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3.2 A ALIMENTAÇÃO E A ATIVIDADE FÍSICA ALIADOS NO COMBATE À

3.2.2 A SAÚDE

3.2.2.1 AS RECEITAS PARA SER SAUDÁVEL

Quando o assunto é manter o corpo belo, vimos que existem alguns cuidados que auxiliam nesse processo. Na busca por um corpo saudável, o processo não é diferente, encontramos novamente o que deve ser feito, porém agora é para atingir um estado de saúde. A saúde é entendida como algo que pode ser conquistado, adquirido.

Quando nossas entrevistadas falaram sobre quais cuidados são realizados para se ter saúde, observamos que todas as respostas apareceram novamente relacionadas aos cuidados com atividade física e alimentação, sendo estas consideradas fundamentais para se ter saúde. Além dessa dupla, outros cuidados foram apontados, como dormir oito horas por noite; saber estabelecer limites quanto à alimentação e à atividade física; ter acesso a lazer e à boa educação; não ter nenhuma doença.

Com base no que foi analisado sobre os cuidados com o corpo e com a saúde, verificamos que há uma diferença entre os cuidados que se colocam em prática quando o assunto é a boa forma e quando é a saúde, visto que, quando se trata desta, aparecem outros fatores para além da atividade física e da alimentação saudável, como, por exemplo, questões socioeconômicas e culturais.

A relação de satisfação com a saúde surge, porém, quase sempre associada ao sentimento de que mais ações podem ser feitas para se ter mais saúde. Das seis entrevistadas, duas se consideram saudáveis; três se consideram saudáveis, mas ainda podem melhorar; e apenas uma se diz insatisfeita, apesar de estar buscando esse objetivo.

Nas falas das leitoras D e A, que se consideram saudáveis, podemos perceber os motivos pelos quais se sentem assim: “Sim, me considero, e eu me alimento relativamente bem, pratico atividade física, e tenho uma vida saudável, procuro me alimentar bem, ser ativa e não tenho nenhuma doença. Eu faço exame todo ano, então acho que eu estou saudável” (LEITORA D). Ela ainda complementa dizendo que é necessário evitar determinados comportamentos de risco, pois estes aumentam as chances de desenvolver algum tipo de doença: “[...] evito ao máximo, não fico perto de quem fuma. Procuro não ingerir bebida alcoólica, frituras, comidas muito gordurosas, isso” (LEITORA D).

Já para a Leitora A, a relação de satisfação com a saúde se dá por meio da realização de atividade física: “Considero, e eu tento fazer tanto a atividade física, e controlar a alimentação, mas mais atividade física”.

Nesses dois relatos, as entrevistadas se sentem saudáveis, pois acreditam fazer o que é certo para sua saúde. Observamos que, para além da atividade física, reaparece também a preocupação com a ingestão de gordura, que, nesse momento, coloca em risco não apenas a boa forma corporal, mas também a saúde desse indivíduo.

Quanto às leitoras B e C, que não se consideram completamente satisfeitas, esse sentimento vem relacionado aos “pecados” em relação à alimentação:

É, eu, eu me considero saudável. Só às vezes, na questão da alimentação que eu exagero um pouco, na questão de muito doce, essas coisas. Agora a questão de comer muita porcaria, viver de Mc Donalds não é meu tipo. Só que o que eu faço “pra” manter, eu sempre procuro fazer atividade física, se eu parei com uma coisa, eu logo começo outra “pra” viver, “pra” sempre “tá” praticando alguma atividade física, agora questão de alimentação eu peco um pouco às vezes, não é aquela coisa: eu vou seguir à risca, não vou comer, não vou ingerir muito carboidrato, não tem essas coisas não. E uma coisa que eu faço, que eu particularmente acho que é importante “pra” minha saúde, eu não tenho nenhum vício de beber. Eu não bebo, eu não fumo, né, sou muito tranquila quanto a isso, nunca fiz e nem pretendo ter nenhum desses vícios de beber, de fumar, nada disso. (LEITORA B)

O mesmo sentimento se repete na fala da Leitora C:

Eu me considero uma pessoa saudável com pequenos deslizes nos finais de semana. Eu sempre tento fazer minha atividade física diária, comer bem. Durante a semana, eu consigo muito bem. No final de semana vem uma cervejinha aqui, uma festa ali, bolo, doce, alguma coisa assim. Eu acho que mesmo assim eu sou uma pessoa saudável, mesmo com os deslizes no final de semana. (LEITORA C)

O “deslize” com a alimentação parece ser o grande vilão contra a saúde. Mesmo admitindo alguns descuidos, essas leitoras se consideram saudáveis. A Leitora E também apresenta essa sensação de incompletude em relação a ser saudável, mas, nesse caso, a alimentação não aparece como a culpada, mas, sim, o não controle do peso corporal:

Eu me considero saudável com algumas virgulas. Eu não bebo, eu não fumo, eu procuro ter oito horas de sono, eu evito gordura, fritura, não tomo refrigerante, não gosto de suco de caixinha, se possível eu prefiro uma alimentação mais próxima do natural. Eu procuro fazer os exames periodicamente, eu faço algumas suplementações orais de vitaminas, minerais, tento manter o peso, o que não tem sido fácil nos últimos anos, mas tento manter o peso, e fazer atividade física que eu acho importante. (LEITORA E)

Percebemos que os cuidados adotados são bem próximos aos cuidados para se manter a boa forma. Mesmo nos casos em que as leitoras levaram em consideração aspectos sociais para definir saúde, estes não apareceram entre as preocupações em prol de um corpo mais saudável. Os cuidados em relação à saúde priorizam cuidados com alimentação e atividade física.

Quando esses cuidados não são realizados, o sentimento de estar saudável se esvai, como é o caso presente no relato da Leitora F: “Não. Não vindo desse processo de não alimentação. Eu agora tenho tentado retomar isso, voltei para a musculação, voltei a treinar judô, então, assim, eu estou tentando fazer virar um processo saudável [...]” (LEITORA F).

A saúde torna-se, portanto, um objetivo que pode ser alcançado. A ideia de saúde persecutória (CASTIEL, 2007) aparece na fala dessas leitoras, e é por meio desses cuidados com alimentação e atividade física que esse objetivo pode ser alcançado. A fuga dos riscos também pode ser percebida quando determinados comportamentos são evitados por acreditarem que estes possam causar algum dano, como relata a Leitora D, que diz evitar ficar perto de quem fuma.

Acreditamos, dentro desse cenário, que principalmente o incentivo ao consumo, reforçado pela mídia, colabora para esse sentimento de insatisfação presente na fala de nossas entrevistadas, por vir junto à ideia de que algo a mais pode ser feito. O discurso midiático nos apresenta novos métodos, lugares, alimentos, atividades, entre outras possibilidades de consumo. A cada edição, novas oportunidades são oferecidas, e o “ficar parado” não é bem-vindo nesse contexto.

Após verificarmos o que nossas leitoras entendem por saúde e quais cuidados são realizados para que elas se mantenham saudáveis, tentaremos nos aprofundar em como elas percebem a construção dos estilos de vida saudáveis.

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