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7. RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES

7.2 RECOMENDAÇÕES

Na busca por uma assistência mais humanizada, procurou-se elaborar recomendações de projeto que pudessem proporcionar melhorias nos ambientes destinados à reabilitação de crianças e adolescentes portadores de transtornos mentais. A opinião dos usuários da instituição estudada tornou-se uma ferramenta importante para a identificação dos aspectos positivos e negativos presentes no espaço físico do CAPSi. Além disso, a elaboração das recomendações de projeto foi baseada nas indicações do que seria um espaço ideal para a prática de cada uma das atividades realizadas pelos usuários na instituição. É importante ressaltar que a identificação de todos estes aspectos só foi possível através da aplicação da metodologia adequada.

As recomendações descritas a seguir são uma síntese dos aspectos arquitetônicos que possivelmente podem proporcionar o bem-estar físico e psicológico dos usuários do CAPSi, e conseqüentemente melhorar desempenho das atividades terapêuticas e um período mais curto de tratamento. Esta síntese foi desenvolvida a partir da reflexão e interligação entre os resultados obtidos no Estudo de Caso, principalmente através da utilização dos métodos Análise Espacial e Jogo de Imagens e Palavras e dos estudos teóricos inicialmente desenvolvidos.

Espera-se que através da formulação destas recomendações se possa então contribuir para a construção de estratégias de projeto mais adequadas a instituições de assistência psicossocial infanto-juvenil.

a) MOBILIÁRIO: ESCALA APROPRIADA, CONFORTO E DISTRIBUIÇÃO NO LAYOUT

Ao longo da pesquisa, o mobiliário foi colocado como fator de alto potencial nas perspectivas dos usuários. O CAPSi assiste não só crianças e adolescentes, mas também seus pais ou responsáveis. Logo, pessoas com diferentes tipos de habilidades freqüentam o Centro, e em determinadas situações, os mesmos ambientes. Por isso, é de fundamental importância que o mobiliário atenda às necessidades físicas de cada um dos grupos mencionados. A escala apropriada e o conforto dos móveis proporcionam aos usuários

maior autonomia e melhor desempenho das atividades terapêuticas; já a sua distribuição no Layout pode promover um dos maiores objetivos do CAPSi, que é o convívio social entre os usuários.

b) AS CORES NOS AMBIENTES

Muitos pacientes apresentam, especialmente no início, resistência ao tratamento oferecido pelo CAPSi. Os motivos dessa resistência são os mais variados, medo do envolvimento com outras pessoas, não reconhecimento da doença, falta de estímulo, entre outros. A falta de estímulo foi relacionada também à monotonia cromática da edificação. A pesquisa de campo apontou uma interessante proposta, vinda dos próprios usuários, de tornar alguns ambientes mais atrativos através da utilização das cores em paredes ou no mobiliário. Porém, em função dos diversos tipos de psicopatologias apresentados pelos pacientes, é importante que, no processo de escolha das cores, atente-se para a função específica de cada ambiente. Pois, há ambientes destinados ao relaxamento e outros ao estímulo dos pacientes.

c) AMBIENTES PARA ATIVIDADES EXTERNAS

Os Jogos de Imagens e Palavras mostraram o entusiasmo dos participantes de todas as categorias em relação à implantação da prática efetiva de atividades externas. São raras as atividades, destinadas aos pacientes, que são realizadas fora do CAPSi, devido à falta de espaços adequados; a maioria é desenvolvida na Sala de Atividades ou no Pátio Interno. O Pátio Interno porém, não apresenta condições apropriadas para a prática de esportes ou dança, que foram as atividades mais requisitadas pelos pacientes. O ideal seria que o CAPSi apresentasse em seu programa de necessidades ao menos uma quadra poliesportiva e um playground para favorecer a expressão corporal e a integração dos pacientes.

d) A CASA COMO REFERÊNCIA

Observou-se a forte associação dos ambientes com as referências da casa. Entre as imagens escolhidas para representar as expectativas dos usuários sobre os ambientes do CAPSi, as relacionadas à casa prevaleceram sobre as relacionadas às instituições hospitalares. Isto significa que a ambiência do CAPSi idealizada pelos usuários, distancia- se ao máximo da ambiência de clínicas e hospitais. A principal justificativa é que a casa está associada a um lugar de acolhimento, de abrigo e proteção; ou seja, um dos objetivos do CAPSi é que o paciente, em especial, não se sinta intimidado. Sendo assim, os ambientes, principalmente os de primeiro contato dos pacientes (Recepção, Triagem/Acolhimento), devem proporcionar a eles uma sensação de acolhimento e de alívio do sofrimento mental.

A edificação térrea mostrou-se mais segura para o atendimento de portadores de transtornos mentais, por não apresentar escadas. Além disso, é também mais econômica. Na maioria dos casos, as imagens de escadas foram selecionadas para compor os Painéis Negativos nos Jogos de Imagens e Palavras. Considerando-se que os CAPSi são instituições públicas e que geralmente têm seus serviços implantados em residências alugadas, reforça-se a importância de se ter uma preocupação com a segurança e a acessibilidade dos usuários.

f) FLEXIBILIDADE ESPACIAL

O planejamento dos ambientes deve prever a flexibilidade espacial, pois nestes ambientes são desenvolvidos diversos tipos de atividades terapêuticas, coletivas ou individuais. Portanto, é necessário que o espaço físico esteja preparado para atender cada uma das atividades propostas pelo CAPSi. É interessante também prever dimensões que facilitem a disposição dos grupos em círculo, pois esta disposição é muito utilizada nas atividades que visam a integração dos participantes entre si. Ou seja, salas muito estreitas não são recomendadas, pois dificultam esta disposição.

g) VALORIZAÇÃO DO ENTORNO

A valorização do entorno abrange não só o tratamento paisagístico, mas também a organização e delimitação do espaço externo. A definição dos acessos para pedestres e veículos, a demarcação das vagas de estacionamento e o tratamento paisagístico, foram apontados como as principais melhorias para o espaço externo. Estas melhorias, além de facilitar a acessibilidade dos pedestres, em especial, ampliariam também a variedade de atividades terapêuticas ao ar livre, como por exemplo o cultivo de jardins e hortaliças. O contato com o espaço externo, desde que bem planejado, é indicado como um fator importante na promoção do sentimento de bem-estar dos usuários do CAPSi.

h) RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS

Esta recomendação está diretamente ligada à segurança dos usuários. É de fundamental importância que os materiais especificados para todos os ambientes sejam resistentes a impactos, pois pedaços de materiais cortantes, por exemplo, podem se transformar em armas de grande potencial nas mãos de pacientes em surto. Devem ser evitados pisos muito lisos/escorregadios e materiais de fácil combustão, como piso de madeira, por exemplo. Além da resistência, a escolha dos materiais de construção e acabamento, deve também considerar a manutenção, a reposição e a limpeza como importantes fatores de definição; uma vez que os CAPS, por serem instituições públicas, geralmente enfrentam problemas financeiros.