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Entre as diferentes medidas previstas no memorando de entendimento estabelecido entre Portugal, o BCE a UE e o FMI, consideradas necessárias para encetar este compromisso de recuperação de empresas, encontrava-se a aprovação dos Princípios

101 Cfr. COSTEIRA, Maria José, ll Congresso Direito da Insolvência, Almedina, Coimbra, pag 100 ss. 102 Cfr. COSTEIRA, Maria José, ll Congresso Direito da Insolvência, Almedina, Coimbra, pag 100 ss. 103 Cfr. Resolução do Concelho de Ministros 11/2011 de 03 de Fevereiro “Ao lançar o Programa Revitalizar,

o Governo tinha em vista à otimização do enquadramento legal, tributário e financeiro em que o tecido empresarial em Portugal desenvolve a sua atividade, de modo a fomentar projetos empresariais operacionalmente viáveis, mas em que a componente financeira se encontra desajustada face ao modelo de negócio em que aqueles projetos se inserem e às condicionantes existentes no panorama económico-financeiro atual 2 - Estabelecer como objetivos prioritários do Programa Revitalizar:a) A execução de mecanismos eficazes de revitalização de empresas viáveis nos domínios da insolvência e da recuperação de empresas;b) O desenvolvimento de mecanismos céleres e eficazes na articulação das empresas com o Estado, em particular com a Segurança Social e a Administração Tributária, tendo em vista o desenho de soluções que promovam a viabilização daquelas;c) O reforço dos instrumentos financeiros disponíveis para a capitalização e reestruturação financeira de empresas, com particular enfoque no capital de risco e em outros instrumentos que em simultâneo concorram para o desenvolvimento regional;d) A facilitação de processos de transação de empresas ou de ativos empresariais tangíveis ou intangíveis;e) A agilização da articulação entre as empresas e os instrumentos financeiros do Estado e os do sistema financeiro, com vista a acelerar processos decisórios e a assegurar o êxito das operações de revitalização empresarial - Criar uma Comissão de Dinamização e Acompanhamento Interministerial do Programa Revitalizar, coordenada pelo Ministério da Economia e do Emprego e integrada por representantes dos Ministérios das Finanças, da Justiça e da Solidariedade e da Segurança Social.4 - Determinar que, no prazo de 30 dias a contar da data da publicação da presente resolução, seja apresentado um primeiro conjunto de iniciativas do Programa Revitalizar.”

Orientadores da Recuperação Extrajudicial de Devedores104, publicados em anexo, à RCM n.º 43/2011 de 25 de outubro.

Estes princípios de inegável relevância para o relacionamento entre credores e devedores, foram apresentados como “…um instrumento de adesão voluntária, destinado

a promover a eficácia dos procedimentos extrajudiciais de recuperação”.

O relevo dado a estes mecanismos decorre do facto de se considerar que, em comparação com o processo judicial de insolvência, estes procedimentos em virtude da sua flexibilidade e eficiência permitirem alcançar diversas vantagens.

Os Princípios Orientadores da Recuperação Extrajudicial de Devedores, confirmam que entre os corolários do dever de consideração, “está um dever de

cooperação construtiva entre os credores envolvidos e o devedor em dificuldades.”

Como refere MENEZES CORDEIRO ” Em primeiro lugar, as partes devem actuar

de boa-fé, na busca de uma solução construtiva que satisfaça todos os envolvidos (Segundo princípio); em segundo lugar, os credores envolvidos devem cooperar (…) com o devedor (Quarto princípio), designadamente, concedendo-lhe um período de suspensão (Quarto e Quinto princípios); em terceiro lugar, os credores envolvidos devem cooperar entre si” 105.

O COMPROMISSO 2.18

O memorando de entendimento determinava, como já vimos, um conjunto de medidas que tinham como objetivo a promoção dos mecanismos de reestruturação extrajudicial de devedores. Permitiria que antes de recorrerem ao processo judicial de insolvência, as empresas que se encontrem numa situação financeira difícil e os respetivos credores, possam optar por um acordo extrajudicial que visará a recuperação do devedor, permitindo-lhe continuar em atividade económica.

As empresas, mantendo-se em atividade, atingem uma taxa de recuperação de crédito mais elevada, podendo manter as suas relações jurídicas e económicas. Pelo que

104

Cfr. Resolução do Concelho de Ministros 43/2011 de 25 de Outubro “O preâmbulo dos Princípios

Orientadores da Recuperação Extrajudicial de Devedores fala de um interesse público em Libertar os tribunais para

outros processos, contribuindo (…) para uma maior eficiência e celeridade do sistema judicial”.

105Cfr. CORDEIRO,António Menezes, ll Congresso Direito da Insolvência, Almedina, Coimbra, pag 100

os procedimentos extrajudiciais de recuperação de devedores são instrumentos fundamentais numa estratégia de recuperação e viabilização de empresas em dificuldade económica. No entanto, o sucesso destes procedimentos depende de um conjunto de condições que têm de ser reunidas e conhecidas dos interessados.

Daí que, entre os compromissos assumidos por Portugal no referido memorando de entendimento, existisse o compromisso de definir “…princípios gerais de reestruturação

voluntária extra judicial em conformidade com boas práticas internacionais”.106

Estes princípios gerais consistem, no fundo, num conjunto de regras a serem seguidas pelas partes, se assim o entenderem, com o objetivo de potenciar o processo negocial tendo em vista a recuperação de uma empresa, segundo regras de boa -fé e cooperação. Como refere NUNO PINTO OLIVEIRA107 “…os argumentos textuais

retirados dos princípios orientadores da recuperação extrajudicial de devedores, dos Art.º (s). 1º, º2, e 17.º - C do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas, na redação da Lei nº 16/2012, e dos Art.º(s). 2.º e 3.º Decreto-Lei nº 178/2012, de 03 de agosto que são, porem, contrariados por argumentos extratextuais – em particular, por argumentos extratextuais relacionados com a cláusula geral da boa fé. Os argumentos textuais causam a impressão de que a recuperação ou revitalização de um devedor/de uma empresa através de um procedimento de (re) negociação do contrato, não corresponde ao “cumprimento” de nenhum dever”. Estes argumentos causam a

impressão de que correspondem ao cumprimento de um dever de cooperação.

Concordando com a lógica adversa a deveres de consideração ou de solidariedade do CIRE, o preâmbulo da RCM nº 43/2011, de 23 de Outubro, que aprovou os Princípios

Orientadores da Recuperação Extrajudicial de Devedores, apresenta os procedimentos

extrajudiciais de recuperação/de revitalização de devedores baseados na “vontade dos

credores de ajudar o devedor” como procedimentos de adesão voluntária ou

procedimentos voluntários. Os “Princípios Orientadores”108resultam assim num conjunto de regras a serem seguidas pelas partes, se elas assim o entenderem.

106 Cfr. Ponto 2.18 do memorando “Princípios gerais de reestruturação voluntária extra judicial” em

conformidade com boas práticas internacionais serão definidos até fim de Setembro de 2011”.

107Cfr. OLIVEIRA, Nuno Pinto, ll Congresso Direito da Insolvência, Almedina, Coimbra, pag 166 e ss. 108

Os interesses prosseguidos pelos procedimentos extrajudiciais de recuperação/de revitalização de empresas são, simultaneamente, interesses públicos e interesses privados. O devedor está interessado em manter a empresa em atividade, e ter maior controlo do processo e das soluções adotadas. Os credores estão interessados em reduzir as suas perdas: Os dados estatísticos apontam para “…uma maior recuperação de créditos nos

casos de recuperação extrajudicial de empresas, quando comparada com os casos de insolvência e liquidação do património do devedor”. O Estado deveria estar interessado

em reduzir as perdas do sistema económico e social.