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4.3 Coleta de dados

4.3.2 Realização da entrevista semiestruturada

A entrevista é definida por Haguette (2007) como um processo de interação entre duas pessoas, no qual o entrevistador objetiva obter informações por parte do outro, o entrevistado. Segundo Lüdke e André (2005), a entrevista é um instrumento de pesquisa que

possibilita uma interação entre o pesquisador e o sujeito, criando uma atmosfera de influência recíproca. Para essas autoras, o uso correto da técnica da entrevista permite a obtenção da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sob os mais variados assuntos.

As entrevistas tiveram duração média de 88 minutos, todavia, os encontros tiveram uma duração bem maior, visto que todas as famílias tinham significativa expectativa em conhecer a pesquisadora e sua experiência em, também, ser usuária de implante coclear. As famílias mostraram-se extremamente receptivas nos encontros e frequentemente aguardavam-me com um lanche acolhedor. Além disso, de certo modo, algumas intervenções realizadas relacionaram-se a informações fornecidas sobre o manuseio de acessórios do aparelho. Apreendemos que a entrevista em si mostrou-se terapêutica, porque a própria família atentou e refletiu sobre questões que para ela, até então, passavam despercebidas.

Todas as entrevistas foram realizadas em domicílio, visto que a proposta era reunir o maior número possível de membros da família, a fim de que os dados fossem mais representativos. Tivemos certa dificuldade em marcar o dia e horário para realização das mesmas, porque cada membro tinha suas atividades e compromissos, e precisávamos de um horário em que todos pudessem participar, até porque a família manifestava esse desejo. Desse modo, as entrevistas foram realizadas nos finais de semana, feriados ou no período noturno.

Em todas as entrevistas obtivemos adesão total de todos os membros, e em algumas a família estendida também desejou estar presente para ouvir os relatos e conhecer a pesquisadora.

A entrevista foi conduzida por meio de questões: “Como tem sido para vocês conviver com a deficiência auditiva?”, “Fale-me sobre as dificuldades encontradas no dia- dia.”, “Ocorreram mudanças na vida da família.”, “Gostaria que você me contasse o que é mais difícil?”, “Quais as estratégias usadas para enfrentar as mudanças e dificuldades?”, “Como vocês se sentem quando...”, “Gostaria que vocês me contassem sua história”, e à

medida que essas eram respondidas, outras eram formuladas. Frases como: “como assim?”, “me fale mais sobre isso”, foram utilizadas no sentido de aprofundar o tema, considerando os objetivos do estudo.

Entrevistar famílias foi, a princípio, uma tarefa desafiadora permeada de medo e ansiedade: “como conseguiria evitar ruídos de fundo, distração dos membros ou falas simultâneas?”, “como alcançaria a família como um todo e cada membro per si?”, “como as

crianças se comportariam e participariam (preocupação esta também dos pais em como os filhos reagiriam)?” e, “como reconheceria as falas de cada um durante a transcrição?”.

Não diria ser fácil essa tarefa, mas sim passível de ser desenvolvida através da prática e de atenção a alguns cuidados: explicar detalhadamente o que seria realizado, atentar à adequação da linguagem, principalmente às crianças, centralizar o gravador a fim de captar melhor as falas e aproximar os entrevistados o quanto possível. Também lembrar à família a necessidade de respeitar a vez de cada um falar, repetir o que entendeu do entrevistado, confirmando se foi o que ele quis dizer ou quando perceber que o volume que foi pronunciado pode não ter sido captado pelo gravador (é claro usando o bom senso para não cansar os entrevistados com as repetições), ter sempre a mão um papel para rápidas anotações e perguntas a serem feitas quando concluída a fala em andamento. Mas, acima de tudo, mostrar interesse e atenção à história que está sendo contada. Educação, respeito, simpatia e empatia são imprescindíveis nesta prática.

Após a primeira entrevista, senti-me mais tranquila e confiante ao perceber que havia conseguido realizar o planejado. Contudo, em geral, com as crianças com deficiência auditiva tive certa dificuldade em adequar as perguntas, visto seu desconhecimento de alguns vocábulos, e às vezes pela dificuldade de interpretação. Ao mesmo tempo, tinha que tomar o cuidado para não induzir suas respostas ao re-elaborar a questão. No entanto, a família, principalmente os pais, automaticamente procuravam ajudar na “elaboração / interpretação” das questões num constante esforço para viabilizar a comunicação com a criança.

As entrevistas gravadas foram transcritas o mais rápido possível para facilitar o processo, e para analisar os dados emergentes a fim de aprimorar e aprofundar a entrevista seguinte.

4.4 Análise dos dados

Após cada transcrição das entrevistas, seguindo os pressupostos da TFD procedemos na etapa inicial com a codificação aberta. Os dados foram observados e examinados minuciosamente, palavra por palavra, linha a linha. Optamos por utilizar, inicialmente, a microanálise, mesmo sendo mais trabalhosa, pois oferece maior segurança aos dados alcançados.

Nesse processo analítico de conceitualização, as entrevistas transcritas na íntegra foram analisadas e transformadas em códigos, como no exemplo do Quadro 1. Para dar conotação ao processo, de algo que está acontecendo, os dados são codificados no gerúndio, o que condiz com o referencial teórico escolhido, no qual tudo está em processo de construção.

Trecho Codificação

“porque não basta só ter o implante, ele precisa ser estimulado, e a estimulação vem da família, do tratamento, de todo conjunto, pra poder a criança ter um futuro melhor...”

-Não bastando só ter o implante

-Sendo necessário que a criança seja estimulada -Estimulação vinda da família

-Estimulação vinda do tratamento -Estimulação vinda de todo conjunto

-Criança tendo um futuro melhor, se estimulada

QUADRO 1 - Exemplo de codificação.

Os códigos foram questionados a fim de serem organizados em relação às similaridades e diferenças, e direcionarem a entrevista seguinte sobre outros dados a serem buscados. Os similares agrupados formaram as categorias iniciais, como exemplificado no Quadro 2.

Códigos Categoria

-Devolvendo a vida para o filho através do IC -Filho tendo uma vida normal devido ao implante -Implante podendo transformar a vida do filho -Filho estando uma bênção

-Filho estando maravilhoso -Filho falando

Tendo a vida resgatada pelo implante

QUADRO 2 - Exemplo de categorização.

Por conseguinte, iniciamos a codificação axial em que as categorias foram comparadas entre si, agrupadas, reorganizadas e reduzidas dando origem a categorias mais densas e amplas, que estão definidas com suas propriedades e dimensões e apresentadas nos resultados através dos diagramas e conceitos.

Por se tratar de uma metodologia de manejamento dos dados em constante construção, Chenitz e Swanson (1986) referem que esta permite ao pesquisador parar em qualquer nível de análise dos dados e retratar os achados. Desse modo, conquanto esta metodologia proponha a elaboração de um modelo teórico, este estudo foi conduzido até a Codificação Axial, que permitiu a identificação do fenômeno representativo do significado para a família da criança com deficiência auditiva usuária de implante coclear.

O fenômeno foi validado nas três últimas entrevistas da seguinte maneira: expliquei o modo como tinha compreendido a experiência vivenciada das outras famílias entrevistadas, e perguntei se elas se identificavam com a mesma, se tinham alguma objeção ou queriam fazer algum outro acréscimo, sendo sido confirmado o fenômeno em questão.

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