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Capítulo III: Análise e Discussão dos Dados

3.2 Crenças da professora acerca do processo de ensino e aprendizagem de inglês

3.3.2 Reações da PO ao entrar em contato com suas próprias crenças

Concordando com Pessoa e Sebba (2006), penso ser de extrema importância dar ao professor a oportunidade de explicitar e tomar consciência de suas crenças e de sua prática, pois, sozinho, é muito difícil que consiga percorrer o caminho da mudança.

Será observado, então, como PO reage ao entrar em contato com as crenças levantadas pela pesquisadora, se ela concorda com tais crenças e se estas geram algum tipo de reflexão e questionamento.

Os dados mostrados a seguir foram obtidos por meio de uma conversa com a PO, na qual a pesquisadora mostrou as crenças levantadas e pediu para ela comentar. Tal conversa foi gravada em áudio após o término do trabalho de formação continuada.

Inicio mostrando o excerto 20 em que a pesquisadora e a PO conversam o seguinte:

Excerto 20:

1 PESQ.: percebi que você acredita que seja preciso despertar o 2 interesse do aluno (+) para que ele aprenda 3 PO: é lógico (++) eu fico louca (+) eu quero fazê entrá as coisas 4 na cabeça deles (++) às vezes de uma maneira não muito certa 5 (+) mas vamo lá ((conversa com a PO realizada no dia 10/08/06))

Por meio do excerto supracitado, fica evidente o desejo da PO de promover aprendizagem, bem como a dificuldade em atingir esse objetivo. Parece que ela encontra muita resistência por parte dos alunos quando diz fazê entrá as coisas na cabeça deles, levando-me a pensar que não estão abertos à aprendizagem. Essa mesma frase explicita a idéia de que aprendizagem é transmissão de conhecimento estanque. Na linha quatro, PO manifesta incerteza quanto à adequação da sua prática para atingir seu objetivo.

Vejamos o que ela comenta sobre a segunda crença.

Excerto 21:

1 PESQ.: a música desperta o interesse e a motivação dos alunos 2 PO: sem dúvida (+) acho que todo mundo hoje tá trabalhando 3 com música (++) mas eu desde sempre (+) desde que eu 4 comecei a dar aula (+) eu levava minha violinha ((conversa com a

Como visto na seção anterior, essa crença da PO parece ter origem em suas próprias experiências como aluna e, de certa forma, o excerto supracitado corrobora essa interpretação no sentido de que revela que essa crença a acompanha há muitos anos e, portanto, não foi construída recentemente.

Contudo, de acordo com Hatton e Smith (1995), o contato com tal crença não gerou reflexões por parte da PO, talvez por ser uma crença bastante estabilizada. Dessa forma, não desperta na PO a necessidade de questionamentos e reflexões, uma vez que a participação, motivação e o interesse dos alunos quando ela trabalha com músicas confirma e reforça essa crença.

A respeito da terceira crença, PO diz o seguinte: Excerto 22:

1 PESQ.: língua(gem) é um sistema ou símbolo utilizado para 2 comunicação

3 PO: é (+) eu concordo (++) não sei se eu exploro todas as 4 possibilidades de comunicação (+) mas acredito que seja isso (++) 5 tô vendo agora que muitas coisas mudaram (+) e que há outras 6 possibilidades de utilizar essa linguagem (++) não só da maneira 7 como venho utilizando (+) só com texto (++) sabe” (+) é difícil de 8 eu sair desse esquema (+) mas eu vou tentar (++) eu sinto 9 necessidade disso (+) mas eu confesso que é difícil (++) você tem 10 seu material lá:: (+) tá acostumada a trabalhar de uma forma (+) 11 vai se acomodando (+) e você acha que tá bom (+) ou se não tá 12 (+) é o jeito que você sabe fazer (++) mas não tá bom (++) os 13 alunos às veze s ficam desinteressados (+) e isso pra mim é um 14 sinal de que não tá bom ((conversa com a PO realizada no dia

10/08/06))

Quando PO diz, nas linhas três e quatro, não sei se eu exploro todas as possibilidades de comunicação, parece que ela refere-se às diversas maneiras pelas quais poderia contemplar as quatro habilidades. As linhas cinco, seis e sete são bastante significativas no sentido de que nos revelam que, de algum modo, as leituras, discussões

e o contato com as crenças dos alunos mostraram outras possibilidades metodológicas e despertaram na PO o desejo, ou como ela própria diz a necessidade de redirecionar sua prática. Contudo, sabemos que isso não garante mudanças efetivas e imediatas, mas pode significar o início de um processo reflexivo no qual ela seja capaz de analisar sua prática buscando suas razões e implicações.

PO salienta, também, que esse processo de reflexão e de possíveis mudanças é bastante complexo por estar acostumada a trabalhar da mesma forma há anos e até então, não ter tido muito contato com outras possibilidades metodológicas.

Com relação à sua crença sobre ensinar, PO diz o seguinte: Excerto 23:

1 PESQ.: ensinar é transmitir conhecimento 2 PO: é (++) eu sei que não é bem isso (+) mas é o que eu passo 3 PESQ.: como assim” 4 PO: ah (+) porque todo mundo diz que hoje em dia (+) não é só 5 conhecimento (++) é saber usar esse conhecimento (+) você 6 precisa sabê usar ((conversa com a PO realizada no dia 10/08/06))

Durante o trabalho de formação continuada, foram abordadas as crenças e concepções de língua(gem), ensinar e aprender. Talvez esse fato justifique sua resposta na linha dois, como se ela dissesse “olha, eu já sei que ensinar não é só transmitir conhecimento, mas é assim que eu sei fazer”.

Quando a pesquisadora pergunta o que ela quer dizer, PO diz que é preciso pragmatizar o conhecimento, ou seja, não adianta só saber gramática, precisa saber colocá-la em uso de maneira adequada. Apesar de, aparentemente, a PO ter ciência disso, o enfoque de suas ações é puramente gramatical.

Percebe-se, então, que essa crença da PO é bastante forte, uma vez que não foi ressignificada após as leituras e discussões.

Vejamos, agora, a reação da PO ao entrar em contato com a seguinte crença:

Excerto 24:

1 PESQ.: escrever é copiar ou fazer exercícios (+) e falar é repetir 2 estruturas prontas ou textos em inglês 3 PO: é (+) né (+) eles ficam lá repetindo (+) não criam na::da 4 PESQ.: por que isso acontece” 5 PO: eu acho que é mais fácil pra eles (+) porque senão eles 6 ficam quietinhos lá:: 7 PESQ.: como você poderia promover produção textual e oral” 8 PO: com exercícios de (++) poderia ser baseado em modelos (+) 9 né” (+) mas assim que eles tenham interação (+) exercícios 10 comunicativos (+) que eles possam utilizar nas situações (+) 11 interagir com colegas (++) vou ser sincera com você (+) porque 12 eu não aprendi dessa forma (+) entendeu” (+) então f alta um 13 pouco de prática nesse sentido (++) eu até sei alguma coisa (+) 14 mas é difícil aplicar ((conversa com a PO realizada no dia

10/08/06))

Observa-se indícios de reflexão por parte da PO, especialmente na linha três, na qual concorda com a crença levantada pela pesquisadora e parece que se dá conta de que seus alunos só repetem e não criam nada, e na linha 5, em que tenta justificar a atitude dos mesmos. PO sinaliza como poderia mudar essa realidade, mas conclui dizendo que, como não aprendeu dessa forma, encontra dificuldade em colocar essas propostas interativas e comunicativas em prática.

Sendo assim, fica evidente a forte influência da aprendizagem por observação e de suas experiências como aluna na construção de sua prática.

3.4 O discurso e as ações de PO após o término do trabalho de formação