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3.2 Europeização da Arquitetura Brasileira no Século XIX 124

3.2.2 Recife 145

Por volta de 1840, Recife era a terceira maior cidade do país, com aproximadamente 70 mil habitantes. O crescimento da cidade ocorreu, entre outros fatores, pela produção açucareira, que nesse período vivia sua expansão. Em função disso, Recife se desenvolveu e se urbanizou, através da infraestrutura e da construção das estradas. Pontes foram executadas e a cidade passou a receber serviços de transporte coletivo e água encanada (CAVALCANTI, 2006). Segundo Cavalcanti, dois edifícios públicos marcaram Recife: o Teatro Santa Isabel e o Hospital Pedro II.

Além dos profissionais que chegaram ao Rio de Janeiro, houve outros, que se dispersaram para outras cidades, como foi o caso do engenheiro Louis Léger Vauthier. Desde 1817, Recife iniciara obras de desenvolvimento, como a construção da estrada que interligava a cidade a Olinda. Em função da Revolução de 1817, as obras foram abandonadas, até o governo de Francisco do Rego Barros, o Conde de Boa Vista, que convidou Louis Vauthier para retomá-las. Vauthier tornou-se chefe da Repartição de Obras Públicas de Pernambuco, modernizando Recife e construindo pontes, prédios públicos e vivendas (GASPAR, 2011).

Edifícios Monumentais

Teatro Santa Isabel, Recife, 1841

O Teatro Santa Isabel, projetado em 1841 por Louis Vauthier, engenheiro francês, apresentava platibanda e um frontão triangular. Possuía fachada com três arcadas que cobriam a entrada, além de um balcão, colunas e arcos localizados acima das aberturas (Figura 177).

Hospital Pedro II, Recife, 1861

O hospital Pedro II, projetado pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira e inaugurado em 1861 (GASPAR, 2011), demonstrou simplicidade na fachada. Com pouca ornamentação e frontão triangular demarcando a entrada, o edifício possuía embasamento diferenciado, com gateiras retangulares. No corpo, janelas envidraçadas em formato de arco pleno dominavam toda a fachada e, entre os andares, estavam localizadas cornijas que os

delimitavam. O coroamento, simplificado, continha platibanda cega composta por simples cornija (Figura 178).

Palácio dos Manguinhos, Recife, s/d

Localizado no bairro das Graças, o Palácio dos Manguinhos (Figura 179), construído durante o século XIX, foi a representação de uma arquitetura de caráter eclético. Sede da Cúria Metropolitana e residência oficial do arcebispo de Olinda e Recife, o edifício possuía frontão triangular na fachada e um terraço que cobria a entrada principal da habitação.

As laterais da residência também tinham entrada coberta com platibanda em balaústre, que servia como guarda-corpo do segundo pavimento. A platibanda variava entre áreas cegas e vazadas, compostas por balaústres e compoteiras localizadas nos pedestais da balaustrada. As janelas possuíam bandeiras em arco de volta inteira no pavimento superior e verga reta no pavimento inferior. No coroamento ainda existiam as mísulas, localizadas abaixo da cornija, evidenciando o caráter eclético da edificação.

Figura 178 - Hospital Pedro II. Recife, s/d.

Fonte: Faculdade Pernambucana de Saúde. Disponível em: < http://www.fps.edu.br/infraestruturahospital >. Acesso em 14 nov. 2011.

Figura 177 - Teatro Santa Isabel. Recife, 1870. Fonte: Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaesc

olar/index.php?option=com_content&view=article &id=181&Itemid=1 >.Acesso em 14 nov. 2011.

Figura 179 - Palácio dos Manguinhos, Recife, s/d.

Fonte: Revista Algo Mais, bairros de recife. Disponível em: < http://www.revistaalgomais.com.br/blog/wp- content/ea/tudobairros.pdf>. Acesso em 18 abr 2012.

Museu do Estado de Pernambuco, Recife, s/d

Antes de se tornar museu do estado, a edificação (Figura 180), construída no século XIX, era o palacete do Dr. Augusto Frederico de Oliveira, filho do Barão de Beberibe (FUNDARPE, S/D). O edifício apresentou elementos característicos das arquiteturas clássica e gótica. O grande alpendre ao redor, emoldurado por colunas, relembrou os peristilos da arquitetura grega. Esse alpendre servia como terraço para o segundo pavimento, sendo a platibanda em balaústre o guarda-corpo desse pavimento superior. As aberturas inferiores continham bandeiras em arcos ogivais, características da arquitetura gótica. Já as aberturas superiores apresentaram verga reta.

Figura 180 - Museu do Estado de Pernambuco, Recife, s/d.

Fonte: Cooperativa cultural brasileira. Disponível em: <

http://coopculturalnordeste.blogspot.com.br/2010/03/museu-do-estado-realiza-feira-de.html>. Acesso em 18 abr 2012.

Arquitetura Religiosa e Residencial

Arquitetura Religiosa

De característica eclética, a igreja da Nossa Senhora da Penha apresentou linguagens neoclássica e neorrenascentista. Composto por pilastras de ordem coríntia, o edifício exibiu estátuas, cornijas, arcos de volta inteira, frontão triangular e nichos com estátuas (Figura 181).

Figura 181 – Igreja Nossa Senhora da Penha, Recife, s/d.

Fonte: Skyscrapercity. Disponível em: <http://www.panoramio.com/photo/23486741>. Acesso em: 18 abr. 2012.

Arquitetura Residencial

Uma das viajantes que visitou diversas cidades brasileiras no século XIX foi Maia Graham, que passou por Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Entre seus comentários sobre Recife, a viajante afirma ter visto casas de três ou quatro pavimentos feitas de “pedra clara”. O pavimento térreo servia para alojamentos dos negros ou armazéns. Nos demais localizavam-se as alcovas e a cozinha (GRAHAM, 1990 apud ARAGÃO, 2010).

A partir dessa afirmação é possível considerar que muitas residências do século XIX, quanto à distribuição funcional, não apresentaram grandes transformações em relação à casa colonial. O que possivelmente ocorria era a mudança nas fachadas das moradias.

Percebe-se pelas imagens encontradas que grande parte das ruas recifenses permanecia com casas alinhadas às calçadas, com três ou mais pavimentos, sendo o primeiro voltado para o comércio e o restante para a moradia. As casas, durante o século XIX, ainda tinham o telhado aparente, com caimento das águas para a rua. As aberturas geralmente eram de vergas retas ou arcos abatidos e à frente delas localizavam-se balcões em ferro (Figuras 182 e 183).

O neoclassicismo foi uma linguagem que serviu como referência nas primeiras décadas do século XIX, conforme visto na figura 184. Balaústres do Teatro Santa Isabel preenchem a imagem e, ao fundo, um casarão de três andares com o telhado já escondido pela

platibanda confirma a influência europeia nas moradias de Recife. A figura 185 também reforçou a presença neoclassicista, com casas contendo aberturas de arcos plenos e platibandas compostas de cornijas no coroamento.

Os “sobrados magros”, altos e estreitos, contendo até cinco pavimentos, foram uma tipologia residencial característica da arquitetura recifense, pelo adensamento populacional que ocorreu em função da produção de açúcar. Esses sobrados eram de origem portuguesa, ligados à cidade do Porto, onde existiram exemplos muito semelhantes. No pavimento térreo localizava-se o comércio; no segundo, geralmente ficava o escritório; a partir daí, vinham as áreas para receber visitas, depois as alcovas e área de estar íntima para jantar; e, finalmente, a cozinha (LEMOS, 1989).

Figura 184 - Bairro do Recife visto a partir do teatro Santa Isabel. Gravura de Luis Schlappriz. Recife, s/d.

Fonte: Site Longo Alcance – Banco de imagens do bairro do Recife. Disponível em: <http://www.longoalcance.com.br/brecife/banco/ls_ vista.htm>. Acesso em 14 nov. 2011.

Figura 182 - Rua da Cruz, atual Rua Bom Jesus, Recife, 1870.

Fonte: Blog Francisco Miranda. Disponível em: <http://chicomiranda.wordpress.com/2011/05/2 4/recife-um-olhar-provinciano-do-seculo-xix/>. Acesso em 14 nov. 2011.

Figura 183 - Rua Bom Jesus, Recife, 1885.

Fonte: Site Longo Alcance – Banco de imagens do bairro do Recife. Disponível em: < http://www.longoalcance.com.br/brecife/vf_ruadacr uz2.htm>. Acesso em 14 nov. 2011.

Figura 185 - Zona portuária do Recife, 1870.

Fonte: Velhas Fotografias Pernambucanas 1851/1890 - Gilberto Ferrez. Disponível em: < http://www.longoalcance.com.br/brecife/vf_malako ff.htm>. Acesso em 14 nov. 2011.

A Rua Aurora (Figura 186) em Recife foi um exemplo da influência francesa na construção dos casarões do século XIX. Essa rua continha traços de uma linguagem eclética que uniam a simetria e o rigor neoclássico com a inserção de ornamentos característicos do período renascentista. Ainda estavam presentes os frontões cimbrados e triangulares, platibandas cegas e vazadas compostas por balaústres, cornijas e balcões.

Figura 186 - Rua Aurora, Recife, 2009.

Fonte: Trek Earth. Disponível em: <http://www.trekearth.com/gallery/South

_America/Brazil/Northeast/Pernambuco/Recife/photo1035608.htm>. Acesso em 15 nov 2011.

As técnicas construtivas e conformações espaciais das vilas operárias em Recife, por serem mais simplificadas, não fugiam da arquitetura luso-brasileira. Em Pernambuco, ao final do século XIX, a Vila Operária Paulista (Figura 187) apresentou moradias de porta e janela, com cobertura contendo beirais.

Figura 187 - Vila Operária Paulista, Pernambuco, s/d.

Fonte: Revista USP (CORREA, 2008). Disponível em: <

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1984-45062008000200006&script=sci_arttext>. Acesso em 15 abr 2012.

Em Recife, este modelo de núcleo fabril, da Cia. de Tecidos Rio Tinto (Figura 188), apresentou uma característica diferenciada em relação às outras vilas. Essa tipologia de residência possuía o alpendre em frente à rua. A disposição da moradia, assim como as demais vilas, era simplificada, com a presença de um alpendre aberto e coberto que dava

acesso ao primeiro cômodo interno da casa. Após a sala, havia uma circulação que levava aos dormitórios, iluminados por aberturas laterais. Ao fundo localizava-se a cozinha.

Figura 188 - Núcleo Fabril da Cia de Tecidos Rio Tinto, Recife, s/d.

Fonte: (NUVILA 2001 In: CORREIA, 2008). Disponível em: <

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1984-45062008000200006&script=sci_arttext>. Acesso em 15 abr 2012.