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3. O USO DE JOGOS EDUCACIONAIS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

3.2 A Realidade dos Professores

Conforme já mencionado na Seção 3.1, o cenário de Ensino de Língua Inglesa nas escolas públicas brasileiras não é o mais animador possível. O sentimento de descrença na possibilidade de aprendizagem da L2, principalmente em sua habilidade de fala, é amplamente disseminado, sendo compartilhado entre alunos, professores e comunidade em geral. Neste sentido, Leffa (2011) considera que é perceptível o fracasso do ensino da Língua Inglesa na rede pública, uma vez que não há como disfarçar o insucesso da disciplina mediante a mudez com que os alunos concluem o Ensino Médio. Diante disso, há a necessidade de responsabilizar alguém pelo fracasso, criando assim, o que Leffa (2011) chama de bodes expiatórios, sendo eles o governo, o professor e o aluno. O primeiro é acusado por não propiciar as condições necessárias para o ensino aprendizado da Língua Inglesa. Culpa-se o governo pela falta de recursos didáticos, carga horária reduzida e descontinuidade do currículo. O segundo é acusado de não ter conhecimento sobre o que ensina ou, então, de não querer ensinar o que sabe. De acordo com o autor, há inúmeros professores que não dominam a língua que se propuseram a ensinar, e há outros, que tendo conhecimento desta não o fazem, pois acreditam que ela não é importante para os alunos. Por fim, o último bode elencado pelo autor é o aluno. Este é acusado de não atribuir sentido para a escola, eliminando-se assim a motivação em aprender.

Percebe-se, assim, que o ensino de Língua Inglesa na escola pública brasileira é permeado por uma tensão, a qual abrange diversos problemas. Diante do exposto acima, nota-se que não há um único responsável pelas dificuldades que estão postas na escola, mas há uma série de fatores que se inter-relacionam gerando o sentimento de fracasso e descrença acima descritos. Considerando que o objetivo deste trabalho é verificar a visão dos professores acerca do uso de jogos educacionais para o ensino de Língua Inglesa, neste momento faz-se necessário tecer algumas considerações referentes à realidade escolar por eles vivenciada.

De acordo com a pesquisa O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira, realizada em 2015 pelo Instituto de Pesquisas Plano CDE, os professores da rede pública, não só os de Língua Inglesa, enfrentam diversas dificuldades, tais como: “excesso de alunos nas salas de aula, turmas desniveladas, falta de recursos didáticos, alunos com problemas básicos de leitura e escrita” (BRITISH COUNCIL, 2015, p.13). Associados a estes problemas, os professores de Língua Inglesa ainda precisam lidar com a inadequação dos poucos materiais didáticos existentes, o baixo prestígio da disciplina, a desmotivação dos alunos, além da sobrecarga de trabalho, pois a grande maioria leciona para muitas turmas e, às vezes, ainda lecionam mais do que uma disciplina. Segundo a pesquisa supramencionada, “69% dos professores se dedicam a mais de seis turmas por semana e 65% lecionam mais de uma disciplina – apenas 35% se dedicam apenas ao inglês.” (BRITISH COUNCIL, 2015, p. 18).

Outro fator característico da realidade dos professores de Língua Inglesa na escola pública diz respeito à formação do docente. Apesar de que, segundo a pesquisa mencionada, 87% dos professores possuem ensino superior, apenas 39% deles têm formação específica para o trabalho com a Língua Inglesa. Tal fator pode ser uma das causas das dificuldades que muitos professores afirmam ter com a disciplina que lecionam. Entretanto, mesmo que parte dos professores não apresente formação específica para o trabalho com a Língua Inglesa, a pesquisa informa que os docentes estão em constante busca pela complementação da formação, o que ocorre na maioria das vezes com recursos próprios.

Com relação ao processo de ensino, a pesquisa mostra que os professores consideram que a Língua Inglesa “é uma disciplina que requer mais atividades lúdicas, coletivas e interativas para gerar engajamento dos alunos e envolvimento prático com a língua” (BRITISH COUNCIL, 2015, p. 15). Todavia, a principal dificuldade destes docentes diz respeito aos recursos didáticos, que são poucos e, às vezes, inadequados. Desta forma, não é difícil encontrar professores que utilizam parte do próprio salário para adquirir materiais como cartolinas, fotocópias, papel sulfite, entre outros, para confeccionar materiais didáticos.

Associado à falta de recursos, os professores ainda precisam enfrentar turmas com elevado número de alunos, as quais, segundo a pesquisa, muitas vezes são compostas por cerca de 40 alunos. De acordo com Shamim (2012), os professores afirmam que ensinar turmas grandes é problemático e exaustivo, pelo fato de que há problemas caraterísticos destes grupos, tais como: baixos níveis de envolvimento dos alunos, problemas relacionados à gestão do grupo, avaliação e feedback.

Outra característica peculiar do trabalho dos professores de inglês da rede pública diz respeito à faixa etária dos educandos com que precisam trabalhar, os quais, na grande maioria estão entre 11 e 18 anos, fase da pré-adolescência e adolescência. Segundo Legutke (2012), os adolescentes constituem a maior parte dos aprendizes de Língua Inglesa no mundo e, devido às características próprias desta fase, exigem maior atenção, fazendo com que o professor necessite preparar aulas dinâmicas que abordem questões concernentes a tópicos sobre adolescentes que estão deixando para traz a infância, assim como sobre os adultos que tais alunos poderão se formar.

Segundo Cavenaghi e Bzuneck (2009), “há um claro declínio na motivação dos alunos quando atingem as séries finais do ensino fundamental e/ou quando chegam ao ensino médio” (CAVENAGHI; BZUNECK, 2009, p.2). Sendo assim, os professores precisam lidar com o tédio, apatia e mau humor apresentados por alguns alunos. Os autores afirmam que não é raro encontrar estudantes que não realizam tarefas nem em casa nem na escola, que relutam para iniciar uma atividade, que perdem o foco do trabalho rapidamente, sendo que alguns chegam a ser até mesmo desordeiros e enfrentam a autoridade do professor. Ainda neste sentido, Zolnier e Miccoli (2009) consideram que a desmotivação gera o problema da indisciplina, o qual atrapalha significativamente o trabalho do grupo, fazendo com que alguns professores deixem de desenvolver atividades comunicativas e de interação por medo de perder o controle da turma e ter de enfrentar situações de indisciplina.

Ligado à falta de motivação dos educandos, ainda há a desvalorização da disciplina, sendo este, segundo a pesquisa O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira, o segundo principal problema que aflige o ensino da Língua Inglesa na escola pública (após a falta de recursos). Segundo a pesquisa, a disciplina de Língua Inglesa não é considerada importante por grande parte dos alunos, uma vez que se considera que essa não faz e dificilmente fará parte da realidade deles. Além disso, o próprio corpo docente não confere significativa importância para tal disciplina, considerando esta como secundária. O fato de a disciplina ter carga horária entre uma ou duas aulas semanais, de 50 minutos cada, associado ao fato de que estas aulas são solicitadas frequentemente para o desenvolvimento de atividades extras, como reuniões, evidencia o caráter secundário atribuído a ela.

Diante deste panorama, percebe-se que os professores reconhecem a importância e a necessidade de utilizar atividades lúdicas e interativas, tais como os jogos educativos, para o ensino de Língua Inglesa. Entretanto, muitas vezes os docentes se deparam com dificuldades para aplicá-las em sala de aula.

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