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3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.3. As Práticas Lúdicas Desenvolvidas nas Escolas

3.3.2. Recreio e Cia: quando as crianças entram em ação

Nas escolas, as brincadeiras eram postas em várias situações. No que se refere a recreio, a escola pública de grande porte era a única que dava essa oportunidade, na qual acontecia a brincadeira livre. Nessa ocasião as professoras também tinham tempo livre e as crianças eram observadas pelas funcionárias de serviços gerais.

Na chegada à escola, na particular de pequeno porte, as crianças ficavam na sala de plantão39, onde assistiam a desenho animado em vídeo ou mesmo na televisão, desenhavam,

liam livro de literatura infantil enquanto chegava o início da aula; algumas crianças não queriam e fugiam, ficavam brincando pelo pátio ou no parque até que a música tocasse, anunciando o início da aula.

Na escola particular de grande porte, as crianças, ao chegarem à escola, dirigiam-se à sala de aula e lá ficavam brincando até o início da aula que começava com uma hora de brincadeira, de forma que as crianças não interrompiam a brincadeira ao iniciar a aula.

Na escola pública de pequeno porte, as crianças, ao chegarem à escola, logo se dirigiam às suas filas e lá ficavam sentadas, quietas, aguardando o momento de iniciar a acolhida. O mesmo não acontecia na escola pública de grande porte, pois, apesar de algumas crianças irem chegando e logo formando suas filas no pátio,aguardando a chegada das outras crianças e professoras para que fosse iniciada a acolhida, muitas ficavam brincando pelo próprio pátio. Algumas corriam, conversavam, até o toque da música; então, todos iam para suas filas para a acolhida.

Ao esperarem pelos pais, uma vez terminada a aula, na escola pública de pequeno porte, as crianças eram solicitadas a ficar sentadas junto à porta, enquanto estavam em sala (durante 20 minutos, antes do término da aula) depois junto ao portão, quando estavam no pátio com a pessoa que ficava no portão (quando as professoras se iam). Nesse instante elas brincavam com o que tinham em mãos, geralmente seus próprios brinquedos trazidos de casa ou de outras brincadeiras, pois não precisavam necessariamente de objetos e podiam ficar sentadas.

Perguntei às professoras dessa escola o que consideravam que poderia ser feito em relação a este tempo de espera para ir embora, já que se requer trabalho para manter as crianças quietas. Uma levantou a possibilidade de alguém contar uma história ou propor uma brincadeira ou alguma coisa que motivasse as crianças a ficarem quietas, ocupadas, não

39 Sala que possui livros, material para desenho e televisão, onde as crianças ficam enquanto esperam o início da

perderem o tempo. A outra respondeu notar que as crianças ficam à toa, sem fazer nada, e que já havia sugerido à direção para colocar música para ficarem dançando, porque, mesmo no princípio, se ficassem correndo, depois deixavam, pois iam se acostumar. Isso num dia, em outro dia poderia em cada cantinho do pátio organizar jogos.

Já na escola pública de grande porte, as crianças não tinham essa espera em sala, pois, ao término da aula, as professores levavam suas filas para o pátio junto ao portão de entrada da escola. Apesar de ser sugerido que as crianças ficassem sentadas no chão, enquanto os pais chegavam, a maioria das crianças ficava mesmo era brincando. Poucas ficavam sentadas, olhando para fora à espera dos pais. Nesse ínterim as crianças brincavam com brinquedos trazidos de casa, algumas crianças ficavam na brinquedoteca (pois esta fica num espaço aberto num cantinho desse pátio), algumas corriam, outras escalavam o portão, tocavam a campainha, ou apenas conversavam umas com as outras, tudo isso juntamente às crianças do Ensino Fundamental, que tinham o mesmo horário de término de aula das crianças da Educação Infantil. Isto é, todas ficavam brincando num pátio onde o espaço era menor do que o da escola pública de pequeno porte, a qual, além de ter um pátio maior, só abrigava crianças da Educação Infantil e em número bem reduzido, pois boa parte das crianças já tinha sido apanhada na sala de aula por seus pais. Vejo que nesse momento as crianças tinham mais liberdade de brincar em relação à escola pública de pequeno porte.

Na escola particular de grande porte, as crianças ainda tinham mais liberdade para brincar no momento do término da aula. Lá elas ficavam espalhadas por todo o terreno sob as árvores, brincando, enquanto aguardavam a chegada de seus pais.

Na escola particular de pequeno porte, as crianças, enquanto ainda estavam em sala (cerca de dez minutos antes do término da aula) junto à professora quando na espera dos pais, isto é, no tempo livre, de início, brincavam ou ficavam livres para escolher com que se ocuparem. Geralmente utilizavam os jogos da sala ou se ocupavam em desenhar, mas a partir do mês de junho, essa rotina de espera pelos pais mudou. A professora passou a arrumar as cadeirinhas em semicirculo perto da porta, onde as crianças sentavam, segurando seus pertences e a professora cantava músicas com elas até que os pais chegassem. Por ocasião da entrevista, a professora disse que essa rotina havia mudado porque algumas vezes que a diretora da escola visitava a sala no instante do final da aula e acontecia que às vezes um pai chegava para apanhar uma criança e a presenciava correndo pela sala. Ela acrescentou que a diretora considerava importante que quando a criança fosse embora estivesse tranqüila, então encontrou uma forma das crianças ficarem calmas através da música cantada por ela mesma juntamente com as crianças.

Talvez algum pai tenha demonstrado a insatisfação por chegar na escola e ver seu filho “correndo” na sala de aula, por isso é que o esquema mudou para algo mais “calmo”. As crianças, desde então, ficavam sentadas e quietas na hora em que os pais chegavam para buscá-las, e cantar era a melhor forma de acalmá-las. Depois do término da aula, as crianças voltavam para a sala do plantão. Lá utilizavam o material disponível, isto é, ficavam assistindo a desenho animado, lendo literatura infantil ou desenhando.

Entendo que em escolas particulares os pais tendem a fazer exigências que a direção da escola opta por atender pelo fato de não querer deixar um cliente insatisfeito ou até mesmo ocorrer deste vir a tirar o filho da escola por não ter suas exigências atendidas. Poderia, porém, ser elaborado outro esquema de espera aos pais, que contemplasse a satisfação da criança, isto é, brincar livremente, sem que causasse aborrecimento aos pais; como, por exemplo, as crianças podiam ficar na brinquedoteca ou mesmo no parque enquanto seus pais chegavam, pois observei que a maioria das crianças, antes de irem embora, já na companhia dos pais, exigiam uma passada pelo parque que muitas vezes demandava bastante tempo.

Nos dias de passeio, as crianças também brincavam nas várias oportunidades, no trajeto dentro do ônibus, no local da visita e principalmente se havia um horário para a descontração. No passeio que as crianças da escola pública de grande porte fizeram para ir ao cinema, durante o trajeto, elas brincaram. Algumas cantavam, outras ficavam pulando (mesmo sentadas) em seus assentos e uns meninos brincavam de faz de conta que eram super- heróis. No dia do passeio da escola particular de pequeno porte para conhecer os principais pontos históricos da Cidade, as crianças tiveram um intervalo para descontraírem numa praça depois do lanche, isto é, de brincadeira.

De posse de migalhas dos restos dos lanches, as crianças puderam alimentar os pombos que havia na praça e depois correr atrás deles quando alçavam o vôo. Ainda no ônibus, quando retornavam para a escola, as professoras perguntaram às crianças do que elas mais gostaram de fazer durante o passeio. Certamente das ocasiões de brincar livre o que comprova nas palavras da maioria das crianças: ‘de correr atrás dos pombos’.

Diante do exposto, posso considerar que as atividades importantes para as crianças são aquelas que emergem do seu próprio interesse, isto é, da atividade lúdica. De posse desse conhecimento é que os professores, para motivar as crianças, propõem atividades didáticas com o caráter lúdico.

Com efeito, Brougère (1998) chama a atenção para a preocupação dos professores em cumprir a tarefa de educadores e que “deixar a criança livre provoca no professor o

sentimento de não mais cumprir com suas funções. Ele deve constantemente trazer essa dimensão pedagógica pela qual estima ser pago” (p. 175).

Nesse contexto, Wajskop (2001) argumenta que, quando a brincadeira está sujeita a conteúdos definidos socialmente, não é mais brincadeira, pois se transforma numa atividade controlada pelo professor que utiliza a sedução do caráter lúdico para manter os alunos interessados em sua proposta.