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4. PASSOS COMPASSOS: A PESQUISA DE CADA DIA

4.4. O DIA A DIA: A PESQUISA A CADA PASSO

4.4.7. RE – ENCONTRO – 15 DE MARÇO DE 2008

O encontro teve duração de três horas e os presentes neste eram John, Fidel, Mariana, Ana Maria, Júlia e ainda dois atores colaboradores do Grupo PORACAOSOS que poderiam entrar em encenações caso fosse a eles solicitado. O reencontro foi marcado com o objetivo de vivenciar o diálogo dos dados anteriores com outros sujeitos da instituição, usuários e familiares por meio do Teatro do Oprimido em articulação com o Trabalho de Tradução. A finalidade deste diálogo seria discutir alternativas aos problemas investigados no ano anterior com todos os sujeitos interessados produzindo sentidos democráticos para os mesmos. O relato em seguida deste encontro justifica o não alcance deste objetivo.

Realizamos um aquecimento de rememoração dos dados anteriormente estudados. Posteriormente pedimos para os sujeitos caminharem pela sala pensando nos dados que ainda identificavam e as mudanças que também poderiam identificar como realizadas ao longo dos meses que se passaram. Pedimos então ao grupo para transformar isso em imagem, sendo uma pessoa voluntária (escultor) responsável por posicionar os corpos dos colegas para representar esteticamente a imagem do CAPS em 2007 quando da coleta de dados. A escultura, como chamamos este jogo cênico, foi realizada por Fidel. Após esta formação de imagem solicitamos que o escultor nomeasse a escultura (nome: Contradição) e discutisse o porquê de sua formação. Pedimos então que alguém se dispusesse agora a montar a imagem do presente do CAPS.

Ana Maria se prontificou fazendo uma imagem totalmente distinta da anterior, e a renomeou (nome: Rede de Integração). Mariana quis intervir e mudar a montagem com os corpos de todos os colegas e a renomeou (nome: Acolhimento). Compreendemos que cada um do grupo queria mostrar sua imagem do grupo atual

e a intitular de acordo com o que haviam construído, assim abrimos para que todos intervissem.

John fez sua intervenção montando nova imagem e a nomeando (nome: Transferência). Depois foi a vez de Júlia intervir fazendo suas mudanças e renomeando a imagem construída com os corpos dos colegas (nome: Produção).

Perguntamos se contemplava a todos ou se precisaria de mais uma intervenção e Mariana afirmou que sim, que devia haver mais, fazendo uma nova composição de imagem (nome: Amizade).

O grupo finalizou assim as atividades e indagamos ao mesmo se as questões observadas dos dados anteriores ainda faziam sentido e as colocações eram de que o momento era outro e que não existiam conflitos a serem abordados naquela conjuntura. Logo optamos por discutir as mudanças entre o grupo ao invés de retomar os dados e dialogar com usuários e familiares.

Relatamos a oficina e somamos as informações para complementar a análise dos dados.

Uma vez em contato com os dados construídos ao longo de todos estes encontros relatados, lemos exaustivamente nosso material e nos dispusemos a considerar os temas que se repetiam e as questões que nos suscitavam enquanto pesquisadores.

Os temas que emergiam eram: `silêncio e ação, compartilhamento da base teórica, democracia e hierarquia, liberdade e burocracia, visão anti-manicomial`.

Considerados os grandes temas iniciais que emergiram pudemos organizar os dados, recortando os relatos de observação e colando-os nos grandes temas, de forma que um mesmo relato poderia estar em um, dois ou mais temas ao mesmo tempo. Assim se em um exercício, encenação ou discussão surgia o tema Silêncio,

Hierarquia ou Burocracia, tornava-se possível fazer a conexão entre as repetições como também pensá-las separadamente. Nossa intenção era organizar, mas não simplificar o processo.

Organizamos os dados dentro desses eixos e retomamos a leitura, procurando os sentidos mais específicos e observando a existência de incoerências e/ou contradições no funcionamento da equipe e no discurso de cada integrante. Cada grande tema suscitava novos temas que requeriam novas leituras do material e assim respaldava ou inviabilizava um sentido pensado.

A partir da reflexão sobre as contradições e incoerências fizemos novas reflexões e partimos para a articulação com conhecimentos sobre a Reforma psiquiátrica e com a sociologia das ausências e das emergências, permitindo análise de faltas e de possibilidades do funcionamento do CAPS, associando as faltas e possibilidades com outros conhecimentos: senso comum, conhecimento regional e conhecimento tradicional sobre os temas. Atentamo-nos à questão teórica que sustenta o aparelho CAPS, ou seja, aos princípios da Reforma Psiquiátrica (teórico e legal).

Retomamos neste processo de análise algumas informações complementares sobre o CAPS feitas no último encontro com a equipe, aprofundando e reformulando alguns questionamentos.

Ao identificarmos e analisarmos o que apareceria nos dados como impasses, ou seja, como problemas que foram colocados como barreiras a serem superadas, tentamos propor conjuntamente com as propostas advindas dos relatos e dos fóruns (Teatro Fórum) a busca de transformação.

Em todo esse processo de confronto de dados levamos em consideração o saber e experiência de cada sujeito, em interpenetração com o saber e experiência

do sujeito investigador, reconhecendo a interpenetração destes como gerador da tradução. As considerações inicialmente feitas neste caminho foram levadas ao grupo para que este pudesse argumentar sobre as mesmas, acrescentando e tornando-se co-autor de parte do conhecimento produzido.

Durante a redação da interpretação dos dados foi possível elaborar uma alternativa voltada para a prática investigativa por meio do teatro (capítulo 7). Essa alternativa surgiu do encontro das teorias envolvidas no processo e da necessidade permanente e evidente no trabalho de um diálogo cada vez mais próximo das experiências e saberes existentes na sociedade.