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4. RESULTADOS

4.4 A realidade da apropriação de renda nos municípios cearenses: análise dos quartis

Analisando-se a Tabela 4 e a Tabela 5 percebe-se a grande disparidade de apropriação de renda existente entre o primeiro quartil e os demais. Em relação ao PIB per

capita o primeiro quartil possui uma renda média de R$13,6 mil, ou seja, 2,6 vezes maior do

que o segundo quartil, que possui apenas R$5,3 mil. Essa diferença é ainda maior quando se observa os 46 municípios que compõe o primeiro quartil. Neste, a diferença entre o município que tem o maior PIB per capita, São Gonçalo do Amarante (R$31,9 mil), e o que possui o menor, Penaforte (R$5,9 mil), é da ordem de 5,41 vezes. Além disso, 41 dos 46 municípios (89,13%) possuíam PIB per capita menor do que a média. Estes, por sua vez, detinham apenas 31,83% do PIB global de todo o quartil e possuíam 49,04% da população do quartil. Sendo assim, o primeiro quartil dos municípios cearenses em 2012 possuía um Índice de Simetria (IS) de apenas 0,65, sendo o pior resultado para todos os quartis analisados naquele ano.

35 Tabela 4 – Análise do PIB per capita do Ceará por quartis – 2012.

QUARTIS PIB per capita em 2012 (R$) Maior PIB per capita em 2012 (R$) Menor PIB per capita em 2012 (R$) Relação Maior PIB per capita / Menor PIB per capita Município com Maior PIB per

capita em 2012 Município com Menor PIB per capita em 2012 1º QUARTIL 13.563,14 31.895,99 5898,09 5,41 São Gonçalo do Amarante Penaforte 2° QUARTIL 5.279,51 5.745,33 4757,53 1,21 Guaraciaba do Norte Catunda

3° QUARTIL 4.520,43 4.753,35 4286,09 1,11 Cedro Altaneira

4° QUARTIL 3.980,38 4.281,62 3311,80 1,29 Cariré Catarina

Fonte: Elaboração do autor a partir de dados da PNAD/IBGE 2012.

Nos demais quartis pode-se observar que havia uma maior igualdade na distribuição da renda dado que a diferença entre o município de maior e o menor PIB per

capita era mínima, chegando a ser da ordem de 1,11 no 3° quartil. Além disso, verificou-se

que estes possuíam um alto Índice de Simetria, com IS próximos de 1, ou seja, com uma apropriação de renda quase perfeita. Porém, apesar de tal igualdade, os valores do PIB per

capita dos municípios que compunham esses quartis possuíam valores muito aquém dos

apresentados pelo Brasil (R$ 22,6 mil), Nordeste (R$11,0 mil) e do próprio Ceará (R$10,5 mil).

Tabela 5– Análise do PIB per capita do Ceará por quartis – 2012.

QUARTIS Total de Municípios Municípios Com PIB médio menor que a média Municípios Com PIB médio menor que a média (%) PIB dos Municípios com PIB médio Menor que a Média / PIB Total (%) População Cujo PIB médio Está Abaixo da Média / População Total (%) Relação: PIB Total de Municípios com Menor Renda / População de PIB médio de Menor Renda (IS) 1º QUARTIL 46 41 89,13% 31,83% 49,04% 0,65 2° QUARTIL 46 28 60,87% 48,07% 50,89% 0,94 3° QUARTIL 46 25 54,35% 50,80% 52,00% 0,98 4° QUARTIL 46 20 43,48% 39,86% 41,75% 0,95

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5 CONCLUSÃO

Este trabalho procurou analisar os níveis de assimetria/simetria da distribuição de renda nas macrorregiões do Ceará. Das evidências encontradas na pesquisa, constata-se mais uma vez a grande assimetria de apropriação e distribuição do PIB global e per capita no estado do Ceará. Observa-se que a grande maioria dos municípios cearenses tem PIB per

capita abaixo da média do Estado. Além disso, existe uma grande amplitude de variação do

PIB per capita no Ceará. De fato, a relação entre o maior e o menor PIB médio é de 9,63. Esta situação também pode ser observada em relação à região Nordeste e ao Brasil, porém com amplitudes bem maiores. Já as Macrorregiões cearenses, com exceção da RMF, apresentaram amplitudes relativamente baixas.

Os resultados da pesquisa, ao sinalizarem que, no Ceará, dos 184 municípios contabilizados pelo IBGE em 2012, em 173 ou 94,02% tinham PIB per capita menor do que a média estadual, mostram claramente que a grande maioria desses municípios não se sustentam economicamente e sobrevivem de transferências do governo federal nas diferentes formas, principalmente o bolsa família. O mesmo caso se estende para a Região Nordeste e para o Brasil com, respectivamente, 91,64% e 84,78%. Esta situação grave está ligada a permissividade da legislação brasileira para a emancipação de distritos e transformá-los em municípios. Essas “emancipações” no geral não trouxeram benefícios para as populações dos novos municípios, a conferir por este resultado mostrado na pesquisa.

Quando se estima o Índice de Simetria neste trabalho, observa-se que as desigualdades na apropriação da renda se manifestam tanto de forma nacional, como regional, estadual e intraestadual (macrorregiões). Com efeito, a região Nordeste e o estado cearense apresentam níveis de PIB per capita bem menores que o do Brasil. Em nível de macrorregião cearense o resultado é bem pior, dado que todas as macrorregiões, exceto a RMF, possuíam resultados de PIB médio aquém dos apresentados no Estado. As macrorregiões de RMF e Sobral/Ibiapaba , juntamente com a macrorregião Cariri/ Centro Sul, apresentaram os menores Índices de Simetria do estado do Ceará: 0,60, 0,70 e 0,72, numa escala em que a proximidade de um significa melhor distribuição e a proximidade de zero implica pior distribuição.

No geral, os resultados obtidos mostraram que no ano de 2012 havia um alto índice de assimetria da distribuição de renda no Ceará, com poucos municípios concentrando grande parte da renda e muitos municípios ficando com pouco, ajudando a explicar a pobreza na região. Verificou-se a mesma realidade tanto para a região Nordeste quanto para o Brasil.

37 Em termos de Macrorregião cearense viu-se que algumas chegaram a apresentar resultados bem mais satisfatórios com relação ao Índice de Simetria apresentado pelas demais regiões de análise.

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