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1 A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA: AGRICULTURA E DITADURA

2.2 RECORTES DE OUTRAS MÍDIAS: FOLHA D´OESTE, REVISTA DO SUL e

A escolha por abordar separadamente distintos meios midiáticos é justificada pelo fato de termos optado por secionar a Revista Celeiro Catarinense, em detrimento de outras fontes. Nessa seção, toda a seleção será abordada sem divisões temáticas, objetivando sempre o entendimento do todo.

A Revista do Sul, que foi fundada em 1945, traz em sua edição de nº 220 várias páginas dedicadas a inauguração do “maior frigorífico avícola da América Latina e um dos maiores do mundo” (REVISTA DO SUL, 1973, p.17). É possível notar o entusiasmo do redator que disse:

Torna-se difícil ao jornalista, por mais experimentado que seja, transmitir aos leitores a grandiosidade do notável empreendimento e o que ele representa para o crescimento econômico de SC e do Brasil. Muito feliz foi então o Ministro da Agricultura, Dr. Cirne Lima, ao definir, com uma simples frase, o que estava presenciando: “tudo isto é fantástico”. De fato, analisando-se o que representa em termos de desenvolvimento no setor agropecuário é que se pode medir o extraordinário alcance do novo complexo

industrial recém-inaugurado, ou seja, a SADIA AVÍCOLA de Chapecó. (REVISTA DO SUL, 1973, p. 18)

Ainda, a despeito da inauguração e com êxtase, declarou o Ministro Cirne Lima:

“Empreendimento como este é a marca do Brasil de hoje, do Governo liderado pelo grande presidente Médici, determinado em encurtar o encontro dos destinos do Brasil que sonhávamos[…] há de se constituir num dos mais brilhantes empreendimentos de transformação de produtos de origem existentes hoje na América Latina, em termos de vulto, em termos de tecnologia, integrado, porque parte desde a utilização dos produtos agrícolas da região, transformados inicialmente em ração, transformados posteriormente em proteína animal da mais alta qualidade, deixando o resíduo da fertilização para a própria área, levando para os centros consumidores e talvez também para o exterior proteína da mais alta capacidade alimentar[…] significa também, através de uma sadia política do Governo do Estado, dentro da linha do Governo Federal, de interiorizar o movimento industrial, implantando aqui na ‘Capital do Oeste’ um núcleo e uma potência desse vulto, gerando emprego”[…]..(REVISTA DO SUL, 1973,p. 18-20)

O discurso e as esperanças do Ministro refletem, em certa medida, uma síntese do significado desse processo agrícola modernizante no Oeste, e mais, espelha a capacidade do discurso político de criar termos e identidades. Nesse caso, o Ministro citou Chapecó como a “Capital do Oeste”, enaltecendo e atribuindo essa missão à cidade, que cumpria seu dever e estava “dentro da linha” (p.18) do Governo Federal.

Alguns dados técnicos sobre o maquinário e capacidade produtiva da SADIA são trazidos ao leitor. Reproduzimos:

O abatedouro está equipado com um sistema de escaldagem que a coloca entre as mais avançadas empresas desse ramo no mundo. Esse conjunto de escaldagem e depenação é o primeiro montado fora dos Estados Unidos. […] A Sadia Avícola, deverá abater e industrializar ainda este ano cerca de 750 mil perus para o mercado brasileiro. (REVISTA DO SUL, 1973, p. 23)

Sobre propaganda tecnológica comparativa, localizamos na Folha D´Oeste, a reportagem “ Mecanização Agrícola e Desenvolvimento Econômico”, nela, por meio de dados do IBGE e do Banco Mundial, o redator fez comparativos da importância da área cultivada, na relação com a renda per capita e a frota de tratores das nações no ano de 1970, como Malásia, Filipinas, Brasil e Estados Unidos. Levando em conta estes índices, países como Estados Unidos, França e Alemanha possuíam alta renda per capita por terem maiores frotas de tratores. Com esse argumento estatístico simplista, o jornal justifica a urgente necessidade da mecanização no campo. (FOLHA D´OESTE, 1978, p. 6).

Retornando ao ano de 1973, temos no Boletim Oficial do Município de Chapecó, a publicação do Projeto Chapecoense de Desenvolvimento (PCD), na gestão do Prefeito Altair Wagner, sendo mais um plano alinhado aos estaduais e federais, corroborando novamente com

a “linha” de desenvolvimento do Governo Federal. Neste projeto há vários programas gerais, que são divididos em subprogramas. Há por exemplo, o de saneamento básico, que se dividirá em outros 7 subprogramas. O programa para a Agricultura trouxe os seguintes pontos:

Subprograma 01 Fundo Mecanização Agrícola: pretende-se repassar a minicooperativas de agricultores parcela dos financiamentos de maquinário agropecuário que atenda interesses de grupos vicinais com alto espírito comunitário. Subprograma 02 Incremento ao atendimento de campo: deseja-se triplicar o atendimento de agrônomos e veterinários de campo, tendo-se em vista a necessidade de alcançar-se os índices de produtividade preconizados para o período.

Subprograma 03 Horto florestal e Jardim Botânico: Implantar-se-ão ambos os campos experimentais como estímulo ao estudo e a pesquisa das essências vegetais e dos tipos zoológicos adaptáveis a região.

Subprograma 04 Combate Intensivo a saúva: Pretende-se minorar a afluência da saúva, a fim de obter-se maior produtividade na colheita. (BOLETIM OFICIAL DO MUNICÍPIO, 1973, p. 4-5)

O Boletim do Município de 1976, ano dos 59º aniversários do município de Chapecó, traz mais de 2 páginas dedicadas aos louros colhidos pelo então prefeito Altair Wagner, e o seu PCD. Nesse texto, temos novamente a incidência do termo “Celeiro Catarinense” e um panorama da produção agropecuária da cidade, como recortamos abaixo:

Localizado em pleno “Celeiro Catarinense” como é conhecido o Oeste do Estado, o município de Chapecó destaca-se economicamente entre os municípios catarinenses graças a sua pujante agricultura, pecuária e agroindústria. Com uma área de 1.015 km² produz anualmente 1.500.000 sacas de milho, 400.000 sacas de soja e 150.000 sacas de feijão. O município tem um efetivo de 105.000 cabeças de suínos, destacando-se como segundo município brasileiro em reprodutores do Pigbook do Brasil. Tem igualmente um efetivo de aves superior a 3.000.000 de cabeças […], tem também 32.500 cabeças de bovinos. A estrutura agrária do município caracteriza-se pelo minifúndio, pois 71,9 por cento das propriedades rurais possuem área inferior a 25 hetares.[…] Chapecó festeja hoje a data de sua emancipação política animada com seu próprio progresso e com as perspectivas de desenvolvimento e progresso que tem como cidade do futuro. (BOLETIM DO MUNICÍPIO, 1976, p. 4- 5)

Neste subcapítulo apresentamos recortes de diversas mídias que adicionaram os elementos que nos propiciam compreender o discurso propalado pelas elites da época, e ainda, a sua forma de entendimento do conceito de progresso e o que era necessário ao sucesso da agricultura e quiçá da economia nacional. Um adendo é necessário, até o momento a questão da transformação da paisagem e mesmo a forma como a conservação dos recursos era entendida na época, por tais mídias, não foi abordada, pois, o próximo capítulo será dedicado a estas questões.

3 A QUESTÃO AMBIENTAL NA MÍDIA IMPRESSA DO CELEIRO