• Nenhum resultado encontrado

51

Avaliação in silico do potencial toxicológico

A toxicidade das drogas sintéticas é uma atual preocupação mundial. Há uma carência em estudos nessa área uma vez que muitas substâncias não foram avaliadas quanto à toxicidade. Além disso, os resultados das avaliações anteriormente feitas, podem não ser conclusivos, exigindo uma constante atualização e gestão da informação toxicológica.

A ação terapêutica ou recreativa de diversos compostos químicos resulta de diversas interações em sistema biológico. Fatores físico-químicos, sejam eles de caráter eletrônico, hidrofóbico ou estérico, influenciam a interação da substância no organismo. Dessa forma, pode haver a possibilidade de duas drogas estruturalmente semelhantes apresentarem atividade biológica diferente, tanto sob a ótica quantitativa como qualitativa62.

As informações de avaliação da toxicidade in vitro e in vivo63 foram os principais pilares para o estabelecimento de limites considerados seguros em ações regulatórias.

Entretanto, devido ao crescente surgimento das NPS essas informações podem não ser suficientes para entender os efeitos ou, ainda, estarem defasadas. A crescente produção de drogas sintéticas tanto em volume quanto em diversidade é um desafio para os estudos farmacológicos. Danos relacionados as NPS podem envolver inúmeros estudos; o tempo demandado e os custos das avaliações toxicológicas tradicionais podem não acompanhar a velocidade com que essas substâncias têm aparecido, causando um evidente desequilíbrio entre a produção química e as avaliações toxicológicas. A ingestão de drogas e complicações na obtenção de informações sobre condições de intoxicação aguda limitam o estudo da toxicidade de NPS26. Dada a dificuldade em estabelecer as propriedades das NPS é necessário encontrar maneiras de encontrar dados. Alguns estudos empregaram dados observacionais obtidos com compostos farmacologicamente semelhantes64.

A conscientização sobre os riscos do uso de NPS pode envolver a avaliação de eventos de intoxicação aguda, mortes relatadas, efeitos decorrentes do uso de testes em animais e experimentos em animais in vitro, e dados in vitro sobre mecanismos específicos de ação. No entanto, casos de intoxicação clínica, dados farmacológicos e toxicológicos são praticamente inexistentes65,66.

Nesse contexto, as pesquisas in vitro e in vivo63 são muito importantes para o

52 demandam tempo e podem ser dispendiosas, o que acaba acarretando dificuldades no esclarecimento do comportamento dessas novas substâncias.

Uma alternativa para diminuir tais obstáculos, é o uso da metodologia in silico67,

cujos procedimento é baseado em predições computacionais. A ideia central é fazer uma estimativa confiável da toxicidade e quais as principais características físico-químicas associadas68. Esses métodos também têm uma grande utilidade no sentido de minimizar a necessidade de testes em animais, que é uma das principais discussões éticas associadas a procedimentos experimentais de determinação de toxicidade. Eles podem reduzir o custo e o tempo de determinações relevantes, além de ajudar em previsões e a avaliações de segurança. Os métodos computacionais têm ainda a vantagem exclusiva de serem uma ferramenta útil para auxiliar na estimativa do comportamento toxicológico de substâncias químicas ainda não sintetizadas67.

Há muitas ferramentas associadas aos métodos in silico, como bancos de dados compartilhados que contenham propriedades químicas, dados de toxicidade, softwares para geração de descritores moleculares, ferramentas que simulam os sistemas biológicos e dinâmicas moleculares, pacotes estatísticos utilizados para previsão de criação de modelos, entre outros69,70. No entanto, é necessário também que sejam entendidas as limitações relacionadas a eles. As propriedades toxicológicas podem ser relacionadas a muitos efeitos tóxicos que podem não ser previstos de maneira adequada por algoritmos computacionais71,72. Assim, entender o limite que esses métodos podem ser utilizados é essencial para abordar o problema das NPS.

No entanto, com consciência das limitações, é possível utilizar os métodos in

silico de maneira eficiente e como alternativa para adquirir mais informações de

substâncias não detectadas ou desconhecidas. Considerando a taxa com que essas novas drogas surgem, há um risco substancial para a saúde pública e um desafio para as políticas de drogas, uma vez que não há dados suficientes sobre os potenciais danos para os usuários73,74. Assim, avaliações por meio de métodos computacionais podem ser utilizadas para previsibilidade do risco do uso dessas substâncias, podendo fornecer fundamentos técnicos para políticas de aplicação da lei e de redução de danos.

Muitos estudos de comportamento de drogas e como estas se relacionam com a estrutura química são feitos por meio de métodos baseados em QSAR (Quantitative

Structure–Activity Relationship), que têm por objetivo descrever e prever efeitos

biológicos por meio de descritores obtidos da estrutura química e/ou propriedades moleculares75. O método consegue correlacionar os efeitos de novas substâncias

53 utilizando como base dados obtidos de compostos análogos ou com grupos correlatos, conseguindo assim, mimetizar e prever, mesmo com certa escassez de dados, com precisão adequada69.

O estudo orientado para obtenção das propriedades físico-químicas e toxicológicas pode auxiliar na compreensão das características das diversas substâncias e como elas podem ser correlacionadas com os efeitos no organismo75. Nesse contexto, os métodos QSAR têm ganhado espaço e visibilidade para ajudar a conduzir políticas de prevenção e redução de danos de produtos químicos, materiais e nanomateriais sobre saúde humana e sistemas ecológicos76. Este método pode fazer abordagens preditivas indicando o potencial de toxicidade de substâncias por meio de modelos matemáticos

77,78.

Neste trabalho utilizamos os métodos in silico para estudar o sistema em questão por duas abordagens diferentes. Na primeira parte foi feita a utilização de softwares para prever valores toxicológicos e correlacioná-los com os dados experimentais, e na segunda abordagem os métodos computacionais foram utilizados para calcular a interação dos canabinoides com seu respectivo receptor.

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ribaux, O., Walsh, S. J. & Margot, P. The contribution of forensic science to crime analysis and investigation: Forensic intelligence. Forensic Sci. Int. 156, 171–181 (2006).

2. Amorim, C. Revisitando o conceito de inteligencia e apresentando a contribuição de Hans Eysenck. (Universidade Complutense de Madrid).

3. Ribaux, O., Girod, A., Walsh, S. J., Margot, P. & Mizrahi, S. Forensic intelligence and crime analysis. Law, Probab. Risk 2, 47–60 (2003).

4. Morelato, M. et al. The use of forensic case data in intelligence-led policing: The example of drug profiling. Forensic Sci. Int. 226, 1–9 (2013).

5. Legrand, T. & Vogel, L. The landscape of forensic intelligence research. Aust. J.

Forensic Sci. 47, 16–26 (2015).

6. Ribaux, O. & Margot, P. Inference structures for crime analysis and intelligence: The example of burglary using forensic science data. Forensic Sci. Int. 100, 193– 210 (1999).

7. Birkett, J. Scientific scene linking. J. Forensic Sci. Soc. 29(4), 271–284. (1989). 8. Anthonioz, A., Aguzzi, A., Girod, A., Egli, N. & Ribaux, O. Potential use of

fingerprints in forensic intelligence: Crime scene linking. Z Zagadnien Nauk

Sadowych 51, 166–170 (2002).

9. Esseiva, P. et al. Forensic drug Intelligence: An important tool in law enforcement. Forensic Sci. Int. 167, 247–254 (2007).

10. BRASIL, Lei 11.343 de 23 de agosto 2006 - Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad,.

11. Bertolote, J. Glossário de álcool e drogas. 132 (2010).

12. Office of National Drug Control Policy (ONDCP). Deadly Synthetic Drugs: The Need to Stay Ahead of the Poison Peddlers. 0–13 (2016).

13. Seddon, T. Drug policy and global regulatory capitalism: The case of new psychoactive substances (NPS). Int. J. Drug Policy 25, 1019–1024 (2014). 14. Guide On How To Access The Silk Road. Available at:

https://silkroaddrugs.org/guide-on-how-to-access-the-silk-road-3-0/. (Accessed: 12th May 2017)

15. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Abuse. EMCDDA - Europol, 2013 Annual Report on the implementation of Council Decision 2005/387/JHA.

Off. Off. Publ. Eur. Communities 6 (2013). doi:10.2810/99367

16. King, L. A. Legal Classification of Novel Psychoactive Substances: An

International Comparison. Novel Psychoactive Substances: Classification, Pharmacology and Toxicology (Elsevier Inc., 2013). doi:10.1016/B978-0-12-

56 17. United Kingdom Government - Legislation. Poisons Act 1972 Chapter 66.

Available at: http://www.legislation.gov.uk/ukpga/1972/66.

18. International Narcotics, C. B. Report of the International Narcotics Control

Board for 2016. (2016).

19. Hess, C., Schoeder, C. T., Pillaiyar, T., Madea, B. & Müller, C. E.

Pharmacological evaluation of synthetic cannabinoids identified as constituents of spice. Forensic Toxicol. 34, 329–343 (2016).

20. United Nations. UNODC World Drug Report 2018 - ANALYSIS OF DRUG

MARKETS. (2018). doi:978-92-1-060623-3

21. United Nations. United Nations Office on Drugs and Crime, World Drug Report

2017. Unodc (2017).

22. International Narcotics, C. B. Report of the International Narcotics Control

Board for 2013. (2013).

23. ANVISA. Relatório de Atividades 2015/2016. 36 p (2017).

24. Taffarello, R. F. Drogas: Falência Do Proibicionismo E Alternativas De Política Criminal. (2009).

25. Global Commission on Drug Policy. Sob controle: caminhos para políticas de

drogas que funcionam. (2014).

26. Santos, C. E. M. Toxicologia in silico: uma nova abordagem para análise do risco químico. RevInter Rev. Intertox Toxicol. Risco Ambient. e Soc. 4, 47–63 (2011). 27. Fantegrossi, W. E., Gannon, B. M., Zimmerman, S. M. & Rice, K. C. In vivo

Effects of Abused ‘Bath Salt’ Constituent 3,4-methylenedioxypyrovalerone (MDPV) in Mice: Drug Discrimination, Thermoregulation, and Locomotor Activity. Neuropsychopharmacology 38, 563–73 (2013).

28. Couceiro, J. et al. Toxicological impact of JWH-018 and its phase I metabolite N-(3-hydroxypentyl) on human cell lines. Forensic Sci. Int. 264, 100–105 (2016). 29. Concheiro, M., Castaneto, M., Kronstrand, R. & Huestis, M. A. Simultaneous

determination of 40 novel psychoactive stimulants in urine by liquid

chromatography-high resolution mass spectrometry and library matching. J.

Chromatogr. A 1397, (2015).

30. Cooper, Z. D. Adverse Effects of Synthetic Cannabinoids: Management of Acute Toxicity and Withdrawal. Curr. Psychiatry Rep. 18, 1–10 (2016).

31. Tait, R. J., Caldicott, D., Mountain, D., Hill, S. L. & Lenton, S. A systematic review of adverse events arising from the use of synthetic cannabinoids and their associated treatment. Clin. Toxicol. 54, 1–13 (2016).

32. Trecki, J., Gerona, R. R. & Schwartz, M. D. Synthetic Cannabinoid–Related Illnesses and Deaths. N. Engl. J. Med. 373, 103–107 (2015).

33. Alves, A. O., Spaniol, B. & Linden, R. Synthetic cannabinoids: Emerging drugs of abuse. Rev. Psiquiatr. Clin. 39, 142–148 (2012).

57

Essentials of Computational Chemistry 42, (2004).

35. Albuquerque, C. A. De. 2. Modelagem molecular aplicada ao desenvolvimento de sistemas nanoscópicos bioativos. (2008).

36. Silva, T. H. Á. da. Práctica III. modelagem molecular com o auxílio do

computador. (2006).

37. Luis Alcácer. Introdução a química quantica computacional. (2554).

38. Sherrill, C. D. An Introduction to Hartree-Fock Molecular Orbital Theory What Problem Are We Solving ? Motivation and the Hartree Product. Sch. Chem.

Biochem. Georg. Inst. Technol. 1–8 (2000).

39. Method, S. F. Self-Consistent Field Method*. 91, 4–6 (1953).

40. dos Santos, P. S. Estudo dos mecanismos de formação das espécies PN e NS no meio interestelar, em cometas e atmosferas planetárias. 24 (2009).

doi:https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.14135

41. De Oliviera, C. Método de Hartree-Fock. 1–9 (2015). doi:10.1186/1756-0500-4- 331

42. Slater, J. C. THE THEORY OF COMPLEX SPECTRA. Phys. Rev. (1929). 43. Cade, P. E. & Huo, W. M. Hartree-Fock-Roothaan wavefunctions for diatomic

molecules. At. Data Nucl. Data Tables 15, 1–39 (2004).

44. Equations, S. & Effects, C. Self-Consistent Equations Including Exchange and Correlation Effects*. Phys. Rev. 385, (1965).

45. L.H.Thomas. The calculation of atomic fields. Math. Proc. Cambridge Philos.

Soc. 23, 542–548 (1927).

46. Fermi., E. Un metodo statistico per la determinazione di alcune priorieta dell’ atome. Rend. Accad. Naz. Lincei, 6602, 1927 (1927).

47. Becke, A. D. Density-functional thermochemistry. III. The role of exact exchange. J. Chem. Phys. 98, 5648–5652 (1993).

48. P. HOHENBERG, W. K. Inhomogeneous Electron Gas. Integr. Equations Oper.

Theory 40, 391–402 (1964).

49. Neto, O. P. V. Projeto , Otimização , Simulação e Predição de Propriedades de Nanoestruturas através de Técnicas da Inteligência Computacional :

Nanotecnologia Computacional Inteligente. (2009).

50. Silva, A. R. Teoria do funcional da densidade exata para o modelo de hubbard de dois sitios. 108 (2009).

51. Perdew, J. P., Burke, K. & Ernzerhof, M. Generalized gradient approximation made simple. Phys. Rev. Lett. 77, 3865–3868 (1996).

52. Xu, X. & Goddard, W. A. The extended Perdew-Burke-Ernzerhof functional with improved accuracy for thermodynamic and electronic properties of molecular systems. J. Chem. Phys. 121, 4068–4082 (2004).

58 methods for a large set of organic molecules. J. Chem. Theory Comput. 4, 297– 306 (2008).

54. Adamo, C. & Barone, V. Toward reliable density functional methods without adjustable parameters: The PBE0 model. J. Chem. Phys. 110, 6158–6170 (1999). 55. Jensen, F. Atomic orbital basis sets. 3, 273–295 (2013).

56. Johnson, B. G., Gill, P. M. W. & Pople, J. A. methods. (1993).

57. Wold, S. Chemometrics and intelligent laboratory systems Chemometrics; what do we mean with it, and what do we want from it? Chemom. Intell. Lab. Syst. 30, 109–115 (1995).

58. Ferreira, M. M. C. QUIMIOMETRIA - Conceitos, Métodos e Aplicações. (Editora Unicamp, 2015).

59. Beebe, K. R., Pell, R. J. & Seasholtz, M. B. Chemometrics: A Practical Guide. (Wiley-Interscience, 1998).

60. Lavine, B. & Workman, J. J. Chemometrics. Anal. Chem. 76, 3365–3371 (2004). 61. Bruni, A. T., Rodrigues, C. H. P. & Talhavini, M. Quimiometria aplicada a

análise forense. in Fundamentos de química forense: uma análise prática da

química que soluciona crimes (eds. Bruni, A. T., Velho, J. A. & de Oliveira, M.

F.) (Millenium Editora, 2019).

62. Tavares, L. C. QSAR: A abordagem de Hansch. Quim. Nova 27, 631–639 (2004). 63. Dusinska, M. & Rundén-pran, E. Toxicity Tests : In Vitro and In Vivo. Adverse

Effects of Engineered Nanomaterials (Elsevier Inc., 2017). doi:10.1016/B978-0-

12-809199-9/00003-3

64. Warrick, B. J., Tataru, A. P. & Gerona, R. New Psychoactive Substances in Pediatric Patients. Pediatr. Clin. North Am. 64, 1223–1241 (2017).

65. Hondebrink, L., Zwartsen, A. & Westerink, R. H. S. Effect fingerprinting of new psychoactive substances (NPS): What can we learn from in vitro data?

Pharmacol. Ther. 182, 193–224 (2018).

66. Luethi, D. et al. Pharmacological profile of mephedrone analogs and related new psychoactive substances. Neuropharmacology 134, 4–12 (2018).

67. Raies, A. B. & Bajic, V. B. In silico toxicology : computational methods for the prediction of chemical toxicity. 6, 147–172 (2016).

68. Sutherland, R. et al. Motivations for new psychoactive substances use among regular psychostimulant users in Australia. Int. J. Drug Policy 43, 23–32 (2017). 69. Vedani, A., Dobler, M. & Lill, M. A. The Challenge of Predicting Drug Toxicity

in silico. 195–208 (2006).

70. Benfenati, E., Gini, G., Hoffmann, S. & Luttik, R. Comparing in vivo, in vitro and in silico methods and integrated strategies for chemical assessment: Problems and prospects. ATLA Altern. to Lab. Anim. 38, 153–166 (2010). 71. Kavakiotis, I. et al. Machine Learning and Data Mining Methods in Diabetes

59 72. Ravi, D. et al. Deep Learning for Health Informatics. IEEE J. Biomed. Heal.

Informatics 21, 4–21 (2017).

73. United Nations Office on Drugs and Crime. World Drug Report 2013. (United Nations publication, Sales No. E.13.XI.6, 2013).

74. Cockbain, E. & Laycock, G. Crime Science. OXFORD RESEARCH

ENCYCLOPEDIA, CRIMINOLOGY AND CRIMINAL JUSTICE 1–35 (2017).

doi:10.4324/9781843925842

75. Dearden, J. C. In silico prediction of drug toxicity. J. Comput. Mol. Des. 17, 119– 127 (2003).

76. Cherkasov, A. et al. QSAR Modeling : Where have you been ? Where are you going to ? J. Med. Chem. (2014). doi:org/10.1021/jm4004285

77. Benfenati, E. E book Theory , guidance and applications on QSAR and REACH Editor.

Documentos relacionados