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4 CONVERTENDO CAPACIDADES EM PODER POLÍTICO

4.4 RÚSSIA, UMA POTÊNCIA ENERGÉTICA?

Como um gigante produtor de energia e um importante corredor de trânsito, a Rússia é um importante ator no campo da segurança energética global. A localização geográfica do país disponibiliza recursos para mercados importantes e sedentos por energia - como Europa, China e Ásia Oriental. De acordo com os dados da Statistical Review of World Energy (2017), a Federação Russa possui a sexta maior reserva comprovada de petróleo do mundo. Fica atrás apenas de Venezuela, Arábia Saudita, Canadá, Irã e Iraque. No entanto, em termos de produção, o país ficou em terceiro lugar em 2016, atrás apenas de EUA e Arábia Saudita. Já em termos de gás natural, a Rússia fica em segundo lugar no tamanho de reservas comprovadas, o que equivale a 17.3% das reservas globais. O país só fica atrás do Irã – que possui 18% das reservas. Se levado em conta apenas as reservas de gás convencional, a Rússia assume o topo do ranking. Em termos de produção, a Rússia foi o segundo maior produtor em 2016, totalizando 16.2% da produção mundial, contra 21.5% dos EUA17 (BP GLOBAL, 2017).

Figura 13 - Maiores Reservas Comprovadas de Gás Natural (Trilhões De Pés Cúbicos)

Fonte: (ENERGY INFORMATION ADMISTRATION, 2017)

As receitas do petróleo e do gás natural representaram 36% das receitas orçamentárias federais da Rússia em 2016. (ENERGY INFORMATION ADMISTRATION, 2017). Nesses termos a economia da Rússia pode ser considerada altamente dependente de seus hidrocarbonetos. Consequentemente, o país se torna vulnerável a choques de preços no setor de

17 A produção norte americana, nos últimos anos, teve sua produção impulsionada pela extração de gás natural não- convencional, o shale gas.

energia. Um estudo do FMI de 2005 estimou que um aumento de US $ 1 por barril nos preços de petróleo do Reino Unido, adiciona US $ 3 bilhões no PIB nominal da Rússia ou 0,35% do PIB (PIROG, 2007). O próprio presidente Putin reconhece abertamente a vulnerabilidade que a dependência das exportações de hidrocarbonetos representa:

Sem dúvida, há dificuldades, que consistem, acima de tudo, do fato de que precisamos de preços mais altos do petróleo. É muito difícil estimular os atores econômicos a investir em novos setores que são menos lucrativos do que o setor de óleo e gás. É do que a estrutura de nossa economia dependeu. Nossos esforços tiveram o objetivo de mudar a estrutura mediante meios administrativos e financeiros. Estamos colhendo alguns frutos, mas não o suficiente para mudar a estrutura em si. Neste momento, os preços do petróleo e do gás caíram de mais de 100 dólares para menos de 30. Ou seja, mais de três vezes. Por um lado, é difícil conseguir a receita do Orçamento. Mas, por outro, cria estímulos para desenvolver a manufatura e a agricultura. É o que estamos fazendo. Em termos de preços, o preço menor do petróleo prejudica o poder aquisitivo da população (Putin apud STONE, 2017, p. 97).

Não é fácil exagerar a importância das exportações de recursos naturais para o funcionamento da economia russa. As estimativas que buscam estimar a importância das receitas de recursos energéticos para o crescimento do PIB tendem a se concentrar apenas no petróleo e gás, e medem a participação direta de valor agregado dos setores de petróleo e gás no PIB agregado. Essas estimativas sugerem que os setores de petróleo e gás são responsáveis por algo entre 10 e 25% do PIB (KUHRT e FEKLYUNINA, 2017). Como resultado, a dependência insalubre da Rússia sobre as receitas de exportação de recursos naturais deixa o país vulnerável a ações além de seu controle imediato.

No entanto em 2004, o governo russo criou um fundo de estabilização para acumular receitas petrolíferas inesperadas. Em janeiro de 2007, o fundo de US $ 157 bilhões foi dividido pela metade para formar o Fundo de Reserva e o Fundo Nacional de Bem-Estar. Em julho de 2009, os valores do Fundo de Reserva e do Fundo Nacional de Bem-Estar eram de US $ 89,9 bilhões e US $ 91,5 bilhões, respectivamente. Mediante o reconhecimento da dependência da exportação de energia, a criação dos fundos tinha por objetivo trazer maior estabilidade econômica em períodos de declínio nos preços mundiais de energia (SEGRILLO, 2015).

No que concerne às relações energéticas da Rússia com o seu maior cliente, a Europa, constata-se um quadro agudo de interdependência (ORTTUNG e PEROVIC, 2009). Por um lado, a Europa depende da Rússia como fonte de abastecimento de petróleo e gás natural. Mais de um terço das importações de petróleo bruto para países europeus na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2016, veio da Rússia. Mais de 70% das importações de gás natural para esses países também vieram da Rússia em 2016 (GLOBAL TRADE TRACKER, 2017). Por outro lado, a Rússia depende da Europa como mercado do seu

petróleo e gás natural e das receitas geradas pelas exportações. Em 2016, quase 60% das exportações de petróleo bruto da Rússia e mais de 75% das exportações de gás natural foram para a OCDE na Europa (GLOBAL TRADE TRACKER, 2017).

Figura 14 - Dependência dos Países Europeus em Relação ao Gás Natural Russo

Fonte: (BP GLOBAL, 2017)

Figura 15 - Gás Natural Russo Importado por País (2017) (BMC)

Áustria 9.14 Dinamarca 1.75 Finlândia 2.36 França 12.26 Alemanha 53.44 Grécia 2.93 Itália 23.81 Holanda 4.65 Suíça 0.33 Turquia 29.03 Reino Unido 16.26 Fontes: (GAZPROM, 2018)

A importância dos recursos energéticos na construção orçamentária da Rússia pode ser percebida na Figura 16, quando são contrastados com outros produtos que compões do portfólio de exportação da Federação Russa.

Figura 16 - Exportações da Rússia por Produto

Fonte: (WORKMAN, 2018)

Com a chegada de Vladimir Putin ao poder, o governo russo investiu grandes esforços no sentido de recuperar o comando do setor energético. Em uma conjuntura de ameaça e de preços crescentes, o setor energético ganhou extrema relevância na agenda política do Kremlin. A estratégia energética da Rússia incluiu vários elementos importantes. Entre eles o aumento da participação do Estado em empresas de energia, com Gazprom e Rosnef na linha de frente; construção de oleodutos e gasodutos em todas as direções geográficas; negociação de contratos de longo prazo com consumidores de energia e obtenção de acesso a seus mercados e redes de distribuição. Desta forma, o governo russo conseguiu tanto o controle sobre os recursos quanto o controle sobre as rotas de transporte energético domésticas e internacionais. Portanto, o segundo estágio do modelo de “Energy Weapon” é satisfatoriamente evidenciado.

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