Supremo Tribunal Federal está insculpida no artigo 102, I, l 300, da Constituição Federal, nos artigos 156 a 162 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e nos artigos 13 a 18 da Lei Federal nº 8.038/90.
Segundo José da Silva Pacheco301, a competência do Colegiado Supremo não está vinculada somente às pretensões originárias, ao contrário, existe uma bifurcação para o uso da Reclamação pelo viés da competência recursal, ipsi litteris:
A competência do STF está, claramente, estabelecida no art. 102 da CF/88, desdobrando-se em:
a) originária; e
b) recursal, sendo que esta última bifurca-se em recurso ordinário e recurso extraordinário.
Se ocorrer um ato eu se ponha contra a competência do STF, quer para conhecer e julgar, originariamente, as causas mencionadas no item I do art. 12 da CF, quer para o recurso ordinário no habeas
300 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: (...)
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; (CF/88).
301 PACHECO, José da Silva. O Mandado de Segurança e outras Ações Constitucionais Típicas. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 611.
corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão, quer para o recurso extraordinário, quando a decisão em única ou última instância contrariar dispositivo constitucional, declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal ou julgar válida lei ou ato de governo local contestado perante a Constituição Federal, a reclamação é cabível.
Por seu turno, a Lei Federal nº 8.038, de 28 de maio de 1990, criou normas procedimentais para os processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, tratando especificamente da Reclamação Constitucional em seu Capítulo II, com as seguintes disposições:
Art. 13. Para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões, caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público.
Parágrafo único. A reclamação, dirigida ao Presidente do Tribunal, instruída com prova documental, será autuada e distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível.
Art. 14. Ao despachar a reclamação, o relator:
I - requisitará informações da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias;
II - ordenará, se necessário, para evitar dano irreparável, a suspensão do processo ou do ato impugnado.
Art. 15. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.
Art. 16. O Ministério Público, nas reclamações que não houver formulado, terá vista do processo, por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para informações.
Art. 17. Julgando procedente a reclamação, o Tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à preservação de sua competência.
Art. 18. O Presidente determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.
De outro giro, como já visto, o primeiro instrumento legal a receber os primeiros traços de regulamentação da Reclamação foi justamente o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, o qual trata atualmente do assunto no Título V, Capítulo I, artigos 156 a 162:
Art. 156. Caberá reclamação do Procurador-Geral da República, ou do interessado na causa, para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões.
Art. 157. O Relator requisitará informações da autoridade, a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de cinco dias.
Art. 158. O Relator poderá determinar a suspensão do curso do processo em que se tenha verificado o ato reclamado, ou a remessa dos respectivos autos ao Tribunal.
Art. 159. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.
Art. 160. Decorrido o prazo para informações, dar-se-á vista ao Procurador-Geral, quando a reclamação não tenha sido por ele formulada.
Art. 161. Julgando procedente a reclamação, o Plenário ou a Turma poderá:
I – avocar o conhecimento do processo em que se verifique usurpação de sua competência;
II – ordenar que lhe sejam remetidos, com urgência, os autos do recurso para ele interposto;
III – cassar decisão exorbitante de seu julgado, ou determinar medida adequada à observância de sua jurisdição.
Parágrafo único. O Relator poderá julgar a reclamação quando a matéria for objeto de jurisprudência consolidada do Tribunal.
Art. 162. O Presidente do Tribunal ou da Turma determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.
Verifica-se que a Lei nº 8.038/90 dispõe matéria do texto do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, devendo ambas as referências legais serem observadas conjuntamente para que não ocorra equívoco na aplicação dos procedimentos que envolvem o andamento processual da Reclamação Constitucional. Aliás, essa lei veio com a disposição de dirigir a Reclamação Constitucional como ação de competência originária do Supremo Tribunal Federal302.
Insta ressaltar, por oportuno, a grande importância conferida à decisão proferida na Reclamação Constitucional, valendo destacar a possibilidade do relator à que foi distribuída a Reclamação Constitucional determinar liminarmente a suspensão imediata do ato impugnado ou do curso do processo em que o ato impugnado fora proferido, até o julgamento definitivo da Reclamação e; no caso de serem julgados procedentes os pedidos da Reclamação Constitucional, o presidente do Supremo Tribunal Federal ou da
302 PACHECO, José da Silva. O Mandado de Segurança e outras Ações Constitucionais Típicas. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 627.
Turma julgadora determinará o “imediato” cumprimento da decisão, antes mesmo da lavratura do respectivo acórdão.
Tais disposições demonstram explicitamente a enorme importância das decisões a serem proferidas em sede de Reclamação Constitucional, principalmente em razão da matéria a ser decida, ou seja, usurpação de competência do Supremo Tribunal Federal e garantia da autoridade das suas decisões.
Assim, tanto o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, quanto a Lei nº 8.038/90 disponibilizaram instrumentos extremamente eficazes e céleres para suspender e cassar o ato reclamado, quando assistir razão ao reclamante.
De extrema importância para o presente estudo é a análise jurisprudencial que trouxe à baila uma série de novidades na relacionadas à Reclamação Constitucional afeitas a temas como, v.g, os limites objetivos e subjetivos do efeito vinculante (transcendência da parte dispositiva), a legitimidade ativa para a propositura da Reclamação Constitucional e a possibilidade de execução de decisões de caráter abstrato, dentre outras, sem se olvidar dos antigos entraves conceituais que envolvem a perspectiva correta da natureza do instituto e sua diferença em relação à correição parcial.
O assunto é bastante fértil atualmente em virtude da riqueza do controle de constitucionalidade brasileiro que navega pelas espécies difusa e abstrata, além do efeito erga omnes, o qual, na época da construção pretoriana da Reclamação, não existia.
Na realidade, considerando a tridimensional teoria proposta por Miguel Reale, do tríplice norte do fato-valor-norma, a Reclamação Constitucional, notadamente, saltou a fase de positivação normativa, quando se considera a influência do direito escrito, acabando por iluminar a idéia de que a figura da criatura veio antes da do criador. Isso culminou com uma adaptação normativa posterior ao instituto da Reclamação Constitucional, que já possuía robustez na realidade jurídica brasileira.