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2.5 LODO DE ESGOTO

2.5.1 Reciclagem de efluentes e dejetos para uso no meio rural

No início da década de 1970, foram investigados muitos aspectos do uso de lodo de esgoto em florestas, incluindo técnicas de aplicação, práticas de manejo e operação, medidas para impactos ambientais. A cidade de Bremerton, no Estado de Washington, desde 1997 vem aplicando a totalidade do biossólido em florestas do próprio município (HENRY & COLE, 1997).

Pesquisas sobre a utilização de lodo de esgoto na agricultura e na área florestal brasileira foram iniciadas em 1982. Numa parceria entre SABESP e empresas florestais com a ESALQ/USP e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura - CENA, em 1998, iniciaram as pesquisas sobre o uso de biossólidos em culturas florestais (Figura 10), através do PROBIO - Programa de Biossólidos em Plantações Florestais (POGGIANI et al., 2003).

O PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico foi instituído em 1999, como mecanismo interinstitucional representando demandas do Ministério da Agricultura e Abastecimento, da Companhia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) e órgãos ambientais de outros estados da federação, e das companhias de saneamento básico estaduais, municipais e particulares, para

desenvolver e aperfeiçoar tecnologias nas áreas de águas de abastecimento, águas residuárias e resíduos sólidos que sejam de fácil aplicabilidade, baixo custo de implantação, operação e manutenção e que resultem na melhoria das condições de vida da população brasileira (SKORUPA, 2008).

Decorridos 12 anos consecutivos da aplicação de lodo de esgoto em plantios de Eucalyptus grandis, anualmente são avaliados os efeitos residuais para encontrar uma alternativa ecologicamente adequada para a utilização do lodo de esgoto, seja como fertilizante e/ou como condicionador de solo, mas assegurando a elevação da produtividade da madeira. Ao final da primeira fase, constatou-se que houve contribuição no aceleramento do crescimento das árvores de eucalipto, resultados a comprovar em longo prazo, durante a segunda fase (IPEF & ESALQ, 2010).

Por estar associada à ocorrência de despejos industriais no esgoto urbano, a possibilidade de presença de metais pesados é uma das maiores preocupações no uso de biossólidos. Nos Estados Unidos, a regulamentação para aplicação do lodo de esgoto foi estabelecida inicialmente em 1956, pela Federal Wastewater Pollution Control. Contudo, a atual legislação americana abrange três categorias gerais de uso – lodo na agricultura (define limites de concentração de elementos químicos, cumulativos e anuais de incorporação, além da concentração máxima no solo), disposição superficial (espalhamento em grandes áreas, com ou sem incorporação para sua oxidação) e incineração (eliminação de lodo contaminado com substâncias químicas perigosas). Já na Europa, desde 1970 existem manuais de orientação de utilização para os diferentes países (SOUZA et al., 1992; ANDREOLI et al., 1997).

FIGURA 10 - Etapa de retirada do lodo de esgoto numa ETE após a fase de decantação e secagem.

No caso brasileiro, diversos municípios têm estações de tratamento de esgoto, gerando grande quantidade de resíduo sólido, cujo destino final precisa considerar fatores econômicos, ambientais, sanitários e sociais envolvidos. O termo biossólido passou a ser utilizado nos países e em várias normas no início dos anos 1980, visando tirar a conotação pejorativa do termo lodo de esgoto, além de promover o conceito de que o material não é simplesmente um resíduo e que deve ser reciclado em sistemas de usos benéficos (GUEDES, 2005).

A Water Environmental Federation recomenda o uso do termo “biossólido” para designar ao lodo que passa por um tratamento biológico e possua um potencial de uso benéfico em sistemas agroflorestais, sem riscos à saúde humana e animal (POGGIANI et al., 2000).

Em decorrência, a CETESB elaborou normas para regularizar a utilização do biossólido no Estado de São Paulo, empregando o termo biossólido exclusivamente para lodo resultante do sistema de tratamento biológico de despejos líquidos sanitários, de características próprias que atendam as condições para utilização segura na agricultura (CETESB, 1998).

Os processos de tratamento do lodo visam reduzir o teor de material orgânico biodegradável, a concentração de organismos patogênicos e o teor de água para que se obtenha um material sólido e estável, que não constitua perigo para a saúde e possa ser manipulado e transportado com facilidade e a baixo custo. Para tanto, aplicam-se quase exclusivamente métodos biológicos para estabilizar o lodo gerado nas ETEs – digestão anaeróbica ou, em poucos casos, a digestão aeróbica. A redução do teor de água é efetuada por processos físicos (adensamento, filtração, flotação, evaporação) eventualmente precedidos por processos preparatórios de condicionamento que visam facilitar e/ou acelerar o processo de separação de água (ANDREOLI, 2006).

A SANEPAR desenvolve o Programa de Utilização Agrícola de Lodo de Esgoto em conformidade com a Resolução CONAMA nº 375/2006 e o Decreto MMA nº 4954 de 14 de janeiro de 2004, no nível federal, e a Resolução SEMA nº 001/07 no Estado do Paraná, aas quais definem os critérios e procedimentos para o uso agrícola deste insumo. Os critérios de normatização paranaense são semelhantes aos parâmetros europeus e significativamente mais restritivos que os adotados no território americano, enquadrando-se como uma das normas mais restritivas do

mundo (BITTENCOURT et al., 2009).

Os agentes patogênicos do lodo (coliformes termotolerantes, ovos viáveis de helmintos, salmonella e virus) podem causar doenças, tanto nas pessoas que lidam com o lodo de esgoto quanto nas plantas cultivadas (FAO, 1978). Os requisitos mínimos de qualidade do lodo de esgoto destinado ao uso agrícola devem respeitar os limites máximos de concentração estabelecidos pela legislação, onde as limitações definidas para quantidade de organismos patogênicos classificam o lodo de esgoto como classe "A" ou "B" (CONAMA, 2006).

O biossólido classe "A" passa por processos de higienização que garantem a inexistência de patógenos, sendo inclusive liberado seu uso em áreas públicas, como praças e jardins. Por isso, o lodo que sai das estações de tratamento não deve apresentar aspecto visual e odor desagradáveis (CONAMA, 2006). Cada destinação agrícola do lodo no solo deve ser definida por um projeto agronômico, onde é estabelecida a forma de aplicação e o manejo do material, com locais viáveis e identificados os cuidados ambientais específicos.

Para Rocha et al. (2004), o N é liberado do lodo de esgoto na forma inorgânica, diretamente do componente inorgânico ou através da sua mineralização. Caso a taxa de liberação de N seja superior à capacidade assimilativa do ecossistema, poderá ocorrer a contaminação das águas superficiais e subterrâneas.

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