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Reclamação Constitucional no Supremo Tribunal Federal

No documento DOUTORADO EM DIREITO CONSTITUCIONAL (páginas 132-136)

Supremo Tribunal Federal está insculpida no artigo 102, I, l 300, da Constituição Federal, nos artigos 156 a 162 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e nos artigos 13 a 18 da Lei Federal nº 8.038/90.

Segundo José da Silva Pacheco301, a competência do Colegiado Supremo não está vinculada somente às pretensões originárias, ao contrário, existe uma bifurcação para o uso da Reclamação pelo viés da competência recursal, ipsi litteris:

A competência do STF está, claramente, estabelecida no art. 102 da CF/88, desdobrando-se em:

a) originária; e

b) recursal, sendo que esta última bifurca-se em recurso ordinário e recurso extraordinário.

Se ocorrer um ato eu se ponha contra a competência do STF, quer para conhecer e julgar, originariamente, as causas mencionadas no item I do art. 12 da CF, quer para o recurso ordinário no habeas

300 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente: (...)

l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; (CF/88).

301 PACHECO, José da Silva. O Mandado de Segurança e outras Ações Constitucionais Típicas. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 611.

corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão, quer para o recurso extraordinário, quando a decisão em única ou última instância contrariar dispositivo constitucional, declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal ou julgar válida lei ou ato de governo local contestado perante a Constituição Federal, a reclamação é cabível.

Por seu turno, a Lei Federal nº 8.038, de 28 de maio de 1990, criou normas procedimentais para os processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, tratando especificamente da Reclamação Constitucional em seu Capítulo II, com as seguintes disposições:

Art. 13. Para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões, caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público.

Parágrafo único. A reclamação, dirigida ao Presidente do Tribunal, instruída com prova documental, será autuada e distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível.

Art. 14. Ao despachar a reclamação, o relator:

I - requisitará informações da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias;

II - ordenará, se necessário, para evitar dano irreparável, a suspensão do processo ou do ato impugnado.

Art. 15. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.

Art. 16. O Ministério Público, nas reclamações que não houver formulado, terá vista do processo, por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para informações.

Art. 17. Julgando procedente a reclamação, o Tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à preservação de sua competência.

Art. 18. O Presidente determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.

De outro giro, como já visto, o primeiro instrumento legal a receber os primeiros traços de regulamentação da Reclamação foi justamente o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, o qual trata atualmente do assunto no Título V, Capítulo I, artigos 156 a 162:

Art. 156. Caberá reclamação do Procurador-Geral da República, ou do interessado na causa, para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões.

Art. 157. O Relator requisitará informações da autoridade, a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de cinco dias.

Art. 158. O Relator poderá determinar a suspensão do curso do processo em que se tenha verificado o ato reclamado, ou a remessa dos respectivos autos ao Tribunal.

Art. 159. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.

Art. 160. Decorrido o prazo para informações, dar-se-á vista ao Procurador-Geral, quando a reclamação não tenha sido por ele formulada.

Art. 161. Julgando procedente a reclamação, o Plenário ou a Turma poderá:

I – avocar o conhecimento do processo em que se verifique usurpação de sua competência;

II – ordenar que lhe sejam remetidos, com urgência, os autos do recurso para ele interposto;

III – cassar decisão exorbitante de seu julgado, ou determinar medida adequada à observância de sua jurisdição.

Parágrafo único. O Relator poderá julgar a reclamação quando a matéria for objeto de jurisprudência consolidada do Tribunal.

Art. 162. O Presidente do Tribunal ou da Turma determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.

Verifica-se que a Lei nº 8.038/90 dispõe matéria do texto do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, devendo ambas as referências legais serem observadas conjuntamente para que não ocorra equívoco na aplicação dos procedimentos que envolvem o andamento processual da Reclamação Constitucional. Aliás, essa lei veio com a disposição de dirigir a Reclamação Constitucional como ação de competência originária do Supremo Tribunal Federal302.

Insta ressaltar, por oportuno, a grande importância conferida à decisão proferida na Reclamação Constitucional, valendo destacar a possibilidade do relator à que foi distribuída a Reclamação Constitucional determinar liminarmente a suspensão imediata do ato impugnado ou do curso do processo em que o ato impugnado fora proferido, até o julgamento definitivo da Reclamação e; no caso de serem julgados procedentes os pedidos da Reclamação Constitucional, o presidente do Supremo Tribunal Federal ou da

302 PACHECO, José da Silva. O Mandado de Segurança e outras Ações Constitucionais Típicas. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 627.

Turma julgadora determinará o “imediato” cumprimento da decisão, antes mesmo da lavratura do respectivo acórdão.

Tais disposições demonstram explicitamente a enorme importância das decisões a serem proferidas em sede de Reclamação Constitucional, principalmente em razão da matéria a ser decida, ou seja, usurpação de competência do Supremo Tribunal Federal e garantia da autoridade das suas decisões.

Assim, tanto o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, quanto a Lei nº 8.038/90 disponibilizaram instrumentos extremamente eficazes e céleres para suspender e cassar o ato reclamado, quando assistir razão ao reclamante.

De extrema importância para o presente estudo é a análise jurisprudencial que trouxe à baila uma série de novidades na relacionadas à Reclamação Constitucional afeitas a temas como, v.g, os limites objetivos e subjetivos do efeito vinculante (transcendência da parte dispositiva), a legitimidade ativa para a propositura da Reclamação Constitucional e a possibilidade de execução de decisões de caráter abstrato, dentre outras, sem se olvidar dos antigos entraves conceituais que envolvem a perspectiva correta da natureza do instituto e sua diferença em relação à correição parcial.

O assunto é bastante fértil atualmente em virtude da riqueza do controle de constitucionalidade brasileiro que navega pelas espécies difusa e abstrata, além do efeito erga omnes, o qual, na época da construção pretoriana da Reclamação, não existia.

Na realidade, considerando a tridimensional teoria proposta por Miguel Reale, do tríplice norte do fato-valor-norma, a Reclamação Constitucional, notadamente, saltou a fase de positivação normativa, quando se considera a influência do direito escrito, acabando por iluminar a idéia de que a figura da criatura veio antes da do criador. Isso culminou com uma adaptação normativa posterior ao instituto da Reclamação Constitucional, que já possuía robustez na realidade jurídica brasileira.

3.3 Reclamação Constitucional no Superior Tribunal de Justiça

No documento DOUTORADO EM DIREITO CONSTITUCIONAL (páginas 132-136)