros, se estabeleceu a indústria fonográfica, detentora da produção e circulação musical, que inclui gravações, agenda de shows e participação de seus artistas no rádio, na TV, publicação em revistas e demais práticas ligadas ao consumo musical.