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5.2. Professor Alexandre

5.2.1. Recursos e freqüência de utilização do computador

O professor Alexandre utiliza em suas aulas, no laboratório de Informática, os recursos do Microsoft Office, mais especificamente o Excel. Por meio desse aplicativo desenvolve atividades de cálculo, construção de tabelas e gráficos.

Com os alunos de 5ª série utiliza o Word e o Paint para trabalhar noções básicas de geometria, proporcionalidade e frações.

O professor não utiliza outros softwares, pois acredita que necessitaria de muito tempo para ensinar os alunos a trabalhar com eles e uma aula por semana não seria suficiente para isso, mas já utilizou o software Cabri Géomètre para trabalhar geometria em outros momentos da sua carreira.

Percebe-se que o professor não tem segurança em trabalhar com outros softwares, além do Excel, recurso que utiliza desde o início do seu trabalho com a informática. Essa insegurança é resultado da falta de conhecimento do funcionamento de softwares educacionais, e na dúvida, o professor prefere trabalhar com os recursos que conhece. Esse fato também pode explicar porque os professores, após participarem de alguns cursos de capacitações, em que lhes são apresentados alguns softwares, resolvem continuar com sua forma tradicional de trabalho docente. Porque, de fato, os recursos são apresentados, e não discutidos, analisados, ou experimentados como deveriam. E como diz Kenski (1996), na dúvida, vamos ao texto, à lousa, à explanação oral-tão mais fácil de serem executados.

É importante destacar também que, além do professor Alexandre utilizar somente recursos que lhe garantam segurança, o seu arbítrio profissional é garantido, aspecto esse destacado por Hargreaves et al. (2002) como essencial ao sucesso das tentativas de mudança educacional.

Quanto à freqüência de utilização do computador, o professor conta que, nos dois anos anteriores ao ano de desenvolvimento desta pesquisa, levava seus alunos ao laboratório de informática duas vezes por semana, porém, no momento da pesquisa, não estava conseguindo levá-los nem uma vez por semana. Alexandre acredita que isso aconteceu em virtude da mudança de direção da escola e mudanças no planejamento da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Nos anos anteriores Alexandre organizava os alunos em dois grupos: um grupo permanecia na sala de aula realizando atividades monitoradas por um professor de reforço e o outro era levado ao laboratório de informática. Em uma segunda oportunidade, os grupos se revezavam. Porém, surgiram os projetos de reforço, nos quais os professores trabalham com determinados alunos que apresentam dificuldades de aprendizado

por duas aulas semanais fora da grade curricular e dessa forma, não existiam mais professores que pudessem trabalhar em conjunto com o professor, possibilitando seu trabalho na sala de informática.

(...) eu trabalhava na sala de informática com 15, no máximo com 20 alunos. São 10 micros dentro da sala, quer dizer, dava para você colocar dois por micro tranqüilamente e dá para desenvolver o trabalho que você quiser. Esse ano não tem jeito! Porque o Estado acabou com as aulas de reforço. Não é que ele acabou, ele não inseriu isso dentro da grade curricular, dentro do horário deles. Então eles têm duas aulas por semana, que seriam as sextas aulas, que seriam destinadas apenas a fazer isso aí, a aula de reforço. Então não tem como, porque é outro professor contratado. ele vai trabalhar com turmas específicas e eu não posso ir até lá e pegar metade da turma dele e levar para a sala de informática. Não vai ter jeito de fazer isso aí.

(...) o que eu tenho que fazer agora? Quando eu levo os alunos, quer dizer, eu estou descendo com uma sala de aula com 40 alunos para encaixar em 10 micros. Se eu colocar quatro por micro fica impossível, não tem jeito. É aquela história, um é pouco, com dois dá certinho, mas se eu colocar três ou mais, pode esquecer que você não faz absolutamente nada dentro da sala. Não faz!

Para contornar essa situação, o professor Alexandre colocou algumas carteiras no centro da sala de informática para que metade dos alunos desenvolva atividades no caderno enquanto a outra metade trabalha nos computadores. Depois os grupos trocam de atividades.

Eu peguei, organizei umas carteiras no centro da sala de informática, coloquei as cadeiras lá também, aí eu divido a classe em dois grupos e... ”Olha dessa vez esse grupo fica nos computadores e esse outro grupo fica desenvolvendo tal atividade no caderno, onde der para fazer”. Daí eles desenvolvem uma outra atividade paralela na sala de informática enquanto eu faço o trabalho com os outros.

Pela mesma dificuldade encontrada pelo professor Alexandre, outras escolas também colocaram mesas e cadeiras nas salas de informática para que o professor leve até elas todos os alunos e monitore dois tipos de atividades ao mesmo tempo32. Esse é um dos fatores que levou um professor do estudo de Canavarro (1993) a desistir de desenvolver atividades na sala de informática, pois não conseguia atender os diversos tipos de dificuldades dos diferentes grupos.

32

Fato comentado nos encontros e congressos da área e constatado por meio dos estágios realizados nas escolas durante minha Graduação.

As dificuldades encontradas pelo professor em seu trabalho na sala de informática são de natureza estrutural. Esse fator é um dos cinco apontados pelos professores do estudo de Hargreaves et al. (2002), como principais aspectos que influenciam a tentativa de mudança educacional. Sem uma estrutura que possibilite seu trabalho, os professores acabam abandonando as tentativas de mudanças.

Outro fato que merece destaque é a falta de políticas públicas que garantam que as tentativas de mudanças que os professores realizam sejam mantidas com o tempo. Segundo Hargreaves et al. (2002), os legisladores, administradores do sistema e líderes escolares têm grande responsabilidade em criar e manter as condições necessárias para que os professores consigam realizar seu trabalho de forma satisfatória. Porém, isso não ocorre na realidade do professor Alexandre. Seu trabalho foi praticamente interrompido por falta de estrutura que garanta a continuidade da utilização da sala de informática.