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A urbanização e a industrialização nas diversas áreas do planeta vêm provocando diversas alterações ambientais, dentre as quais se destaca a degradação de áreas que sofreram intensa interferência humana. Isso se deve à elevada exploração de recursos naturais, que devido às tecnologias do desenvolvimento capitalista, vem degradando de maneira expressiva o meio ambiente (DELUIZ; NOVICKI, 2004).

Johnson et al. (1997) conceituam degradação ambiental como uma perturbação originária de atividades humanas, na qual provoca uma redução da qualidade ambiental, das

condições naturais de uma determinada área. De tal maneira, o processo de degradação ambiental está sujeito a qualquer modificação antrópica dos processos e funções naturais para com os componentes do meio, tornando o mesmo uma área com qualidade ambiental reduzida ou alterada de forma negativa (SÁNCHEZ, 2013). De acordo com Sánchez (2013), existe a necessidade de se recuperar a área em que houve alteração dos processos ambientais, através de melhorias no meio físico; ou seja, fornecer condições ao solo (ou demais componentes físicos) para restabelecer a vegetação. Desta maneira, tais implicações favorecerão que condições adequadas para a sobrevivência das espécies se estabeleçam.

Nesse sentido, a participação humana no processo de recuperação faz-se necessária, pois o ambiente por si só já não apresenta capacidade para promover a regeneração natural (VENTUROLI et al., 2013). Contudo, segundo Schwerk e Szyszko (2011), o conhecimento dos processos ecológicos é de suma importância para aplicação de posteriores metodologias de restauração ou até mesmo para aplicar métodos que facilitem a regeneração natural da área afetada. A Society for Ecological Restoration International (SER, 2004) considera um ambiente recuperado ou restaurado quando o mesmo apresenta componentes (biótico e abiótico) suficientes para se desenvolver sem necessitar do auxílio humano.

Diante de tais perspectivas, há inúmeras controvérsias em relação à conceituação de recuperar uma área degradada. De acordo com o art. 2º do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), entende-se por recuperação a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original”; ou seja, trata-se de reabilitar o ambiente afetado, de modo a promover suas funções ecológicas, independentemente de quais componentes estejam envolvidas. Por outro lado, ainda de acordo com a regulamentação citada, a restauração abrange a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”, isto é, tornar o novo ambiente o mais similar possível do anterior, promovendo além de suas funções ecológicas a dinâmica semelhante à anterior (BRASIL, 2000, p.1).

De tal maneira, o exercício de se recuperar áreas que sofreram modificações negativas devido à atividades humanas, é vigorado em lei. A PNMA por meio de seu art. 2º relata que tem por objetivo a preservação ambiental, a melhoria e recuperação de qualquer ambiente, visando harmonia e qualidade de vida entre o homem e a natureza; porém, tendo que atingir alguns objetivos como a recuperação de áreas degradadas (BRASIL, 1981).

Contudo, como complemento desta norma, em 1989, por meio do Decreto Federal 97.632, foi regulamentado que todos os empreendimentos de mineração têm por obrigação quando da elaboração dos EIAs/RIMAs submeter ao órgão competente o PRAD. De acordo

com o art. 3 desta norma, a recuperação deverá ter por objetivo “o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente” (BRASIL, 1989, p. 1).

3.3.2 Recuperação de áreas degradadas por mineração no Brasil

A extração mineral é uma atividade antrópica que vem desenvolvendo tecnologias a fim de aprimorar e dinamizar todo o processo extrativista. Contudo por mais avançadas que sejam as atividades de extração mineral, não há possibilidade de evitar determinados impactos negativos, como a supressão da vegetação, abertura de trincheiras, emissão de poeira, entre outros, causando severos impactos sobre a comunidade local, aos meios bióticos e abióticos (KOPEZINSKI, 2000).

De acordo com Kobiyama, Minella e Fabris (2001), a mineração apresenta peculiaridades em relação aos demais empreendimentos de significativo impacto ambiental, por apresentar relativamente menor extensão e ter atividades pontuais. Diferentemente da agricultura, a concentração e magnitude dos impactos se acentua, como a profunda escavação retirando várias camadas do solo e subsolo, perda de vegetação, além de alterar o escoamento das águas pluviais que consequentemente acabam contaminadas pelos rejeitos produzidos pelas atividades minerarias.

De modo geral, os impactos negativos da mineração no solo culminam em baixa disponibilidade de nutrientes, diminuição da capacidade natural de infiltração de água e principalmente alta compactação do solo. Tais fatores são os principais motivos que impedem o desenvolvimento posterior do sistema radicular das espécimes selecionadas para regeneração florestal (FELFILI; FAGG; PINTO, 2008).

Como mencionado anteriormente, os empreendimentos de extração mineral devem por obrigação elaborar um PRAD e executá-lo da melhor maneira possível de acordo com as peculiaridades do ambiente afetado, como medida para obtenção da licença de operação (VENTUROLI et al., 2013). Segundo Lima, Flores e Costa (2006), esta medida de controle ambiental é uma forma do empreendedor devolver as terras à comunidade local ou ao proprietário superficiário em condições adequadas para que a mesma possa ser reutilizada de modo sustentável e servir para usos futuros. Ainda de acordo com os autores, o PRAD deve ser revisado pelo órgão competente, a fim do mesmo incitar alternativas adequadas para a região onde o empreendimento foi instalado, de modo a reabilitar o local adequadamente.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) instituiu um instrumento de auxílio aos consultores contratados pelos proponentes de empreendimentos minerários no Brasil, a NBR 13030, objetivando a fixação de diretrizes que norteiem a elaboração e apresentação dos PRADs (ABNT, 1999).

Contudo, mesmo com normativas e diretrizes para nortear os projetos de reabilitação, ainda se verifica muitos consultores que realizam seus planos de forma incoerente com as regulamentações e com as especificações exigidas pela peculiaridade das áreas afetadas. O estudo realizado por Lima, Flores e Costa (2006), em Minas Gerais, visou avaliar a qualidade dos PRADs submetidos à FEAM, onde aa principais falhas encontradas nos projetos foram: incoerência entre o plano e área afetada, por desconhecimento das características do ecossistema em análise, limitação por parte da equipe consultora em relação à multidisciplinaridade dos analistas, diagnóstico ambiental reduzido em relação ao escopo e os PRADs não passaram por nenhuma análise técnica em relação à solução dos problemas, quando submetidos ao órgão competente.

Tais incompatibilidades necessitam ser minimizadas de forma a promover equilíbrio entre as compensações e os impactos gerados, como técnicas simples e eficazes. Há algumas metodologias que podem ser adotadas na etapa do PRAD a fim de restabelecer os processos ecológicos, como espalhamento do topsoil no menor intervalo possível (SANTOS, 2010), utilização unicamente de espécies nativas da região afetada e que apresentam em suas característica meios de dispersão zoocórica (SER, 2004; GUIMARÃES, 2008; GARCIA; BARROS; LEMOS-FILHO, 2009), selecionar o máximo de diversidade vegetal (SER, 2004), uso de poleiros artificiais, para atrair aves que são excelentes dispersoras de sementes (MELO, 1997), resgate de espécimes de áreas que terão intervenções (NAVES, 2005), nucleação, (REIS; BECHARA; TRES, 2010), o plantio de espécies de maior lenho, ou seja, que apresentem uma estrutura arbórea maior, juntamente com espécies arbustivas e forrageiras para aumentar a cobertura do solo (MIRANDA et al., 2011), entre outras.

Ferretti (2002) observou que uma maneira mais prática de realizar os trabalhos de recuperação de áreas degradadas, é a organização das espécies que serão usadas para plantio de acordo com seus respectivos grupos de sucessão ecológica. De tal maneira, o conhecimento ecológico e a mensuração de variáveis ambientais são fatores essenciais para recuperar áreas degradadas pela mineração, pois tal atividade impacta significativamente o solo, fragilizando o processo de regeneração natural (NAPPO; OLIVEIRA FILHO; MARTINS, 2000).

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MATERIAIS E MÉTODOS