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3.4. Recursos jurisdicionais

3.4.9. Recursos ordinários

3.4.9.3. Recurso para uniformização de jurisprudência

O recurso para uniformização de jurisprudência encontra-se consagrado no artigo 152.º do CPTA. Para que seja admitido é necessário, conforme se extrai da lei que:

i) Sobre a mesma questão fundamental de direito

ii) exista contradição entre acórdão do TCA e acórdão anteriormente proferido pelo mesmo

tribunal ou pelo STA ou entre dois acórdãos do STA,

iii) desde que a orientação perfilhada no acórdão recorrido não esteja de acordo com a

jurisprudência mais recentemente consolidada neste último tribunal.

103ALMEIDA, Mário Aroso de e CADILHA, Carlos Alberto Fernandes, op. cit., p. 998.

104 “Neste sentido, no acórdão do STA de 11 de Maio de 2005 (Processo n.º 427/2005) firmou-se o seguinte

entendimento: ‘o recurso de revista per saltum para o STA é restrito a questões de direito, pelo que, havendo matéria de facto a discutir, o recurso é de apelação para o TCA, mesmo que os pontos do facto sob controvérsia sejam escassos e a discussão não aparente grande dificuldade’”, disponível em www.dgsi.pt.

Em bom rigor, a preocupação, ao longo do CPTA, com a intenção de alcançar a uniformidade jurisprudencial administrativa, reflecte-se, segundo TERESA VIOLANTE105, “(…) nos seguintes mecanismos de ordem preventiva:

- em primeira instância: possibilidade de, nos termos do artigo 93.º, existir reenvio prejudicial ao STA para que este emita pronúncia vinculativa sobre ‘uma questão de direito nova que

suscite dificuldades sérias e possa vir a ser suscitada noutro litígios’. De realçar que a

pronúncia emitida pelo STA nestes termos, apesar de obrigatória para o tribunal de primeira instância, não vincula aquele alto tribunal relativamente a novas pronúncias que venda a emitir no futuro sobre a mesma matéria.

- em sede de recurso: por um lado, possibilidade de existir julgamento ampliado de recurso do STA ou TCA, quando tal se demonstre necessário ou conveniente para assegurar a uniformidade da jurisprudência, nos termos do artigo 148.º; e, por outro, o recurso para uniformização de jurisprudência”.

É de referir que, à semelhança do que sucede com as decisões proferidas em sede de julgamento ampliado de revista no âmbito do STA, estes acórdãos são publicados na I série do Diário da República.

Com efeito, reza o n.º 6, do artigo 152.º do CPTA que “A decisão que verifique a existência

da contradição alegada anula a sentença impugnada e substitui-a, decidindo a questão controvertida”, pelo que podemos afirmar que estamos perante um recurso de tipo

substitutivo.

Destarte, o facto de a decisão em causa estar já transitada106, significa que os efeitos de caso julgado, embora produzidos e verificados serão, nos termos desta própria norma, anulados pela prolação de um novo juízo decisório sobre a causa.

No que concerne à celeuma que pode gerar a classificação deste tipo de recurso, VIEIRA DE ANDRADE107 afirma que “O artigo 152.º incluiu, entre os recursos ordinários (…) o recurso para uniformização de jurisprudência, que de algum modo substitui o antigo recurso por

105VIOLANTE, Teresa, op. cit., p. 872.

106Pressuposto de admissibilidade do próprio recurso. 107ANDRADE, José Carlos Vieira de, op. cit., p. 403.

oposição de julgados – uma qualificação discutível, tendo em conta que se admite a impugnação de uma decisão judicial transitada em julgado”.

Por sua vez, ROSENDO DIAS JOSÉ108 propugna que “A uniformização de jurisprudência não fica dependente de um juízo de necessidade ou conveniência, mas do pressuposto objectivo de existir contradição de decisões do TCA ou do STA sobre a mesma questão fundamental de direito, salvo se existir sobre a matéria jurisprudência consolidada e recente do STA”.

No entendimento do autor, “A questão fundamental de direito é a questão da definição, interpretação e aplicação do quadro jurídico aplicável a uma situação da vida de modo a conferir-lhe a solução juridicamente correcta e tutelar em conformidade com as partes envolvidas e os respectivos interesses”. Para o autor, “Existe contradição na solução de uma questão deste tipo, quando situações de facto idênticas quanto aos elementos relevantes e configurando idênticas questões jurídicas receberam soluções opostas, desde que não tenha havido alteração do quadro legal aplicável. É por isso que o n.º 2 do artigo 152.º, estabelece que o recorrente tem de identificar de forma precisa e circunstanciada os aspectos de identidade que determinem a contradição”.

Levanta ainda o autor uma questão de todo pertinente que não podemos deixar de trazer ao nosso estudo. Tal questão prende-se com o efeito do acórdão recorrido em sede deste tipo de recurso. Desta forma, considera o autor que “(…) tem o efeito de caso julgado até que eventualmente seja revogado (…) e substituído por nova decisão da questão controvertida, decisão substitutiva que tem de ser proferida no próprio recurso para uniformização de jurisprudência (…)”.

A propósito deste tipo de recurso, ensinam AROSO DE ALMEIDA e CARLOS CADILHA109, designadamente no que concerne “(…) à caracterização da questão

fundamental sobre a qual deverá existir a contradição, afiguram-se de manter os critérios

jurisprudenciais já firmados no domínio da LPTA: (a) deve haver identidade da questão de direito sobre que incidiu o acórdão em oposição, que tem pressuposta a identidade dos

108JOSÉ, Rosendo Dias – A nova justiça administrativa (trabalhos e conclusões do seminário comemorativo do

1.º ano de vigência da reforma do contencioso administrativo), Coimbra, Coimbra Editora, 2006, pp. 233-234.

respectivos pressupostos de facto110; (b) a oposição deverá emergir de decisões expressas, e não apenas implícitas111; (c) não obsta ao reconhecimento da existência da contradição que os acórdãos sejam proferidos na vigência de diplomas legais diversos se as normas aplicadas contiverem regulamentação essencialmente idêntica112; (d) as normas diversamente aplicadas podem ser substantivas ou processuais113; (e) em oposição ao acórdão recorrido podem ser invocados mais de um acórdão fundamento, desde que as questões sobre as quais existam soluções antagónicas sejam distintas114”.

Somos de acordo com esta posição dos autores, na medida que a mesma sustenta-se no entendimento jurisprudencial acerca desta matéria, isto é são os critérios elencados aqueles que devem presidir à caracterização da questão fundamental sobre a qual existe contradição de acórdãos.

3.4.10. Recurso extraordinário