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3.3 A NÁLISE C ONSTRUÇÃO DE C ONHECIMENTOS

3.3.2 Reconstrução da Prática do Outro

O segundo momento de reconstrução da prática caracteriza-se pelas especulações dos pesquisados em relação à prática do outro, dizendo o que eles acham que o outro poderia ou não ter feito para que a aula tivesse obtido melhores resultados e gerando controvérsias profissionais sobre os estilos de das ações empregadas por cada um dos participantes (FAITA, 1998). Esse segundo tipo de

reconstrução aparece em pelo menos cinco momentos distintos na ACC que comento a seguir.

Roberto levanta pressupostos sobre técnicas que poderiam ter sido mais eficientes e feito com que a atividade desenvolvida por Karina demorasse menos e ainda sobre técnicas que ele empregaria em sua própria sala de aula.

ROBERTO: Eu achei legal o negócio de colocar os cartazes para relembrar porque era uma forma deles também utilizarem depois, durante a aula. Só que eu acho que eu já sairia com alguns nomes, Brasil, Argentina que era o que eles já conheciam, não ficava esperando que eles tomassem a iniciativa de soltarem alguma coisa, pra ver se estimulava. Você viu que a hora que um ou outro começou a falar aí todo mundo começou falar ao mesmo tempo. Então eu achei legal, interessante. Eu também faria isso de colocar cartazes, como a gente faz às vezes de deixar um material visual para que eles utilizassem, mas eu daria a largada...

Excerto nº 68 – ACC Roberto/Karina: sugestão fase preparatória

Karina, por sua vez, levanta uma controvérsia quando opina sobre o fato de o professor usar tradução e, aparentemente, não cobrar que os alunos se esforcem para falar mais inglês. Ela alerta para o fato de que os alunos só irão se dar conta da necessidade de falar mais inglês quando já estiverem em um nível mais intermediário e aí irão cobrar do próprio professor, ou da escola o porquê de não terem tido uma postura diferente desde o início.

KARINA: E se você combinar com eles, conversar com eles sobre isso. Porque eles mesmos vão cobrar isso, principalmente quando eles estiverem no intermediário, não é? Que é quando eles são mais cobrados em relação ao inglês. Vão dizer “ Por que não foi estabelecido isso então desde o primeiro livro?” Aí vão achar ruim. Porém se você conversar com eles, explicar o processo de maneira que eles entendam.

Excerto nº 69 – ACC Roberto/Karina: sugestão mais inglês em sala

Um momento bastante interessante de trocas de informações acontece quando ambos expõem suas dificuldades em lidar com os enunciados das atividades, em dar instruções em sala de aula. Ambos admitem ter dificuldades para desenvolverem a autonomia dos alunos em relação aos enunciados. Roberto expõe que os alunos iniciantes querem a tradução palavra por palavra, Karina levanta questionamentos em relação à prática de Roberto levando-o a refletir sobre o porquê de ele ler o enunciado do livro em voz alta para os alunos, e cada um revela suas formas pessoais de lidar com a questão: Roberto tenta explicar de outra forma ou

pede para que um aluno leia (como uma espécie de punição por estar conversando). Já Karina pede para um aluno ler e os outros devem ajudá-lo a interpretar para a turma toda, cooperando uns com os outros.

ROBERTO: Você sabe que eu já me peguei pensando: Ás vezes tem um enunciado e ás vezes eu não lia e explicava o enunciado de uma forma que eles entendessem, principalmente na minha turma de CEP1, eles são totalmente estruturalistas, querem entender letra por letra, palavra por palavra e se eu não falo elas ficam bravas. Então, eu estou negociando. Eu falo “ Olha! O que vocês já conhecem?” Aí elas falam “ Eu quero entender palavra por palavra.” Aí eu pergunto, quais palavras você não conhece e quais você conhece? A gente vê o que você já conhece e o resto eu te conto.” E eu tenho percebido que já melhorou, mas, é, eu não sei, assim, acho que o objetivo tem que ser alcançado, eles têm que entender o que deve ser feito, seja lendo o enunciado, seja você explicando.

KARINA: É a questão da autonomia do aluno aí, será que meu aluno tem autonomia pra entender os enunciados, as instruções, tem que partir dele primeiro, será que eu tenho que cercar tanto, me certificar tanto...

ROBERTO: É que tem muitas vezes que parece que você explica, explica, explica e parece que eles entenderam daí você vai ver no meio do exercício ninguém entendeu nada. KARINA: Não é se certificar tanto, mas o suficiente para que ele faça o que foi proposto. Eles têm que entender e você têm que certificar isso.

Cena mostrada: Professor lê as instruções do livro para uma atividade em que os alunos tinham que ouvir o CD e repetir as expressões em inglês.

141-KARINA: Você leu o que estava escrito no livro? Por que professor lê? (...) ☺

ROBERTO: É porque é assim, esse pessoal, eles conversam muito, se deixar eles derrubam a escola, ás vezes você está lendo ou tentando explicar e eles não estão prestando atenção, então, ás vezes, eu expliquei, expliquei e vi que um não está prestando atenção, então eu falo: “Fulano lê o enunciado por favor!” Aí para, todo mundo para para prestar atenção naquele que está lendo.

Eu peço para que eles leiam e na hora que um está lendo o outro se toca, porque se ele continuar conversando ele sabe que eu vou pedir para ele ler também.

KARINA: Olha, leva mais tempo, mas se você apontar para o enunciado e disser “Olha! Tentem entender.” Principalmente com o TeenMate, quando eu falo “Agora é você, tenta entender.” Aí a coisa começa a fluir. Mas enquanto eu estou lá lendo, impossível, não funciona.

Excerto nº 70 – ACC Roberto/Karina: autonomia dos alunos quanto aos enunciados

O excerto nº 71 na seqüência, traz um momento no qual Roberto novamente levanta a questão da segunda atividade aplicada por ele para revisar os conteúdos “on-line”. Karina sugere que se ele tivesse dado um desenho para cada aluno (o professor mostrava o desenho para a turma e deixava que quem soubesse

fizesse a frase) e pedido que cada um fizesse uma frase com o tópico sugerido ele teria conseguido a participação uniforme de todos.

ROBERTO: Agora assistindo eu percebo que essa atividade poderia ter sido deixada de fora. Porque algo que eu havia planejado durar no máximo 10 minutos acabou levando 20 minutos.

KARINA: Comparando as duas atividades desenvolvidas qual das duas você faria novamente.?

ROBERTO: Eu acho que a segunda seria mais interessante, já que, seria uma criação deles. Só que o que poderia acontecer às vezes um só falaria e os outros não. Na realidade a minha intenção era ter feito a segunda, só que daí eu fui copiar da internet para passar para o word e eu não consegui, por isso eu fiz a primeira. Eu tive que desenhar porque eu não consegui tirar a figura da internet.

KARINA: De repente, você poderia ter dado um desenho para cada um e cada um teria feito a sua frase, assim todos fariam.

Excerto nº 71 – ACC Roberto/Karina

Os momentos de fala caracterizados como reconstrução, tanto da própria prática quanto da prática do outro, foram basicamente calcados em questões relativas ao planejamento. Os pesquisados especularam sobre formas supostamente mais eficazes de desempenharem uma mesma tarefa tendo como base a prescrição oficial, ou seja, se tivessem planejado de acordo com o prescrito teriam conseguidos resultados mais satisfatórios.

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