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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 Etapas anteriores às visitas técnicas

4.4.4 Recursos / Estrutura

A análise da variável Recursos / Estrutura buscou identificar os recursos humanos, financeiros e equipamentos disponibilizados ou utilizados pelo TCU em decorrência da realização de visitas técnicas realizadas ou para a realização destas. Os principais elementos encontrados estão vinculados à realização de Projetos corporativos, formalmente reconhecidos pelo Tribunal.

O grande destaque está na realização dos Projetos TCU – Reino Unido e Projeto Cerds, este último sendo considerado como uma segunda fase do primeiro. Em 1998, após um período de negociações de três anos, é assinado o Acordo de Cooperação Técnica entre o TCU e o Reino Unido, com a duração estimada de três anos (1998-2000). Foi previsto um volume de recursos financeiros da ordem de £500.000,00 por parte do Reino Unido, com contrapartida do TCU em termos de recursos financeiros e de recursos humanos aplicados ao projeto. Além do valor investido inicialmente, foram aportados mais £150.000,00 até o final de 2001. A contrapartida brasileira foi de £622.000,00, correspondente ao pagamento dos servidores do TCU responsáveis pela administração e execução do Projeto e com os serviços de apoio.

Esse acordo de cooperação técnica é tido como o grande responsável pelo desenvolvimento da auditoria operacional no TCU, conforme registra um dos entrevistados:

O grande diferencial foi o acordo de cooperação com o Reino Unido que mobilizou um grupo de pessoas, um grupo relativamente grande, envolvendo muitas secretarias do Tribunal, dos estados, com metodologia, com estratégia muito massiva, muito efetiva de treinamento e de realização de auditorias. Eu considero o Projeto TCU – Reino Unido, ao meu ver,

como um divisor de águas para o desenvolvimento da auditoria operacional no Tribunal (Código S6).

O conteúdo das entrevistas confirma que o fator mais significativo para a alocação de recursos para a atividade de auditoria operacional foi o Projeto TCU – Reino Unido. Com a implementação desse projeto foi alocado um elevado fluxo de recursos humanos e financeiros por um período longo e contínuo, especificamente para o desenvolvimento da técnicas de auditoria operacional no Tribunal.

No que concerne ao aporte de recursos humanos, foram selecionados, quando da assinatura do acordo, trinta servidores para ingressarem ao Projeto. A permanência no Projeto era de um tempo mínimo de dois anos. No ano de 1999, foram incorporados mais 20 participantes. Em 2002, houve nova seleção para mais trinta participantes e, em 2003, mais treze novos participantes foram selecionados.

A importância do Projeto TCU – Reino Unido e do Projeto Cerds para a alocação de recursos foi claramente percebida no conteúdo das entrevistas:

Desde o início do Projeto TCU – Reino Unido, a gente sempre teve um apoio muito grande de todos as administrações, todas as presidências foram unânimes em aceitar e manter o projeto correndo sem alterações e sem desvios de objetivos (Código A2).

Depois quando veio a se concretizar o Projeto Reino Unido já dentro dessa linha da avaliação de programas, então realmente aí o Projeto é que veio deslanchar de vez e aí passou a ser realmente uma coisa institucional (Código S5).

Na minha opinião, o que veio antes do projeto do Reino Unido não solucionaria o problema, não faria a gente chegar ao patamar que nós chegamos. Se deixasse simplesmente o comando constitucional e a vontade da instituição, eu acho que a gente não teria chegado aonde chegamos, no aspecto de avaliação de programas (Código A5).

Eu acho que o projeto do Reino Unido foi importantíssimo porque deu uma continuidade ao assunto. Há uma dificuldade muito grande, eu sinto que há uma dificuldade, as unidades que fazem contas e fazem auditoria, de alocar muita gente para auditoria operacional, porque você tem uma demanda muito grande de contas. Então, se não tiver algum instrumento, alguma coisa por fora, seja uma meta ou, no caso, o projeto do Reino Unido, um incentivo para isso, fomentando a realização desse tipo de auditoria, você termina desviando a tua força de trabalho para aquela atividade mais

rotineira de contas, auditoria de legalidade, denúncias, representação e não aloca muita gente para fazer auditoria operacional (Código D2).

Quanto ao Projeto Apoio à Modernização do TCU, os recursos financeiros aplicados tiveram como fonte o Contrato de Empréstimo nº 1423/OC-BR, firmado entre a República Federativa do Brasil e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. O TCU recebeu cerca de US$5 milhões para custeio de diversos projetos, dentre os quais o projeto em tela. Em termos de recursos humanos, o projeto contou com a participação de cinco servidores de tempo integral além da participação de servidores de outras unidades para tarefas específicas, como foi o caso das visitas técnicas realizadas no ano de 2004.

Outro projeto que merece destaque é o projeto Combate à Fraude e à Corrupção, criado em 2005 pelas Portarias nº 142/2005 e 150/2005. Elaborado a partir do relatório da visita técnica ao OAG – Canadá, em 2004, o projeto possui financiamento próprio, restrito à remuneração dos três servidores que compõem a equipe do projeto.

Outro ponto de destaque foram as mudanças na estrutura organizacional do Tribunal. A principal delas foi a criação da Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo – Seprog, no ano 2000, com a Resolução nº 140. Essa nova secretaria ficou responsável por todos os trabalhos de avaliação de programas e pelo desenvolvimento da técnica de auditoria operacional, englobando o projeto TCU – Reino Unido e todos os recursos humanos com ele envolvidos. A importância dessa mudança estrutural foi reconhecida pelo Presidente do Tribunal, no ano 2000, em um de seus discursos, fazendo menção, inclusive às visitas técnicas realizadas com as EFS de outros países.

A criação da Secretaria de Fiscalização de Avaliação de Programas de Governo, por sua vez, representará o reconhecimento por parte desta Casa de que a instituição conta com amadurecimento suficiente para lançar-se na avaliação da efetividade de programas e políticas públicas, resultante dos convênios de cooperação firmados com instituições dos Estados Unidos e da Inglaterra e da prática de auditorias de natureza operacional.

Também com a Resolução nº 140, no ano 2000, houve a transformação da Coordenação de Fiscalização – Cofis em Secretaria Adjunta de Fiscalização – Adfis, que passou a, além de coordenar as iniciativas de fiscalização do Tribunal, a ter competência de gerir o desenvolvimento e implementação de metodologias e técnicas relacionadas à de fiscalização e auditoria.

Outra alteração de estrutura ocorreu em 2005, com a edição da Portaria nº 142, que criou o Serviço de Gestão de Inteligência – SGI, subordinado à Adfis. Este serviço apóia o projeto de Combate à Fraude e à Corrupção com a gestão da informação, mantendo contato com as demais organizações de controle e fazendo a integração das bases de dados a fim de fornecer subsídios para ações daquele projeto. O SGI conta com três servidores dedicados integralmente a este serviço.

A criação dessas unidades parecem ser de grande importância para a continuidade da alocação de recursos humanos e financeiros nas atividades que foram implementadas a partir das visitas técnicas, conforme a citação de vários entrevistados:

Porque a Seprog é estruturada dessa forma e tem um bom produto bem estabelecido, é uma referência para os Tribunais de Contas dos Estados e para quem trabalha com a parte de avaliação de programas. Isso porque é um trabalho continuado, tem uma freqüência e envolve muitas pessoas inteiramente dedicadas a esse assunto. Você não consegue fazer a coisa acontecer com apenas uma pessoa. É preciso criar um grupo e foi o que aconteceu (Código A1).

A criação de uma unidade para tratar especificamente de um assunto, como a Seprog, é sem dúvida uma prova que a organização já incorporou o assunto. Tem gente lotada lá só pra fazer auditoria operacional. Querendo ou não, não tem mais jeito, o pessoal vai fazer isso (Código S4).

Sempre foi um sonho nosso ter uma unidade de inteligência no Tribunal. Agora, com a SGI e o projeto Combate, parece que a gente vai conseguir fazer um trabalho mais preventivo (Código A8).