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Anexo I – Carta aberta sobre a possível cassação da antecipação de tutela

CAPÍTULO 2 A REALIDADE NOS INTERPELA

Temos a chave do futuro da humanidade, mas para poder usá-la temos de compreender o presente. [...] Não podemos nos permitir desviar os olhos. Sebastião Salgado47

Neste capítulo, a desafiante tarefa é olhar analítica e criticamente para a realidade da organização sindical no Brasil e suas correlações com a categoria profissional, mas, de antemão, anuncia-se que não se pretende abordar todos os determinantes políticos-ideológicos e estruturais que permeiam essas questões. Desta maneira, tem-se a convicção de que a busca pela compreensão do presente não se findará nestas páginas.

A princípio, percorre-se o significado de adentrarmos ao século XXI sob a égide de um governo “dito dos trabalhadores”, mas que na prática deu continuidade ao receituário neoliberal dos governos anteriores.

Em seguida, trata-se da luta nacional pelas 30 horas e após a realidade específica das assistentes sociais da PMC no contexto do processo de luta pela redução da jornada de trabalho, com apoio dos dados empíricos da pesquisa, portanto ver-se-á como foi construída a luta pelas 30 horas e as relações da categoria profissional com o STMC.

2.1 – Expressões Contemporâneas do Sindicalismo Brasileiro e as Correlações com a Organização Política dos Assistentes Sociais

Lancemo-nos à tentativa de construir algumas reflexões sobre a complexa e multifacetada atualidade do sindicalismo no Brasil.

47

98 As eleições presidenciais de 2002, que levaram Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de ampla aliança política, a assumir a Presidência da República, foram celebradas como um possível marco do desgaste das políticas neoliberais praticadas pelos governos anteriores, durante toda a década de 1990 (MATOS, 2009). Apesar das alianças com os setores conservadores do País, Lula tinha a marca do candidato operário e sindicalista que havia comandado importantes greves em plena ditadura militar e fundado o PT.

No referido ano eleitoral, é publicada a “Carta ao povo brasileiro” que ficou conhecida como “Carta aos banqueiros”, o que explicitava o fenômeno denominado, também, por Antunes (2011), como transformismo48 do PT. Rememoremos alguns trechos dessa carta:

A crescente adesão à nossa candidatura assume cada vez mais o caráter de um movimento em defesa do Brasil, de nossos direitos e anseios fundamentais enquanto nação independente. Lideranças populares, intelectuais, artistas e religiosos dos mais variados matizes ideológicos declaram espontaneamente seu apoio a um projeto de mudança do Brasil. Prefeitos e parlamentares de partidos não coligados com o PT anunciam seu apoio. Parcelas significativas do empresariado vêm somar-se ao nosso projeto. Trata-se de uma vasta coalizão, em muitos aspectos suprapartidária, que busca abrir novos horizontes para o país. [...] Quer abrir o caminho de combinar o incremento da atividade econômica com políticas sociais consistentes e criativas. O caminho das reformas estruturais que de fato democratizem e modernizem o país, tornando-o mais justo, eficiente e, ao mesmo tempo, mais competitivo no mercado internacional. O caminho da reforma tributária, que desonere a produção [...] (SILVA, 2002).

Os que alimentaram expectativas, mesmo que limitadas, já logo no início se viram decepcionados. Entre as várias medidas do governo para ampliar a confiança dos mercados, a continuidade das reformas neoliberais foi real, por meio da transferência de atividades do setor público para o domínio privado, dentre outras intervenções.

Nas palavras decodificadoras e contundentes de Antunes (2011):

Desse modo, o que poderia ter sido o começo do desmonte do neoliberalismo no Brasil tornou-se o seu contrário: Lula, em verdade, converteu-se no novo paladino do social-liberalismo na América Latina. [...]

48 “[...] o transformismo (como nos ensina Gramsci) já havia convertido o PT em um partido da ordem (conforme

diz Marx). [...] De partido de resistência contra a ordem capitalista (desprovido, entretanto, desde sua origem, de solidez teórica-política e ideológica, visto que seus setores dominantes recusavam abertamente tanto o marxismo como a postura revolucionária), o partido foi se metamorfoseando cada vez mais em prisioneiro dos calendários eleitoral-institucional e das alianças ‘amplas’, até se tornar um partido policlassista” (ANTUNES, 2011, p. 143-144, grifos do autor).

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A eleição em 2002 foi, por isso, uma vitória política tardia. Nem o PT, nem Lula, nem o país eram mais os mesmos. O Brasil estava desertificado, enquanto o PT havia se desvertebrado. E Lula havia se convertido em mais um instrumento da velha conciliação brasileira. Uma das mais destacadas lideranças operárias desse ciclo do novo sindicalismo havia sido metamorfoseada em um novo instrumento das classes dominantes (p. 143- 144, grifos do autor).

Reconhece-se que esse processo do PT não foi isento de forte oposição de setores de sua base e militância e outros setores da sociedade, entretanto, a política reinante foi o que se viu nas linhas anteriores e que segue abaixo.

O ano de 2003 teve agenda marcada pela Reforma da Previdência, mais uma contrarreforma, sem abertura real de discussão com a sociedade organizada, construída pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social (CDES), intitulado como tripartite, onde as representações dos empresários devedores da previdência pública foram garantidas, como também dos representantes da CUT.

Essa reforma atingia incisivamente os direitos do funcionalismo público. Uma greve nacional dos servidores públicos federais foi iniciada e, para vencer o movimento dos trabalhadores e aprovar sua proposta, o governo lançou mão da confiança de amplos setores, e, após a vitória eleitoral do candidato operário, usou estratégias de relações para garantir a base de apoio e os votos no Congresso, e utilizou o uso da violência policial contra as manifestações que objetivavam influenciar os parlamentares.

O posicionamento da CUT, cuja direção se declarava publicamente contra a greve do funcionalismo, apresentava críticas moderadas à proposta do governo e afirmava apoiar a concepção geral de criação de um teto dos proventos e instituição das aposentadorias complementares para os fundos de pensão privados, em substituição ao direito dos servidores públicos à aposentadoria integral.

Em 2004, seguem a reforma universitária e as reformas sindical e trabalhista. Governo e CUT prosseguiram com o mesmo ideário e, embora não concluídas de uma só vez, seguiam na lógica da retirada de direitos.

Quanto às reformas sindical e trabalhista, é criado e submetido ao Fórum Nacional do Trabalho (FNT), espaço tripartite, o debate sobre a temática. O FNT foi instituído pela Portaria nº 1.029 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e

100 apresenta, em seu artigo 3º, as suas finalidades, para a qual damos destaque: “[...] I

- promover o entendimento entre os representantes dos trabalhadores e empregadores e o governo federal, com vistas a construir consensos sobre temas relativos ao sistema brasileiro de relações de trabalho, em especial sobre a legislação sindical e trabalhista [...]”.

E as disposições gerais (artigo 23) versam sobre os consensos e garantem que: “§ 2º Na hipótese de impasse entre os integrantes do FNT sobre qualquer um

dos temas em questão, prevalecerão nos projetos as posições do governo federal”. Há que se destacar que a CUT tem assento no FNT.

Segundo Lisboa (2005), a criação do FNT configurou-se numa tentativa de construir consenso e um pacto social entre patrões, governo e burocratas sindicais para mediar os ataques contra os interesses dos trabalhadores, evitando que Lula e o PT aparecessem como algozes da classe trabalhadora.

A postura da maioria dos componentes da direção da CUT ao defender uma ação sindical de conformação à ordem e de se colocar como auxiliar do governo, levou grupos a se retirarem e sindicatos desfiliaram-se da central, com o objetivo de construir instrumentos de organização combativos. Arcary (2011, p. 19) contabiliza que nos oito anos de governo Lula, aproximadamente 500 sindicatos se desfiliaram da CUT. E, por sua vez, Iasi (2011, p. 73) identifica que: “A CUT não tem impasse, ela está resolvidíssima, sabe exatamente o que vai fazer: vai dar continuidade a essa forma de sindicato que foi facilmente, docilmente, atrelada pelo Estado”. Explicita-se, mais uma vez, a degenerescência daquela central que outrora fora combativa e independente.

Por fim, o primeiro governo tornou-se muito mais de continuidade do que descontinuidade do neoliberalismo deflagrado pelos governos anteriores.

Dessa forma, Lula é reeleito em 2006 para o seu segundo mandato. Antunes (2011) considera que a alteração significativa do primeiro para o segundo governo foi uma resposta à crise política do “mensalão” – esquema de compra de votos na Câmara dos Deputados – pois o governo percebeu que sua manutenção, durante a crise, deveu-se ao respaldo dos setores burgueses dominantes. O “segundo mandato de Lula concluiu que era fundamental que ele ampliasse sua base de

101 sustentação, desgastada junto a amplos setores da classe trabalhadora organizada, que haviam se decepcionado politicamente com as medidas do governo Lula.” (p. 146). Nessa ambiência, no início do segundo mandato ocorreu a ampliação do Bolsa-Família – programa de transferência de renda condicionada – o que, segundo o citado autor, ampliou significativamente a base social de Lula.

O governo Lula, em seus dois mandatos, segundo Antunes (2011), preservou a estrutura fundiária concentrada, com a ausência da reforma agrária e o forte incentivo ao agronegócio; apoiou os fundos de pensão privados, auxiliando no desmonte da previdência pública; liberou os transgênicos cedendo às pressões das grandes transnacionais; dentre outros aspectos.

Diante do que foi visto até agora e compreendendo que greve é um dos importantes indicadores da luta dos trabalhadores, e que suas variações estão bastante coladas à conjuntura política e econômica, apresentam-se, no Gráfico 1, os dados sobre a evolução do número de greves no Brasil, no período de 2004 a 2008.

Gráfico 1 – Número de greves no Brasil

Fonte: Dieese, 2005, 2006, 2008 e 2009. Elaboração própria.

0 100 200 300 400 500 2004 2005 2007 2008 2004 2005 2007 2008 Número de greves 302 299 316 411

102 Noronha (2009), ao estudar as greves no Brasil, identifica duas grandes fases: grande ciclo de greves (1978-1997) e normalização das greves (1998-2007). O primeiro grande ciclo de greves durou cerca de 20 anos e o autor subdividiu-o em três etapas: a primeira, de expansão (1978-1984); a segunda, de explosão das greves (1985-1992); e a terceira, de resistência e declínio do ciclo (1993-1997). A segunda fase de normalização das greves (1998-2007) é o período que mais nos interessa no momento, principalmente no tocante à era Lula. Noronha (2009) considera que:

No governo Lula, embora o número de greves tenha se reduzido ainda mais, o número de jornadas não trabalhadas voltou a subir. No setor privado, e particularmente no setor público, o aumento do número de jornadas não trabalhadas decorreu da maior duração média das greves. Isto é, o número de greves e a média de grevistas mantiveram-se relativamente estáveis (p. 122).

O que se vê, então, até 2007 – tendo por referência as outras fases indicadas pelo autor – é um período de estabilidade do número das greves, porém, em 2008, observa-se um aumento significativo. Como bem coloca Noronha (2009), as oscilações num determinado espaço de tempo, geralmente acontecem, mas não significam necessariamente a mudança de todo o quadro ou tendência de dado período histórico. Sabemos que há um conjunto de determinantes para compreender as greves, todavia, é importante destacar o fato de a maioria dos sindicatos no país serem filiados à CUT, segundo dados do MTE49.

No cenário sindical em 2008, Antunes (2011), reconhece a atualidade da luta pela liberdade e independência sindical em relação ao Estado e coloca que o governo Lula acentuou o controle estatal ao institucionalizar50 as centrais sindicais. O autor reconhece a positividade em legalizar as centrais sindicais, mas, por outro lado, a convalidação do recolhimento do imposto sindical reforça a lógica pelega de sobreviver com esse recurso, distante da cotização dos filiados e do estruturante trabalho de base.

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Segundo o Cadastro Nacional de Entidades Sindicais, no item atualizações validadas, a CUT ocupa o primeiro lugar em relação ao número de sindicatos filiados.

Disponível em: <http://www3.mte.gov.br/sistemas/cnes/relatorios/painel/GraficoFiliadosCS.asp>. Acesso em: 11 fev. 2012.

50

Por meio da Lei nº 11.648, de 31 de março de 2008.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 9 mar. 2012.

103 Marconsin (2009, p. 219), também reconhece a referida mudança na legislação sindical, que objetivou controlar e impedir a organização autônoma e de luta contra os ataques aos direitos do trabalho, apostando no acirramento da crise do movimento sindical.

Com a crise do sindicalismo reconhecida por vários autores (ANTUNES, 2011; MATOS, 2009; ALVES, 2000), avista-se um processo de reorganização em curso, que não será analisado a fundo, mas pode-se reconhecer como possíveis resultados a Central Sindical e Popular-Conlutas51 (CSP-Conlutas) e a Intersindical52.

Nos dias 5 e 6 de junho de 2010, na cidade de Santos-SP, aconteceu o Congresso da Classe Trabalhadora, que objetivava a criação de uma nova central sindical e das lutas populares, com a chamada: “Vamos unir para fortalecer a luta”, contou com mais de 4 mil participantes,

[...] o congresso foi convocado e originado em uma central sindical que unificava a maior parte da Intersindical com a CSP/Conlutas, havia a expectativa de surgir uma organização intersindical com mais de 200 sindicatos, talvez 230, 240, e essas expectativas não se concretizaram (ARCARY, 2011, p. 19).

São variadas as análises sobre a implosão do Conclat e a consequente não unificação da esquerda sindical, contudo não há condições de apreciá-las neste momento, mas, de forma genérica, assinala-se uma das facetas do processo: a disputa contumaz entre o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) pela hegemonia da entidade em formação. De qualquer forma, compreende-se que o insucesso do Congresso reiterou a lógica da fragmentação da esquerda brasileira, mas, por outro lado, continua em aberto a tarefa do processo de reorganizar a esquerda sindical.

Passemos, neste momento, para algumas considerações sobre a organização política dos assistentes sociais. Entende-se que os rebatimentos da realidade na profissão são diversos como: o processo de precarização do trabalho, por meio do

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Central Sindical criada em julho de 2010 e, segundo Antunes (2011), tem como principal força política o PSTU, mas conta com algumas parcelas do Psol.

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Segundo Antunes (2011, p. 149) a Intersindical é oriunda de setores críticos que romperam com a CUT e conta com militantes sindicais do Psol, ex-militantes do PT e setores da esquerda independentes. Arcary (2011, p. 19) coloca que a Intersindical é uma corrente político-sindical, assim, não tem filiação.

104 baixo assalariamento, das terceirizações, vínculos empregatícios instáveis, etc.; a precarização do ensino superior, bem como a proliferação da graduação a distância em Serviço Social53; requisições profissionais de cunho conservador, como as

práticas terapêuticas54; dentre outros rebatimentos. Contudo, construiremos um

diálogo em torno da questão sindical da categoria profissional.

Para tanto, e a princípio, destaca-se que, segundo Horta (2009), as vanguardas do Serviço Social mantiveram íntima relação com o PT e, na década de 1980, o partido esteve ao lado da categoria em suas lutas. Segue, a autora, afirmando, que a construção do projeto ético-político da profissão resguardou o princípio da autonomia e não se subordinou a nenhuma ingerência do partido ou a qualquer outra entidade. Assim, compreende-se que essa autonomia significou a preservação desse projeto ante o quadro de redefinições à direita do PT e, por sua vez, da CUT. Horta coloca que uma parte da vanguarda do Serviço Social que se organizava no partido acabou por romper com o mesmo.

Por outro lado, como citado no capítulo precedente, a Fenas foi criada em 2000, a partir de cinco sindicatos, encontrando, dessa forma, respaldo legal na estrutura sindical brasileira. A CLT prevê, em seu art. 534: “É facultado aos Sindicatos, quando em número não inferior a 5 (cinco), desde que representem a maioria absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas, organizarem-se em federação” (BRASIL, 1943).

O nascedouro da Fenas é marcado pela filiação à CUT. Vimos no estudo de Horta (2009), que a referida central sindical esteve presente na assembleia de fundação e se pronunciou favorável ao sindicato dos assistentes sociais. Observou- se, também, que a posição da central se revestiu com o discurso de defesa do ramo de atividade, mas com total apoio à criação de uma federação de categoria profissional com apenas cinco sindicatos, o que cumpria a legalidade da velha estrutura sindical, mas não necessariamente refletia a demanda política da categoria em ter uma superestrutura sindical. Nessas circunstâncias é que “[...] vota-se (com um quórum de 51 presentes), por unanimidade, pela criação da Federação [...]”

53

Cf. CFESS. Sobre a incompatibilidade entre graduação à distância e serviço social. Brasília, DF: Cfess, 2010.

54

Cf. PACHECO, Mavi. O Serviço Social Clínico e os desafios ético-políticos postos ao Serviço Social. In:

Revista em Foco: O Serviço Social Clínico e o projeto ético-político do Serviço Social. Rio de Janeiro: Cress-RJ,

105 (Ibidem, p. 255), o que expressa a distância da entidade, desde o seu nascimento, da base da categoria profissional.

Acessamos dois argumentos sobre a fundação da Fenas, o primeiro orbita em torno das supostas necessidades dos cinco sindicatos existentes em se articularem nacionalmente, e a presidente da entidade afirma que a Federação: “[...] surge como uma real necessidade de articulação dos Sindicatos [...]” (DALLARUVERA apud HORTA, 2009, p. 256).

Referente à argumentação, pensamos que se a concepção sindical adotada pela referida federação fosse o sindicalismo combativo, classista, autônomo e independente, a perspectiva de luta seria romper com a estrutura sindical da era varguista, por meio de amplo trabalho e discussão com a base, entretanto, o que se viu foi a reprodução dessa estrutura que limita a liberdade sindical no País. Entende- se que isso se traduz num processo antagônico ao já vivenciado na categoria, com a criação da Anas, em 1983, que foi resultado de amplo debate com a categoria, ocorrido desde 1979, por meio da Ceneas, pois, com a sua fundação, a forma de ser dessa associação se deu distante dos moldes da estrutura sindical oficial e amplamente legitimada pela categoria profissional (ABRAMIDES e CABRAL, 1995).

O segundo argumento sobre a criação da Fenas, pauta-se na falta de espaço nos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais (Cbas):

[...] quando nós vimos que não tínhamos espaço para discutir as questões do ponto de vista do âmbito sindical nos Congressos, nós pensamos o jeito vai ser criarmos uma entidade nacional. Não tem como. A gente os deixa com a luta deles para lá, porque não adianta a gente ficar indo para Congresso, sempre para ouvir as mesmas coisas. Você não tem um dia do Congresso, uma manhã do Congresso, do Cbas, para você discutir questões trabalhistas mesmo (DALLARUVERA apud HORTA, 2009, p. 256).

Compreende-se que os Cbas são espaços acadêmico-científicos da categoria que, evidentemente, carregam um caráter político, entretanto, o que se evidencia, para nós, é uma federação sindical que nasceu da necessidade de alguns poucos e um tanto quanto distante da base intencionar a imposição de seus debates em tal evento. Entende-se que os Cbas são construídos pelas entidades representativas da categoria – conjunto Cfess-Cress, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss) e Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (Enesso) – que, por sua vez, são pautadas pelas respectivas bases e assim

106 constroem o congresso orientado pelas demandas da categoria profissional. Uma entidade se afirma por meio de sua efetiva necessidade histórica, na medida em que realiza uma representação legítima e corresponde aos desafios colocados, portanto, nos deparamos com a busca da Fenas pela base, nos espaços acadêmico- científicos da categoria.

Assinala-se o fato de a presidência da Fenas estar sob o comando da mesma pessoa desde a sua fundação, encontrando-se no seu quarto mandato consecutivo e, segundo Horta (2009), não há artigo em seu estatuto que delimite o número de reeleições. Contudo, em nome do princípio democrático, defendemos a existência de dispositivos estatutários que criem impedimentos às reeleições para o mesmo cargo e da mesma pessoa, mais de duas vezes, na direção de qualquer entidade sindical, numa perspectiva de garantir a formação de novos quadros e ampliar a democracia sindical e o que se vê, na prática da Fenas, é antagônico a essa prática democrática.

O cenário atual conta com a existência e a reabertura de alguns sindicatos da categoria profissional. Segundo Dallaruvera (2011, p. 42), em maio de 2010, a Fenas contava 12 sindicatos reabertos e 7 sindicatos em processo de reabertura, entretanto não os nomina. Horta (2009) indica a existência de 11 sindicatos no ano de 2009. O site55 da Federação aponta atualmente a existência de onze sindicatos, a

saber: Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Rio Grande do Sul, Ceará, Caxias do Sul, Pará, Recife, Maranhão, Amazonas e Paraná. Ainda registra a existência de Comissões Pró-Sindicato nas seguintes localidades: Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Brasília e Sergipe.

Dentre os variados determinantes sócio-históricos que forjam a criação da Fenas, realça-se o fato de nascer cutista. Antunes (2011), ao analisar o movimento sindical brasileiro, afirma que sua origem se deu fora dos marcos da social-

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