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CAPITULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 Recorte Geográfico

O recorte geográfico do estudo é a bacia do rio Mamanguape, uma das bacias mais importantes do Estado da Paraíba, com extensão de 3.522,69 km² e abrangendo 30 municípios. Situa-se no extremo leste da Paraíba, sob as latitudes 6°, 36’ 49” e 7° 11’ 08” sul e entre as longitudes 34° 54’ 42” e 35° 57’ 51” a oeste de Greewich, fazendo limite com as bacias dos Rios Curimataú, Camaratuba, Paraíba e Miriri. Seu principal rio é o Mamanguape, de regime intermitente.

A bacia é dividida em função do Alto Curso, Médio Curso e Baixo Curso do rio principal. Essa divisão, de acordo com Barbosa (2006), se deve não apenas às características de relevo e clima, mas também deriva de aspectos socioeconômicos, como tipos de ocupação e atividades desenvolvidas.

Segundo a classificação de Koeppen o clima da bacia é caracterizado como do tipo Aw’i, úmido com chuvas de outono e inverno. A evaporação média varia entre 1.500 a 2.500 mm, com valores mais altos entre outubro e janeiro. As precipitações variam entre 800 e 1.200mm, aumentando do interior para o litoral. A umidade do ar varia de 80% a 85%. Quanto à vegetação, há predominância da Floresta Atlântica e ecossistemas de restingas, cerrados e manguezais, com relevos que não ultrapassam os 200 metros de altitude.

65 Na região do Alto Curso (adotada como área de estudo desta pesquisa) é onde se localiza a nascente do rio Mamanguape, situada na divisa de Pocinhos, Montadas e Areial, conhecida como “Lagoa Salgada”. O Alto Curso envolve 11 municípios: Alagoa Grande, Alagoa Nova, Areial, Areia, Esperança, Matinhas, Montadas, São Sebastião de Lagoa de Roça, Lagoa Seca, Serra Redonda e Pocinhos.

Devido ao extremo uso dos recursos naturais da região, com métodos de exploração não sustentáveis, é desenvolvido, há dez anos, o Projeto Rio Mamanguape, que busca recuperar as nascentes e o leito do rio, além de desenvolver trabalhos com as populações da região para preservação e manutenção de atividades sustentáveis. Avaliar esse quadro se coloca, então, de suma importância, pois é preciso mensurar a interferência de ações que promovem a sustentabilidade, em uma região que tem suas atividades econômicas ligadas diretamente aos recursos naturais e onde as degradações desses recursos levam, necessariamente, a problemas graves de ordem econômica e social.

A Figura 6 abaixo mostra o mapa da bacia do Rio Mamanguape e em destaque o alto curso com os municípios abrangidos.

Fonte: Agência Nacional das águas, 2001

Conhecer os aspectos históricos de ocupação e das atividades desenvolvidas na região contribuirá com o desenvolvimento desse estudo, pois, de acordo com Santos (2002), o

66 espaço é criado e modificado através da técnica, que é a principal forma de relação homem versus natureza, pelos instrumentos e meios sociais. Pelo desenvolvimento da técnica e com o avanço tecnológico, o homem transformou a natureza, moldando-a as suas necessidades (SANTOS, 2004).

De acordo com Botelho e Silva (2004) essas ações antrópicas interferem e modificam os fatores naturais, como relevo, solos, clima e vegetação, de acordo com o comportamento e as atividades desenvolvidas na região. Mediante o conhecimento desse quadro é possível perceber e entender melhor os problemas e a realidade da localidade a ser estudada, o que irá contribuir para a escolha dos indicadores.

De acordo com os estudos desenvolvidos a hidrografia contribuiu de forma significativa para a produção do espaço nordestino. Isso porque, de acordo com Moreira e Targino (1997), os rios foram responsáveis pela colonização do interior do Nordeste, conhecido como “povoamento de ribeira” onde se estabeleceram as primeiras atividades da região, ligadas a agricultura e a pecuária. Com o alto curso da bacia do rio Mamanguape não foi diferente, as atividades estavam e ainda estão, em sua maioria, ligadas diretamente ao rio.

As principais atividades desenvolvidas no Alto Curso do rio Mamanguape revelam enorme dependência em relação aos mananciais. Nos municípios de Alagoa Grande, Areia e Alagoa Nova há predomínio das atividades de agricultura de subsistência e do cultivo da bananeira. No trecho de Alagoa Nova percebe-se, segundo estudo desenvolvido por Costa e Mariano Neto (2009), uma ocupação do leito do rio que tem causado um grave assoreamento. Além disso, o município produz cana-de-açúcar, tendo instalado um engenho para fabricação de cachaça.

Outro uso dado ao rio, nessa região, é a extração de argila para produção de tijolos. Segundo dados do trabalho de Silva (2012), essa atividade, do ponto de vista econômico, é de muita importância para as famílias ali residentes; entretanto, é realizada sem qualquer noção de manejo, o que tem poluído rapidamente o recurso e causado modificações na morfologia do leito do rio.

No trecho do rio que corta a cidade de Matinhas, a vegetação nativa foi retirada, para dar espaço à produção agrícola de frutas e à criação de gado. No município de Lagoa Seca, os cultivos são voltados para a produção de hortaliças, realizada por pequenos agricultores familiares, e um dos principais problemas se refere à retirada da mata ciliar.

67 Nos municípios de Areial e Montadas, o entorno da nascente do rio Mamanguape é totalmente ocupado por atividades agrícolas, que aproveitam o escoamento gerado pela água da chuva e a umidade decorrente da sua infiltração no solo (SILVA, 2012).

Segundo dados da COOPACNE (2014), o assoreamento do leito do rio e a devastação da mata ciliar têm comprometido as nascentes do rio Mamanguape. Além disso, a falta de preocupação com um manejo mais sustentável dos recursos e a falta de percepção que leve à preservação são fatores que agravam os problemas citados, comprometendo, seriamente, o abastecimento das populações e as atividades econômicas desenvolvidas. Revela-se, portanto, a necessidade de uma melhor gestão dos recursos hídricos disponíveis no Alto Curso do rio Mamanguape.