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Recomendações para Adaptação às Alterações Climáticas

CAPÍTULO 3 – ENQUADRAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS

3.4 O C ONCEITO DE A DAPTAÇÃO

3.4.2 Recomendações para Adaptação às Alterações Climáticas

A adaptação às AC ainda não tinha atraído muitas atenções, até à publicação do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC em 2007. De facto, a política climática durante mais de uma década foi focada na mitigação de GEE, direccionada principalmente para a questão energética, dando pouca atenção ao aumento de reservatórios de carbono (ecossistemas terrestre e oceanos) ou à adaptação às AC. No entanto, o Quarto Relatório de Avaliação determinou que são necessárias medidas de adaptação, pois mesmo conseguindo reduzir as emissões, alguns impactos das AC são inevitáveis. No capítulo 17 (Avaliação das Práticas de Adaptação, Opções, Limitações e Capacidade) do Grupo de Trabalho II é referido que deve ser dada prioridade ao aumento da capacidade de adaptação dos países e comunidades às mudanças climáticas em sinergia com os objectivos da sociedade e desenvolvimento sustentável.

Mas na realidade, no ano anterior esta questão já tinha sido levantada, e sabendo que os governos têm o papel de proporcionar a política de estímulo da adaptação, o Relatório Stern (2006) identifica quatro áreas-chave de actuação. A primeira consiste no fornecimento de informações climáticas de alta qualidade e ferramentas para gestão de riscos, incluindo melhores previsões regionais de tempestades e chuvas. A segunda área onde se pode actuar, refere-se à utilização do solo, planeamento de construções e infra- estruturas com regulamentos que permitam levar em conta as AC. Em terceiro, a contribuição por parte dos governos, de políticas de longo prazo para bens públicos sensíveis ao clima, incluindo protecção de recursos naturais, preparação para emergências

e protecção costeira. Por último é sugerido a criação de uma rede financeira de segurança para os mais vulneráveis aos impactos.

No ano de 2007, em 29 de Junho, foi publicado o Livro Verde, Adaptação às Alterações Climáticas na Europa – possibilidades de acção da UE, centrado na elaboração de estratégias de adaptação. Segundo este documento, as opções prioritárias de forma a integrar a questão da adaptação na legislação e em políticas devem assentar em quatro pilares.

O primeiro diz que deve ser considerada uma acção imediata de forma a integrar na legislação e nas políticas a questão da adaptação às AC. Os sectores abrangidos serão os mais vulneráveis tais como a agricultura, os transportes, a saúde, a água, a pesca, os ecossistemas, biodiversidade e ainda questões como a protecção civil e as avaliações do impacto. Da mesma forma a adaptação irá trazer novas oportunidades tecnológicas e de desenvolvimento para serviços, indústria e tecnologias energéticas. Além disso é também possível fazer uma integração nos programas de financiamento comunitários e respectivos projectos, em particular na área de infra-estruturas, a questão da adaptação às AC. Até 2009, a Comissão Europeia deseja verificar sistematicamente os efeitos das AC no conjunto dos diferentes domínios de acção e das disposições legislativas, tal como propor novas medidas concretas, de forma a colocar em prática rapidamente respostas estratégicas. Deve haver uma cooperação com o sector privado de forma a serem avaliadas as perspectivas de desenvolvimento das tecnologias ligadas à adaptação. O sector dos seguros e serviços financeiros devem procurar novas soluções, devido a um maior financiamento exigido no futuro devido a recuperação de danos causados.

Relativamente ao segundo pilar, é dado um papel importante à política externa e segurança, tal como as relações bilaterais ou multilaterais. Os países considerados em desenvolvimento são muito vulneráveis e consequentemente os países mais pobres serão ainda mais afectados. Logo os países desenvolvidos devem apoiar a adaptação desses países a estes efeitos, através de partilha de experiências, parcerias e de estratégias de planeamento, redução de pobreza e orçamentação. O diálogo e cooperação com países vizinhos devem ser aumentados, nomeadamente em questões políticas e deve ser desenvolvido a troca de bens e serviços sustentáveis em especial na área das tecnologias ambientais.

No terceiro pilar, é considerado que mediante uma abordagem integrada e global em diversos sectores, é possível reduzir as incertezas relativas a previsões, efeitos, custos e vantagens das medidas de adaptação. É recomendado o desenvolvimento de métodos globais, indicadores e modelos, melhoria de previsões locais e regionais, acesso a dados existentes, análise a efeitos das AC e meios de resistência destes e divulgação de sistemas de informação.

O quarto e último pilar, considera a necessidade de estabelecer um diálogo com as partes interessadas relativamente à necessidade de adaptação na Europa. A possibilidade de criação de um grupo consultivo europeu, que dará o seu parecer sobre os trabalhos de vários grupos sob a protecção da Comissão, também se encontra em discussão.

Segundo o relatório final, “Construindo Estratégias Nacionais de Adaptação” do Grupo de Trabalho de Impactos e Adaptação do 2º PEAC, existem duas abordagens que a EU pode tomar neste caso. A obrigatoriedade dos estados-membros em desenvolver estratégias nacionais de adaptação com diferentes graus de orientação ou apoiar estes na tomada de diversas abordagens para a adaptação (pode ou não envolver um instrumento especifico legislativo de adaptação).

Nas zonas costeiras portuguesas, segundo o projecto SIAM II (Santos & Miranda, 2006), considera-se necessário avançar com as seguintes estratégias de adaptação:

1. Alargar a todo o litoral nacional (continental e insular), os trabalhos de previsão da evolução futura do fenómeno da sobrelevação meteorológica no panorama das AC globais, aumentando os locais de recolha de dados e mantendo uma rede de observação maregráfica mais densa, mais eficiente e permanente;

2. Realizar os trabalhos necessários para obter bases topográficas de alta resolução, com incidência específica na faixa altimétrica compreendida entre o Zero Hidrográfico e a curva de nível dos 10m acima do NMM, informação que actualmente não existe;

3. Combinar os resultados do ponto 1 com informação cartográfica de forma a determinar os limites de inundação plausíveis associados a diferentes graus de probabilidade e possibilitar a detecção e hierarquização de situações de vulnerabilidade ou risco de inundação que permitam fundamentar uma intervenção caso a caso;

4. Estudar e implementar um sistema de alerta e prevenção idêntico ao que actualmente funciona sob tutela do Serviço Nacional de Protecção Civil no que respeita a temporais marítimos, através do cruzamento da previsão meteorológica com a informação já existente, sobre níveis de maré. Partindo da informação maregráfica, será tarefa relativamente simples escalonar avisos em função da sobrelevação prevista pelos serviços de meteorologia na sua actividade de rotina; 5. Investir na informação e formação das populações que residam ou frequentem

áreas de risco.

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