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Do real ao virtual: letrar-se como forma de alcançar novos caminhos

CAPÍTULO 3 – LETRAMENTOS DIGITAIS E IDOSOS

3.1. Do real ao virtual: letrar-se como forma de alcançar novos caminhos

As pessoas idosas viveram grande parte de suas vidas em uma época em que o acesso à informação e à comunicação era limitado11 a jornais, ao rádio e

à televisão. Essa realidade tem se tornado um pouco incomum, estabelecendo- se novas relações como forma de comunicação, como bem exemplificam as redes sociais, que possibilitam, através do uso de internet, uma forma imediata de promover a comunicação e a interação entre as intergerações12. Vários são

os fatos que marcam essa realidade que vem se configurando há algum tempo: há a possibilidade de realizar transações bancárias (internet banking), compras online, trocas de mensagens através das redes sociais de comunicação. O uso

11 Nos limites deste artigo, é importante pontuar que a palavra “limitado” está associada a

questões de tecnologias que estavam presentes em suas devidas épocas. Sem esquecer de mencionar os carácteres de ordem econômica, territorial, interesses etc.

12 O dicionário Wikipédia descreve a palavra Interagerações como discrepâncias culturais,

sociais ou econômicas entre duas ou mais gerações, que pode ser causada por câmbios de valores ou conflitos de interesse entre gerações mais jovens e gerações mais antigas.

dessas redes acontece cada vez mais graças aos avanços das tecnologias, sobretudo as digitais, que estão se aperfeiçoando mais e mais. Ficar fora desse contexto pode corroborar a ideia de que não apenas os idosos, mas toda a sociedade, que não está incluída digitalmente, vive num tempo em que a exigência do letramento digital faz parte desse contexto que se configura. Em tempos de necessidade de manter-se e aprender a lidar com essas tecnologias, é importante garantir aos idosos não apenas o acesso a elas, mas à apropriação delas de modo que favoreça a inserção desses sujeitos no mundo e que elas sejam entendidas como uma importante ferramenta para a promoção da autonomia e independência, bem como a administração de sua saúde e da produtividade dos seus interesses, dentre outros fatores.

Em consequência do avanço da globalização que surgiu em decorrência das mudanças aceleradas por que passa o mundo, é importante ressaltar como as influências dessas mudanças estão envolvendo as intergerações, que veem se transformando numa construção de cenário mundial, passando a identificá- las no perfil social e cultural de uma sociedade que fez parte dela. Não é apenas uma questão de fazer comparações, uma vez que cada um vivencia sua época em que se prende a diferentes circunstâncias no contexto, as quais são viven- ciadas pelas diferentes gerações, favorecendo o controle da situação. Trata-se da necessidade de manter-se atualizado na era digital.

As TIC estão se transformando não apenas como mediadoras de comunicações, mas com a possiblidade de abrir caminhos para a interação no cotidiano de todas as pessoas, numa sociedade antenada digitalmente, que se apodera de recursos tecnológicos/eletrônicos em diversos contextos: residências, trabalho, lazer etc.

Vivemos rodeados de tecnologias - televisão, rádio, telefone fixo, computadores, celular, informatização e caixas eletrônicos etc., enfim, uma uma gama de possibilidades de recursos que contemplam nossa necessidade e podem ser vistas como propagadores de padrões e de valores culturais e sociais na sociedade em que vivemos.

Quando nos inserimos ao universo virtual tecnológico, vivenciamos a construção e desconstrução do processo de identidade diante das possibilidades e variedades que são atribuídas nos aspectos culturais e sociais de cada indivíduo, em que as referências passam a ser somente das estruturas externas. A multiplicidade tecnológica progressiva tem exigido um avanço mais amplo, e ao mesmo tempo, intenso, demandando de todos os seres humanos uma rápida conduta na forma de pensar, agir, conduzir e como se posicionar diante dos fatos que acontecem em seu dia a dia.

Se a inserção junto às TIC pode facilitar oportunidades de integração, comunicação, aprendizagem e conhecimento, o tão temido distanciamento com relação a elas pode se configurar em um instrumento que favoreça a exclusão digital dos indivíduos.

Já é uma realidade que o idoso que é adepto das tecnologias e consegue enfrentar os desafios que surgem a partir de sua inserção às TIC. A capacidade para aprender a lidar com essa nova realidade depende também da vontade individual, ou seja, cada um é responsável pelo interesse em usar destes recursos tecnológicos que podem ser vistos como o “novo” ou até podemos chamar de o “desconhecido”.

No entanto, precisamos ter em mente que todas essas tecnologias surgiram como uma forma de lidar com a novidade, em outras palavras, para muitos idosos, essas TIC surgiram em suas vidas sem qualquer conhecimento técnico para manusear esses equipamentos. Sua inserção depende exclusivamente do estilo de vida que cada um de nós adotamos, seja pela motivação, a procura de lazer, o reencontro com pessoas que fizeram parte de suas vidas, comunicar-se com familiares e amigos que moram distantes e/ou até aqueles que não são afastados pela distância, mas pela presença física e, sem contar na oportunidade de independência e autonomia que são proporcionadas com o surgimento da interação com essas tecnologias.

A procura pela exploração dessas TIC é causada pela exigência da sociedade de manter-se conectada à era digital. Essa exigência precisa ser

externada pela vontade de aprofundar-se no universo tecnológico. Para que isso aconteça, é necessário que haja um letramento digital incorporado pelo interesse dos idosos de querer navegar na perspectiva de adaptar-se a questões que são voltadas pela escrita, leitura e domínio com as máquinas, de modo que os faça a interagir no e com o mundo. De acordo com Soares (2009):

As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com práticas sociais de escrita: não leem livros, jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma carta, não conseguem encontrar informações num catálogo telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula de remédio... (SOARES, 2009, p. 45-46).

O pensamento de Soares sugere a ideia de que é fundamental a criação de programas informacionais e adaptação por parte das indústrias que produzem os equipamentos tecnológicos as quais não se preocupam em adaptar-se com a necessidade e a dificuldade de cada indivíduo.