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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 ANÁLISE DO SISTEMA E PROCESSO ORÇAMENTÁRIO

4.1.3 Processo de Execução do Orçamento (Receita)

4.1.3.4 Receita Derivada – Perequação Financeira

A perequação financeira é a “correção da divisão inicial de recursos financeiros entre entes públicos, mediante a redistribuição dos meios em função inversa à respetiva capacidade financeira” (ROCHA, 2019, p.238). A figura 61 ilustra essa relação de perequação:

FIGURA 61 - SISTEMA DE EQUALIZAÇÃO DE RECEITAS DERIVADAS

FONTE: Rocha (2019, p.241).

A perequação tem por finalidade reafirmar o princípio da solidariedade entre os entes públicos e o princípio da unidade do Estado segundo a qual o financiamento das ações locais não pode recair totalmente sobre os impostos locais, mas sim pela ação do Estado proporcionando meios financeiros para que as autarquias desenvolvam as suas atividades (ROCHA, 2019, p.239).

O quadro 18 sintetiza a classificação dos instrumentos de perequações de acordo com os critérios de liberdade do Estado e das autarquias locais e as condições impostas pelo primeiro ao segundo:

QUADRO 18 - CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PEREQUAÇÃO

continua

CRITÉRIOS INSTRUMENTOS COMPREENSÃO

Quanto a liberdade de ação do agente concedente (Estado)

Obrigatórios ou vinculados (dotações)

É fixado por lei o quantitativo do montante a distribuir, os critérios e eventuais condições, independente da vontade do agente concedente.

Discricionários (subvenções)

O agente concedente poderá ou não atribuir auxílio financeiro e o correspondente valor.

Quanto as condições impostas pelo agente concedente (Estado)

Condicionados

Os recursos são condicionados a determinadas características dos entes locais, tais como índice de pobreza, saúde financeira, interioridade, fraca acessibilidade, etc.

QUADRO 18 - CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PEREQUAÇÃO

conclusão

CRITÉRIOS INSTRUMENTOS COMPREENSÃO

Quanto as condições impostas pelo agente concedente (Estado)

Incondicionados

Os recursos são atribuídos ao ente local independentemente das suas características, sendo exigido que a sua aplicação seja para determinada finalidade (saúde, educação, etc.).

Quanto a liberdade de ação do agente concessionário (autarquia local) Globais ou em bloco (block grants)

É destinado a financiar quaisquer necessidades de acordo com a discricionariedade da autarquia local.

Consignados São dotações consignadas a determinado fim, não tendo o município qualquer disposição para escolher o que financiar. FONTE: O autor, a partir de Rocha (2019, p.242).

Os critérios do quadro 18 são combinados na forma da figura 62, para então facilitar a compreensão de todas as fontes de recursos por meio a perequação:

FIGURA 62 - ORGANIZAÇÃO DAS FONTES DE RECEITA DERIVADAS

FONTE: O autor, a partir de Rocha (2019, p.243-256).

O Fundo Social Municipal (FSM) é uma transferência do Orçamento do Estado para fins de financiar as competências municipais relativas à área social, quais sejam, saúde, educação e ação social (ROCHA, 2019, p.243). A sua distribuição é realizada por duodécimos e quantificado por meio de indicadores objetivos, tais como o número de alunos da rede de ensino, o número de usuários do serviço de saúde, etc. (ROCHA, 2019, p.244).

O Fundo de Coesão Municipal (FCM) e o Fundo Geral Municipal (FGM) compõem o Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF), em conformidade com o disposto no artigo 27.º, n.º 1, alíneas “a” e “b”, da LRFALEI. A receita do FEF é obtida pela incidência de 19,5% sobre a média aritmética simples da receita líquida

do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRS), do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas (IRC) e do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) obtida no penúltimo ano ao Orçamento do Estado a que se refere, sendo excluído do cálculo (i) a participação variável no IRS e no IVA a que os municípios tem direito; (ii) a receita do IVA consignada a outros subsetores das administrações públicas; e, (iii) a receita do IRC consignada ao fundo de estabilização financeira da segurança social (ROCHA, 2019, p.252).

Após a obtenção de receita pelo FEF, 50% vai para o FCM e 50% para o FGM, que posteriormente serão distribuídos para as autarquias locais dentro dos res- pectivos critérios de cada fundo. Esquematicamente a figura 63 ilustra essa divisão:

FIGURA 63 - ESQUEMA DE FORMAÇÃO DO FEF

FONTE: O autor, a partir de Rocha (2019, p.253).

O FCM destina-se a promover o equilíbrio horizontal entre as autarquias locais de mesmo porte, ou seja, procura corrigir as desigualdades de acordo com as médias nacionais e possui duas classes de compensação dessas desigualdades: (i) a compensação fiscal e (ii) a compensação por desigualdade de oportunidades (ROCHA, 2019, p.244-245).

A compensação fiscal destina-se a municípios cuja arrecadação dos impostos municipais é inferior a um valor objetivamente determinado de acordo com a média nacional; a compensação por desigualdade de oportunidades direciona-se a certos municípios que tenham dificuldades de acesso a melhores níveis de saúde, de conforto, de saneamento básico e de aquisição de conhecimentos (ROCHA, 2019, p.245).

Já o FGM, de natureza vinculada, tem por finalidade dotar os municípios de recursos conforme os níveis de funcionamento e investimento, conforme os seguintes critérios de distribuição dos seus recursos (figura 64):

FIGURA 64 - REPARTIÇÃO DO FGM

FONTE: O autor, a partir de Rocha (2019, p.246).

A maior parte do FGM – 65% – é distribuído de acordo com a razão direta da população e da média diária de hospedagem em estabelecimentos hoteleiros e parques de campismo, sendo que nas Regiões Autônomas utiliza-se o fator ponderado de 1,3.

A segunda maior parte do FGM – 30% – tem duas subclasses de beneficiários desses recursos: (i) 25% na razão direta da área ponderada por um fator de amplitude altimétrica do município e 5% na razão direta da área afeta à Rede Natura 2000 e da área protegida; ou (ii) 20% na razão direta da área ponderada por um fator de amplitude altimétrica do município e 10% na razão direta da área afeta à Rede Natura 2000 e da área protegida, nos municípios com mais de 70% do seu território afeto à Rede Natura 2000 e de área protegida (PORTUGAL, 2013).

O município também poderá deliberar quanto a sua participação no IRS, cuja alíquota pode variar, conforme a sua vontade, de 0 a 5%, calculada sobre a respectiva renda declarada pelo sujeito passivo com domicílio fiscal no respectivo município. O município deve comunicar à autoridade tributária a alíquota pretendida até o dia 31 de dezembro de cada ano e, caso não o faça, considerar- se-á a alíquota de 5%. Por outro lado, caso o município considere uma alíquota menor que 5%, a diferença permitirá ao contribuinte deduzir dos seus rendimentos declarados (ROCHA, 2019, p.247).

Outra participação dos municípios na arrecadação do Estado refere-se ao IVA, cuja participação será implementada em 2020. Os municípios terão direito a 7,5% do IVA apurado no penúltimo ano em relação à Lei do Orçamento do Estado se refere, cuja base de cálculo será a somatória do IVA arrecadado em relação as atividades econômicas de alojamento, restauração, comunicações, eletricidade, água e gás, tão somente (PORTUGAL, 2013).

O Fundo de Financiamento para a Descentralização (FFD) é outro instrumento perequitativo em que financia novas competências assumidas pelos municípios em razão da descentralização levada a efeito pelo Estado (ROCHA, 2019, p.250-251). Entretanto, tal instrumento ainda não se encontra esclarecido sob o ponto de vista da sua materialização uma vez que se remete a outros instrumentos legislativos, tais como a Lei do Orçamento do Estado e os Decretos- lei as transferências a serem efetivadas (ROCHA, 2019, p.250-251).

4.2 INSTRUMENTOS DE TRANSFERÊNCIAS FINANCEIRAS

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