• Nenhum resultado encontrado

O reajustamento pós Conceito Estratégico

No documento A Gestão de Crises no Quadro da NATO (páginas 53-55)

O final da Guerra Fria, o posterior desmembramento da ex-URSS e o surgimento de um vazio estratégico e de segurança que resultou da dissolução do Pacto de Varsóvia em oposição ao bloco dito ocidental, levaram a uma alteração da ordem internacional que justificou a transformação da Aliança Atlântica. Como refere o General Loureiro dos Santos, durante a Guerra Fria “havia um inimigo claro e definido; a ameaça, que era uma ameaça convencional, (…) e, para conter essa ameaça, para fazer face à ameaça e para dissuadir que ela se concretizasse, havia uma estrutura militar montada no terreno”104.

Sem a ameaça para a qual tinha sido criada, a Aliança iniciou um processo de adaptação que se desenrolou no tempo e foi traduzido num conjunto de reformas que se iniciaram através do documento que marcou essa transformação, o The Alliance New Strategic Concept, aprovado em 1991, em Roma.

Como consequência da aprovação do Conceito Estratégico de 1991, a NATO tomou medidas concretas no sentido da reforma, criando novas associações formais com os governnos da Europa Central e de Leste, que se desenvolveram ao longo de três fases: o estabelecimento North Atlantic Cooperation Council (NACC) em 1991, o desenvolvimento da Partnership for Peace (PfP) na Cimeira de Bruxelas, em 1994 e, em 1997, na Cimeira de Madrid, o alargamento da Aliança a Leste, com a inclusão de uma série de países e que, posteriormente, viria a ser continuado em 2002, na Cimeira de Praga.

Em Dezembro de 1991, a Aliança criou o NACC e convidou todos os antigos membros do Pacto de Varsóvia a aderirem. Estabelecido com o propósito de discussão de questões cujo espectro ia desde as preocupações com os direitos humanos até aos processos de transição económica desses estados, o NACC foi criado para promover a cooperação na área política e de segurança, encorajando o desenvolvimento da democracia na Europa Central e de Leste.

No espectro militar, o NACC centrou a sua atenção na segurança, tendo declarado que “the focus of our consultations and cooperation will be on security and related issues, such as defense planning, conceptual approaches to arms control, democratic concepts of civil-military relations, civil-military coordination and air traffic management and the conversion of defense

104

46

production to civil purpose”105. Ou seja, o NACC acabou por ser desenhado como um forúm de

promoção da democratização destes estados, havendo uma preocupação quanto à democratização das forças armadas, em linha com os restantes membros da Aliança, com um propósito de aproximação destas e tendo como objectivo uma uniformização segundo os padrões da NATO.

No que concerne aos laços com outras instituições, e fruto do conflito na Bósnia- Herzegovina,, logo em 1992, em Oslo, o NACC acordou o desenvolvimento das relações e laços com a CSCE e com as Nações Unidas. Neste sentido, a NATO declarou, em Junho de 1992, o seu “apoio, caso a caso, em concordância com os seus procedimentos, a actividade de peacekeeping sob a responsabilidade da CSCE, incluindo a disponibilização dos recursos e conhecimentos (expertise) da Aliança106.

Já em Dezembro do mesmo ano, com a escalada da violência do conflito bósnio, em Reunião Ministerial, ficou definido que a Aliança estava preparada para “apoiar, caso a caso, em concordância com os seus procedimentos, operações de manutenção de paz sob autoridade do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que tem a responsabilidade principal pela paz e segurança internacionais”107.

Ou seja, seguindo o delineado no Conceito Estratégico de 1991, os Aliados começaram a referir publicamente o papel da NATO na gestão de crises afirmando que a Aliança responderia positivamente a solicitações nesta área, desde que ligadas, nomeadamente, à ONU e à CSCE.

No ano de 1993, como refere o General Silvestre dos Santos “a Aliança foi marcada pela intensificação do conflito dos Balcãs,pela reorganização das instituições europeias (CSCE e UEO) e pelas garantias de segurança solicitadas por alguns países da Europa Central e Oriental à Aliança”108. Marcada pelo conflito dos Balcãs porque logo em 1992 começou o

conflito na Bósnia que, dada a sua escalada e proximidade da fronteira dos países membros da NATO, levou a que a Aliança interviesse, mesmo fora de área, marcando definitivamente o rumo da Aliança e a sua transformação no pós-Guerra Fria.

105 “North Atlantic Cooperation Council Statement on Dialogue, Partnership And Cooperation”, Press Communiqué

M-NACC-1(91)111, 20 Dec. 1991, 5). Disponível em http://www.nato.int/cps/en/SID-80EEFB21- 36CEA226/natolive/official_texts_23841.htm?mode=pressrelease. Consultado a 14/02/2011.

106

Final Communiqué of the Ministerial Meeting of the North Atlantic Council - Paragraph 11, Oslo, 4 June, 1992. T. do A. Texto original: “to support, on a case-by-case basis in accordance with our own procedures, peacekeeping activities under the responsibility of the CSCE, including by making available Alliance resources and expertise”.

107

Final Communiqué of the Ministerial Meeting of the North Atlantic Council - Paragraph 4, Brussels, 17 December, 1992. T. do A. Texto original “to support, on a case-by-case basis and in accordance with our own procedures, peacekeeping operations under the authority of the UN Security Council, which has the primary responsibility for international peace and Security”.

47

Por outro lado, a Aliança foi marcada pela reorganização das instituições europeias, dado que, na Cimeira de Budapeste, em Dezembro de 1994, foi alterado o nome de CSCE para Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Esta alteração deveu-se ao facto de ter sido considerado que a prevenção de conflitos na Europa exigia uma estrutura mais operacional e, nesse sentido, a CSCE deu lugar à OSCE, com novas estruturas e com um âmbito de actuação mais alargado.

No que concerne à UEO, no decénio de 1990 ela foi definida como a estrutura através da qual a UE poderia conduzir operações de gestão de crises e, desde o Tratado de Maastricht, era considerada o braço armado da UE, pelo que neste sentido, assumiu a articulação com a NATO em questões de segurança.

Como terceiro elemento marcante para a Aliança, as solicitações de apoio por parte de alguns países da Europa Central e Oriental. A implosão e o desmembramento da ex-URSS geraram tensões na região bem como a necessidade de apoio à transição e a reajustamento a nível político, militar e económicos nestes países. Assim, registou-se uma aproximação de alguns destes países à NATO, aproximação essa que teve implicações para ambas as partes, dado que esses países efectuaram reajustamentos estruturais profundos, tendo alguns deles incorporado posteriormente a própria Aliança.

4.2 Conflito na Bósnia – o primeiro empenhamento militar e primeira operação de

No documento A Gestão de Crises no Quadro da NATO (páginas 53-55)