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CAPÍTULO III SISTEMAS DE RECOMPENSAS

3.3. Componentes do Sistema de Recompensas

3.3.2. Recompensas Intrínsecas

Os últimos dois níveis da pirâmide de Maslow estão relacionados com as recompensas intrínsecas, que para Lawler (1989) e Câmara (2016) consistem em:

1. Mecanismos de reconhecimento. 2. Desenho funcional.

3. Autonomia e responsabilidade.

4. Oportunidade de desenvolvimento pessoal. 5. Envolvimento dos empregados.

6. Clima organizacional e estilo de gestão.

Os mecanismos de reconhecimento, segundo Câmara (2016), têm como objetivo distinguir e premiar comportamentos excecionais que contribuem para os objetivos da organização. Estes devem ser abrangentes a todos os funcionários da empresa (ajustando o cargo ao reconhecimento), prestigiados e credibilizados para que o colaborador tenha a perceção que recebeu algo muito especial pelo esforço. Devem também ter regras claras e objetivas e critérios de avaliação de acordo com a cultura e objetivos da empresa,

41 embora sejam simbólicos (não sendo obrigatoriamente monetários) têm de apresentar uma grande viabilidade dentro da organização, nunca os banalizando.

Estes mecanismos são importantes para a motivação da massa laboral, todavia o feedback positivo diário por parte dos gestores de linha é de extrema importância, podendo ser mais motivacional que um prémio anual.

O desenho funcional tradicional apresentava graficamente as funções em caixas fechadas, o que transmitia que cada função tinha atividades definidas e limitadas não permitindo ao seu titular realizar outras tarefas, ou seja, o colaborador ajustava-se ao cargo e não o contrário, sendo que os cargos tornavam-se monótonos, repetitivos e desencorajadores de criatividade. No entanto, para Alfie Kohn (1993) há três fatores importantes relacionados com esta temática:

1. Liberdade de escolha do colaborador, é importante que o mesmo participe na decisão das tarefas diárias.

2. Colaboração, equipas com clima de solidariedade e partilha de ideias. 3. Conteúdo funcional, funções adequadas para cada trabalhador.

Com estes fatores em conta, o desenho funcional evoluiu no sentido de corresponder às ambições de cada colaborador, tendo as organizações de apostar na satisfação destas aspirações para atrair e reter os colaboradores alvo. Assim, os cargos passaram a apresentar atividades principais, as quais o colaborador é exclusivamente responsável e, atividades variáveis, pertencentes, não só à função do colaborador, mas também à de outras funções, estimulando a polivalência e trabalho de equipa.

Para Câmara (2016), autonomia é a liberdade que cada colaborador tem para executar cada uma das suas tarefas e o impacto que têm nos resultados da empresa e a responsabilidade é a obrigatoriedade de o colaborador ser comprometido pelos resultados das suas ações.

A autonomia e a responsabilidade estão quase sempre interligadas, quanto maior a autonomia maior a responsabilidade, e quanto menor a autonomia menor a responsabilidade, quanto maiores estes dois conceitos mais permitem ao colaborador se desenvolver profissionalmente e pessoalmente.

Em relação às oportunidades de desenvolvimento profissional é necessário ter em conta que os indivíduos apresentam uma propensão natural para aprender novos conhecimentos e desenvolver os já adquiridos. Por esta razão as entidades têm de apostar na criação de funções que incentivem a descoberta e que proporcionem aos colaboradores uma maior autonomia para aprendizagem e através de formações profissionais que desenvolvem e proporcionam novos conhecimentos.

No entanto, é preciso ter em atenção que os colaboradores ao adquirirem novos conhecimentos e ao desenvolverem os já adquiridos estão à espera que isso também se reflita nas suas funções, com as novas competências querem novos desafios.

No que concerne ao envolvimento dos empregados na definição dos objetivos estratégicos da empresa há que perceber que embora deva ser a Gestão de Topo a criar a estratégia da mesma na maioria das vezes esta está focada em questões diárias do funcionamento da organização, funções que deveriam ser realizadas pelos gestores. No entanto há que ter dois aspetos em atenção, em primeiro lugar quando a Gestão de Topo cria uma estratégia sem consultar os colaboradores da empresa poderá resultar numa estratégia irreal pois não tem uma percetibilidade do funcionamento da entidade nos níveis operacionais mais inferiores, em segundo lugar, e também resultante da criação de uma estratégia sem consultar os colaboradores, estes poderão não perceber toda a estratégia e não estarem dispostos a executá-la, continuando a executar as funções à sua maneira.

43 Para solucionar estes dois problemas a Gestão de Topo deverá criar um sistema de feedbacks que permita a sua aproximação com os restantes trabalhadores, de forma a analisar as suas opiniões e alterar os objetivos estratégicos até que sejam executáveis de acordo com a realidade empresarial, diminuindo a resistência dos funcionários à mudança, criando um maior espírito de equipa e de pertença à entidade e uma maior perceção dos objetivos da mesma.

No entanto, nas organizações tradicionais, estruturas baseadas no modelo Taylorista, existem fatores que influenciam a sua não implementação, tais como a estrutura organizacional (não existe ligação entre a Gestão de Topo e os colaboradores, sendo que os primeiros mandam e os segundo apenas obedecem), o medo da fuga de informação por parte dos colaboradores e a diminuição da disciplina organizacional (os colaboradores por terem palavra na criação dos objetivos estratégicos criam a ilusão de que podem tomar as suas próprias decisões).

Assim, as entidades devem adotar uma estrutura da Era do Conhecimento e basear toda a sua estratégia na confiança, no trabalho de equipa e na partilha de informações, só desta forma é possível envolver os empregados na definição da estratégia da mesma.

Por fim temos o Clima Organizacional e o Estilo de Gestão da Organização, que é visto como elemento de recompensa, pela forma que caracteriza a empresa e os seus relacionamentos internos (massa laboral) e externos (clientes, fornecedores e outras entidades). Segundo Ghoshal e Bartlett (1997), os três pilares de um clima organizacional sustentável são:

1. Incentivar os colaboradores individualmente através da criação de um sentido de pertença.

2. Autodisciplinar os colaboradores para que as suas iniciativas vão de encontro à estratégia global da empresa.

3. Uma cultura de apoio e respeitos aos colaboradores, tolerante ao erro e possível de ser questionada pelos mesmos.

A empresa deve então criar um clima organizacional que estimule a motivação e o desempenho dos trabalhadores através de um sistema que aumente o sentido de pertença e de compromisso dos mesmos para com a empresa.

Importa também falar da importância da tolerância ao erro nas organizações, o qual deve ser visto pela entidade como uma forma de aprendizagem (se for admissível), mesmo que por vezes dispendioso. Os erros acontecem quando se toma riscos, que certas ocasiões são essenciais ao desenvolvimento do negócio e da organização.

Os estilos de gestão variam entre igualitário e hierarquizado, no primeiro não existe qualquer distância entre os gestores de topo e os colaboradores, podendo mesmo existir rotatividade na liderança, ao contrário do segundo, onde a diferenciação de estatutos é extrema. A partir destes advêm quatro tipos diferentes de estilos de gestão, mediante a orientação da organização para os resultados, em que as tarefas têm prioridade sobre o bem-estar dos colaboradores, ou para as pessoas, onde os resultados são menosprezados em função dos indivíduos. A influência destas orientações, pessoas e resultados, originam, respetivamente, o estilo paternalista e autoritário (focados na hierarquia) e o estilo igualitário e participativo (focados na igualdade), Figura 7.

45 Figura 7. Estilos de Gestão

Fonte: Câmara (2016)

Empresas da Era Industrial, com elevados níveis de hierarquização e altamente focadas nos resultados, eram caracterizadas pelo estilo de gestão autoritário em que os trabalhadores eram vistos como meios de produção descartáveis de forma a atingir lucros. Já o paternalista apresenta uma visão mais humana, apesar dos elevados níveis de hierarquização, característico das empresas do nosso tecido empresarial, em que o administrador funciona não só como tomador de decisões, mas também como figura benevolente ao qual é possível socorrer-se em casos de dificuldades pessoais. Este é o estilo de gestão mais utilizado atualmente de acordo com o modelo organizacional das organizações, sendo um fator de extrema importância no papel motivacional.

No caso das empresas da Era do Conhecimento, o estilo de gestão participativo passou a ser o novo padrão, pelo que se caracteriza por uma gestão focada nos objetivos e desempenho envolvendo os colaboradores na criação dos objetivos estratégicos da organização, obtendo deles o contributo no alcance destes objetivos.

O estilo igualitário para ser eficiente pressupõe uma elevada autodisciplina por parte dos membros que constituem a empresa, para evitar a dissipação do rumo tomado e da estratégia comum da organização. Este estilo adequa-se a certos tipos de entidades

constituídas por membros com características muito semelhantes em termos de habilitações e capacidades, em que a igualdade é inevitável, como é o caso de sociedades de advogados, contabilistas, laboratórios de pesquisa, entre outros.

Em suma, a empresa deverá analisar a sua cultura organizacional e objetivos estratégicos e definir qual o melhor estilo de gestão a adotar, visto ser um importante fator de motivação para os trabalhadores.

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