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4.1 Área 1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.3 Realização do Ensino

É em torno da realização do ensino que tudo gira e para esta que se trabalha, para que este momento seja o mais rico possível, tanto para os alunos como para o professor. Foi na realização do ensino e na sua posterior reflexão e avaliação onde aprendi mais. Assim, considero que este ano foi crucial para o “iniciar” da minha formação profissional, não considerando a conclusão do mestrado o fim, mas sim o princípio da minha formação profissional, como já o tinha referido anteriormente.

Na concretização do ensino existem muitas mais variáveis do que aquelas que o planeamento e a preparação do ensino são capazes de prever. Durante este ano de EP tentei compreender e gerir da melhor forma possível esta passagem da teoria para a prática, aprendendo e adaptando-me às dificuldades. Como tal, é necessária uma análise da realização do ensino antes, durante e depois da aula, refletindo acerca dele, de modo a ajustar sistematicamente as minhas intervenções. A forma como os alunos reagiram ao método de ensino foi o que determinou os conteúdos da aula seguinte.

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Estas reflexões permitiram-me corrigir e suprimir erros que naturalmente iam surgindo.

Tive consciência que me surgiram dúvidas inerentes ao meu desempenho como docente e decorrentes da minha inexperiência, no entanto, penso que à medida que as aulas iam decorrendo, encontrei respostas para algumas dessas dúvidas e dificuldades que surgiram. Para isso tornou-se fundamental o trabalho em grupo, a ajuda das nossas orientadoras e do PC, pois com todos os elementos a “remar para o mesmo lado” e a trocar ideias, certamente que o caminho seria realizado de uma forma mais suave e alegre.

Os principais objetivos nas aulas foram permitir um elevado Tempo Potencial de Aprendizagem, sendo que com o estabelecimento de rotinas na aula foi atingido facilmente, diminuindo, assim, os tempos de espera e de transição. Também foi necessário optimizar a qualidade de instrução recorrendo para isso aos conhecimentos teóricos obtidos ao longo dos quatros anos da licenciatura. A emissão de feedbacks pedagógicos permitiu uma melhoria no desempenho do aluno e criou um clima positivo de aprendizagem incutindo o gosto pela prática da atividade física.

É perceptível que a preocupação em seguir um plano de aula na sua perfeição pode ser contraproducente para a aula em si. A coerência entre a planificação e a realização do ensino é algo que se vai aperfeiçoando com a prática.

Pretendi que os alunos convivessem socialmente, pois penso ser um aspeto crucial na realidade atual, que sintam o prazer de conhecer e interagir com as pessoas, porque o ser humano é, antes de tudo, um ser social.

Relativamente ao 12º ano, turma que lecionei, penso que não tive grandes problemas disciplinares, pois são alunos assíduos, empenhados, e interessados na aula de EF. No entanto, um dos fatores que tive mais problemas foi na pontualidade. Apesar destes terem sido advertidos várias vezes, havia sempre um ou outro aluno que continuava a chegar atrasado.

Debruçando-me sobre os conteúdos que abordei nas aulas, penso que senti algumas dificuldades em determinadas modalidades, nomeadamente, a Ginástica e a Dança. No caso destas modalidades, apesar de ter adquirido alguns conhecimentos durante a minha formação pedagógica na faculdade, tive dificuldades, visto que são modalidades completamente diferentes das que

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me sinto mais à vontade, que são os JDC, tanto no aspecto organizacional, como nos aspetos técnicos específicos das modalidades.

O foco de todo este processo de ensino-aprendizagem são os alunos. É em redor deles que tudo gira, desde o início ao fim. Apesar de cada aluno ter a sua própria individualidade, com dificuldades e expetativas, sempre desejei que estes se empenhassem nas aulas, de forma a poderem alargar a sua formação desportivo-motora. Contudo, acho que consegui criar e manter um clima agradável na aula, de respeito mútuo e os conteúdos que abordei foram de encontro às expectativas e gostos dos alunos.

Daquilo que vivenciei, o que acho de mais revelante em todo o EP, foram as aulas. Na minha perspetiva, todo o trabalho que desenvolvemos, tal como, planeamento anual, UD e plano de aula, serve para que a parte principal da aula decorra da melhor maneira possível.

Com a organização dos conteúdos a serem abordados, os planos de aula tornam-se mais fáceis de serem realizados. Apesar do planeamento estar bem definido, a sua aplicação na prática não é tão fácil quanto parece pois surgem-nos inúmeras dúvidas e aí começamos a questionar-nos sobre inúmeros assuntos: Será que a aplicação destes exercícios é adequada? Será que o espaço chega para a realização do exercício? Quais as componentes que devo dar mais ênfase? Surgem-nos inúmeras questões às quais nem sempre sabemos dar a devida resposta.

Este tipo de problemas estão mais presentes numa fase inicial, pois a partir do momento que já tivermos realizado alguns planos de aula e algumas aulas em si, começamos a identificar melhor as nossas lacunas, a planear melhor. Posteriormente estas dúvidas, com a experiência e com o conhecimento da turma, do espaço, das situações e aplicações de aprendizagem de aula para aula, vão diminuindo.

A ativação geral é uma parte indispensável a todas as aulas de EF qualquer que seja a sua natureza. É através da ativação geral que os alunos desempenham uma atividade física mais segura ao longo da aula. Todo o trabalho efetuado era específico da modalidade a exercitar. Em todos os JDC optei por um “aquecimento” mais geral onde, por exemplo, no Voleibol, utilizava exercícios em que trabalhava a parte da coordenação motora, da função cardiopulmonar, da predisposição para a prática desportiva. Depois trabalhava

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algo mais específico, em que utilizava exercícios já com a introdução da bola, mas que não requeriam um grande nível de exigência pois eram somente de “aquecimento”.

“No plano de aula tinha planeado uma ordem de exercícios de aquecimento que alterei logo desde início pois preferi começar com um exercício mais estático que foi o de “passa e mexe”, e só a seguir é que englobei as caçadinhas, um exercício mais dinâmico. Relativamente ao primeiro acho que houve uma boa adesão por parte dos alunos, eles estavam empenhados e pareciam bastante interactivos entre eles. Já no segundo exercício, aí os alunos já estavam mais desmotivados e desempenhados na tarefa, e ao fim de algum tempo já pareciam cansados pois é um exercício que implica bastante deles.”(Reflexão da Aula Nº 15 e 16)

A ativação geral, tem que ser adequada aquilo que vamos dar e nunca pode ser demasiado exigente. Deve ser motivacional para que os alunos sintam vontade de realizar a prática ao longo da aula. Alunos com 17 e 18 anos que era o caso da minha turma, já não aderiam de um modo muito motivador para exercícios mais lúdicos e preferiam praticar a modalidade o mais rápido possível. Mas apesar de os alunos não gostarem da ativação geral tive sempre que a pôr em prática, pois era uma parte fundamental para o início da aula. Este foi um problema que tive numa fase inicial, mas que com o tempo consegui solucionar de maneira a que os alunos se sentissem mais participativos e com maior alegria na realização dos exercícios.

No que toca a assiduidade e pontualidade, os alunos eram bastante assíduos, mas não eram muito pontuais e chegavam sistematicamente atrasados. Enunciavam razões muitas vezes alheias à sua vontade, tal como o atrasado do autocarro. Existiu, no entanto, apenas um caso duma aluna que faltou muitas vezes ao longo do ano. Supunha-se que tinha alguns problemas familiares e que vivia num bairro e por isso inicialmente faltava muitas vezes às aulas, mas ao longo do ano foi melhorando, sendo cada vez mais assídua. Com esta aluna procurei criar um ambiente mais familiar de maneira a integrá- la melhor nas aulas para que ela pudesse ser mais participativa e assídua.

“A aula iniciou-se com a chamada dos alunos, em que houve duas alunas que não fizeram a aula, uma por falta de material e outra com justificação médica. Houve atrasados por parte de duas alunas que foram

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reprendidas e avisadas que numa próxima levaram falta.”(Reflexão da aula Nº

9 e 10)

Relativamente à parte fundamental, que é a parte central da aula em si, inicialmente realizavam-se exercícios mais simplicados e que iam aumentando a sua complexidade de aula para aula. Em todos os JDC, começava sempre por introduzir as componentes técnicas primeiro e a exercitação e aperfeiçoação das mesmas e só depois abordava as componentes táticas, que era quando os alunos já tinham as suas capacidades mais desenvolvidas. Em todas as aulas fazia questão de realizar na parte final, jogo formal, pois era aí que havia um ritmo mais competitivo e era onde se denotava as maiores falhas que os alunos tinham e o que se poderia melhorar na próxima aula. Esta fase era a mais motivadora para os alunos pois era onde eles gostavam de se mostrar. Contudo, existia sempre um ou dois casos de alunas que não gostavam dessa parte pois não se sentiam à vontade ou porque tinham mais dificuldade, dependendo da modalidade.

“Em termos de lateralidade, pouco se jogou o que também é compreensível devido às dimensões do campo serem reduzidas em termos laterais.”(Reflexão da Aula Nº 27 e 28)

O espaço foi sempre um dos grandes problemas que tive que lidar ao longo do tempo, pois maioritariamente realizávamos as aulas no pavilhão, que era sempre dividido por três turmas. Este facto não nos permitia explorar toda a potencialidade do espaço, o que restringia bastante quando se realizava a parte do jogo formal, pois nem todos o poderiam realizar em simultâneo. Contudo, no ginásio e na parte exterior, o espaço era adequado e dava para realizar com todos os alunos a trabalhar em simultâneo.

“Entendo que seria mais fácil, primeiro, eu fazer e entrar no exercício e depois sim, deixá-los praticar pois assim já teriam uma melhor noção daquilo que era para fazer.”(Reflexão da Aula Nº 23 e 24)

Outra situação em que pequei muitas vezes, nomeadamente no 1º período, foi na transmissão do que era pedido. Muitas vezes explicava aos alunos o que era para fazer e eles ouviam mas, no entanto, não entendiam o que lhes era solicitado. Então, quando começavam a praticar exercitavam de forma errada e teria de parar e voltar a explicar. Este caso foi solucionado ao fim de algumas aulas, pois após cometer esse erro duas ou três vezes o meu

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PC, sugeriu-me que caso a complexidade do exercício fosse grande, que deveria demonstrar primeiro e de seguida aplicar o exercício. Assim os alunos já tinham uma noção visual do que era para fazer e ao mesmo tempo ganhava tempo de empenhamento motor por parte dos alunos. No caso das modalidades individuais, chamava sempre um dos melhores alunos e dizia-lhe para fazer o exercício que eu pedia e assim os alunos já tinham uma perspetiva de como se deveria fazer.

“Contudo nas três séries que realizei deveria ter sido mais incisivo com os alunos pois não transmiti muitos feedbacks. Isto deve-se um pouco também ao facto de não ser uma modalidade que eu esteja muito a vontade e por sinto fico sempre um pouco com o pé atrás mas nada que com a experiência não possa melhorar.”(Reflexão da Aula Nº 45 e 46)

Existem sempre modalidades em que nos sentimos mais a vontade e em que damos mais feedbacks e noutras em que não temos tanto conhecimento, pois nem sempre temos o maior interesse ou nem sempre procuramos ou estudamos tanto sobre elas. E no meu caso particular, o Atletismo e a Dança eram as que eu tinha mais dificuldades. Os meus feedbacks inicialmente nestas duas modalidades eram um pouco escassos, sendo que na correção dos alunos para o exercício ficava sempre um pouco mais reticente, apesar de saber que eles estavam a realizar da maneira errada. Com o tempo, nomeadamente na parte da Dança que era onde sentia uma maior dificuldade, isso foi sendo ultrapassado, pois uma das minhas colegas Estudante Estagiária (EE), estava inserida no ramo da Dança e ajudou-me a ultrapassar e instruindo-me dos feedbacks e das respostas que deveria dar quando determinadas situações acontecessem.

“Quando os grupos já tinham feito a coreografia, meti-os a fazer para a turma toda ver e avaliar. Aqui foi engraçado ver que os alunos que iam fazer já sentiam alguma pressão pois estavam a ser vistos e avaliados pelos colegas de turma, mas no entanto, conseguiram representar bem as suas coreografias.”

(Reflexão da Aula Nº 59 e 60)

Existe sempre um receio por parte dos alunos quando estão a ser observados quer pelos outros alunos, quer pelo professor. Quase todas as raparigas e um ou dois rapazes, se sentiam desconfortáveis quando tinham de demonstrar em frente a turma ou uma coreografia, ou a realização de um

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exercício, ou mesmo na parte de jogo formal. Grande parte sabe que tem dificuldades numa ou outra modalidade ou num ou outro exercício e por isso quando chega a parte de o fazerem, quer seja em AD ou AS, ou mesmo só para representar/exercitar perante a turma ficavam logo tímidos e envergonhados de serem gozados pelos seus colegas de turma. Aqui tentei sempre criar um ambiente mais saudável e quem tentasse gozar ou brincar com o facto de o aluno ter feito mal, era desde logo reprendido. Felizmente, isto aconteceu poucas vezes pois a turma era bastante unida.

“Por fim, fiz trabalho de força no final da aula e impliquei o aluno Jesus que está lesionado a fazer a contagem do número de flexões e abdominais, dando logo motivo para eles começarem a brincar, mas o que é bom para acabar a aula com alegria. Os alunos, no final também arrumaram o material e houve também alguma brincadeira mas da qual foram logo avisados que aquilo não se poderia repetir.”(Reflexão Nº 31 e 32)

Na parte final de todas as aulas, os alunos faziam trabalho de forma a melhorar os seus índices de condição física. Geralmente quando fazia jogo formal, enquanto uns jogavam, os outros ficavam de fora e iam fazendo o respetivo trabalho de força. Assim os alunos que estavam de fora não ficariam parados e ganhavam tempo de exercitação. Em quase todas as aulas havia sempre um aluno/a que não fazia a aula e então tornava esse aluno responsável pela contabilização das respetivas séries que eu solicitava, mas, no entanto, eu ia tomando atenção a ver se eles realizavam a mesma ou não. Em muitos casos o aluno que não fazia a aula, fazia um relatório da aula e quando era solicitado por mim, fazia de árbitro na parte final da aula. Aqui tive alguns casos, que não deram certo pois quando os rapazes jogavam contra rapazes e era uma rapariga a apitar o jogo, qualquer decisão era motivo para discussão e sempre que isso acontecia tinha que intervir. Se a situação voltasse a acontecer, os alunos teriam todos que realizar trabalho de força e caso fosse mais grave como chegar a haver troca de palavras, retirava o aluno do jogo e ficava sentado só a observar a aula.

“Nota-se logo que quando há um certo ritmo competitivo em que os alunos têm o objetivo de conseguir realizar algo que está dentro das suas possibilidades, eles não se importam em arrumar o material sozinhos e em

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perder tempo, o que é bastante satisfatório para quem está a dar a aula.”

(Reflexão da aula 47 e 48)

Quando os alunos faziam algo que gostavam, acabavam por querer ficar até mais tarde na aula. Isto aconteceu em muitas situações. Os alunos quando se tratava de exercícios específicos para trabalhar uma determinada componente ora tática, ora técnica, queriam era que aquilo passasse rapidamente, pois não estavam interessados. Mas, em quase todas as aulas quando chegava ao fim e havia jogo formal, aí já não ligavam ao tempo e ainda queriam era ficar a jogar mais pois existia um ritmo competitivo entre eles.

Desde a terceira aula, que foi quando começamos a trabalhar, que eu incluí os alunos na montagem e arrumação de material, e desde aí, em todas as aulas, os alunos iam buscar o material e iam arrumá-lo com a minha ajuda e com a minha supervisão. Inicialmente costumavam brincar com o material e por isso, tive que começar a impor regras.

Concluindo a parte da realização do ensino, posso dizer que todo o trabalho que fui realizando foi fruto de um desenvolvimento constante e que foi progredindo diariamente e que a minha experiência e qualidade a nível de processos de ensino-aprendizagem foram evoluindo simultaneamente com o número de aulas que fui dando. Cada aula em si, trouxe algo de novo e que me foi bastante útil para poder crescer mais quer como professor, quer como cidadão. Todos os dias e em todas as aulas que dei existiram sempre novas situações que requeriam novas abordagens e novos sistemas de adaptação.

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