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Reclamação com o objetivo de garantir acórdão proferido em

No documento Tutela provisória na reclamação (páginas 102-129)

3.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO

3.2.2 Garantia da autoridade do julgado

2.2.2.2 Reclamação com o objetivo de garantir acórdão proferido em

repetitivos)

O CPC/2015, em sua redação original, havia ampliado as hipóteses de cabimento da reclamação com o objetivo de garantir a eficácia de precedentes obrigatórios dos tribunais e, em especial, dos precedentes representados pelos enunciados de súmulas vinculantes e acórdãos dos Tribunais Superiores proferidos em sede de julgamentos casos repetitivos. Tal ampliação representava a importância que se pretendia dar aos precedentes obrigatórios e ao seu cumprimento, razão pela qual restou previsto o cabimento da reclamação como instrumento impositivo do respeito aos referidos precedentes obrigatórios, precipuamente dos Tribunais Superiores, cujas decisões deveriam servir de baliza para os demais tribunais pátrios.216

De fato, a preservação da competência e a garantia da autoridade das decisões dos tribunais, essencialmente dos Tribunais Superiores, não é algo que interessa apenas aos litigantes, tendo relação com a ordem jurídica e com a igualdade de todos perante o direito. Portanto, a reclamação não deve ser vista apenas com o intuito de proteger as partes do processo objetivo, mas também com a intenção de preservar a ordem jurídica e a igualdade de todos perante o judiciário.217

=%28Rcl.%24.SCLA.+E+5470.NUME.%29+NAO+S.PRES.&base=baseMono craticas&url=http://tinyurl.com/bf3nauf>. Acesso em: 02 jan. 2016.

216

Luis Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero defendem que a reclamação “não deveria ser vista como meio de tutela do precedente ou da jurisprudência vinculante. Isso porque semelhante modo de ver o seu papel pode ocasionar o fenômeno inverso àquele que se pretende evitar com a instituição de filtros recursais: o abarrotamento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça com reclamações que, per

saltum, visam a outorgar força ao precedente”. Entretanto, reconhecem que, “até

que as Cortes Supremas, as Cortes de Justiça e os juízes de primeiro grau assimilem uma efetiva cultura do precedente judicial, é imprescindível que se admita a reclamação com a função de outorga de eficácia de precedente. E foi com esse objetivo deliberado que o novo Código ampliou as hipóteses de cabimento da reclamação” MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de processo civil comentado. São Paulo: RT, 2015. p. 920.

217

MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto corte de precedentes:

recompreensão do sistema processual da corte suprema. São Paulo: RT, 2013.

Nesse contexto, o CPC/2015, quando da sua publicação em 16 de março de 2015, trouxe relevante inovação no que concerne à tentativa de criação de um sistema de precedentes nacional, consistente no cabimento da reclamação para garantir a observância de precedentes vinculantes proferidos em julgamento de casos repetitivos (art. 988, IV, CPC/2015). Não havia exigências específicas para o cabimento da reclamação em tal hipótese, devendo ser cumpridos os requisitos gerais, tais como, exemplificativamente, o de ajuizamento da ação antes do trânsito em julgado da decisão reclamada.

Nada obstante, antes mesmo de entrar em vigor, o CPC/2015 restou alterado pela Lei 13.256/2016, a qual, no que interessa à questão: (a) alterou a redação do inciso IV, do art. 988,218 prevendo o cabimento de reclamação com o objetivo de garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência; (b) alterou o § 5º, do art. 988219 e passou a prever a inadmissibilidade de reclamação após o trânsito em julgado da decisão reclamada (inciso I, do § 5º, do art. 988 – tal previsão já existia na redação original) e, ainda, quando “proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos”, quando não esgotadas as instâncias ordinárias (art. 988, II, § 5º, do CPC/2015); (c) restou incluído o § 5º, ao art. 966, do CPC/2015, prevendo que cabe ação rescisória por violação manifesta de norma jurídica, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.

218

Quando da promulgação do CPC/2015, a redação do art. 988, IV previa o cabimento da reclamação para “garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de precedente proferido em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência” BRASIL. Presidência da República. Lei

n. 13.256, de 4 de fevereiro de 2016. Altera a Lei nº 13.105, de 16 de março de

2015 (Código de Processo Civil), para disciplinar o processo e o julgamento do recurso extraordinário e do recurso especial, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei /L13256.htm>. Acesso em: 04 jan. 2016.

219

Redação do § 5º, do art. 988, do CPC, quando de sua promulgação: “É inadmissível a reclamação proposta após o trânsito em julgado da decisão”.

Levando em consideração apenas a literalidade do inciso IV, do art. 988, do CPC/2015, alterado pela Lei 13.256/2016,220 poderia se chegar à conclusão de que a reclamação só seria cabível com o objetivo de garantir a observância de acórdão proferido, especificamente, em sede de incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) ou de incidente de assunção de competência. Nada obstante, esta não é a melhor interpretação que merece ser dada à questão.

De acordo com a interpretação do disposto nos arts. 926, 927, III,221 928, I e II,222 966, § 5º,223 e 988, IV, § 5º, I e II, todos os do CPC/2015, cabível a reclamação, entre outras hipóteses legais, com o objetivo de garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos.224

220

Redação do § 5º, do art. 988, do CPC, conforme Lei 13.256/2016: “§ 5º é inadmissível a reclamação: I – proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada”; II - “proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias originárias”.

221

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: [...] III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos.

222

Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em: I - incidente de resolução de demandas repetitivas; II - recursos especial e extraordinário repetitivos.

223

Art. 966. “A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: [...] V – violar manifestamente norma jurídica”;

[...] § 5º: “Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento”.

224

Nesse sentido: “No CPC/2015, tem destaque as regras do art. 988, incisos III e IV, que viabilizam sua utilização (da reclamação) contra decisão que não aplique ou apliquem erroneamente precedente proveniente de ações de controle de constitucionalidade ou de julgamento de causas repetitivas ou de incidente de assunção de competência (art. 988, § 4º). Ao se mencionar julgamento de causas repetitivas, o precedente paradigmático pode tanto advir do incidente de resolução de demandas repetitivas – que chega ao STJ ou ao STF mediante recurso excepcional (art. 987) –, como de decisão de recursos especiais ou

Estando a tese jurídica firmada em sede de julgamento de casos repetitivos (art. 928, CPC/2015), pode ser proposta a reclamação com o objetivo de resguardar os acórdãos dos Tribunais Superiores e, ainda, a fim de chamar a atenção para a necessidade de se observar a decisão consolidada, em especial porque referidos arestos tem vinculação obrigatória aos juízes e demais tribunais, devendo, obrigatoriamente, ser observados (art. 927, III, do CPC/2015), sob pena de ser ajuizada reclamação (art. 988, IV, do CPC/2015).

De mais a mais, o § 5º, do art. 988, do CPC, incluído pela Lei 13.256/2016, prevê, expressamente, que será inadmissível a reclamação “proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos”, quando não esgotadas as instâncias ordinárias. A contrário

sensu, se esgotadas as vias ordinárias, caberá reclamação com o objetivo

de garantir a observância de acórdão decorrente de julgamento de casos repetitivos.

Outrossim, a Lei 13.256/2016 passou a admitir, expressamente, o cabimento de ação rescisória, por violação manifesta à norma jurídica, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento. Se até a ação rescisória é admitida em tal hipótese, ao mesmo tempo deve ser admitida a reclamação com o objetivo de garantir acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos (IRDR e recursos excepcionais repetitivos).

Nada obstante – e aí está a grande novidade trazida pela Lei 13.256/2116, que alterou o CPC/2015 –, antes de ajuizar reclamação com o objetivo de garantir a observância de acórdão proferido em sede de incidente de resolução de demandas repetitivas, de aresto de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, deverão ser esgotadas as instâncias ordinárias, sob pena de inadmissibilidade da reclamação.

extraordinários repetitivos, e pode tratar tanto de direito substancial como processual (art. 928)” MACÊDO, Lucas Buril de. Reclamação constitucional fundada em precedentes obrigatórios no CPC/2015. In: DIDIER JÚNIOR, Fredie (Coord.). Novo CPC doutrina selecionada: processos nos tribunais e meios de impugnação às decisões judiciais. Salvador: Juspodivm, 2015. v. 6. p. 203-223. p. 216-217.

Diante da criação de um sistema de precedentes pelo CPC/2015, que inclui, entre outras premissas, a obrigatoriedade de adequada fundamentação das decisões judiciais (em especial às que apliquem ou deixem de aplicar precedentes), a obrigatoriedade de se respeitar o contraditório substancial, a possibilidade de os precedentes obrigatórios deixarem de ser aplicados na hipótese de distinção ou superação, assim como a obrigatoriedade de observância das decisões de vinculação obrigatória proferidas pelos Tribunais Superiores, restou reconhecida a necessidade de ampliar a utilização da reclamação a fim de garantir acórdão ou precedente proferido em julgamento de casos repetitivos (art. 928, CPC/2015) ou em incidente de assunção de competência.225

Com a publicação do CPC/2015, tal necessidade restou expressamente reconhecida, até porque o Brasil ainda está tentando implantar uma cultura e um sistema de precedentes, não sendo anormal o desrespeito a decisões dos Tribunais Superiores por Tribunais de origem e juízes de primeiro grau.226 Entretanto, o legislador, por meio da Lei 13.256/2016, ouvindo os Tribunais Superiores, com o objetivo de evitar uma “avalanche” de reclamações, vinculou o cabimento da medida ao esgotamento das vias ordinárias, quando ajuizada com o escopo de resguardar precedentes proferidos em julgamento de casos repetitivos.

Ou seja, o legislador adequou o CPC/2015 à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a qual, durante a vigência do CPC/1973, se firmou no sentido de que não cabe reclamação fundada em precedentes sem eficácia geral e vinculante, de cuja relação processual os reclamantes não tenham feito parte. Dessa forma, segundo o STF, apesar de as decisões proferidas nos recursos extraordinários submetidos ao regime da repercussão geral vincularem os demais órgãos do Poder Judiciário, sua aplicação aos demais casos concretos não poderia ser buscada, diretamente, per saltum, na Suprema Corte, pela via da

225

OLIVEIRA, Pedro Miranda de. Novíssimo sistema recursal conforme o

CPC/2015. Florianópolis: Conceito Editorial, 2015, p. 241.

226

“[...] a insubordinação dos membros do Poder Judiciário e do Poder Público em geral é, sem dúvida, razão de ser destas ações, que não encontram paralelo no direito comparado dos países do Primeiro Mundo. Essa rebeldia é também uma das causas do acúmulo excessivo de processos e recursos que abarrotam nossos tribunais” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros

comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo. São Paulo: RT,

reclamação, antes da apreciação da controvérsia pelas instâncias ordinárias.227

227

Nesse sentido: “[...] 1. As decisões proferidas pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal quando do julgamento de recursos extraordinários com repercussão geral vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário na solução, por estes, de outros feitos sobre idêntica controvérsia. 2. Cabe aos juízes e desembargadores respeitar a autoridade da decisão do Supremo Tribunal Federal tomada em sede de repercussão geral, assegurando racionalidade e eficiência ao Sistema Judiciário e concretizando a certeza jurídica sobre o tema. 3. O legislador não atribuiu ao Supremo Tribunal Federal o ônus de fazer aplicar diretamente a cada caso concreto seu entendimento. 4. A Lei 11.418/2006 evita que o Supremo Tribunal Federal seja sobrecarregado por recursos extraordinários fundados em idêntica controvérsia, pois atribuiu aos demais Tribunais a obrigação de os sobrestarem e a possibilidade de realizarem juízo de retratação para adequarem seus acórdãos à orientação de mérito firmada por esta Corte. 5. Apenas na rara hipótese de que algum Tribunal mantenha posição contrária à do Supremo Tribunal Federal, é que caberá a este se pronunciar, em sede de recurso extraordinário, sobre o caso particular idêntico para a cassação ou reforma do acórdão, nos termos do art. 543-B, § 4º, do Código de Processo Civil. 6. A competência é dos Tribunais de origem para a solução dos casos concretos, cabendo-lhes, no exercício deste mister, observar a orientação fixada em sede de repercussão geral. 7. A cassação ou revisão das decisões dos Juízes contrárias à orientação firmada em sede de repercussão geral há de ser feita pelo Tribunal a que estiverem vinculados, pela via recursal ordinária. 8. A atuação do Supremo Tribunal Federal, no ponto, deve ser subsidiária, só se manifesta quando o Tribunal a quo negasse observância ao leading case da repercussão geral, ensejando, então, a interposição e a subida de recurso extraordinário para cassação ou revisão do acórdão, conforme previsão legal específica constante do art. 543-B, § 4º, do Código de Processo Civil. 9. Nada autoriza ou aconselha que se substituam as vias recursais ordinária e extraordinária pela reclamação. 10. A novidade processual que corresponde à repercussão geral e seus efeitos não deve desfavorecer as partes, nem permitir a perpetuação de decisão frontalmente contrária ao entendimento vinculante adotado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesses casos o questionamento deve ser remetido ao Tribunal competente para a revisão das decisões do Juízo de primeiro grau a fim de que aquela Corte o aprecie como o recurso cabível, independentemente de considerações sobre sua tempestividade. 11. No caso presente tal medida não se mostra necessária. 12. Não-conhecimento da presente reclamação” BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação

10.793/SP. Reclamante: IBM Brasil Indústria, Máquinas e Serviços Ltda.

Reclamado: Juiz do Trabalho da 10ª Vara do Trabalho de Campinas. Interessado: Antônio Bonfim da Silva e outro. Supremo Tribunal Federal. Relatora: Ministra Elles Gracie. Julgamento em 13/04/2011. Tribunal Pleno.

Assim, cabível reclamação com o objetivo de garantir a observância de acórdão dos Tribunais Superiores proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, somente após o esgotamento das vias ordinárias.

Apesar deste novo requisito – obrigatoriedade de esgotamento das vias ordinárias –, incluído com o nítido objetivo de filtrar as reclamações ajuizadas nos Tribunais Superiores, merece ser reconhecida a evolução trazida pelo CPC/2015, que ampliou as hipóteses de cabimento e deu lugar de destaque à reclamação, instrumento singular da jurisdição brasileira que se mostra indispensável à construção de um sistema nacional de precedentes obrigatórios, como corolários dos princípios da segurança jurídica, igualdade, eficiência, celeridade e acesso à ordem jurídica justa, assim como com o intuito de outorgar uma tutela mais adequada à confiança legítima incutida no cidadão pelo Judiciário.228

3.2.2.3 Reclamação com o objetivo de garantir a observância de decisão proferida em sede de incidente de assunção de competência

O CPC/2015 previu o cabimento da reclamação com o objetivo de garantir a observância de acórdão proferido em sede de incidente de assunção de competência (art. 988, IV, CPC/2015), o qual será admissível quando o julgamento de recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de direito,229 com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos

Acórdão publicado no DJ-e 107, de 06/06/2011. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1215183 >. Acesso em: 28 jan. 2016.

228

MACÊDO, Lucas Buril de. Reclamação constitucional e precedentes obrigatórios. Revista de Processo, São Paulo, v. 39, n. 238, p. 413-434, dez. 2014. p. 428.

229

“A questão relevante é aquela diferenciada, distinta de questões corriqueiras e ordinárias que, embora não repetida em inúmeros outros processos, impacta a sociedade – repercussão social. É a questão que, por exemplo, uma vez definida, pode importar em mudanças de rumo em políticas públicas, aumento de preços, que pode afetar grupo de pessoas, consumidores, empresas, etc.” CORTÊS, Osmar Mendes Paixão. Comentários aos arts. 943 a 947 do novo Código de Processo Civil. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. (Coord.). Breves

processos (art. 947, § 1º, CPC/2015), em que exista a possibilidade de prolação de decisões divergentes dentro do mesmo tribunal.

Para que configure a hipótese de cabimento do incidente de assunção de competência, devem estar presentes os seguintes requisitos, conforme disposto no art. 947 e respectivos parágrafos do CPC/2015: (a) existência de recurso, remessa necessária ou ação de competência originária do tribunal, que não se limitará a julgar a tese jurídica subjacente à demanda, mas também julgará o recurso, remessa ou ação originária; (b) questão de direito relevante e revestida de repercussão social; (c) divergência interna no tribunal ou a possibilidade de tal divergência existir; (d) que não se trate de direito de massa ou de causa repetitiva, o que não impede que a mesma questão jurídica possa se repetir ou tenha-se repetido em outras ações, mas não em quantidade necessária à caracterização de causas repetitivas.230

Trata-se de instrumento que tem por finalidade racionalizar e otimizar a prestação jurisdicional, trazer celeridade e segurança jurídica, assim como uniformizar e impor a observância à jurisprudência firmada no âmbito dos tribunais, sempre por órgão colegiado soberano e competente, consoante o regimento interno do respectivo tribunal, cujo acórdão vinculará os juízes e órgãos fracionários da referida corte em futuras decisões (arts. 927, III, 947, § 3º, CPC/2015).

O incidente da assunção de competência tem um caráter preventivo para a uniformização de jurisprudência, sendo o intuito de sua existência e ampliação a necessidade de identificar as grandes questões de direito e pacificá-las desde logo, sem que haja a multiplicidade de causas sobre a mesma questão.231

O cabimento da reclamação em caso de desrespeito (não aplicação ou aplicação indevida, nos termos do art. 988, § 4º, CPC)232 a

comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 2108-

2013. p. 2012.

230

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros comentários ao novo

código de processo civil: artigo por artigo. São Paulo: RT, 2015. p. 1345.

231

LEMOS, Vinicius Silva. O incidente de assunção de competência: o aumento da importância e sua modernização no novo Código de Processo Civil. Revista

Dialética de Direito Processual, São Paulo, n. 152, p. 106-116, nov. 2015. p.

108.

232

Nesse sentido: “É importante notar que, efetivamente, o CPC/2015 permite a veiculação da reclamação tanto nos casos de não aplicação como de aplicação indevida (§ 4º do art. 988)” MACÊDO, Lucas Buril de. Reclamação constitucional fundada em precedentes obrigatórios no CPC/2015. In: DIDIER JÚNIOR, Fredie (Coord.). Novo CPC doutrina selecionada: processos nos

aresto proferido em sede de incidente de assunção de competência justifica-se exatamente porque a decisão colegiada proferida pelo tribunal no referido incidente vincula todos os juízes e órgãos fracionários subordinados à jurisdição do tribunal que proferiu o aresto (arts. 927, III, 947, § 3º, CPC/2015). Isto é, os referidos juízes e órgãos fracionários são obrigados a observar o aresto proferido em sede de incidente de assunção de competência, podendo a parte se valer da reclamação na hipótese de o acórdão restar desrespeitado.

O precedente proferido em sede de incidente de assunção de competência somente poderá/deverá ser observado na hipótese de ser aplicável ao caso concreto, não podendo o julgador limitar-se a invocá- lo, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento ajusta-se àqueles fundamentos (art. 498, V, do

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