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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 Reconvocação dos RN’s triados: motivos e associação com o perfil dos RN’s

Em relação ao percentual de reconvocações para o teste do pezinho no ano de 2017, 11,71% (121) dos 1.033 RN’s foram reconvocados para a realização de um novo teste (Figura 7). Dos 121 RN’s reconvocados, apenas 48 voltaram para a realização de nova coleta.

Figura 7 – Percentual de reconvocação dos RN’s triados no teste do pezinho no município de Cáceres, MT, no ano de 2017.

É possível perceber que o número de reconvocações para o teste do pezinho do município de Cáceres, Mato Grosso, é inferior à de outras regiões. À exemplo disso, pode- se citar o município de São Francisco do Conde, Estado da Bahia, onde a pesquisa realizada por Ferreira (et al., 2017), revela que no ano de 2011 foram reconvocados 19%, no ano seguinte foi cerca de 20,5% e no ano de 2014 totalizava em 19,7% de recém- nascidos reconvocados. Diante disso, quando comparamos Cáceres com o município de São Francisco do Conde temos uma diferença de aproximadamente 8% do número de reconvocações. 11,71% 88,28% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00% Pe rc e n tu al d e RN 's tr iad o s NÃO SIM

A partir da análise de regressão logística binomial, constatou-se que as variáveis relativas ao perfil dos RN’s capazes de influenciar no resultado do exame e desencadear na reconvocação, são a idade gestacional (p=0,025), presença de prematuridade

(p=0,000) e presença de transfusão sanguínea (p=0,009) (Tabela 1). Este modelo de

análise foi o mais ajustado, sendo que o mesmo é capaz de explicar cerca de 46,2% das variações registradas do número de reconvocações (Nagelkerke R² = 0,462).

Diante do resultado da análise pode-se inferir que a tanto a idade gestacional (Coeficiente β=-,217; Exp(β)=0,805) quanto a prematuridade (Coeficiente β=-,3,132;

Exp(β)=0,044) são inversamente proporcionais e atuam como fator de proteção à

reconvocação, sendo assim, quanto menor a idade gestacional, maior será o número de reconvocados. Já a presença de transfusão sanguínea (Coeficiente β=1,042;

Exp(β)=2,834) é uma variável diretamente proporcional a reconvocação e atua como fator

de risco, uma vez que, um RN’s transfuso tem 2,8 vezes mais probabilidade de ser reconvocado para novo teste (Tabela 1).

Tabela 1 - Análise de regressão binomial entre as variáveis do perfil dos RN's e a presença ou ausência de reconvocações, Cáceres, MT, 2017.

Variáveis Coeficiente β Sig. (p < 0,05) Exp (β) 95% I.C para

Exp (β) Idade (dias) - 0,723 - - Peso (g) - 0,643 - - Cor/Raça Amarelo - 0,739 - - Branco - 0,862 - - Negro - 0,378 - - Pardo - 0,508 - - Sexo - 0,847 - - Gemelar - 0,684 - - Idade Gestacional -,217 0,025* 0,805 IC (0,666 - 0,973) Prematuro (Sim) -3,132 0,000* 0,044 IC (0,017 - 0,110)

Transfusão sang. (Sim) 1,042 0,009* 2,834 IC (1,294 - 6,207)

Constante 7,264 0,030* 1427,849

*(g)= gramas; sang.= sanguínea; Sig.= significância; IC= intervalo de confiança

Verossimilhança de log -2 = 442,946; R quadrado Nagelkerke = ,462; Wald = 442,545

De acordo com Silva e Lacerda (2003), há casos confirmados positivos realizados no exame da alta precoce (menos que 48h), nos quais a mãe necessita levar o RN para refazer o teste, no entanto, a mesma não retornou à Unidade de Saúde para a repetição. Segundo as autoras, isso pode implicar no risco de já haver instalado a sequela do retardo mental ou outra complicação causada por alguma patologia triada pelo teste do pezinho nos primeiros dias de vida, conforme já abordado.

Para que haja uma prevenção efetiva e como podem (embora não devam) ocorrer altas precoces, ou seja, antes do bebê completar as 48 horas de vida, está determinado que as coletas deverão ocorrer sempre na alta hospitalar, independentemente do tempo de vida do recém-nascido e, a mãe deverá levar seu filho à Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, para repetição do exame, uma semana após a primeira coleta. Esta determinação, às vezes, gera desconforto às famílias e até aos profissionais da saúde, mas é importante que se esclareça os motivos da repetição (SILVA; LACERDA, 2003).

É importante que o profissional de saúde informe aos pais que caso o teste dê positivo deve-se fazer o exame diagnóstico, pois a TN não é confirmatória, assim pode haver falsos-positivos e falsos-negativos (BRASIL, 2004 apud RODRIGUES et al. 2016).

No estudo de Garcia et al. (2007), resultados importantes foram obtidos em relação ao conhecimento dos pais ou responsáveis pelo RN sobre o que aconteceria se o resultado do teste indicasse alguma alteração, e somente 26% dos participantes souberam dizer que, caso o resultado do teste indicasse a presença de alguma doença, o RN teria um acompanhamento especializado ou receberia tratamento preventivo.

Condições específicas tais como idade inadequada para coleta, prematuridade, dieta, transfusões e nutrição parenteral total podem influenciar os resultados do exame (LEÃO; AGUIAR, 2008). Sobre os motivos das reconvocações dos RN’s triados em Cáceres, 2017, destaca-se a prematuridade como principal motivo em 62,8% de RN’s (76 de 121) (Tabela 3). Isto segue a recomendação da literatura vista anteriormente de que quando prematuro, o RN deve ser submetido à uma nova coleta e, portanto, à um novo teste para confirmação do resultado.

Foram ainda identificados RN’s reconvocados para a realização de um novo teste por apresentarem detecção de heterozigose (6), NIRTH alterado (4), alteração de TSH (3), anemia falciforme (1) e doença falciforme (1) (Tabela 2). Ainda houveram RN’s reconvocados, cujo motivo não constava no registro (6) (Tabela 2).

Tabela 2 – Motivos das reconvocações dos RN’s submetidos a triagem neonatal no município de Cáceres, MT, no ano de 2017.

Motivos das reconvocações Frequência Absoluta

(N)

Frequência Relativa (%)

Prematuro 76 62,80

Baixo peso 7 5,78

Prematuro + Baixo peso 6 4,95

Heterozigose 6 4,95

Sem motivos 6 4,95

NIRTH Alterado 4 3,30

TSH Alterado 3 2,47

FA e terzo talessêmico alfa 2 1,65

FA indeterminado 2 1,65

NSTH Alterado 2 1,65

Anemia falciforme 1 0,82

Doença falciforme 1 0,82

Transfuso + NIRTH Alterado 1 0,82

Total 121 100

* FA – Criança não tem nenhum traço de doença; FA indeterminado – Criança heterozigota; TSH Alterado – Hormônio Estimulante da Tireóide dos pais; NTSH - Hormônio Estimulante da Tireóide Neonatal; NIRT – Tripsina Imunoreativa Neonatal.

Segundo Mendonça (et al., 2009) a prevalência da homozigose para a HbS, clinicamente chamada de anemia falciforme, encontrada em nascidos vivos na região de Marília, é de 0,017%, o que está abaixo dos dados existentes na literatura, que é de 0,1% a 0,3%. o diagnóstico precoce da anemia falciforme se realiza por meio da triagem neonatal e permite o acompanhamento antes mesmo de manifestar ou apresentar sintomas da patologia, possibilitando a prevenção de possíveis complicações e sequelas futuras. A anemia falciforme é prevalente na cor/raça negra. Sua incidência na população afrodescendente varia de 1:400 a 1:1.000. No Brasil, estima-se que, em determinadas regiões, a anemia falciforme tenha incidência de 3 casos para cada 1.000 nascidos vivos, e cerca de 7 a 10% desses casos são de heterozigotos (REIS; PARTELLI, 2014).

Segundo Damasceno (2010), a metodologia usada para a triagem neonatal da fibrose cística se baseia na dosagem do tripsinogênio imunorreativo (NIRT). Considerando que os valores da IRT diminuem após a primeira semana de vida, o tempo da segunda coleta tem que ser levado em conta para não prejudicar na interpretação do resultado. Optou-se para adotar como valores de referência normais, os níveis abaixo de 70ng/ml em sangue total até 30 dias de vida, pois após este período o IRT tende a baixar a concentração e normalizar a referência no sangue, portanto, não deve mais ser utilizado como exame para triagem, mesmo que a criança seja suspeita de ser portadora de fibrose cística.

O autor ressalta ainda que, se o resultado da dosagem de imunorreativo for positivo, deverá ser realizada nova uma dosagem em papel filtro após duas semanas e até, no máximo, o trigésimo dia. Porém, se ainda se mostrar elevada, um teste de eletrólitos no suor/ou análise de DNA deve ser realizado para tentativa de confirmação diagnóstica. Cuidados essenciais para que não ocorra erro no acompanhamento e orientação adequada. A estimativa de fibrose cística no Brasil, é de 1 em cada 7.358 nascidos vivos, o que significa, aproximadamente, que em uma a cada 30 pessoas é portadora recessiva.

Quando os pais são recessivos, a chance de seu filho ser portador da patologia é cerca de 25% (REIS; PARTELLI, 2014).

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