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4.1 Conhecendo as pesquisadoras de café do sul de Minas Gerais

4.1.2 Razões para ser pesquisadora

Neste item, serão apresentadas as razões e as explicações que foram relevantes na escolha da profissão de pesquisadora pelas entrevistadas, profissão esta que cada vez mais tem atraído a atenção dos jovens.

O mercado de trabalho em empresas é hostil, além disso, segundo Baltar (1996), uma característica típica do mercado de trabalho brasileiro é a economia de baixos salários. O que se pode notar no trecho abaixo é exatamente isto, uma recém-formada que foi para o mercado de trabalho, porém a única proposta de emprego recebida tinha um salário muito baixo e sem reconhecimento, e não era o que ela esperava.

Ah, então assim, eu não, eu não vou mentir pra você, o mercado de trabalho na minha área, quando eu me formei, eu recebi uma proposta de emprego, eu iria trabalhar por turno e ganhar um salário e meio, então eu fiquei muito chateada com isso, porque eu me dediquei tanto durante a graduação e eu achei que eu tinha, que no início eu teria pouco reconhecimento, foi a minha visão. (Pesq12)

Será que se fosse um homem o reconhecimento seria maior? Segundo pesquisas, o salário de homens ocupando o mesmo cargo é maior que o das mulheres. Em estudo realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, em 2009, aponta que as diferenças salariais relacionadas a gênero e etnia continuam sendo significativas nos países latino-americanos. De acordo com a pesquisa, os homens ganham mais que as mulheres em todas as faixas de idade, níveis de instrução, tipo de emprego ou de empresa. No Brasil, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução.

Assim como na pesquisa realizada pela Catho (2017), as mulheres ganham menos do que os homens em todos os cargos. A maior diferença é no cargo de consultor, no qual os homens ganham 62,5% a mais do que as mulheres. Portanto, muitas mulheres têm buscado maior qualificação para potencializar o currículo e assim conseguir alcançar maiores cargos.

As experiências adquiridas durante a vida podem trazer consigo novos interesses, novos caminhos a seguir, novas formas de pensar.

Eu não posso deixar de negar que eu tive um orientador na graduação que assim, foi um exemplo pra mim, eu acho assim, tudo o que ele podia fazer para me ajudar ele fez, apesar de a gente não ter a mesma área de pesquisa, tudo que ele podia ajudar, ajudar, ele fez e a mesma coisa aconteceu comigo no mestrado, então isso me impulsionou muito pra essa pesquisa, eu tive bons orientadores. (Pesq12)

Ao entrar pra para pra Universidade X, é, houve essa oportunidade de contato, com professores, departamento de pesquisa, curso de pós-graduação que estavam iniciando, você conhece pessoas. Então isso despertou esse

interesse, e tive a sorte de me aproximar do professor L, que tava recém- chegado dos Estados Unidos, e foi uma influência muito positiva e foi por isso que eu me deliniei pra, me dirigir para essa área. O outro fator que eu acredito que seja importante, é que logo depois que eu cheguei, antes de formar inclusive, eu me casei e meu marido tornou-se professor na Universidade X, então era uma convivência próxima desse ambiente acadêmico, e foi o que despertou esse interesse em continuar nessa área. (Pesq3)

De acordo com os trechos acima, foi a partir das experiências adquiridas na graduação que despertaram o interesse na área de pesquisa, seguindo, portanto, um novo caminho: o de pesquisadora. E, além disso, a influência de pessoas terceiras foi um fator decisivo na escolha da profissão, atenta-se que, para as duas entrevistadas, a figura masculina foi referência, ou seja, o mentor foi um homem. No caso da Pesq3, além do professor que a influenciou positivamente a seguir na área da pesquisa do café, ela também teve a influência do marido que, por ser da mesma área, pode ter facilitado a sua entrada e também ter sido mais favorável à conciliação de sua vida profissional com a vida pessoal, pois, além dos objetivos de vida serem semelhantes, as intenções de estudo também eram.

Pires e Araújo (1976) defendem que as escolhas não são dadas como opção, pois são dependentes de inúmeros eventos que exercem influência sobre o comportamento humano e suas ações. Ou seja, diferentes eventos, experiências passadas, influenciam diretamente nos comportamentos das pessoas, nas suas ações e escolhas profissionais.

Ah, acho que porque eu sempre quis, sempre gostei muito de estudar, eu acho que pra área de pesquisa não basta só laboratório, não basta só resultados, a gente tem que estudar bastante pra saber o porquê das coisas e eu acho que é por isso que eu quis me tornar pesquisadora, pra descobrir ou, descobrir não, mas é, minha, responder algumas questões que ainda são, que a comunidade ainda não consegue responder, essas coisas assim. (Pesq11) Então eu sempre tive muita facilidade e, eu sempre enxerguei, eu, o meu pensamento é muito rápido, eu fico vendo as coisas muito lá na frente, acho que pesquisador é um pouco disso né, não sei, eu acho que eu sou, acho que eu nasci assim, não sei quando que eu me tornei, acho que a gente tem que ser né. Acho que a gente é pesquisadora. A gente nasce com isso. Por isso que eu acho que tem muitas pessoas que por falta de oportunidade acaba seguindo a área acadêmica, área de pesquisa, mas não se encontra, porque eu acho que não tem esse, ela não nasceu pra isso. Né, cada um tem um dom. (Pesq6)

As entrevistadas buscaram caminhos de que gostavam e que foram mais interessantes, elas falam de vocação e apontam como a facilidade para estudar e refletir as ajudou a escolherem a sua profissão. Para elas, ser pesquisadora é algo com que se nasce, mesmo com o mercado de trabalho hostil em que muitas pessoas decidem seguir a área acadêmica e ser

pesquisador, muitas vezes, essas pessoas não se encontram na área, não se sentem felizes, pois não é aquilo que elas gostariam de fazer.

Pesq11 cita que não basta somente ter resultados, pois pesquisador é uma profissão em que é necessário estudo constante e o saber o porquê das coisas. A pesquisa explicativa preocupa-se em identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos (GIL, 2007), ou seja, explica o porquê das coisas, por meio dos resultados oferecidos.

A Pesq11 e a Pesq6 - pesquisadoras mais jovens -, não mencionaram ter dificuldades para escolher sua profissão, pois atualmente não existe tanta barreira de gênero em profissões como havia antigamente. Antes delas, houve as pioneiras que abriram portas e caminhos para que elas pudessem seguir com mais facilidade.

Apesar de ter vindo assim pra agronomia sem nenhuma tradição na família, um pouco por falta de opção, eu queria ficar na cidade, aqui só tinha o curso de agronomia, eu não queria dar aula em curso primário na época né, então foi um pouco assim, mas como eles dizem, você não só pode fazer o que você gosta, mas você tem que gostar do que faz, eu acho que isso eu aprendi, aprendi a gostar da atividade e estou realizada. (Pesq1)

Para a Pesq1 - a entrevistada que tem mais tempo na área de pesquisa - a razão para seguir a carreira de pesquisadora de café foi a falta de opção que tinha na época, pois as mulheres faziam o magistério para serem boas esposas, mães e professoras primárias e não era o que ela queria para o seu futuro, então ela optou por estudar agronomia e aprendeu a gostar da sua profissão.

Em vista do exposto, pode-se afirmar que as razões apontadas pelas entrevistadas foram distintas, sendo citadas por elas a falta de opção, mercado de trabalho retraído e pouco reconhecimento pela profissão, o fato de sempre terem gostado de estudar, de terem nascido com dom e a influência de terceiros, tendo bons mentores, orientadores.